quarta-feira, novembro 30, 2005

Breves.

Da reportagem sobre o estudo da Sociedade Portuguesa de Andrologia retiro alguns pontos:

1) "Uma coisa é haver patologia, outra é haver sofrimento". Eu diria disfunção, mas estou de acordo com o Nuno Monteiro Pereira, se não houver sofrimento não há "caso clínico". A continuação da frase pode induzir em erro: "Os homens mais velhos, casados, tendem a acomodar-se à situação, até porque as necessidades da sua parceira também diminuem". Dito assim, parece uma inevitabilidade acarretada pela idade e estou em completo desacordo, mas pode resultar de opinião expressa em entrevistas a casais.

2) "Estamos a encontrar rapazes e raparigas de 20 anos com perturbações do desejo irreversíveis provocadas pelo ecstasy, actualmente associado às bebidas energéticas". Que o ecstasy é bem mais perigoso do que se julga, qualquer técnico da área da toxicodependência como eu o sabe. Mas, como sexólogo, não entendo um diagnóstico de irreversibilidade feito aos 20 anos. A menos que se tivessem identificado circuitos neuro-fisiológicos indispensáveis ao desejo definitivamente lesados. Se a Ciência já chegou a esse ponto, confesso a minha ignorância.

3) Que o principal problema seja a diminuição do desejo não me surpreendo e estou de acordo com o Nuno: o stress quotidiano é seguramente um dos factores envolvidos, bem como a cada vez maior medicação desta sociedade.

4) Timothy Radcliffe, ex-Mestre Geral dos Dominicanos: "A vocação é uma chamada de Deus" que continuará "a chamar homossexuais e heterossexuais ao sacerdócio, porque a Igreja necessita dos dons de ambos". "Mais do que a orientação" importa "a maturidade sexual, até porque uma subcultura machista heterossexual é inapropriada". Etc e que Deus o abençoe!:).

terça-feira, novembro 29, 2005

No seguimento de O Amor é... e de alguns mails levemente escandalizados:)))).

Não, não acredito que a fantasia seja monogâmica. Por definição, pois não é ela a arte de brincar com o mundo, remodelando-o nas águas-furtadas do nosso cérebro? E por isso mesmo não lhe "afinfo" com um diagnóstico de sintoma do falhanço de uma relação. O amor não está à mercê de uma..., de uma..., de uma brejeirice passageira do espírito:)))))).

domingo, novembro 27, 2005

A decisão do miúdo:).

Havia tanta mágoa no seu olhar,
tanta dor no azul daquele mar,
Que parti mastro,
rasguei vela,
pus fim ao meu delicioso,
estouvado,
inaceitável,
adolescente navegar.
E aportei nela.
Receoso,
desconfiado -
talvez impermeável! -,
mas decidido a ficar.

sexta-feira, novembro 25, 2005

Porque a tristeza pensada é estruturante.

Então, num súbito ataque de tristeza que me fez muito bem para perceber quem era, consegui chorar.

Juan José Millás, A Ordem Alfabética.

Se não for pensada e digerida pode cristalizar na depressão ou refugiar-se na auto-piedade.

Sempre discriminados:(.

Ó Andorinha,
Essas raivinhas só existem entre os homens?:))))))).

quinta-feira, novembro 24, 2005

É nisto que dá confundir comportamentos de risco e "grupos" de risco:(. Mais uma pitada de xenofobia, claro!

Para os 321 casos de infecção VIH e Sida diagnosticados no primeiro semestre de 2005, a distribuição de acordo com as principais categorias de transmissão e o estádio é a seguinte: Heterossexuais: (187) - 93 casos de SIDA; 8 casos sintomáticos não-Sida; 86 casos de PA; - Toxicodependentes (95): 66 casos de Sida; 4 casos sintomáticos não- Sida; 25 casos de PA; - Homo/Bissexuais (26): 10 casos de SIDA; 3 casos sintomáticos não-Sida, 13 casos de PA, refere os mais recentes dados portugueses.

Alexandre Ribeiro de Almeida, Lusa

quarta-feira, novembro 23, 2005

Vinho velho em barris novos.

