domingo, março 26, 2006

De regresso.

Maria,
Cheguei do Algarve e do Congresso de Diabetologia com uma sensação estranha de apaziguamento. Nos últimos anos, os convites para falar em reuniões especificamente médicas ou de profissionais de saúde multiplicaram-se. O que enternece o "fugitivo" das enfermarias que fui. Hoje, tanto tempo volvido, penso que a psiquiatria não era a única solução, talvez a medicina familiar não corasse de vergonha por me abrigar. Facto é que sou psi, alguns vêem-nos como os últimos moicanos da arte - ou charlatanice... - que recusa o método experimental. Não satisfeito, ensino Sociologia Médica. Disciplina suspeita por tentar reflectir sobre a instituição, suas práticas e ideologias, recusando a linearidade do velho e reconfortante "contra factos não há argumentos". E é a este marginalzito que os colegas abrem os braços e deixam o prazer/angústia de escolher os temas das suas conferências. Estará a idade a tornar-me respeitável? Não sei. Mas revi gente que não encontrava desde os anfiteatros da faculdade e escutei intervenções sublinhando a urgência da educação médica, sobretudo na vertente relacional. Que mais poderia desejar? Pois se até a paella na Marina foi um sucesso... Desculpa, não me lembrei que estás farta da comida inglesa:(. Pronto, está decidido - amanhã mando-te uma francesinha por correio-expresso!
Um beijo e boa noite.

17 comentários:

Julio Machado Vaz disse...

Sousa,
Nada de estragar a minha imagem de amante atento junto da menina Maria! Mas olhe que a ideia dos bolos de bacalhau não é nada má...

Vera_Effigies disse...

Professor
Estou tentada a arranjar um Manel desses... :)))))Pelo menos não magoam.
E mais os bolinhos, num pic-nic, são só para o Professor. É só lucro :)))
Tudo de bom.
MJ

andorinha disse...

Ainda bem que continuam as boas notícias, a Maria fica feliz e nós também.:)
Gostei dessa do "marginalzito"...
Não atribua as culpas dos convites à idade. De certeza que os convites dos colegas são o reconhecimento da sua competência e de tudo o que tem feito na sua área profissional.
Ninguém o iria convidar só pelos seus lindos olhos.:)))

Elsa disse...

As margens também são necessárias e quem nelas caminhe para contar coisas da corrente que não flui. :)

ASPÁSIA disse...

British Coconut said…

Eu sou o último, não dos moicanos, mas do cabaz de cocos que a Maria recebeu no day after de S. Valentim. Venho dar notícias do meu sucesso em Londres e também apresentar uma moção de repúdio.
De facto, naquela fatídica noite, os meus irmãos foram ignobilmente devorados, quais os filhos de Cronos, mas eu, amado de Zeus, caí da cesta para debaixo da cama da roommate da Maria (a Mariel). Assim, escapei à orgia e, no dia seguinte, apresentei-me no British Council onde me fiz naturalizar britânico, apresentando a irrecusável razão de ter sido enviado pelo Prof. Julian Ax Go of Oporto, eminente botânico discípulo de Lineu, a fim de ser inaugurada uma Alameda do Coqueiral no Botanical Garden de Londres.
Assim, fui plantado e já dei origem a três belos coqueiros, baptizados de Maria (o mais esbelto), Sousa (o mais espinhoso) e Gertrudes (o mais atarracado).
Creio-me, assim, estar suficientemente credenciado para ingentemente me opôr ao envio de qualquer francesinha à Maria, pois temo que essa estrangeira, copiando o meu exemplo, se lembrasse de inaugurar aqui em Londres alguma tasca especializada em francesinhas, o que seria mais um choque para os já tão causticados estômagos dos pobres súbditos da Dona Isabel.
Venho assim, e por intermédio de uma tal de Aspásia, que me disse ser alcoviteira deste blog, manifestar vivamente o meu repúdio.

Down with the Little French Girls of Oporto!!
Hooray for the British Coconuts all over the world !!!

ASPÁSIA disse...

Prof.

Desculpe este coco, é um autêntico psicopata e obrigou-me a pôr-lhe aqui o protesto, senão afogava-me no seu próprio óleo.

Mas ainda bem que essa sortida ao Barlavento o deixou tão bem disposto. E mande, mande a francesinha que a Maria vai lamber-se toda...

Beijinhos

Pamina disse...

Bom dia.

Os cocos foram boa ideia, quanto à francesinha...Não seria melhor algo mais light? Que tal uma lampreia do Minho fumada? E até é mais fácil de embalar e tudo.:))
Oh well, como os ingleses costumam dizer: "it’s the thought that counts", portanto qualquer que seja o miminho será certamente apreciado (embora não necessariamente comido. O amor é louco...mas ao ponto de ingerir aquelas calorias todas?):)))

Mário Santos disse...

