segunda-feira, dezembro 31, 2007

Private investigations.

Examinou o bidé em busca de respostas. A primeira era evidente, mas não dissipava o nevoeiro - casa de putas sim, mas longe de França, país avesso à existência de lavatórios especializados para vergonhas prazenteiras. Acordara em prostíbulo nacional. Mas antes ou depois de? A relativa limpeza de tão útil acessório, que significava? Ainda nada acontecera de espasmósdico? Ou, findo o acto, a profissional – hipótese masculina era demasiado monstruosa! – deixara-o cozer a bebedeira, enquanto preparava o palco para o actor seguinte? O pêlo solitário que namorava a margem do ralo era seu, dela ou de transacção antiga? Associação de mau-gosto injectou-lhe na alma versos favoritos dos pais - despidos de grandeza; brejeirotes; heréticos: “e o bidé cala a desgraça, o bidé nada me diz…”.

domingo, dezembro 30, 2007

Ó Diabo:(.

A memória não acompanhara a ressurreição dos sentidos – o olfacto protestava em altos berros… -, impossível dizer como desaguara naquele hino à decadência, mas não seria a falta de compreensão a impedi-lo de se pirar. E rapidamente. Porque no meio de tanta decrepitude, junto à porta, reinava, qual pia baptismal…, um bidé! Escoltado por toalha de um branco razoável e sabonete virgem, indicando atendimento personalizado e esboço de serviço de quartos. Não, não sabia como ali chegara, mas apostava singelo contra dobrado que tal pocilga, embora caquética e merecendo reforma, fazia parte da indústria do sexo (expressão politicamente correcta que procurava incorporar no discurso falado, mas que com muita dificuldade lhe ocorria quando dava rédea solta ao do imaginário:().

sábado, dezembro 29, 2007

O tipo não está numa nice:(.

Olhou em volta. Devagar, devagarinho, pois o raiar da lucidez trazia consigo pedras intra-craneanas, cada movimento gerava um chocalho assassino. Rendeu-se à evidência - desancar o papel de parede era injusto, o resto do quarto pertencia ao mesmo filme de terror: a cadeira de três patas, num equilíbrio precário; o guarda-vestidos, porta de espelho sujo e presa de um só gonzo, lembrava saloon do velho oeste; a cama, de colcha suja e à sombra de Última Ceia cujos agravos às figuras dos discípulos sugeriam que se tinham antecipado ao Senhor no martírio; o sofá com numerosas feridas e respectivas hemorragias de espuma; o lustre, outonal, tantos os pingentes desaparecidos; a alcatifa, viúva de aspirador há uns bons anitos...

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Será um personagem que chega?

Foi o papel de parede a esfiar o denso nevoeiro que se lhe interpunha entre os neurónios e o mundo em redor. As listas brancas não eram chocantes, apenas sebentas. Mas as verdes…; as verdes exibiam ramagens de uma luxúria biliar, entrecortada por anjinhos nédios e róseos; verdadeiros leitões da Bairrada, humanizados por uma qualquer divindade grega, tão bebida como ele... A visão produziu um efeito explosivo, como se tivesse emborcado um shot quádruplo de guronsan, chá preto, speed e cafeína destinada a futebolistas pelintras sem acesso a doping mais sofisticado.

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Era uma vez dois putos e a Avó fazendo castelos na areia.

Minha Mãe e meus filhos na praia do Molhe, há cerca de 25 anos. Quando todos nos abrigávamos nos braços dela...

segunda-feira, dezembro 24, 2007

24/12.

De regresso ao Porto para as festividades. Com alguma pena, quando saí de Cantelães o espectáculo era soberbo - sol a rodos e o campo teimosamente branco:). Resta a consolação da ponte de fim de ano.
Para todos vocês, um abraço fraterno, ups!, paternal (não quero ofender essa pletórica juventude...). O Murcon permanece parte importante da minha vida, e o tempo decorrido permite decretá-lo mais do que efémera paixoneta tecnológica. As zangas, abandonos, regressos e discussões provam que a tertúlia sobreviveu à idealização inicial e ao inevitável luto, sem o fazer ninguém constrói uma relação duradoura. Desejo o melhor a quem partiu, agradeço a quem ficou, sei que abriremos os braços a quem chegar.
Boas Festas, maralhal.

sábado, dezembro 22, 2007

Hora(s) de decisões.

Finalmente Cantelães! O trimestre foi alucinante e nas próximas duas semanas terei de decidir como será 2008: regressar à televisão após o fim do Serralves fora de Horas?; escrever?; abrandar? Não sei. Há coisas que ainda gostaria de fazer, sobretudo para sacudir o rótulo de sexólogo em full-time, afinal ensino com enorme gozo Sociologia Médica. Mas pensar a Medicina, com a ajuda de amigos mais competentes do que eu, será uma tarefa cansativa, mesmo no "colo" que Serralves se tornou para mim. Não sei. E não creio que o Pai Natal me ofereça uma decisão "pronta-a-vestir":).

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Notas breves.

Novo link, um dos amigos que tornou possível o Murcon entrou no ramo dos - abençoados... - primeiros socorros:).