Não percebi o frenesim discursivo de hoje sobre a directiva papal relativa à ordenação de homossexuais. É mais do mesmo. Apenas uma nuance me despertou a atenção: se ouvi bem, aqueles que tenham conseguido contrariar as suas tendências há pelo menos três anos serão aceites. Não percebi se estávamos a falar do mero comportamento ou também do desejo. Por outro lado, o Padre Carreira das Neves disse na SIC-Notícias que isso não seria provável - cito de memória - em homens cujas tendências fossem de origem genética. Se a primeira afirmação pressupõe uma nostalgia de "cura" por alteração da orientação sexual que é já raríssimo encontrar na Ciência, a segunda parece ressuscitar uma velha chaveta: perversos/pervertidos. Os primeiros apresentando uma condição constitucional, desculpabilizante mas fixa; os segundos responsáveis pelo desenvolvimento de um "vício", mas dele podendo sair. A Psiquiatria e a Sexologia do século XIX assinariam por baixo. Mas, como digo, todo este barulho me parece injustificado. A instituição tem as suas regras, ponto final. Cada um tem a sua opinião acerca delas, ponto final. Quem pertence à instituição e não está de acordo, sai, bate-se ou decide as regras que acata. Quanto à comparação inter-religiosa e inter-cultural feita pelo Padre Carreira das Neves, ao afirmar o total respeito da Igreja Católica por outras que não permitem aos seus fiéis comer carne de porco, nada me permite duvidar dela ou da sua aplicação ao caso dos homossexuais.

A imaginação no Poder!

Mundo



CIA inventou nova definição para «tortura», diz jornal
As técnicas de interrogatório da CIA em centros de detenção secretos espalhados pelo mundo contradizem a garantia dada pelo director da Agência de que a tortura não é usada, escreve hoje o Washington Post.

«Director para a tortura» é o título de um artigo do jornal em que se acusa a CIA de ter inventado uma nova definição para a palavra «tortura», de modo a negar que submete os prisioneiros a maus-tratos.
O diário norte-americano cita o director da CIA, Porter J.Goss, que, esta semana, em entrevista ao jornal USA Today, garantiu que a «Agência não tortura».
«Usamos capacidades legais para recolher informações vitais, e fazemo-lo numa variedade de formas inovadoras e únicas«, todas elas legais e nenhuma das quais é tortura», disse o director da CIA.
Porter Goss não descreveu qualquer das «inovadoras» técnicas de interrogatório e a CIA não permitiu que as prisões secretas fossem visitadas pela Cruz Vermelha Internacional, ou por qualquer outra organização, refere o Washington Post.
«Mas algumas pessoas que trabalham para Goss forneceram à estação de televisão norte-americana ABC News uma lista de "técnicas avançadas de interrogatório", por considerarem que o público necessitava de saber qual a orientação escolhida pela Agência», assinala o jornal.
Graças a essa lista - adianta - é possível comparar as palavras de Goss com a realidade.
«As primeiras três técnicas relatadas à ABC envolvem abanar ou bater nos prisioneiros de forma a causar-lhes medo e dor. A quarta consiste em obrigar o prisioneiro a manter-se de pé, algemado, com os pés agrilhoados, durante 40 horas», descreve o Posto.
«Segue-se - segundo o jornal - a cela fria: os prisioneiros ficam nus numa cela arrefecida e são periodicamente molhados com água fria».
O Washington Post menciona ainda a técnica da «tábua». Segundo a informação fornecida à ABC, o prisioneiro é atado a uma tábua inclinada, com os pés erguidos acima da cabeça.
«O rosto do prisioneiro - lê-se - é então envolto em celofane, sobre o qual é vertida água. Isto provoca o pânico no prisioneiro que sente que se está a afogar, apelando quase de imediato para o fim da tortura».
Segundo o jornal, a ABC, citando as suas fontes, indicou que agentes da CIA que se submeteram a esta prática «aguentaram uma média de 14 segundos antes de cederem».
«Não serão estas técnicas "tortura", como garante Goss?», interroga o Washington Post.
«De facto, vários destes métodos foram utilizados em regimes repressivos do mundo e condenados pelo Departamento de Estado norte-americano no seu relatório anual de Direitos Humanos», lembra o jornal.
Na opinião do Post, ao insistir em que estas práticas não são métodos de tortura, Goss introduz um paradoxo. «Se um piloto norte-americano for capturado no Médio Oriente, depois espancado, detido numa cela fria e sujeito a afogamento simulado, será que Goss dirá que ele não foi torturado? Serão estas técnicas "legais"?», questiona.
Em 1994, o Senado norte-americano ratificou a Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Punições Desumanas e Degradantes e, ao fazê-lo, definiu como «cruel, desumana ou degradante» qualquer prática que possa violar a quinta, oitava ou décima quarta emendas da Constituição dos Estados Unidos.
No entanto, segundo o Post, a administração recorre a uma lacuna na lei e argumenta que, dado a Constituição não se aplicar a estrangeiros fora dos Estados Unidos, a CIA pode usar estes métodos com prisioneiros estrangeiros detidos em território que não seja norte-americano.
Poucos peritos em leis, fora da administração, concordam que esta lacuna legal exista, observa o jornal.
Diário Digital / Lusa

terça-feira, novembro 22, 2005

E lá ia aparecer um psi a dizer que ela tinha razão. E outro a dizer o contrário:).