Também concordo que a vertente relacional precisa de ser trabalhada, sobretudo numa área em que para se trabalhar se tem de ter uma notas tão altas que não sei que tempo sobra para cultivar as relações.

AQUILES disse...

Prof.
Presumo que o convidem por competência.
Mas convém estar atento para o dia em que o convidem não porque não tenha nada de novo para dizer, e portanto nada polémico que abale o politicamente correcto, mas porque abrilhanta o ramalhete. Há sempre o dia de abandonar o estádio, mas nunca a bancada. Se as pernas já não correm bem, a capacidade de ajuizar criticamente é um bem inestimável para uma juventude atordoada e alienada pela velocidade do ritmo de vida hodierna.

(Para os ainda distraídos informo que sou o ex “O Sical”, que para continuar nesta tertúlia teve de aderir a registar-se na blogoesfera. E tenho um blog, DIVAGANDO, que não faz concorrência, mas ao qual são bem vindos.)

ASPÁSIA disse...

Isabel P.

Obrigada pela tua apreciação, és muito amável... eu diverti-me a escrever espero que se tenham divertido a ler...

Pois o Go é que foi mais difícil, é o mais próximo possível de Vaz ou seja "Vais"... Mas eu se fosse inglesa devia rir-me, pensando que o Prof. era uma espécie de "lenhador"!!! (vai com o machado)... Também como no texto ele é botânico... até calha bem! E já agora
a odisseia do british coconut também pode assinalar o dia do Teatro.

É giro brincar com as palavras...

Kisses para todos

andorinha disse...

Boa tarde.

Como já foi dito por del mare e Mário santos, a vertente relacional precisa de ser trabalhada. Espero é que não sejam só palavras de circunstância e que se dizem porque fica bem numa conferência; espera-se agora que os médicos aperfeiçoem essa componente na sua prática diária.
É que entre a teoria e a prática às vezes vai uma enorme distância, como todos sabemos.

CêTê disse...

Não tendo razões de queixa de atenções dispensadas essa "Maria" deixa-me com uma ponta de inveja, vá-se lá saber pk!

Realmente, professor! Não admira que sendo (que eu não acredito, de todo que seja 100% algodão) tão tão tão seja um autêntico impecílho. Livra! Passará pelo martírio da depilação e por TPM?

Vanda disse...

Professor, os convites são decerto por ser quem é:) saber o que sabe :) e "falar" dessa forma :) e não por distração!

O Sousa é que sabe, há lá coração que resista aos bolos de bacalhau :)

...Por resistencia e coração...ai amanhã, Professor!!! :-O

Saudações lampionas oh ye :)

noiseformind disse...

Boss,
Livra-te de te tornares respeitável, coloca rigosora barreira ao longo do merediano da bonomia e agarra-te ás rochas da irreverência com todas as tuas forças ; )))))
Quanto à vertente relacional na medicina vamos indo a rasto, somos lastro de culturas distantes. Otawa já não aceita estudantes que não tenham feito 6 meses com pacientes de elevado grau de falecimento ao longo do liceu, Penn coloca entraves a estudantes sem voluntariado de responsabilidade sobre acamados. As bolsas de Harvard estão desde 93 indexadas em parte a serviços prestados no campo do acompanhamento paliativo. Um dia destes a "moda" pegará por aqui. Mas com as (falta de) condições dos centros de saúde, em que há um médico para 4000 ou 5000 pessoas, não há educação que nos valha. A Santa Senhora Minha Mãe já não aceita outra médica que não seja a ucraniana com quem se cruzou há 2 anos numa urgência. Apesar das calinadas na língua, nunca percebeu os tratamentos e os medicamentos tão bem como hoje ; ))))))))))))

Julio Machado Vaz disse...

Aquiles,
Tem você carradas de razão, espero manter-me lúcido:(.

maloud disse...

Se o Congresso foi no Algarve certamente era respeitável, agora se implicasse viagem às Maldivas...

Quanto ao relacionamento dos médicos com os doentes há de tudo. Há 30 anos encontrei um, que queria ensinar-me a meia dúzia de palavras que era suposto usar, para falar com a população autóctene de uma vila do Minho. Claro que isto deu um diálogo surrealista, em que eu dizia coluna e o jovem, pressurosamente traduzia por cruzes. Quando me fartei daquela palermice, expliquei-lhe o que lhe devia ter sido explicado, antes dele ter aterrado na vila. Ainda hoje, a minha empregada vai ao centro de saúde e depois, lá tenho eu, com os vastos conhecimentos de Medicina adquiridos na Fac de Letras, de descodificar as dietas que a sôtora achou convenientes para a hipertensão. Porque o pouco sal, para quem despeja o saleiro no estufado, é vago. Porque beba água, para quem nunca tem sede, mais vago é.

Luzinha disse...

Uma verdadeira doçura as suas palavras para a Maria... Acho que é do melhor, ler palavras que foram escritas a pensar em nós... Abençoada Maria!!! Só pode ser uma mulher de sorte...

Um sorriso