Portugueses vão manter as terapias hormonais ELSA COSTA E SILVA*
Em Portugal, cerca de 120 mil mulheres fazem terapêutica hormonal de substituição (THS) para tratar os sintomas ligados à menopausa. Um tratamento que volta a estar sob polémica depois de um estudo, ontem publicado na revista Lancet lançar novos dados que relacionam a THS com um risco aumentado do cancro do ovário em cerca de 20%. Risco esse que, cruzados os dados de incidência de cancros do útero e da mama, atinge os 63%.Contudo, este trabalho - a actualização de uma investigação britânica de 2003 - é, segundo a Sociedade Portuguesa de Menopausa, "controverso" entre a comunidade científica. E, para os médicos portugueses, a THS continua a ser válida para tratar situações de desconforto em mulheres que atingem a meia-idade.O alarme relativamente à THS começou a surgir em 2002, quando estudos de larga escala sugeriram que o risco de cancro da mama estaria aumentado nas mulheres submetidas a esta terapêutica. A atenção debruçou-se sobre um medicamento que até então era visto como uma resposta simples a problemas que iam dos sintomas próprios da menopausa a doenças cardíacas ou osteoporose.Uma prescrição quase indiscriminada que acabou por levantar o problema dos efeitos colaterais. E, um pouco por todo o lado do mundo ocidental, foram registados casos de mulheres com cancro da mama, cuja doença começou a ser associada à THS.Em 2003, o estudo Million Women Study apresentava o que poderiam ser evidências de um risco realmente acrescido de cancro da mama. Esta investigação foi construída com base numa preocupação que não é nova: é que, sendo 70% dos cancros da mama ligados a factores hormonais, uma terapia com essa base poderia, de facto, aumentar ou acelerar a proliferação das células malignas."Recebemos mulheres com cancro da mama e que estiveram em THS, mas há casos em que não fizerem este tratamento. E, mesmo que tenham feito, não há como garantir uma relação de causa-efeito, nem que não teriam tido a doença, caso não tivessem tomado este medicamento", explica Deolinda Pereira, médica do Instituto Português de Oncologia do Porto.Contudo, o alarme criado em 2002 e 2003 levou muitas mulheres a abandonar voluntariamente a terapêutica e levantou dúvidas entre a própria comunidade médica relativamente ao medicamento. "Penso que houve um boom de prescrições, mas hoje a classe médica é muito mais cautelosa na prescrição e o seguimento das pacientes é mais rigoroso", explica Deolinda Pereira. E as novas conclusões do estudo da Lancet, refere Mário Sousa, presidente da Sociedade Portuguesa de Menopausa, não produzem "evidência médica" que seja aplicada em clínica. Mário Sousa garante que, entre a comunidade científica, este estudo é "contestado, nomeadamente pela metodologia que utilizou". "Não tem significado para nós, a não ser pelo número de mulheres envolvidas", garante o médico, até porque, em alguns casos, houve mesmo "erros de prescrição".Deolinda Pereira explica ainda que estes problemas detectados no estudo levam a que as conclusões sejam, "pelo menos, questionáveis" e que, se não tiverem sido alterados os pressupostos metodológicos, este novo estudo deve ser "lido com cuidado".Ambos os médicos salientam que, para a prática clínica, há outro estudo norte-americano "cientificamente válido": o Women Health Initiative, também de 2002, mas que numa reavaliação posterior e recente demonstrou, por exemplo, que nas mulheres em THS entre os 50 e 59 anos, se verifica uma redução de todas as causas de morte, inclusive por cancro. "Este é um trabalho mais bem delineado e as suas conclusões aceites cientificamente", adianta Deolinda Pereira.Por isso, a THS continua a ser indicada. O que é recomendável, explica Mário Sousa, é que a prescrição obedeça às indicações do medicamento, ou seja, que estejam presentes os sintomas relacionados com a menopausa, como suores nocturnos ou insónias. Outra dimensão a não esquecer são as contra-indicações à THS: tumores hormonodependentes, doença hepática grave, hemorragia não identificada ou tromboembolismo. Por isso é que, num total de três milhões de mulheres portuguesas em menopausa, apenas 4% estarão a fazer THS.Mário Sousa salienta ainda que a THS não deve ser encarada nem prescrita como uma terapêutica contra a osteoporose, uma doença também pós-menopáusica, porque essa não é a sua "finalidade primária". Uma recomendação que segue, aliás, as orientações dadas pelo Infarmed, em 2003, na sequência da polémica levantada pelos estudos entretanto publicados. Os médicos adiantam ainda a necessidade de avaliar o tempo de duração do tratamento, que, dependendo dos casos, se deverá situar entre os cinco e os sete anos.As orientações aos médicos que prescrevem THS passam ainda por, em primeiro lugar, não indicar o tratamento quando a mulher se mostrar muito preocupada com a situação. Outro cuidado que os profissionais têm de ter é avaliar, periodicamente, as mulheres no que diz respeito ao cancro da mama, confirmando que são submetidas a mamografias regulares. * Com Filomena Naves
19 comentários:
Terapêutica hormonal de substituição ?! A avaliar pelo número crescente de mulheres que fumam, de mulheres que se embebedam, de mulheres que cometem crimes, etc, etc, o que as mulheres precisam é de uma "terapia de susbstituição de neurónios"... ;-)
Claro que sim! Afinal de contas quem é que já ouviu falar em homens que fumam, que se embebedam e que cometem crimes?
