domingo, janeiro 01, 2006

Agora que a Casa do Vale está pronta e a propósito de cinemas fechados, Centros Comerciais e correrias.

De Paris a Vieira do Minho


A semana passada, numa das lentas conversas telefónicas que debalde tentam estrangular saudades, o meu filho mais novo contava história de quotidiano parisiense. Se bem percebi, a composição do metro em que viajava adiantara-se e foi necessária paragem mais prolongada numa estação. A forma como descreveu os passageiros nesse fim de tarde e trabalho não me surpreendeu – observo os mesmos olhos vazios e gestos cinzentos por cá. Ombros caídos e neurónios em sobrecarga, balançando entre o cansaço mais embrutecido e a raiva mais à flor da orelha; passos rastejantes rumo a casa, que lar é palavra fofa, nem sempre compatível com tal estado de espírito. Depois, sobreviver, culpabilizados, à saúde abençoada e contudo massacrante dos miúdos; engolir qualquer coisa de mesa e televisão; guardar o sexo para noite menos curta e dormir o possível que não o suficiente, o despertador canta e o lamento é sempre o mesmo, incrédula – “já?” Se não estou em erro, os franceses resumiam esse traintrain journalier em rima nada poética: métro, boulot, dodo (metropolitano, trabalhar, dormir... Para onde raio terá fugido o resto da vida?).
Durante a espera, o condutor resolveu sugerir aos passageiros que apreciassem a paisagem publicitária das paredes. Houve expressões de surpresa, não é muito habitual ouvir o restolho dos microfones, a não ser para debitar, monocórdico, o nome da próxima estação. Mas o homem não se ficou por ali, pediu desculpa por o serviço de bebidas e sanduíches não estar em funcionamento. Foi quando, segundo o meu herdeiro, brotaram os primeiros sorrisos. E como não há duas sem três, o “patrão da lancha” voltou à carga, pedindo aos passageiros para apertarem cintos e extinguirem cigarros - iam levantar voo! O metro não o fez, mas as gargalhadas sim, e com elas a disposição dos viajantes. O Machado Vaz Júnior ficou tão agradavelmente surpreendido com os efeitos do inesperado e jocoso atendimento que, à saída, se dirigiu ao condutor para lhe agradecer. Surpresa das surpresas – havia bicha para o fazer, com pessoas jurando ter sido a viagem mais simpática de que se recordavam! Sem por um momento beliscar a gentileza e bom humor do homem, dá que pensar. Como vivemos nas grandes colmeias para que duas ou três palavras solidárias espantem e sensibilizem as gentes? Diria que a monte, com pouca fé em Deus e ainda menor no próximo!
Pensei na história ontem, de visita a Vieira do Minho e cumprindo os rituais. Fui dar um abraço ao senhor Manuel do Talho, tentou-me com bagaceira capaz de fazer crescer a água na boca e o medo na vesícula, os dois amigos que com ele cavaqueavam de imediato aceitaram o intruso portuense na tertúlia; avancei para a Mindinha e corri, sem autorização, a meter a cabeça na cozinha para largar uma graça coxa mas sincera aquelas mulheres de mãos abençoadas; durante a almoçarada, gente houve que se me dirigiu a dar as boas vindas, a sugerir locais de visita, a opinar sobre tal artigo ou programa de televisão; percorri a obra com respeito de analfabeto, pela mão paciente do meu mais velho e ao ritmo lento a que o enganador sol de inverno convidava, lá ao fundo uma réstia de geada sobrevivia, o serralheiro afirmou placidamente que manhã cedo teriam estado três ou quatro negativos! À saída, o Guilherme puxou-me o braço – “repara”. E eu estaquei, pasmado com o espectáculo da Cabreira reflectida no vidro, parecia que a serra se mudara para a sala de estar e nós a cobiçávamos, reverentes e gulosos. Que pena a casa não ficar pronta para o Natal!
Já deixei claro que não idealizo a vida de quem se debate com o preço da interioridade, seria obsceno. Mas em Vieira sinto-me pessoa e vejo os outros da mesma forma, não como pano de fundo da minha correria. Esta cadência febril torna impossível a conversa repousada; o encontro que se não fica por aceno de mão distraído e promessa de telefonema; a ironia subtil, mais exigente do que a graçola pesadona; o olhar atento a cores que estilhacem o cinzento nevoeiro psicológico responsável pelo “reumatismo cerebral”. Vivemos acima dos nossos limites e abaixo das nossas possibilidades. Como discos de trinta e três rotações girando a setenta e oito, não importa o som distorcido se o vinil roda mais depressa.
Mas para quê? Para mais rapidamente mergulharmos no silêncio?

52 comentários:

Vera_Effigies disse...

