sábado, abril 25, 2015

quinta-feira, abril 23, 2015

Vi tanta mentira andar à solta...

Eu Vim de Longe

José Mário Branco

Quando o avião aqui chegou
Quando o mês de maio começou
Eu olhei para ti
Então entendi
Foi um sonho mau que já passou
Foi um mau bocado que acabou
Tinha esta viola numa mão
Uma flor vermelha na outra mão
Tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a fronteira me abraçou
Foi esta bagagem que encontrou
Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
Pra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar
E então olhei à minha volta
Vi tanta esperança andar à solta
Que não hesitei
E os hinos cantei
Foram feitos do meu coração
Feitos de alegria e de paixão
Quando a nossa festa se estragou
E o mês de Novembro se vingou
Eu olhei pra ti
E então entendi
Foi um sonho lindo que acabou
Houve aqui alguém que se enganou
Tinha esta viola numa mão
Coisas começadas noutra mão
Tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a espingarda se virou
Foi pra esta força que apontou
E então olhei à minha volta
Vi tanta mentira andar à solta
Que me perguntei
Se os hinos que cantei
Eram só promessas e ilusões
Que nunca passaram de canções
Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar
Quando eu finalmente eu quis saber
Se ainda vale a pena tanto crer
Eu olhei para ti
Então eu entendi
É um lindo sonho para viver
Quando toda a gente assim quiser
Tenho esta viola numa mão
Tenho a minha vida noutra mão
Tenho um grande amor
Marcado pela dor
E sempre que Abril aqui passar
Dou-lhe este farnel para o ajudar
Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou p´ra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar
E agora eu olho à minha volta
Vejo tanta raiva andar a solta
Que já não hesito
Os hinos que repito
São a parte que eu posso prever
Do que a minha gente vai fazer
Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei prá aqui chegar
Eu vou pra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar

quinta-feira, abril 09, 2015

O alívio.

Por vezes, o sorriso ironicamente aprovador de um filho dissipa a tristeza que veio para ficar. Boa noite, gente.

sexta-feira, abril 03, 2015

Minha Avó honrou o nome:).

Pesquisa e edição: DIRCEU CHIRIVINO | chirivino@correiodopovo.com.br

No dia 12 de fevereiro de 1912 não houve edição do Correio do Povo. Na época, o jornal não circulava às segundas-feiras.

Socialismo feminino

Talvez não haja, na época actual, uma outra mulher que tenha tomado parte tão activa na organisação dos movimentos revolucionarios, por toda a Europa, como a famosa franceza que os tribunaes de Milão descreveram como "a mais perigosa mulher da Europa".

Sorgue, como ella é conhecida em todo o Continente, não é somente uma mulher notavel, mas é tambem de uma familia distincta. É filha de Durand Gros, o philosopho francez, mais conhecido, talvez, pela fama de sua theoria do polyzeismo e do polychismo e por ter sido um dos precursores da escola dos psycho-therapeuticos.

Madame Sorgue é uma revolucionaria aristocrata, pois seu avô era o general russo Cripkoff e seu tio Istomine foi almirante em chefe da esquadra baltica e um dos mais leaes servidores da dynastia Romanoff.

Sorgue é uma mulher que reune a um cerebro de força excepcional uma certa franqueza de olhar infantil, que a torna muito attraente.

Aos 19 annos, entrou para o palco francez; d''ahi, passou a ser jornalista e, pouco depois, oradora e escritora revolucionaria, tendo, hoje, uma reputação internacional nas duas ultimas capacidades.

Tem ella sido a verdadeira perseguição da maior parte dos governos europeus e, em 1898, foi a principal cabeça do motim na politica portugueza.

Depois de ter encontrado com essa mulher, não é difficil acreditar-se nos factos que contam a seu respeito, em diversos logares da Europa, e na parte que ella tomou no Congresso da Imprensa Internacional, em Lisboa, o qual foi aberto nesse anno pelo mallogrado rei d. Carlos.

Todos os jornalistas que se achavam no Congresso levantaram-se para receber o rei; sómente a irreconciliavel Sorgue ficou assentada.

Quando d. Carlos passou perto della, sentiu um calafrio, como si houvesse tido o presentimento da terrivel catastrophe que lhe sobreveiu, alguns annos depois, na capital portugueza. Seu rosto empallideceu, suppondo que a terrivel Sorgue pretendia assassinal-o, e deu, por isso, ordem para que a prendessem, no Porto, o que quasi precipitou a revolução do anno passado, pois o povo obrigou as autoridades a soltal-a. O governo portuguez repelliu-a de Lisboa e mandou uma canhoneira escoltal-a até a saida do Tejo, porque a classe operaria tinha organisado uma enorme demonstração no rio, em sua honra.

Sorgue tomou parte na grande gréve de Parma e foi accusada de ter sido a causa do assassinato de Victor Emmanuel - o que ella nega.

Esteve, por isso, na prisão de Milão, mas foi absolvida.

Ultimamente, foi condemnada á prisão por um longo tempo, pela sua defeza do anti-militarismo - uma propaganda que foi proeminentemente identificada na França, com Gustave Hervé, o anti-militarista francez.

Uma vez, em Florença, mme. Sorgue proferiu um eloquente discurso revolucionario, enfrentando ás carabinas que os soldados lhe apontavam. Foi, tambem, a principal figura no celebre Exode de la Belfort, quando um enorme grupo de relojoeiros e trabalhadores de metaes declarou que morreriam, ou haviam de obter o pão. O governo mandou dois regimentos de cavallaria para impedir os excessos dos grevistas. A maneira por que essa destemida mulher poude, então, com a sua calma e energia dirigir milhares de homens furiosos e evitar que houvesse mortandade é de admirar, e parece um caso de romance.

Mme. Sorgue é ainda muito moça e bonita; alta, elegante e de apparencia completamente feminina.

O unico signal que denota, nella, a revolucionaria, é um pequeno bordado escarlate que orna todos os seus corpetes.

Seu busto, em Luxemburgo, feito por Denys Puech, está perfeito.

Notícia publicada no Correio do Povo de 8 de fevereiro de 1912.

P.S. Alguém me deixou no consultório uma planta com raízes aéreas. E de imediato pensei que o seu lugar era na árvore de meus Pais. Que me ensinaram a manter os pés na terra, mas a  jamais abdicar da cabeça nas nuvens.