Maria,
O sofá do corredor gozando o sol aberto, alheio ao frio que reinava para lá do vidro, mas se via desafiado, mesmo portas afora, pelo gozo dos miúdos. Os cães, filosoficamente enroscados junto a mim, a sesta preguiçosa nem um pouco impressionada pelos caprichos meteorológicos. Cantelães vestida de um branco único de tão espesso, imagina que me abraçava os tornozelos! O livro cambaleante nas minhas mãos, sem remorso contagiadas pela modorra canina. O pensamento em nevoenta roda livre - o silêncio morno e aconchegado de aquário é herança tua. Que me obrigaste a cultivar o ócio tribal até reconhecer a evidência - morrer é não parar.
8 comentários:
Maria
Para ti que me fazes garoto a teu lado, que acendeste nostalgias de lar, aquário onde os meus olhos continuem peixes.
Neva. Começou em flocos tímidos, misturados com chuva grossa. Insidiosa, a neve foi tomando coragem e tirou a chuva do caminho. Então o céu desmanchou-se em bocadinhos de nuvem cortados fininho, golpes de tesoura primorosa a desfazerem-se no chão molhado. E o vento norte incansável, a arrotar golfadas de nuvens em miniatura, aos ziguezagues no inox nebuloso do ar. A neve tonta dos balanços, a segurar-se em bicos de pés num esforço de sustentação, não quero cair, vou morrer nas poças de água. E vai tombando de leve, em tufos de bailarina exangue.
E a Terra a retrair-se ao toque, pasmada destes dedos gelados. A Terra sem defesas para a brancura de lápide que a empalidece. As árvores transidas de frio, não sinto o sangue correr, quem me estrangula o viço dos rebentos, a morte branca abraçou-me os ramos. Nós e a Terra, juntos numa agonia de frio. Vergados ao acontecer, mas não mortos. Nós estranhos do tempo e do espaço, quem nos pôs dentro duma gravura de Natal. E a nossa alma, alheia ao supérfluo, ajoelha e desvanece, é LINDO!
“Que neve ou faça frio no Verão, pode acontecer, mas não sempre, nem quase sempre”, Aristóteles e a sua aparente claridade. Mas nós afundados na certeza de que só o que acontece “nem sempre, nem quase sempre”, nos enraíza e nos devolve. Nós, seres aditivos e secretos, a rasar o mistério que sobressalta na beleza.
Foi assim, Maria. Aconteceu um nevão. Assim são também as neves da vida, esporádicas, belas e terríveis.
E, por cada tempestade de neve, há-de haver uma Primavera gloriosa.
Ámen
"Morrer é não parar"
Pérolas!
...na verdade, por vezes, precisamos de parar para vivermos
...excelente ruminação
Cabecinhapensadora 8.53 AM
Ámen. :)
Ex.mo Senhor
Professor Júlio Machado Vaz
Somos um grupo de alunos do Colégio Rainha Santa Isabel em Coimbra e estamos a desenvolver um trabalho na disciplina de Área de Projecto sobre a temática o sedentarismo. Com não sabíamos qual o se mail resolvemos enviar esta mensagem para o seu blog. Sabemos que o Senhor foi professor de Antropologia e Sociologia Médica, por isso gostaríamos de o convidar, isto é de lhe pedir, para vir ao nosso colégio fazer uma conferência sobre esta temática. Ouvimo-lo falar na rádio acerca dos policias mexicanos e das consequências do excesso de sedentarismo.
Se o senhor professor aceitar fazer-nos este favor, o que é extremamente importante para nós, gostaríamos de agendar uma data, que seria ideal, se fosse possível, até ao final do 2º período. Se aceder ao nosso convite agradecemos que nos envie um contacto telefónico e nos diga em que dia e horas o podemos contactar.
Sem outro assunto
Atenciosamente
João Luís Páscoa Pinheiro
João Nuno Crisóstomo
Miguel Morgado
Liiiiindo!;*
Quase o avistamos...
Eu roída de "inbeja" de não poder dar-me ao gozo da sesta. Conheço bem a asa que é um livro em desiquilibrio à beira da vitoria do sono sobre o corpo. A tonteira que o antecede...
Compenso esse prazer contrariando o sono até ele me vencer... só pelo prazer de deixar o sentir chegar.
Gosto de o ler. Engraçado não? Não ando por aí em blogues mas é gosto de abrir os opérculos aqui! ;))))
Também gostei da poesia da cabecinhapensadora...;)
bjnhs
"Morrer é não parar."
É:)
Como já aqui disse várias vezes, abençoada Maria:)
Cabecinha,
Ámen:)
Olhar, Cêtê, Andorinha
Bethânia única trauteia "Vamos viver de brisa Analina, vamos viver de brisa". A cada um a sua brisa
Bora viver Poesia.Estar poeta. Ou será Ser?
E BOM DIA!
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