Amei ler este post.
Obrigada.
Sinto umas saudades loucas, do pão milho do "Manuel do talho" ("Pisco" para mim ;-)) amigo de casa há anos; da Mindinha e da carne que lhe comprava qdº tinha uma vida mais livre; dessa Cabreira que me dá vida e onde tenho o coração.
Temos de combinar um almoço na Mindinha, assim poderei abraçá-la como sempre faço.
Vi Vieira pelos olhos do Prof. Agradeço sinceramente. Quis ir hoje ao meu retiro fugaz (Srª da Fé). Do cruzeiro vejo tudo, sinto todos, já que não tenho tempo de visitar um a um. Não pude... :(
Na próxima semana, se puder...
Um abraço

Chinezzinha disse...

Prof. Júlio Machado Vaz

Ontem encontrei este blog: http://finitus.blogs.sapo.pt/
Por favor faça uma visita lá quanto antes.

Não sei se é brincadeira ou alguém completamente maluco, para pretender suicidar-se.

Pode ser q a sua presença lá o ajude a mudar de ideias.

Beijinhos

Ana

Vera_Effigies disse...

Antes de ir jantar e gozar a lareira que também tenho aqui, vim manter de pé a visita feita há tempos. Há locais lindos que posso mostrar com prazer ao meu "conterrâneo" ilustre. Um aviso prévio e terei todo o prazer (basta que tenha tempo para me organizar).
Mantenho de pé a oferta da cicerone :-)
UM ABRAÇO

Anónimo disse...

Um destes dias, curzei na rua, com uma pessoa que já não via há algum tempo.Atirei com um -Tudo bem? apressado e continuei o caminho.Ainda me doi a alma com a recordação da resposta:_"Não esperas que te responda?" Afinal o meu amigo queria responder-me...juro que não volto a perguntar sem parar para ouvir.

Anónimo disse...

'duas ou três palavras solidárias espantem e sensibilizem as gentes'
e também por aqui necessitamos delas ... para que o 'reumatismo cerebral' não dê conta da nossa vontade de conviver de diversas formas, inseridos em múltiplos enredos ...
... para mais rapidamente percebermos porque acabamos,
afogados em palavras.

Anónimo disse...

Quase senti o cheiro do fumeiro Professor..
Bj

andorinha disse...

Estes gritantes contrastes!

Fiel retrato das assimetrias cidade/campo.
Nas grandes cidades a sobrevivência diária, quase maquinal, chegar a casa, comer qualquer coisa a correr, dar a olhadela habitual à televisão, o sexo, complicado durante a semana, já que o tempo é pouco para dormir, tudo isto leva realmente à pergunta - para onde terá fugido o resto da vida?
"Ombros caídos e neurónios em sobrecarga, balançando entre o cansaço mais embrutecido e a raiva mais à flor da orelha." Em Paris, em Lisboa, no Porto o cansaço e a raiva são os mesmos, não há como fugir-lhes.
Quantas vezes nos sentimos assim, impotentes, a vermos a vida a escapar-se-nos por entre os dedos.
E no dia seguinte a história repete-se.:(
E que dizer da reacção inicial de estranheza e depois de contentamento dos passageiros do metro?
"Como vivemos nas grandes colmeias para que duas ou três palavras solitárias espantem e sensibilizem as gentes?"
É o isolamento das pessoas na grande cidade, cada um está no seu pequeno mundo e não há tempo nem disponibilidade interior para muito mais,tudo é cronometrado quase ao segundo, a rotina é tão "rotineira":) que qualquer desvio tem o condão de despertar as gentes.
Nos pequenos centros a vida é completamente diferente, o ritmo mais lento permite ainda saborear os pequenos prazeres da vida, um passeio tranquilo, uma amena cavaqueira, o beber um copo na tasca da esquina, o ficar a par das mais recentes novidades da terra, enfim, o estar disponível para o outro. Por isso entendo que diga "...em Vieira sinto-me pessoa e vejo os outros da mesma forma, não como pano de fundo da minha correria."
Como é agradável ter um refúgio onde possa usufruir desses prazeres descansando da agitação citadina! Aproveite-o bem.:)

Destaco esta frase que acho marcante: "Vivemos acima dos nossos limites e abaixo das nossas possibilidades."

andorinha disse...

Lusco_fusco,
Pelos relatos do Júlio e pelos teus, que nos aguçam o apetite, estou a ver que esse é o local ideal para o próximo jantar do Murcon.:)
Que dizes da ideia?
Se já temos cicerone e tudo...:)))

Elsa disse...

Eu não penso que haja uma assimetria tão grande entre o campo e a cidade. Embora haja muita gente a viver o tempo depressa, há uns quantos que o vivem devagar (no campo ou na cidade). Há citadinos de cadência lenta e aldeões frenéticos. Penso que cada um é responsável por desacelerar as suas próprias rotações, tanto na urbe como no verde.

Julio Machado Vaz disse...

Navegante,
Uma boa decisão:).

Uma almoçarada na Mindinha? Não é mal pensado, não senhora!

andorinha disse...

Júlio,

A almoçarada é extensiva ao maralhal interessado?:)

Vera_Effigies disse...

