quinta-feira, setembro 25, 2008

Outono.

Dois dias, dois velórios. Em ambos a dor era adulta e o alívio criança. Porque as pessoas viram os seus amores em longo sofrimento, sobreviventes de naufrágios próprios. E perguntaram vezes sem conta quando acabaria o obsceno esmaecer das tintas fortes da vida que os obrigava a procurar o outro na memória e não no destroço à frente deles, incapaz até de ordem disfarçada de súplica - "vai, não quero que me vejas e lembres assim". Apetece contrariar o louco sedento de glória nas areias de Alcácer-Quibir, e rosnar um exorcismo disfarçado de prece - morrer sim mas depressa! Para que nenhuma caricatura sombria estilhace as recordações dos que tiveram a surpreendente gentileza de me acompanhar.

sábado, setembro 13, 2008

Num bá a Susana dar-me um arraial de purrada, caragu!

Comentário iluminado ou epílogo definitivo à saga paixão/amor? Credo, gente, vocês são piores do que os revoltosos da Bounty! Mas sempre vos digo uma coisa - a paixão é sobrevalorizada (apesar do carinho que dedico às memórias dela...). Mas toda aquela adrenalina, pelo menos no meu caso, tem algo de nevoento e frenético que impede a cadência paulatina do erotismo e as surpresas que o outro - e não a sua imagem... - nos reserva. Por isso vos digo, nada na manga - como Fiorentino Ariza em O Amor nos Tempos de Cólera e o mais anónimo personagem do autocarro das oito da manhã, mergulhei na paixão, mesmo quando a pressenti funesta:). Mas os melhores momentos passei-os nas mãos da ternura erotizada, que nos transforma os olhos em fendas suaves, acolhedoras para o ondular de alguém; o cérebro em vidente preguiçoso, que antecipa riso e espasmo com o mesmo prazer; o sexo em fogo puro e duro..., mas que compreende o gozo da espera e acolhe, sem amuo, o "mais logo" sussurrado em voz rouca.

quarta-feira, setembro 03, 2008

O admirável mundo novo.

A imprensa fazendo eco de outra descoberta "biologizante" - certos perfis genéticos tornariam os "seus" homens mais capazes de se manterem numa relação afectiva. Já conhecia os estudos sobre roedores que deram origem a esta linha de investigação. (E chamo a atenção da Sociedade Protectora dos Animais para a cruel transformação dum D. Juan felpudo em obsessivo monogâmico com uma injecção:)!). No fim do texto, lá vem o reconhecimento da especificidade dos humanos, bichos de cultura. Mas o artigo recordou-me a famosa desculpa do libertino em As Ligações Perigosas - não consigo impedir-me (ou coisa que o valha). Esta vertigem biológica, a não existir cautela, poderá justificar uma ainda maior patologização e medicalização dos comportamentos. E permitir respostas como "desculpa, querida, eu não queria meter o pé, mas estes meus diabólicos genes:(".
Hum, Júlio, não deixa de ser tentador...
P.S. Não foi esquecimento, não - das mulheres, nem palavra, os homens são mais sensíveis à vasopressina. Mas cheira-me que o genótipo delas vai sair com tendência para a monogamia:).