Boa tarde.
Estudos controversos como estes passam-me ao lado, não estou para estoirar os neurónios:)
Confia-se no nosso médico, esclarecem-se dúvidas, fazem-se exames regulares e pronto...é o que eu faço e não ligo a estes estudos alarmistas:)
"...num total de três milhões de portuguesas em menopausa, apenas 4% estão a fazer THS."
Fiquei espantadíssima, pensei que eram muitas mais...
Fora de lei(4.17)
Que fumas, já nós sabemos, não sei se te embebedas e se já cometeste algum crime:), não estarás a precisar de uma TSN?:)))
...bom fim de semana
...abreijos
;]
Pois é! A industria farmacêutica tem muita influência...
A "sorte" dela é que o efeito dominó labirintico neurohormonal é tão complexo que o "monitorizamento" para identificar causas-efeitos poderia sempre ser usado para defesa dos seus "milagrosos" produtos. Que em alguns casos são mesmo de receitar (claro).
Outra coisa que estranho é não se estudar a eventual relação entre o uso de fraldas e a diminuição da fertilidade masculina. ;]
Tenham um bom fds.
Confesso que tou um bocado baralhada, mas por enquanto faço o que me recomenda o meu médico, se não confiar nele em quem poderei confiar?
Ah! esqueci de dizer que faço parte daquela pequena percentagem que toma TSH.
Boa noite.
De acordo com a minha experiência pessoal, as opiniões dos ginecologistas portugueses sobre este assunto variam muito (desde o desaconselhamento para todas as mulheres, até ao inverso), pelo que uma mulher poderá escolher fazer TSH, ou não, um pouco por acaso, consoante o médico que lhe calhe em sorte (se for "doente" da Caixa) ou que ela própria escolha.
Tenho um folheto muito interessante, com uns diagramas
estatísticos, que o Dr. Neves-e-Castro me deu e que gostava imenso que vissem, mas não se pode colocar aqui. Talvez no Post it.
Claro que, de qualquer modo, este folheto se refere "apenas" a mais um estudo/mais uma opinião.
Desejo a todos um bom fds.
Olá Boa noite
Estive presente numa conferência médica há cerca de dois anos sobre a menopausa e constatei que os médicos conferencistas das áreas de ginecologia e farmacologia, já na altura (uma ginecologista italiana) falava num estudo que apontava para eventuais perigos da referida medicamentação ao nível de doenças cardiovasculares e cancro.
No final da conferência fiquei com a sensação que só mesmo em situações extremas fazia sentido tomar a medicamentação; ou seja os riscos dos eventuais efeitos não compensavam a pouca qualidade de vida por os não tomar.
Na altura falei igualmente com uma médica que tambem me disse e em contrapartida se uma mulher já tivesse iniciado a medicamentação não seria nada aconselhável parar com ela de repente.
Parece-me igualmente tratar-se de estudos pouco definitivos em termos de conclusão, onde está ainda longe o resultado final da sua total investigação...
Esta como outras controvérsias em torno de questões médicas é bastante antiga.
Já há mais de quarenta anos que ouço gente a pronunciar-se a favor e contra a THS.
