terça-feira, julho 30, 2013

Dava pano para mangas:).

Se Me EsqueceresQuero que saibas 
uma coisa. 

Sabes como é: 
se olho 
a lua de cristal, o ramo vermelho 
do lento outono à minha janela, 
se toco 
junto do lume 
a impalpável cinza 
ou o enrugado corpo da lenha, 
tudo me leva para ti, 
como se tudo o que existe, 
aromas, luz, metais, 
fosse pequenos barcos que navegam 
até às tuas ilhas que me esperam. 

Mas agora, 
se pouco a pouco me deixas de amar 
deixarei de te amar pouco a pouco. 

Se de súbito 
me esqueceres 
não me procures, 
porque já te terei esquecido. 

Se julgas que é vasto e louco 
o vento de bandeiras 
que passa pela minha vida 
e te resolves 
a deixar-me na margem 
do coração em que tenho raízes, 
pensa 
que nesse dia, 
a essa hora 
levantarei os braços 
e as minhas raízes sairão 
em busca de outra terra. 

Porém 
se todos os dias, 
a toda a hora, 
te sentes destinada a mim 
com doçura implacável, 
se todos os dias uma flor 
uma flor te sobe aos lábios à minha procura, 
ai meu amor, ai minha amada, 
em mim todo esse fogo se repete, 
em mim nada se apaga nem se esquece, 
o meu amor alimenta-se do teu amor, 
e enquanto viveres estará nos teus braços 
sem sair dos meus. 

Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda"

quinta-feira, julho 25, 2013

Diabolicamente belo:).

quinta-feira, julho 18, 2013

Uma rua que começa...


Povoamento

No teu amor por mim há uma rua que começa
Nem árvores nem casas existiam
antes que tu tivesses palavras
e todo eu fosse um coração para elas
Invento-te e o céu azula-se sobre esta
triste condição de ter de receber
dos choupos onde cantam
os impossíveis pássaros
a nova primavera
Tocam sinos e levantam voo
todos os cuidados
Ó meu amor nem minha mãe
tinha assim um regaço
como este dia tem
E eu chego e sento-me ao lado
da primavera

Ruy Belo, in "Aquele Grande Rio Eufrates"

quarta-feira, julho 17, 2013

segunda-feira, julho 15, 2013

E tudo o vento trouxe:).


Maria,

A fotografia de minha Mãe à esquerda, a velha placa do laboratório de meu Pai à direita, no meio não suspira virtude mas saudade. Que me diriam, na varanda debruçada sobre céu tripeiro? Talvez nada, adeptos que éramos do silêncio cúmplice; aconchegado. Ver-te chegar, melhor!, adivinhar-te no sorriso dela, cabeça reclinada na mão, como tu fazes. E em psiquiatra tal semelhança é ainda mais suspeita, apaixonei-me por ti ou pela brisa que vos une desde o primeiro olhar? Para não falar do meu, refugiado atrás de café, livro, distância e espelhos do meu querido Majestic, “olho ou não, será tão fascinante como o  reflexo?”. O cabelo chovia sobre mesa e ascético chá, o dedo em meditada circunavegação do pires envergonhou a pressa, ruborizada mas sem pudor, com que me afastei do longo cruzar das tuas pernas. Não fui a tempo. O desejo, de tão intenso, levou-te a buscar-lhe a fonte, por segundos receei que a decretasses suja e a mim não potável. Por segundos. Depois mergulhei na interrogação tranquila dos teus olhos e apoiaste a face na mão. Como ela… A quem contei o sucedido com excitação mais adequada a tórrido encontro de amor. (Foste tu a explicar-me, muito depois, que precisamente disso se tratara.) Ela escutou e sorriu – “não te precipites, deixa-vos acontecer”. Não percebi a sageza da frase, utilizei-a como álibi para a timidez que se me apoderara de língua e pernas, nos dias seguintes nem do espelho passei! Até ao que me pareceu de festa, inventado por Senhor e Acaso em minha ajuda que não honra, alguém abriu a porta ao vento e ele decidiu brincar com os teus papéis pelo chão,  eu mergulhei, egoísta, para me salvar. A avidez foi tanta que tos devolvi amarfanhados, em miserável desordem, talvez inúteis, e contudo eu abrigava a megalómana esperança de um “obrigado”.

Apenas para ficar siderado por sorriso largo de alívio maroto – “caramba, até que enfim, foi preciso um ciclone!”. Não sei, Maria, a meteorologia navega no imenso oceano da minha ignorância. Mas atendendo ao que irrompeu pela tua mão na minha vida, aceito qualquer descrição – de terramoto a fogo de Estio. E ninguém me ouviu pedir ajuda, deixei-nos acontecer…          

segunda-feira, julho 08, 2013

Uma voz abençoada...


domingo, julho 07, 2013

sexta-feira, julho 05, 2013

segunda-feira, julho 01, 2013

Clandestino a prazo.

Maria,
Falar-te ao ouvido, quando ja adormecida. Baixinho, para nao acordares; com a paixao necessaria para te invadir os sonhos. E deixar a duvida para a manha seguinte - "sonhei ou   por uma vez o disse?". Beber o sumo de laranja como se nada tivesse acontecido. Alem de acordar a teu lado...
O que nao e privilegio menor.

Esperar a noite seguinte e repetir a artimanha. Na esperanca de ser apanhado - "Quem, eu?".
Esse riso gaiato:).