Andorinha
Terei todo o prazer.
Eu preciso de saber com tempo, para por de serviço á caserna a minha semente. Não tenho coragem de fazê-lo para dar-me, só a mim, esse prazer. Assim será mais fácil, ficará com a árvore que teima em perder o vigor :(
Tenho saudades de caminhar no meio daquela serra; ao longo do ave; no parque florestal - que foi a minha sala de estudo, de lazer, confidente, parque de diversão, piscina, um autentico multiusos; e em todos os meus locais de culto. Preciso correr, saltar fazer o que sempre fiz e me dá prazer. Mas isso vou guardar para outra ocasião, "tadinhos" de vocês ia pô-los de lingua de fora... :o).
Eu prometo não lhes dar esse bendito "castigo" :o)
MJ

Vera_Effigies disse...

Prof.
Decida-se e comunique. Cá estarei para encomendar o almoço e fazer o itinerário da romaria aos locais de culto, e, se necessário for pedir ao meu amigo do clube de caça e pesca que ceda o campo de tiro para pernoitarem. Isto de estarem a dormir em plena Cabreira, não é para todos :o). Tem condições suficientes, mais que qualquer hotel. E o Prof. podia ter os amigos mais perto e mais dias. Eu faria o trajecto já moro muito perto.
Depende de vocês.
Porque não os 200.000?! ;-)
MJ

andorinha disse...

Lusco_fusco,
Obrigada pela tua disponibilidade.:)
É questão de se combinar (estou a falar a sério).
Eu alinho sempre nestas coisas - adoro almoçaradas e boas conversas.
E por mim, não me importo de ficar com a língua de fora...:)
Beijinho.

Chinezzinha disse...

J.M.V.
Obrigada.:)
A mente é complexa e a Internet por vezes a torna mais complexa...
Pessoas que mentem... inventam as mais variadas histórias... outras que parecem inventadas podem não o ser.:(

Boa noite

Beijinhos
Ana

Anónimo disse...

Boa noite a todos.
Estou a reler "Juízo Final" do Franco Nogueira.
Continuo a reflectir neste primeiro dia.
Mas o metro é motivo para ir reler páginas atrás.
Pois é Andorinha, para onde terá fugido a vida? Ou será que fomos nós que não lhedemos a atenção devida e a perdemos?

Vera_Effigies disse...

Boa noite!
Fico á espera de data ;-)

Um abraço
MJ

papu disse...

Ao ler o post lembrei-me de uma velha e amada música:

"Olá como vai?
Eu vou indo e você, tudo bem?
Tudo bem, eu vou indo
correndo
pegar meu lugar
no futuro, e você?
Tudo bem, eu vou indo
em busca de um sonho tranquilo, quem sabe?
Quanto tempo, pois é,
quanto tempo...

Me perdoe a pressa,
é a alma dos nossos negócios,
qual, não tem de quê,
eu também só ando a 100!
Quando é que você telefona,
precisamos nos ver por aí,
pra semana prometo, talvez nos
vejamos
quanto tempo, pois é
quanto tempo...

tanta coisa que eu tinha a dizer
mas sumiu na poeira das ruas
eu também tenho algo a dizer
mas me foge a lembrança
por favor telefone, eu preciso
rever alguma coisa
rapidamente...
pra semana
o sinal!
eu procuro você
vai abrir!
prometo, não esqueço
por favor
não me esqueça
por favor...
adeus adeus
adeus adeus"

(não sei se a reprodução está 100% fiel...)

Sinal fechado. É pena q as nossas vidas andem também elas, tantas vezes, fechadas...

E às vezes bastam gestos tão simples, palavras tão simples, como as do condutor do metro.

E no fundo, se todos fizessemos alguma coisa, pequenina, todos os dias, bastava um sorriso, uma palavra amável... talvez as nossas vidas se tornassem menos cinzentas e menos apressadas.

noiseformind disse...

As cidades são o que fazemos delas ; )
Os afectos estão por aí quase quase a arrebentar* e de tão sôfregas que andam por eles por uma festinha que seja as pessoas explodem em sofrimento antes de sintetizarem outras emoções mais complexas.

Na minha opinião é um primievismo óbvio. Por um lado dizem-nos que somos muito especiais, temos o nosso próprio e único estilo. Por outro como colmatar isso com a curiosidade que temos pelos outros? Se não andasse meio-mundo a mentir ao outro meio-mundo resolver esta equação seria bastante fácil. Mas descobrindo uma e outra e outra fraude vamo-nos deixando deslizar para o silêncio e para a passividade. Ou não, a escolha é sempre nossa, sempre, sempre, sempre.

Penso que é um problema que tem muito a ver com a auto-estima média das pessoas. Acham que não valem nada e se alguém fala com elas perguntam-se logo: "Mas pq é que esta pessoa vai falar comigo? Pq? Que é que eu tenho de especial?".