TAMPA, Florida (AP) -- A female teacher pleaded guilty Tuesday to having sex with a 14-year-old middle school student, avoiding prison as part of a plea agreement.
Debra Lafave, 25, whose sensational case made tabloid headlines, will serve three years of house arrest and seven years' probation. She pleaded guilty to two counts of lewd and lascivious battery.
The former Greco Middle School reading teacher apologized during the hearing, saying that "I accept full responsibility for my actions."
The boy told investigators the two had sex in a classroom at the Greco school, located in Temple Terrace near Tampa, in her Riverview town house and once in a vehicle while his 15-year-old cousin drove them around Marion County.
If convicted at trial, she could have faced up to 15 years in prison on each count. The plea agreement also was designed to resolve similar charges pending in Marion County.
Her attorney, John Fitzgibbons, said in July that plea negotiations had broken off because prosecutors had insisted on prison time.
He said she planned to plead insanity at trial, claiming that emotional stress kept her from knowing right from wrong.

Angie, desculpe lá desiludi-la:(.

Neste momento sou regente de uma disciplina de Sociologia Médica no primeiro ano de Medicina do ICBAS. Sabe quantos alunos tenho, em média, nas aulas? Entre 6 e 12:) (o curso tem 200!). Razões? As frequências das outras disciplinas e o estatuto "extra-terrestre" de uma disciplina que não encaixa no perfil da medicina actual, toda ela virada para as super-especialidades e a tecnologia. Mas devo confessar que não me queixo, com aquela meia-dúzia é possível falar de cinema, poesia, política... Até de Medicina!:).

segunda-feira, novembro 21, 2005

O essencial a pedido da Yulunga:).

A lei de 94, agora corrigida, defendia que a finalidade do casamento era a procriação e por isso o comportamento dos maridos apenas traduzia "um exercício indevido dos direitos conjugais" e não violação. Edificante...

Com os cumprimentos do RAM.

Mexican Court Says Sex Attack By a Husband Is Still a Rape



By ELISABETH MALKIN and GINGER THOMPSON
Published: November 17, 2005
MEXICO CITY, Nov. 16 - The Supreme Court of Mexico ruled Wednesday that rape within marriage is a crime, bringing Mexico's laws into line with much of the world and removing one of the many obstacles women here face in reporting rape. The ruling ended a legal battle waged since 1994, when a majority of the justices agreed that because the purpose of marriage was procreation, forced sexual relations by a spouse was not rape but "an undue exercise of conjugal rights."
The unanimous ruling on Wednesday said the earlier decision had denied women the right to exercise their sexual freedom and was based on an interpretation of rights relating to property, not human beings. The court stated clearly that forced sexual relations within marriage - whether the force is physical or psychological - was a crime.
"What's behind this is a modern conception of the relationship between a man and a woman in marriage," said José de Jesús Gudiño Pelayo, a justice of the Supreme Court. "It's a relationship of equality in which a woman does not lose her sexual freedom when she marries."
That the decision came with so little debate suggested that attitudes in this macho country are changing, albeit slowly. But many women's advocates agreed that while the ruling was a landmark step, polls on social attitudes have shown that deep-rooted opinions that women should be subservient still hold sway over much of society.
They warned that entrenched attitudes still made it very difficult for women to report rape. A United Nations study found that 9 of 10 sexual assaults go unreported in Mexico and that 18 percent of victims of sexual assault were not aware that it was a crime. "A recent government survey found that 47 percent of all women report being the victims of either physical, emotional, sexual or economic violence." said Patricia Espinosa, the director of the National Institute of Women. "But 84 percent of those who are victims of domestic violence remain silent."
The 1994 ruling by the Supreme Court effectively meant that husbands who raped their wives could walk free under most conditions. It was a retreat from earlier laws on rape, which did not specify anything about the relationship between the rapist and his victim.
The decision left women "defenseless" and "consisted of a serious and systematic violation of women's human rights," said Patricia Olamendi, who has worked to change the precedent and pass state laws overturning it. "The court should recognize that it has violated these rights for 11 years."
Only a few countries in the world do not recognize rape within marriage as a crime; India and Malaysia are the two most prominent examples. But the change in laws is relatively recent. In the United States, it was not a crime in all states until 1993.
Elisabeth Malkin reported from Mexico City for this article, and Ginger Thompson from Guatemala City.

domingo, novembro 20, 2005

Sem querer ofender a Pamina e o Viktor:).