A minha mãe, foi aconselhada a aguentar "os calores" e não tomar a injecção, pois um médico lhe disse que à sua própria mulher não autorizava a tomar.
O médico da minha mulher, pelo contrário, era de opinião que esse tratamento deveria ser feito.
No entanto, ao fim de alguns anos, por insistência dela, acabou por mudar a medicação. Assim, actualmente toma um "suplemento alimentar" com isoflavonas de soja e mais umas coisas, que tem um nome catita: Menopace...
No entanto, vá lá saber-se quem está certo...
Quanto a estes estudos, desconfio sempre. São os estudos médicos, as sondagens e os pareceres jurídicoa. A gente encomenda e o resultado que interessa, lá sai...
experiencia
Que chatice, gostaria de intervir na discussão, mas não entendo patavina do que discutem...
(snif!)
Boss,
Já aqui me dei ao trabalho (outros tempos...) de mostrar que as notícias alarmistas sobre a HRT se baseiam em acréscimo de incidência sobre deci-permilagens. Ou seja, quando se diz que houve um aumento de incidência de um determinado cancro, por exemplo, estámos a falar sobre 10.000 casos registados.
E depois há aquele estudo que diz que a taxa de médicas que usam HRT nos EUA é de cerca de 50% (60% nas com menos de 50 anos) enquanto que a taxa geral de mulheres que recorrem à mesma terapia n chega aos 20%. isto à 10 anos atrás... O que é, por si só, elucidativo da avaliação para a melhoria das condições de vida colocada pelas médicas versus a avaliação alarmista que tanta revistagem tem pressa de meter cá fora.
Em relação à soja é uma palhaçada que, não fosse a indústria de 70 mil milhões de dólares por trás, já estaria fora de cena à muito, tanto é o estudo a mostrar que até placebos conseguem ser mais eficazes que ela.
Phytoestrogens and Menopause
Just another con?
If you've read anything about soy phytoestrogens it's most likely that you've read that they help women through tmenopause. Spend five minutes on the internet and you can find claims, such as the following, being made:
Encore-soy: Some Isoflavones convert into weak phytoestrogens in the body and have been found to ease the difficulties of hot flushes, tension and mood swings experienced by many menopausal women.
Promensil (by Novogen): Scientific research suggests that diets high in all four isoflavone phytoestrogens, or naturally occurring dietary oestrogens, found in red clover, can be effective in relieving the symptoms of menopause.
Phytolife (by Blackmores): Blackmores has formulated a therapeutic dose of soy in a concentrated nutritional supplement for women approaching and experiencing menopause.
Phytosource (by Herron): As women, we're aware that menopause brings about changes to our bodies. But these changes can vary greatly from one individual to another. today the most common form of therapy is HRT. However may women aren't prepared to take this. For those who prefer a more natural form of treatment, Herron has developed two complimentary supplements from their Body Optimum range.
Sad to say if you believe these claims you've been conned. And not only conned about the benefits of isoflavones, but manufacturers of isoflavone supplements have failed in their duty to inform you that taking isoflavone supplements places consumers at increased risk of thyroid disease and cancer. Read more here http://www.mercola.com/2002/jan/12/menopause.htm. Also read our Big Ugly Bull Award for Novogen.
The Office On Womens Health, US Department Of Health And Human Services have also released a press statement urging caution on soy-based menopause remedies. To quote Dr Whitehead of St Georges Hospital Medical School, London, "We really don't know how phyto-estrogens act in the human body". The safety issues of phytoestrogens in breast cancer patients have also been raised in correspondence to the Journal of Clinical Oncology.
Phytoestrogen Therapy for Menopausal Symptoms? There's No Good Evidence That It's Any Better Than Placebo By Susan R Davis, FRACP, PhD.
Resumindo e concluindo. Num mundo de ignorantes, em que a maior parte dos seus habitantes têm até preguiça mental de introduzir meia-dúzia de palavras no google, prospera o marketing e o "conselho elevado" de profissionais de saúde pagos a peso de ouro para receitar determinados produtos. Ainda não À muito tempo uma amiga minha a entrar na menopausa andava por aí de rastos em termos de saúde mental e física e a médica escudava-se no período de um ano desde o último menstruo para não lhe iniciar a HRT e ia-lhe pasando umas sojazinhas que não são comparticipadas e por isso são tudo lucro para as farmacêuticas. Finalmente lá convenceu a Sôtôra a dar-lhe os bichos e lá se foram os males dela. Mas que se há-se fazer?