Mão gentil fez-me chegar CD-ROM com algumas das intervenções de minha Mãe na televisão. Aquela voz... A timidez espreitando a cada frase. E a consciência social aprendida no quotidiano e não nos livros - "Sabe você, Herman, no país em que vivemos o meu filho é mais importante do que eu." Uma saudade imensa. A sensação que me acompanhará até à morte - a sua força sempre me assustou, mas foi também a inspiração para vencer as minhas próprias inibições em face de uma vida pública que nunca previra.

The Queen is not dead, who knows how long will live the future king?

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Vocês mandam!

A culpa afrodisíaca parece-me compatível com a frieza "não deliberada" que caracteriza a inocência, entendida como desconhecimento do amor. Também as crianças misturam culpa e crueldade na sua descoberta da vida...

domingo, dezembro 16, 2007

O amante.

Amou-a com a tenacidade do remorso, a volúpia da culpa, a frieza da inocência. Como seria de prever, acabou por a sufocar. Literalmente...

sábado, dezembro 15, 2007

Talvez peque por defeito...

Ninguém aqui leu uma crítica à equipa do Benfica quando perdeu com o Futebol Clube do Porto. Não seria justo, fizeram o que puderam e sabiam contra um adversário superior. Por isso não tenho qualquer rebuço ou dúvida em escolher o adjectivo para a exibição de hoje contra o Belenenses - vergonhosa.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Quase, quase em auto-piedade:).

A tristeza é, muitas vezes, um apeadeiro inevitável a caminho da lucidez. Acho que percebo a razão. Mas preferia que a paragem fosse menos demorada...

terça-feira, dezembro 11, 2007

Fim de ciclo.

Amanhã gravarei o último Serralves fora de Horas e, sem ofensa para nenhum dos convidados, não tenho dúvidas quanto ao momento mágico da série - o diálogo com Siza Vieira. Aos 58, cada vez mais me apetece ouvir e aprender. Intervindo, claro!, mas com a reconfortante sensação de os holofotes, por trás de mim, apontarem na mesma direcção que tomam as minhas perguntas e ouvidos:).

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Stress deprime o msistema imunitário (da Agência Lusa para os murcónicos).

Mas claro que ando stressado. Pois se até vos desejo as boas noites da Covilhã!

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Finalmente no lugar adequado!

Um furúnculo traiçoeiro fez-me o ninho atrás da orelha. O Octávio, peremptório - "Só vai de antibiótico oral. E mesmo assim, não sei, talvez seja preciso abrir." Perante o meu desânimo - "Sebo!, tudo se junta" -, recorreu às virtudes terapêuticas de um bom Callabriga. O antibiótico vem fazendo o seu trabalho e, com cruel displicência, pelo caminho trucida-me a vesícula. Hoje, à entrada do Instituto, a pústula decidiu rastejar até à luz do dia pelo meu pescoço abaixo. Na portaria, a solução foi imediata - "Fala-se ao Professor Mário Sousa!" E lá fui eu chatear um antigo aluno... Diagnóstico reafirmado com evidente alívio - "Óptimo, abriu espontaneamente." Dez dias de antibiótico para prevenir eventuais complicações. Dez... Apeteceu-me ajoelhar e pedir-lhe um desconto, mas o bom do Mário já se angustiava, "como te faço o curativo, para dares a aula?" A hesitação, "importas-te de ir...?" Mas claro que não, é o destino e a sua renomada sageza! Lá fui. A colega, lutando bravamente contra a minha purulência - "quer ver, professor?" Nem pensar!, conheço a podridão de que sou capaz... Penso feito, o uivo doloroso de um cão emoldurou-me a saída grata e o sorriso gentil dela. Corredor fora, envergonhado pelo atraso e esbaforido por dois lanços de escada, compreendi o protesto e pedi em silêncio desculpa pela cunha que me permitira "roubar-lhe" a atenção da colega. E assim se passou a minha primeira consulta de medicina veterinária:))))))).

quarta-feira, dezembro 05, 2007

The bitch is back ( yet again!).

Ida e vinda ao Algarve em 24 horas pelas melhores razões, mas com o cansaço a fazer valer os seus direitos. Quando tentava sobreviver ao nevoeiro da A1, sms de um velho amigo a anunciar golo do Benfica. Desaguei em sua casa, grato pelo carinho que derramara sobre um arroz delicioso. E ficámos à conversa, cúmplices de tantos anos. Não me entendam mal, não se trata de machismo que transforma as mulheres em objectos que saltitam de mão em mão (masculinas) - à medida que lhe ouvia a ternura, pensava que não hesitaria em o "recomendar a viúva minha". E sendo eu ciumento - mesmo à posteriori! -, é este o maior elogio que lhe posso fazer:).

domingo, dezembro 02, 2007

Boa semana, que a minha vai ser alucinante:(.

"Mais do que um aristocrata, o burguês é muito sensível a estas tonalidades. Até à hora da morte, o burguês precisa de se afirmar. O aristocrata, logo ao nascer, já mostrou quanto vale. O burguês está condenado a acumular, ou a conservar."

Sándor Márai, A mulher certa.


Acabei o livro. Que é magnífico. Mas os personagens parecem-me, aqui e ali, soterrados pela análise histórica e sociológica. Em "As velas ardem até ao fim", na minha opinião, Márai atinge o mesmo objectivo sem lhes roubar a boca de cena. Na minha opinião? Já a formiga tem catarro:).

sábado, dezembro 01, 2007

Não compliquemos.

A vitória do Porto foi justíssima e ponto final. No campeonato:).