... fiquei tão pasmado com a hipótese de manipulação dos comentários que também fui pedir opinião especializada. Mesma resposta - nem que quisesse! Acontece que jamais quereria, há princípios envolvidos. Vou repetir: de início nem sabia que os podia impedir, depois tive de tomar uma (fácil) decisão - liberdade total. Tem custos? Tem, às vezes leio coisas que preferiria não ler. Mas a alternativa, para um tipo da minha idade, soa perigosamente a censura.
Os que não acreditarem nestas palavras deixarão seguramente o Murcon. E acrescento que com toda a razão, há suspeitas insuportáveis. Aos outros, não posso deixar de fazer notar que 250 comentários ao fim-de-semana é, no mínimo, peculiar. Sinal que o tema continua longe de ser pacífico e propicia um estilo de discussão muitas vezes a descambar - ainda no mínimo:) - para a deselegância. A (falsa) chaveta hetero/homo não é a única, neste mundo que adora as dicotomias. Nem sequer a mais precoce!, como, no fundo, dizia o Miguel: a bem educado/mal educado, que conduz à outra, discussão civilizada/javardice estéril, antecede-a. E pergunto-me se não será mais rígida...

sábado, novembro 19, 2005

Sendo assim, retiro tudo o que escrevi ontem!:).

José António Saraiva acrescenta hoje dados à polémica que nos ocupou ontem. Dados esses tão relevantes, que me vejo obrigado a uma retratação pública:(. Ora vejam:


"Imaginámos duas jovens alunas da província, a sair da idade da inocência, dando expressão a uma afectividade quase pura, serem barbaramente reprimidas por uma estrutura escolar retrógrada, provinciana e fascizante.
Sucede que as alunas não são propriamente adolescentes: uma tem 18 e a outra 17.
Não são as duas de Gaia: uma é brasileira e a outra portuguesa.
Trata-se de duas mulheres, portanto, já com alguma experiência.
E, nessas circunstâncias, é impossível não saberem que há ocasiões e lugares para tudo".

É preciso dizê-lo sem rodeios - isto muda tudo, por crassa ignorância precipitei-me!

1) Elas não são da província - leia-se Gaia -, uma é brasileira e a outra portuguesa.

2)Não estão a sair da idade da inocência - em que há uma afectividade quase pura -, mas têm 18 e 17 anos, pelo que já não são propriamente adolescentes.

3) E não são propriamente adolescentes porque são já duas mulheres, logo, com alguma experiência.

4) O que as obriga a saberem que não era o lugar nem a ocasião para fazerem o que fizeram.

Contra argumentos tão definitivos, só me resta pedir-vos desculpa:(((((.

sexta-feira, novembro 18, 2005

À portuguesa...

Hoje de manhã, alguém me questionava, irónico: "sempre quero ver se colocas um post sobre o artigo do teu amigalhaço". O artigo em causa era o do Miguel Sousa Tavares no Público sobre o caso das duas alunas, etc, etc... E a armadilha subjacente ao desafio traduz vício muito português: os amigos calam os desacordos, refugiando-se no silêncio cúmplice. Amigalhaço é um termo dúbio, prefiro dizer que me considero amigo do Miguel, só ele poderá confirmar que o inverso também é verdadeiro, eu acho que sim. E depois? Por que raio deveriam as nossas opiniões apenas divergir no futebol? E por que raio deveriam os desacordos pôr em risco a cordialidade da relação? É tão português:(, o hábito de não criticar membros das nossas "pandilhas" (a não ser portas adentro...). Não sou assim. Ele também não. E está farto de saber que não posso concordar com várias afirmações. Ex:

1) Considerar o exibicionismo sexual um "comportamento infelizmente muito típico das comunidades gays e lésbicas" traduz uma generalização injustificada sobre elas. Por outro lado, se o comportamento das miúdas foi o que me descreveram - admito que haja outras versões -, resta decidir se o podemos considerar exibicionista, sobretudo quando o sabemos frequentíssimo entre os heterossexuais.

2) Pôr aspas a cercar a palavra afectos, dizendo o termo próprio dos politicamente correctos, é incompreensível. A menos que se admita a impossibilidade de duas pessoas do mesmo sexo sentirem afecto uma pela outra. Ou se preconize que os heterossexuais podem traduzir os afectos por comportamentos, mas os homossexuais não.

3) Ainda não vi por parte dos colegas das referidas alunas manifestações de choque ou repúdio que justifiquem a preocupação do Miguel com o seu bem-estar.

4) Não tenho dados que permitam classificar o comportamento das miúdas como "atitude voluntariamente desafiadora de exibicionistas sexuais".