Interessante como a hiper-fluorescente HRT para homens n é sequer beliscada por estes estudos tão alarmistas para as mulheres. Serão os homens assim tão de Marte e as mulheres tão de Vénus? Ou em mercado que floresce n se mexe? (rimei e tudo... sou um poeta)
Boa noite.
Na sequência do meu outro comentário, e do comentário do Noise, deixo então um link para o folheto que o Dr.Neves-e-Castro, o fundador da Sociedade Portuguesa de Menopausa, me deu.
Os dados nele indicados são, evidentemente, da exclusiva responsabilidade dos autores do folheto.
Folheto 1
Folheto 2
Indico também um link interessante da OBGYN.net
O meu compatriota:), Prof.Barentsen, teve lá uma rúbrica até 2002.
http://www.obgyn.net/women/women.asp?page=/corresp/barentsen
Não conheço pessoalmente o Dr.Barentsen, mas já fui a Apeldoorn para uma consulta com o Prof. van de Weijer, também da direcção da Sociedade Holandesa de Menopausa. Ele ficou appalled (foi a palavra usada) com o modo como um problema ginecológico que tive foi tratado em Portugal. Mas isto já é outra história.
Se utilizarem o Internet Explorer para abrir o folheto, a imagem pode começar por abrir grande, mas depois ajustar-se ao tamanho do écran e ficar pouco nítida. Para tornar a vê-la a 100%, basta carregar no canto inferior direito da imagem.
Pamina,
Lá está, era de divulgação desse tipo que era preciso aí em Portugal :((((
Boa noite.
Apenas umas palavrinhas rápidas para dizer, como já deixei subentendido em cima, que estou no mesmo comprimento de onda do Noise e da Pamina. Viva a HRT e os benefícios que ela traz!:)
"The small increase in the incidence of breast cancer in long-term users of HRT should be considered in the context of the benefits of HRT. Long-term use is indicated for the prevention of serious disorders as osteoporosis and cardiovascular disease (and perhaps also useful in the prevention of dementia). Only in women without any risk factor for these diseases and especially for cardiovascular disease, the excess of breast cancer is of real importance in terms of cost-benfit calculations. But for some women a small increase in the incidence of breast cancer is so terrifying, that they accept the probability of an earlier (premature) cardiovascular death."
"Short term use has no breast cancer risk."
Prof. Barentsen.
Vantagens vs eventuais efeitos secundários.
Será que as mulheres preferem viver com menor qualidade de vida com receio de hipotéticas doenças futuras?
Eu não:)
Miúdo, pelo que contas, essa tua amiga deve ter passado as passas do Algarve:(
gostei dessa tua lucidez andorinha...
e prof ..uma perguntinha em sussurro, os medicos avaliam????
jocas maradas..........
...às 12.00 h. o nosso Boss na RTP 1 falou do "nosso" Porto (cidade)
...gostei das "definições"
É bom visitar o murcon sempre que me lembro e posso- é bom ver que na net se encontra informação pertinente e gente inteligente e sensível qb.
Espero que o Prof JMV se mantenha no activo por muitos e bons anos :-)
Quanto à THS...quando precisar seguirei conselhos médicos, a única coisa que me chateia e me tocará directamente, é saber que todas as síndromes dolorosas se agravam na menopausa...:(( mas daqui até lá não me doa a cabeça, já que me doi tanta coisa ao mesmo tempo e eu justamente até tento é abstrair-me!
Já agora deixo uma pergunta: alguém me saberá dizer quem em Portugal se debruçou ou debruça sobre a sexualidade de pacientes com dor crónica? Não falo de doentes oncológicos terminais, falo de uma larga faixa da população, boa parte em idade fértil e activa (a que melhor conheço são as mulheres jovens com fibromialgia). A tendência dos próprios profissionais de saúde é esquecer que uma sexualidade gratificante faz parte da qualidade da vida das pessoas.
Ainda a propósito, atrevo-me a deixar uma sugestão: se o professor me ler pondere por favor a hipótese de abordar o tema num dos seus programas "O amor é" na RDP antena1. Acredite que é uma área pouco explorada e há muito sofrimento silencioso em mulheres e casais bem antes da menopausa.
Um abraço
Cristina Seabra
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