Muitas das conversas mais interessantes que tive na Tuga foram em cacilheiros a caminho do Barreiro. Basta metermo-nos com as pessoas e elas desfazem-se em palavras. Podem não ser palavras boas, mas desfazem-se. Precisam como nunca de alguém que as interpele, que fale com elas,muito mais do que escuta passiva.
Apesar de passar 3 horas por noite a responder a emails de perfeitos desconhecidos nunca lamento esse tempo. A oportunidade de conhecer alguém deve sempre ser colocada à frente do trabalho de conhecermos (e darmo-nos a conhecer) a alguém. Pelo menos enquanto o esforço para o diálogo continuar a ser parido fôr comum ; )

*I'm from Oporto, sory!

Anónimo disse...

A boa escrita tem o poder de despertar emoções, de exigir reacções.
O seu texto termina de modo pungente, cristalino.
Estas palavras empurram-me para as lágrimas:
"Vivemos acima dos nossos limites e abaixo das nossas possibilidades. Como discos de trinta e três rotações girando a setenta e oito, não importa o som distorcido se o vinil roda mais depressa.
Mas para quê? Para mais rapidamente mergulharmos no silêncio?"
Que verdade tão dura.
Sara

Anónimo disse...

A propósito de tudo isto leiam este artigo neste endereço:
http://www.dissentmagazine.org/menutest/articles/fa05/willis.htm

andorinha disse...

Boa tarde.

Sical,
Também eu continuo a reflectir...:)
Pois é...tens razão no que dizes -às vezes é a vida que nos foge, por muito que tentemos correr atrás dela; outras não lhe damos a devida atenção e ela passa por nós e nós nem damos por isso.
Resumindo e concluindo: convém estarmos mais atentos, pois se esta é a única que temos convém não a desperdiçarmos.:)

andorinha disse...

Noise,
Silêncio e passividade ou diálogo cúmplice, a escolha será sempre nossa, concordo contigo.
Passas 3 horas por noite a responder a e-mails de desconhecidos?????????????
Que tempo te sobra então para os conhecidos?:)))))))))))))
Eu sei que tens uma energia inesgotável, mas mesmo assim...:)

Pamina disse...

Boa tarde.

Gostei da história. Um condutor simpático, com sentido de humor, chegou para fazer a diferença, nesse quotidiano habitualmente tão pobre de calor humano.

Não é possível para a maioria das pessoas um outro estilo de vida. Entre emprego, ir levar e buscar os miúdos, compras, etc. não resta tempo para mais nada. É frequente as pessoas gastarem diariamente 3 horas em transportes. Que hão-de fazer? Mudar-se para cidades pequenas, mais calmas? Mas aí há poucos empregos. Infelizmente, muitas vezes não se vive, sobrevive-se, sem grandes possibilidades de se sair desse ciclo infernal.
Há algo que poderia tornar a vida nas grandes cidades bem menos desumana: uma maior convivência com os vizinhos, em vez do isolamento dentro do próprio casulo.
Desculpem estar sempre a comparar com a Holanda, mas, também neste ponto, os holandeses levam vantagem. Eles têm o seguinte ditado:"um bom vizinho é melhor do que um amigo distante" (é um pensamento retirado da Bíblia, do livro dos provérbios) e posso dizer, por experiência própria, que a convivência e solidariedade entre vizinhos é algo habitual. A própria arquitectura favorece esse contacto, pois os prédios ou são mais pequenos ou, no caso de prédios grandes, têm muitas vezes um género de varanda à volta, onde estão as portas de entrada dos apartamentos.
Vou contar algo que testemunhei: estava um dia em casa de um primo (português), à espera que o jantar ficasse pronto e, com a conversa, ele distraiu-se e deixou queimar uma daquelas panelas altas para fritar batatas. Quando chegámos à cozinha, estava uma enorme fumarada e por isso ele abriu a janela que dava para uma das tais varandas que correm ao longo dos vários andares. Passados uns minutos, estavam ao pé da janela bastantes vizinhos a perguntar se era preciso ajuda e, depois de ouvir a explicação, um deles foi a casa (umas portas ao lado) buscar uma panela igual, que pôs à disposição, já com óleo lá dentro, para ele poder acabar de cozinhar o jantar.
Nesse mesmo prédio (muito grande), onde também morei, bastou-me uma semanita para me começar a dar com vários vizinhos. Era vulgar pedirmos emprestadas uns aos outros as coisas mais variadas, como secadores de cabelo, livros, jornais, etc.
Quando os vizinhos do lado iam passar alguns dias fora, eu ficava com a chave para dar de comer ao gato. Dentro do frigorífico, eles deixavam vários pratinhos, tapados com Glad, cada um com o seu papelinho em cima, como se fossem escritos pelo gato e assinados com o nome dele. Estes bilhetinhos diziam coisas deste género (por ex., no da noite):"Olá, sou muito guloso, ao jantar gosto de comer este prato cheio com carne de x, obrigado e até amanhã." Isto é autêntico.
Noutra ocasião, quando os meus pais estavam de visita, houve uma grande tempestade que partiu os parabrisas de muitos carros. Uns outros vizinhos, que também precisavam de ir a uma oficina para combinar a reparação do carro deles, ofereceram-se logo para dar uma boleia ao meu pai que nunca tinham visto antes.
Em Portugal, não sendo em meios pequenos, é quase só nos prédios antigos, onde há vizinhos de muitos anos, que as pessoas se dão umas com as outras. Onde é que pára a simpatia e sentido de entre ajuda, nos grandes dormitórios onde ninguém se conhece, ninguém se fala?