5) Estou de acordo que as boas maneiras e bom gosto se ensinam e se aprendem, mas sem distinção pela orientação sexual, há comportamentos heterossexuais inaceitáveis em meio escolar ou público em geral.

6) Por último, confesso que, embora o episódio tresande a discriminação, não me provocou "a habitual erecção escandalizada dos mentores do politicamente correcto".
Mas talvez isso se deva - hélas!:( - à minha provecta idade...

quinta-feira, novembro 17, 2005

Eles não precisam, mas...

A Comissão Episcopal da Educação Cristã lamenta que o Relatório do grupo coordenado pelo Daniel Sampaio preconize uma educação sexual restrita à educação para a saúde. Recusa - e bem! - que seja "encarada a partir de um prisma negativo". Diz que o Relatório esquece que "a forma mais segura de educar os adolescentes e os jovens para uma saudável integração da sexualidade é ajudá-los a descobrir a sua identidade de homem ou mulher, que se diferenciam sexualmente e se complementam numa relação de amor".

1) Os membros do grupo têm obra feita. E nenhum deles pode ser acusado de preconizar uma pobre e triste visão apenas sanitária da educação sexual. E o Relatório prova-o, com a sua preocupação de envolver os mais diversos grupos e pessoas no processo e recusando o "espartilho" da disciplina de educação sexual.

2) A visão "global" da Comissão seria para mim pacífica, se não tivesse uma longa experiência do que certa Igreja entende por "ajudá-los a descobrir a sua identidade de homem ou mulher, que se diferenciam sexualmente e se complementam numa relação de amor". Com honrosas excepções, a Igreja não se limita a promover um processo de descoberta, dirige-o no sentido dos seus próprios estereotipos. Além de tornar o amor e o compromisso condições obrigatórias para os comportamentos sexuais, o que é irrealista e totalitário. Acresce que "amor" e "compromisso" não passam, muitas vezes, de sinónimos politicamente (mais) correctos de casamento.


P.S. Colocar Albino Aroso na lista dos médicos mais dedicados do mundo é um acto de justiça. Logo, que se saúda, mas não agradece.

quarta-feira, novembro 16, 2005

Breves.

Ministro francês aponta dedo a poligamia O ministro delegado do Emprego, do Trabalho e Inserção Profissional dos Jovens, francês, Gérard Larcher, culpa a poligamia como sendo uma das causas para os tumultos ocorridos em várias cidades da França durante os últimos 20 dias, durante os quais já foram incendiados mais de 8.000 veículos e detidas cerca de 2.500 pessoas, obrigando o governo de Paris a tomar medidas excepcionais para tentar travar a violência nas ruas.

Ler notícia/artigo completo em: http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=181349&idselect=21&idCanal=21&p=0

Vale a pena ler, o homem arma-se em psicanalista de vão de escada:).


Como disse de manhã em O Amor é..., desaguei ontem numa jantarada com o Rui Veloso, o João Gil e outra gente bem fixe. Foi muito agradável e só lamentei já não ter speed para noitadas, apeteceu-me ficar à conversa madrugada fora. E, como acabei por "confidenciar" à Ana Mesquita, vieram-me à cabeça os versos de Patxi Andion que Pedro Tamen cita em Escrito de Memória: "...Se puede escribir un libro,/O una canción./O mentir directamente." Cada um nos seus palcos tentamos ser o mais genuínos possível, não duvido. Mas o simples facto de termos audiências - ou alunos -à frente cria um personagem público cuja coerência é preciso manter. Por isso é tão agradável estar assim: despidos de qualquer paranóia de desiludir os outros:). Ao paleio; com iscas de bacalhau; partilhando memórias e futuros; pachorrentos; presos do cansaço que desata as línguas e os risos. Como se a Filarmónica Gil, a Ala dos Namorados, Mingos e os Samurais e o Chico Fininho tivessem reunido os amigos:).

terça-feira, novembro 15, 2005

Na minha vida.

Foi por um triz que não vim embora do concerto de Bill Frisell na Casa da Música ontem à noite. O dia fora pesadão e o homem começou a dedilhar uma caixinha infernal que, por sua vez, me torturava os (duros) ouvidos de amante de jazz suave. Pensei para os meus botões: "vou direitinho para a cama e os experts que se danem, de qualquer forma estão carecas de saber que não sou um deles". Estava eu neste monólogo interior feito de sono, neurónios arrepiados e inveja mesquinha quando acordes velhos conhecidos invadiram a sala. Frisell estendia-me um ramo de oliveira - tocava Across the Universe de John Lennon. E eu preparei os ouvidos para tudo e mais alguma coisa, há fidelidades que não se traem. Fui recompensado, o trio - porque Bill Frisell recusa protagonismos - passeou-se por memórias muito queridas, permitirão que destaque In my Life e Julia. O último encore foi um Please, Please Me tocado já em ambiente de jam session descontraída. E eu vim-me embora a esfregar as mãos de contente numa lâmpada de Aladino. Da qual se escapava, sem mercê, a imensa saudade do homem do piano branco que imaginava um mundo melhor:).

segunda-feira, novembro 14, 2005

Perplexo.

Quando Paulo Pedroso foi acusado, o Augusto Santos Silva escreveu um artigo em que afirmava estar pronto a abandonar a vida política se a sua convicção da inocência do amigo se revelasse errada. Lembro-me de comentar a afirmação no JN, dizendo que tanto o arguido como a acusação eram inocentes até prova em contrário. Porque sou um profissional, acrescentei que a declaração do Augusto era tocante na sua certeza, mas o abuso sexual é uma área que nos pode reservar grandes choques - a noção da reprovação social é tão clara que nos deparamos com "duplas personalidades e vidas", até para os mais próximos. O Augusto é demasiado gentil para mo fazer sentir nos nossos encontros por aí, mas suspeito que o entristeci, ao transformar uma declaração de amizade em discussão abstracta. Lamento, se aconteceu.
Agora leio coisas preocupantes. Um recurso da acusação foi negado por unanimidade. As provas e as testemunhas, ao que parece, são arrasadas. Um homem não vai a julgamento, mas esteve na prisão e vai-lhe ser difícil sacudir a lama por completo. Se a acusação foi leviana, o que traduz esse facto? E pode uma acusação ser leviana e não fazer pensar que podíamos ter sido nós? Porque uma coisa é a Justiça ser cega. Outra andar às apalpadelas...

domingo, novembro 13, 2005

Comunicado de um litro de água ou de uma palmeira cinquentona.

A ILGA teve a gentileza de lembrar o meu trabalho. Fiquei enternecido, mas não cego, a palavra "oásis" é amável e exagerada. Outros tornaram possíveis as palmeiras e a água, não passo de um litrito de água ou de palmeira cinquentona:). A própria ILGA o demonstrou, ao homenagear há dois (?) anos a minha amiga e colega Gabriela Moita. Mas existem outros nomes, a começar pelo Chico Allen, que gerou inúmeros filhos espirituais. Como respondi à ILGA, tenho norteado a minha vida profissional em busca de dois objectivos: substituir a palavra "tolerância" - intolerável por oblíqua e paternalista... - por aceitação; transformar o direito à diferença em direito à indiferença (não a que mata de solidão, mas a que encolhe os ombros à menção da orientação sexual de alguém).
A propósito do meu trabalho, aproveito para informar em primeira mão os murcónicos que o Estes Difíceis Amores termina em Janeiro. A decisão da RTPN não surpreende, três anos são uma eternidade em televisão e é preciso refrescar as grelhas. Fica a amargura do programa ter passado na 2 a horas obscenas. Deus me livre de ambicionar o prime-time!, mas não entendo como um programa com audiências e de interesse público (nas palavras das chefias...) nunca pôde passar ao fim da tarde ou à meia-noite.
Ou talvez entenda...

sexta-feira, novembro 11, 2005

O conforto do silêncio.

Vou para Cantelães, já tenho saudades do silêncio:).


O silêncio


Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,

e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,

quando azuis irrompem
os teus olhos

e procuram
nos meus navegação segura,

é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,

pelo silêncio fascinadas.

Eugénio de Andrade, Obscuro Domínio.

Bom fds, maralhal:).

quinta-feira, novembro 10, 2005

A conselho do(a) Conserto:)).

A questão é pertinente. Falei eu, na minha qualidade de psi, com pessoas que desejavam a morte? E se falei, na minha opinião justificavam ou não um diagnóstico? (Nomeadamente de depressão.) A(s) resposta(s) é que já falei com pessoas que desejavam morrer e não me pareceram sofrer de qualquer distúrbio psicológico. Seja no fim da vida ou em casos de suicídio, não me sinto no direito de "decretar" doente alguém por desejar partir.

quarta-feira, novembro 09, 2005

Oh, Lord!, os lordes a debruçarem-se sobre um tema destes? Que mais iremos ver?:).

Mundo



Reino Unido: Câmara dos Lordes aprova eutanásia a doentes terminais
A Câmara dos Lordes britânica aprovou esta quarta-feira uma proposta para permitir que os médicos apliquem a morte assistida a doentes terminais que queiram deixar de viver.