JMV, ainda bem que continua a apreciar esses momentos de descontracção e convívio na "terra". O Porto pareceu-me acolhedor, mas o trânsito é de loucos. Há pontos onde os carros vêm de todos os lados e, às tantas, aquilo parece mais uma pista de carrinhos de choque.
Desculpe o tamanho.:)

Alice disse...

“Esta cadência febril torna impossível a conversa repousada”
Nem de propósito, Professor, este bocadinho do seu texto calha-me mesmo bem. Tencionava escrever que este ritmo a que o Blog obriga não me convém, não me serve. Quantas vezes não me apetece comentar um post atrasado, quantas vezes fico a pensar nalguma coisa que li ou escrevi há vários dias. Mas depois não o faço. Penso que já não vou a tempo, que passou o prazo da conversa ou do tema. A tal ironia que só o tempo permite e que a pressa nem deixa formar-se… Nesse registo da ironia , lembro-me com muitas saudades dos despiques entre os meus avós paternos, sempre a picarem-se um ao outro .
Desta vez fiquei a pensar na expressão novelos afectivos enrodilhados. Havia qualquer coisa que soava mal, apesar de a ideia ser claríssima, qualquer coisa não batia certo. Mas só hoje percebi o que era: os novelos, por via de regra são uma coisa muito organizada, são aquilo a que se chega depois de dobar a lã, que se comprava em meadas (vá lá, o corrector ortográfico conhece a palavra), essas sim um completo caos enrodilhado. Como pude esquecer os novelos que o meu pai, com uma imensa paciência, enrolava, perfeitamente esféricos e com um buraquinho no topo? Mas agora lembrei-me outra vez.

Daqui a uns dias pode ser que me apeteça comentar o post de hoje, está bem? Ou será que, sem querer, já o comentei?

Alice disse...

Noise, agora tu. Desculpa mas os cacilheiros ainda vão para Cacilhas, não para o Barreiro, fazem muita falta aqui na minha margem. Para o Barreiro vão quando muito os chamados barcos do Barreiro...
E, se faz favor, responde lá ao meu e-mail (três linhitas apenas, é o suficiente). Já percebi porque demoras tanto - passas o tempo a responder a desconhecidos e os conhecidos de uma noite só ficam para trás. Responde que não ficas a perder!

Inês disse...

Sabe bem ler coisas assim...

LR disse...

Professor:
O deleite que nos proporciona com as suas CRÓNICAS e o desejo que todos temos de partilhar as suas ruminações fez-me pensar hoje no seguinte:

-Porque diabo não mantém uma coluna num diário como o PÚBLICO? Ou num semanário como o EXPRESSO?
Ah, e RUMINAÇÕES até que era um título óptimo!

É assim: o comprimido deixou de dar efeito, já estamos em 2006! Passámos a ponte, embora (poli)traumatizados e assim estamos em altura de fazer planos, aqueles planos do costume: "juro que vou deixar de fumar outra vez; juro que vou à ginástica regularmente; juro que só me vou chatear quando quiser e não quando os outros quiserem; juro que vou acabar com as insónias; juro que não saio tão tarde do serviço; juro que vou fazer aquelas consultas médicas de rotina, todas atrasadas; juro que "o que lá vai, lá vai"...; juro que vou cortar drasticamente com as idas à net que não por questões de trabalho; juro que hoje vou ao Murcón pôr em "papel" a minha sugestão..."
Ai, ai! Parole, parole...

Mas este voto cumpro e aqui estou a lançar a ideia: tem de haver maneira de se conseguir uma crónica sua num mega sítio jornalístico qualquer!!!

Vou já mandar uns mails para alguns dos que conheço e pôr isto na caixa de sugestões!

Um bom ano para si.
Um bom ano para todos.

Este enleio das festas está acabar.
Estamos quase nos Reis (sobreviveu-se à melancolia republicana..para usar uma divertida expressão sua que não vou esquecer mais!)

Na Lua Nova disse...

Como disse F. Pessoa:
"Ser feliz é agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da Vida". Amiúde esquecemo-nos que são pequenos instantes de felicidade e de entrega que nos enchem de felicidade. Experimentem ir ao terminal de chegadas de um qualquer aeroporto e observem e absorvam a felicidade que os reencontros proporcionam! O reencontro com cada um de nós é tanto ou ainda mais gratificante! E são os pequenos refúgios que nos permitem saborear o tempo em câmara lenta! Super 2006 para todos!