Ao abrigo do novo projecto, os médicos podem prescrever uma dose letal de medicação a pacientes terminais que considerem intolerável a dor que enfrentam.
No entanto, o projecto não legaliza a eutanásia voluntária, realizada sem o consentimento do paciente.
A decisão provocou grande oposição por parte da Igreja Anglicana e de grupos defensores dos direitos humanos. A lei ainda terá de passar pela Câmara dos Comuns.
A nova lei permite que um paciente terminal se automedique com doses letais prescritas por médicos.
Caso o projecto seja aprovado, o paciente terminal que deseja por fim à própria vida nos seis meses seguintes deverá ser examinado por dois médicos, que ratificarão ou não a decisão. Também serão necessárias duas declarações diferentes do paciente, inclusivamente uma assinada por um advogado.

terça-feira, novembro 08, 2005

A propósito de mjcd.

Como psi - e qualquer dia não só... - a questão da reforma interessa-me sobremaneira.
Alguém disse que a reforma se começa a preparar dez a quinze anos antes. É verdade. A mortalidade, por exemplo, é maior do que o "esperado" no primeiro ano que se lhe segue. As depressões florescem. O mesmo se passa com a viuvez. Aí, com um efeito de género claro que "joga" com o último post: os homens caem com facilidade no isolamento porque eram as mulheres as mediadoras das redes de suporte afectivo.

segunda-feira, novembro 07, 2005

Mail e género.

Trabalho de investigação americano. População: os habitantes de uma daquelas aldeias exclusivamente para idosos que não estão ao alcance das bolsas comuns. Análise dos mails em busca de diferenças de género. Os homens enviavam e recebiam mails curtos e funcionais, a e de amigos e familiares (género "todos bem?").Estavam satisfeitos com a estadia e com os amigos feitos na aldeia, com quem partilhavam actividades lúdicas. As mulheres escreviam mais mails, mais longos e mais saudosos. Afirmavam-se mais dependentes dos contactos com familiares e amigos que tinham deixado para trás. E sentiam-se muito mais responsáveis pelo que se passava no local de origem depois da sua partida. Conclusão do estudo: maior dependência emocional e manutenção do estatuto de "mulher cuidadora e responsável pelo bem-estar afectivo da malta". Uma pescadinha de rabo na boca cultural...

sábado, novembro 05, 2005

Agradecimento mais do que merecido.

Aqui vos deixo o texto que escrevi para o Expresso de hoje sobre a obra do meu filho Guilherme em Cantelães. Porque ele merece, a casa roubou-lhe um par de anos de vida, mas tornou-se realmente o refúgio dos Machado Vaz.


O ramo que semeia raízes


Cantelães é hoje um lar. O facto não traduz infidelidade arquitectónica ou afectiva à casa portuense. Vivemos juntos há vinte anos e juro, sem remorsos da alma ou figas dos dedos, que por mim não haverá divórcio. Devo-lhe muito: foi sala de trabalho caótica, testemunha discreta de amores felizes e rupturas dolorosas, colo silencioso em noites de música e livros.
Mas eu sonhara mais. E se sonho é palavra respeitável, embora tantas vezes resignada ao poder dos cifrões nesta sociedade, o sentimento que o gerou nem por sombras. A inveja. Eu, pecador, me confesso - rebolei-me nela em pequeno, ouvindo as descrições da Quinta em Paredes de Coura. Caçula da minha geração, fui o único a não conhecer a casa, a mesa cheia, o bilhar onde dormia meu Pai, o caramanchão. Tanta inveja, semeada no terreno fértil da solidão de filho único, transformou-se em nostalgia reconstrutiva: inventar para os meus as raízes que não me tinham erguido, levar os citadinos de regresso à terra, ao menos de Sexta a Domingo. Cantelães nasceu desse vazio, com anos de atraso que não perdoo a mim próprio.
Covil escolhido, pus o leme nas mãos do Guilherme. Sabia-o talentoso, percorri algumas das suas obras. Mas sabia mais: alguém que depois da morte de uma criança, - intolerável absurdo! -, lhe desenha campa rasa ascética que reflecte o brilho do sol e a dança das nuvens, pensa a arquitectura a partir das pessoas e a elas regressando. Tal inspiração, na sua tristeza, não jorrou apenas de mão hábil e inteligência aguda, bebeu antes de enorme coração.
Ingénuo, decretei-lhe o imaginário de braço dado com o meu – casa de pedra, varanda rústica à volta. Quando vi o projecto, gelei: um estilizado meteorito paralelepipédico em Cantelães? Lembrei o Eduardo Souto Moura na SIC-Notícias: “se fizesse uma casa de que não gostasse, ela ficaria mal de certeza”; previ o futuro dos Machados, juntos numa obra que não satisfizera o autor, mas o pai; gozei o olhar brilhante do Guilherme, o voo das mãos que tentavam ajudar-me a imaginar a casa. E não hesitei: abdicar de parte do meu sonho era um preço baixo para ver o seu partir à rédea solta.
Erro crasso, Guilherme desenhara exactamente o que lhe pedira, eu é que confundia materiais e arquitectura, forma e vida. Cantelães lembra o título de um dos meus blues favoritos – A Room with a View. Porque os quartos, no seu recato, recebem o abraço da sala, do corredor, da cozinha, num anel envidraçado que se derrama sobre a paisagem. Que burrice minha! – o rapaz trouxera a varanda para dentro da casa…
Que me acolheu bem, mas à experiência. Compreendo-a, os amores á primeira vista são tórridos e frágeis. Um ano decorrido, é um lar. Quando me deito e lanço um olhar aos meus, emoldurados na mesa-de-cabeceira, distribuo o carinho em partes iguais. Mas reservo um obrigado ao Guilherme, por nos presentear com um acolhedor pingo de talento.
Estranha árvore familiar, em que um ramo semeia as raízes…

sexta-feira, novembro 04, 2005

Ambivalência herética:).

Saí do concerto de Steve Vai com "mixed feelings". Devo dizer, antes de mais, que gostei do homem. Ao fim de 25 anos na estrada, o seu sorriso pareceu-me espontâneo e caloroso, a história deliciosa sobre o humor de Zappa não era de "plástico". Depois, a música: guardarei sempre esta recordação privilegiada, o pequeno conhecimento da sua obra não me preparara para um virtuosismo inacreditável. Ainda por cima, emoldurado por um conjunto de outros músicos excepcionais.
Como consegui, então, sair "dividido"? Por vezes senti que o rock perdia terreno face à técnica. O concerto foi longo, felizmente, duas horas e meia bem medidas. E até por isso, aqui e ali, achei que o referido virtuosismo se tornava um fim em si mesmo e não um meio, nada acrescentou à minha admiração por Vai saber que consegue tocar com a língua, por exemplo!Dei comigo a caminho de casa, feliz pelo privilégio de assistir ao espectáculo. Mas lamentando ser já tão tarde, apetecia-me ouvir um riff de Keith Richards ou as guitarras ingénuas dos Creedence Clearwater Revival. Uma palavra para a primeira parte: como em todo o concerto, os decibéis estavam demasiado à solta (digo eu, que sou velhinho!). Mas curti o grupo, tocava uma espécie de "hard-blues" muito fixes.
Entrei às nove e saí a caminho da uma. O silêncio no carro era ensurdecedor:)))))).

quinta-feira, novembro 03, 2005

A "luta pelas audiências".

Infelizmente, não acontece apenas nas televisões e rádios. Há largos meses fui contactado para participar em determinado Congresso. Declarei-me indisponível e ofereci-me para pedir a uma colega que fizesse a intervenção sobre o tema solicitado. Chegada ao Encontro, ela verifica que o meu nome consta do programa oficial e definitivo. Nenhuma explicação para a minha "ausência" foi dada aos participantes. Ou seja: uma colega faz figura de segunda escolha, eu de pessoa que falta a compromissos à última hora e quem se inscreveu para - entre outros palestrantes - me ouvir..., de parvo! Não é a primeira vez. Até já figurei no programa de Reuniões que desconhecia terem lugar!
Nada disto é sério. Tudo isto é triste.

quarta-feira, novembro 02, 2005

Breves.

A JSD, ao pedir a suspensão dos processos por interrupção de gravidez por via legislativa até ao referendo, agiu bem. Aliás, manda a verdade admitir que na campanha do referendo anterior fui mais solicitado para debates sobre o tema pela JSD do que pela JS. O chamado efeito gutérrico...


Moon,
Desculpe lá a insónia:(. Claro que era sobre os vivos, o passado, o fim do amor.

P.S. A vírgula era criminosa:).

terça-feira, novembro 01, 2005

E os "culpados" pela música são...

... os suspeitos do costume: Noisy and Vic!!!!!! Yeahhhhh (como diria o Cocas dos Marretas:)))).

Lobices,
Tudo bem consigo?

1 de Novembro.

Mortos que não são mortos,
fantasmas de carne e dor.
Portos que não são portos,
amarras órfãs de amor.


P.S. Não, divorciado e solteiro não é o mesmo em termos de disponibilidade para juntar os trapinhos, mas existem variações nos dois sentidos:). Mais curioso me deixa a eventual diferença entre casado e quem coabitou, há vertentes simbólicas envolvidas.