Anónimo disse...

Neste ritmo febril, só agora me apercebi disto:

Contributors
Julio Machado Vaz
Chave

poderei saber o que significa?

A Menina da Lua disse...

Esta sua história de Paris fez-me logo lembrar a outra no início do livro de "Inteligência Emocional" do Daniel Goldeman; o tal motorista de autocarro que falava e cumprimentava as pessoas duma forma extremamente empática, conseguindo gerar nelas emoções estimulantes à vida ao ponto de ser chamado o distribuidor de "felicidades"...

Existem de facto pessoas assim naturalmente...mas eu continuo a acreditar que isso existe em todos nós. O dificil será estarmos bem connosco próprios e conseguirmos a forma de o trazermos cá para fora...

Em vez de vivermos feitos "baratas tontas" em ritmos que não são os nossos, seria bem melhor que nos encontrássemos connosco para nos podermos depois virar para os outros...A receita parece-me ser um pouco esta se bem que muitas vezes tão dificil de ser alcançada; a incompreensão mútua é generalizada e o esforço para a ultrapassar por vezes ainda é menor.

Anónimo disse...

Boa tarde:

Foi realmente um pequeno oásis, esse momento proporcionado aos utentes pelo sentido de humor de um condutor de metro em Paris. Depois disso, o deserto, na sua maioria, é mesmo composto por:
"Ombros caídos e neurónios em sobrecarga, balançando entre o cansaço mais embrutecido e a raiva mais à flor da orelha; passos rastejantes rumo a casa, que lar é palavra fofa, nem sempre compatível com tal estado de espírito. Depois, sobreviver, culpabilizados, à saúde abençoada e contudo massacrante dos miúdos; engolir qualquer coisa de mesa e televisão; guardar o sexo para noite menos curta e dormir o possível que não o suficiente, o despertador canta e o lamento é sempre o mesmo, incrédula – “já?” Se não estou em erro, os franceses resumiam esse traintrain journalier em rima nada poética: métro, boulot, dodo (metropolitano, trabalhar, dormir... Para onde raio terá fugido o resto da vida?)."

Não se vive - sobrevive-se. E quem pensa que sobrevive, na grande cidade, é quem traça a rota diária no GPS (estas férias fiquei "traumatizada" com isto - daí a metáfora :))esquecendo-se de olhar para o lado, para os sinais de desumanização que encontra. Gradualmente, essa desumanização vai-se entranhando nos nossos gestos quotidianos. Porquê? Porque, infelizmente, absorvemos todos os dias as imagens dos meios de comunicação social (e não só)que nos dizem que a cidade é perigosa, que há assaltos, violações, assassinatos (até no meio do público de um concerto) e por isso nunca falamos com estranhos. Ensinaram-nos a ter medo da e na cidade. Ensinaram-nos a fazer das ruas um espaço de e por onde se foge, em vez de um caminho para o aconchego de um sorriso. E quantas vezes não chegamos a casa a perguntar, "mas porque é que eu não parei, naquele dia, para segurar a mão daquele(a) desconhecido(a) que caiu na rua, em vez de me ter limitado a olhar, a uma distância "segura", se ele(a) se levantava ou não? Porque é que as consciências citadinas se contentam tão facilmente com uma chamada para o 112 e um seguir em frente, quem sabe, para comentar no trabalho o incidente matinal com um transeunte?"

Ainda bem que aqui e ali ainda é possível encontrar seres realmente humanos, como esse condutor.

PS:
Não tarda nada fico definitivamente contagiada pela bloguite... Já faltou mais, para se começarem a declarar os primeiros sintomas - nick azul. Me aguardem ;)

Lena b

Anónimo disse...

... não importaria o que significa a chave se pudesse ouvir, na abertura do blog, os votos de Lhasa de Sela em 'Para el fin del mundo o el año nuevo' ...

, em vez da bateria ...

RAM disse...

A propósito da meu último comentário - ainda no vetusto ano de 2005 - entendeu o caro Noiseformind contemplar-me com mais uma das suas diatribes.

Diz ele: "Por exemplo, a programação dos cinemas multiplex Cidade do Porto, e a Sala-Estúdio do Teatro do Campo Alegre tb está em funcionamento, portanto o que o RAM disse não faz sentido. O Passos Manuel não tem de forma nenhuma o exclusivo da programação alternativa na Cidade."

Pois bem, agradeço a distinção que um comentário tão singelo mereceu da sua parte, embora as razões de tal distinção permaneçam para mim na maior obscuridade intelectual, na medida em que não entendo em que aspecto é que o meu comentário “não faz sentido”.

Peca por simplista?! Sim, é verdade! Não só é simples na quantidade de vocábulos utilizados - dissertação estou escrever uma mas sobre outro tema - , mas também na superficialidade da análise...
...mas, meu caro Noiseformind, não era minha intenção efectuar uma dissertação sobre o panorama cultural em geral e cinematográfico em particular, muito menos sobre as razões de ordem sociológica (e/ou políticas) que lhe subjazem.
Aquele comentário, na sua simplicidade, - tipo “light” - tinha uma destinatário (que, como terá compreendido, não era você).

Portanto, não percebo, exactamente, com o que é que não concorda?
Nega a existência do “Passos Manuel”? Julgo que não!
Estabeleci eu algum nexo de comparação entre o Passos Manuel e o Nun’Álvares? Penso que não!
Por acaso escrevi que o "Passos Manuel" tem o "exclusivo da programação alternativa na Cidade"? Olhe que não! Olhe que não!
Disse apenas “Ainda sobra o Passos Manuel”... contexto: as “velhinhas” salas de cinema (conceito que, concordará comigo, não inclui o multiplex, nem mesmo o complexo do Campo Alegre).

Mas digo-lhe mais: a questão, quanto a mim, ia (vai) muito para além da estrita discussão sobre programações pseudo-alternativas ou verdadeiramente alternativas ou sobre espaços que dinamizam a cultura de massas em detrimento de expressões culturais "minoritárias" - triste adjectivação a minha; como se dizia nos tempos da saudosa XFM: “uma rádio para uma imensa minoria”.

A “denúncia” estava relacionada, creio eu, somente com a constatação/preocupação de muitos e vertida em palavras pelo nosso Anfitrião, que envolve a galopante desertificação da cidade, da baixa da cidade, traduzida na crescente aniquilação de equipamentos culturais e locais de tertúlia. Que dizer, por exemplo, e num outro registo, dos cafés da baixa que ostentam as reminiscência de um passado não muito longínquo onde os aspirantes à Ordem de Esculápio se juntavam às mesas dos cafés da Rua de Ceuta ou no Piolho e amenas tertúlias?! Hoje em dia, a praça dos Leões sob a luz das estrelas tem um ambiente de cortar à faca... literalmente!

Eu limitei-me a dar um exemplo de um local na baixa que consegue - com limitações de ordem arquitectónica/estrutural - permanecer com uma certa,... diria, pujança, no seio da desertificação crescente a que o Porto tem vindo a ser votado... politica, urbanistica e culturalmente!

Nega a veracidade da minha constatação? Julgo que não!

Julio Machado Vaz disse...

Lusco e Andorinha,
Proponho que festejemos a chegada da Primavera na Mindinha!
Aviso às tropas: atendendo à minha provecta idade, exigirei conhecimento prévio do circuito. Se o considerar demasiado fatigante acompanharei os outros murcónicos em espírito a partir do (meu) carro vassoura:).

Julio Machado Vaz disse...

Papu,
O Chico é como o Eça - está lá tudo!

Julio Machado Vaz disse...

Pamina,
Costumamos dizer que quem conduz no Porto está pronto para conduzir em qualquer lado! Devo-lhe confessar, no entanto, que nunca tinha ouvido teoria como a de um amigo em Milão, há muitos, muitos anos: o sinal vermelho é muito útil porque obriga os outros a parar:))).

Julio Machado Vaz disse...

Zante,
Nada de muito excitante:(, a chave sou eu. Andei a fazer experiências no blog e aprendi (?) a convidar novos membros. Criei um chamado chave e depois esqueci-me de o retirar. Por isso "postei" reticências, após você fazer a pergunta e eu o ter "desconvidado", mas aposto que havia outro modo mais inteligente de retirar a palavra do blog.

Julio Machado Vaz disse...

Papeldeparede,
Pois se até se fazem congressos sobre a humanização da Medicina! Quando e por que se terá ela tornado menos humana, para assim precisar de ser "injectada" de humanidade?

Julio Machado Vaz disse...

Ram,
Falar da Baixa portuense tornou-se quse uma demonstração de masoquismo:(. Sempre que a mostrei a colegas estrangeiros, noite fora, a pergunta foi a mesma: onde estão as pessoas? É tão bonito...

andorinha disse...

Júlio,
Por mim, proposta aceite!:)
Acho que é uma boa altura.
E qual carro vassoura, qual quê?
Os outros murcónicos puxam por si e em pelotão é tudo mais fácil.:)

Anónimo disse...

Julio Machado Vaz disse...
[...]
Pois se até se fazem congressos sobre a humanização da Medicina! Quando e por que se terá ela tornado menos humana, para assim precisar de ser "injectada" de humanidade?

É uma boa pergunta, professor. E nesses congressos já se conseguiu encontrar alguma(s) resposta(s)? Eu tenho sempre como referência aquela imagem dos médicos, na Idade Média, a observarem de longe os pacientes, a congeminarem acerca dos humores e a receitarem, invariavelmente, purgas e sangrias para tudo (ou quase). Daí para cá, já melhorou alguma coisa, na maioria dos casos (oh, optimismo! - ou sorte, depende do ponto de vista) mas ainda há casos que fazem lembrar esse panorama...
Não pode dizer assim muito sinteticamente uma ou outra conclusão dos debates sobre esse assunto? É mesmo curiosidade. Não sou socióloga, mas tudo o que tenha que ver com condição humana interessa-me.

Lena b

Julio Machado Vaz disse...

Papeldeparede,
A hipótese mais vezes aduzida é que a qualidade da relação médico-doente vem variando na razão inversa do avanço tecnológico. Um inquérito americano já clássico mostra que uma grande percentagem das pessoas interrogadas não se importariam de mudar de médico de família, o que foi interpretado como péssimo sinal.

Anónimo disse...

Andorinha

Eu até que podia pensar em ir a esse almoço. Só está à distância de um voo de 2 horas. Mas a partir daí só se tiver um lugar de navegador no carro vassoura.
Agora vou saír. Só ocupei o pc num intervalo deixado pelo adolescente de cá de casa.

Anónimo disse...

Professor, significa então que, quanto melhores são os meios de diagnóstico, maior é a distância entre médico e paciente? Ou será o sistema de atendimento no SNS que não permite consultas de mais de 15 minutos, porque é necessário dar vazão à grande quantidade de marcações? Ou será do médico, que até tinha tempo para dar as consultas mas que agora as tem de fazer à pressa porque se atrasou no consultório particular?
Será mesmo das máquinas ou da estrutura "empresarial" dos hospitais e centros de saúde?

Lena b

andorinha disse...

Sical,
Tens tempo de pensar:), é só para a Primavera.
Mas outro candidato ao carro vassoura????
Que se passa com os homens deste país???!!!:))))))))))

Anónimo disse...

Andorinha

O que se passa é que há falta de exercicio fisico e muito sedentarismo. Infelizmente.

Julio Machado Vaz disse...

Papeldeparede,
A tecnologia, por si só, não causa nada. Quanto às hipóteses que coloca, já as observei a todas. Mas em termos de Antropologia Médica sublinhamos a passagem dos meios auxiliares de diagnóstico para uma posição central que relega a aliança terapêutica para a periferia. É uma ilusão perigosa, quando cada vez mais se impôe uma abordagem psicossomática do binómio saúde/doença.

Anónimo disse...

P JMV

"É uma ilusão perigosa, quando cada vez mais se impôe uma abordagem psicossomática do binómio saúde/doença."

Eu diria que é fundamental. A relação médico-doente tem sempre de ter em conta essa faceta. E há certos aspectos que só uma boa ascultação dos sintomas é podem levar ao caminho certo. A boa forma, ou técnica, de se fazer o inquérito personalizado ao doente, é a chave do sucesso.
Me desculpe a ousadia, mas não sou médico. Mas sei que sou um doente dificil. E engano qualquer novato que se põe a fazer exames inuteis. E como ele não sabe perguntar eu tenho dificuldade em explicar. Na área da cardiologia.
Pois ..., coisas.

Anónimo disse...

wwwww

Anónimo disse...

Julio Machado Vaz disse...

"...em termos de Antropologia Médica sublinhamos a passagem dos meios auxiliares de diagnóstico para uma posição central que relega a aliança terapêutica para a periferia. É uma ilusão perigosa, quando cada vez mais se impôe uma abordagem psicossomática do binómio saúde/doença. "

Professor, sem querer transformar o seu blog num forum (é a última pergunta que faço sobre este assunto), diga-me, por favor:
Uma vez detectada essa tendência para se sobrevalorizar a tecnologia em detrimento da relação médico-paciente, o que é que tem sido feito, ao nível da formação dos médicos e restante pessoal envolvido na área da saúde, para se reverter ou minimizar essa situação? É que já há alguns anos que ouço dizer que não há doenças mas doentes e agora, pelo que o Professor diz, parece que ainda não se saíu dessa constatação... E a acção?

Lena b

Rui Diniz Monteiro disse...

As máquinas são rápidas. Estúpidas mas rápidas.
Cada vez são mais elas a marcar os ritmos humanos: por exemplo, quando a comunicação à distância mais rápida era a carta ou o telégrafo as pessoas tinham tempo, tempo para pensar, para conversar, para decidir; quando a comunicação passou a ser instantânea, onde o tempo para se ser humano em plenitude (excepto talvez para alguns seres extraordinários, como o condutor referido)?
Assim, é nos lugares onde as máquinas são mantidas a uma certa distância ou em pequeno número que há tempo e oportunidade para nos realizarmos completamente em humanidade. Tornámo-nos em rebanhos cujos pastores são as máquinas...

Obrigado, Professor, por tudo quanto partilha connosco. Desejo-lhe um ano de 2006 com muita saúde, alegrias e pleno de realizações pessoais!