segunda-feira, março 30, 2009

O seu a seu dono.

Hoje, um puto de 24 anos obrigou o número um do ténis mundial a jogar muito perto do seu melhor para o derrotar. Sem Ferraris vermelhos, fanfarronadas, barba crescida, frases do género "há quem tenha a lata de apontar o dedo aos jogadores da selecção", doutoramentos honoris causa, ordenados milionários, etc... Amanhã receio que seja remetido para a sombra do último putativo reforço do Benfica, o Congresso leonino ou o aportuguesamento da equipa do FCP. O rapaz é um dos 70 melhores jogadores do mundo, mesmo sem bandeiras nas janelas, caramba! Haverá vida em Portugal para lá do futebol?

quinta-feira, março 26, 2009

Che.

Benicio del Toro compôe um Che convincente. Como hipocondríaco - e paridinho... - espanto-me com a teimosia do guerrilheiro, capaz de manter em respeito o asmático. Partes da sua entrevista utilizada no filme são de uma actualidade indesmentível. O pequeno burguês que sempre fui, admira o homem que perseguiu a revolução sonhada noutras paragens e nesse processo encontrou a morte, mas abana a cabeça com amargura perante o regime instalado em Cuba. Entre a alienação capitalista e o socialismo traído não existirá nada?

segunda-feira, março 23, 2009

Extraordinário país!

Crise? Mas que crise?
Duas equipas fizeram um jogo paupérrimo; um árbitro coleccionou asneiras sob o ponto de vista disciplinar e cometeu um erro técnico grave; um jogador atirou a medalha ao chão e ofereceu-a ao ladrão do árbitro; um treinador descobre um novo significado para o mais conhecido gesto indicando gamanço da nossa praça; os dirigentes, alimentados pelos media, ocupam a boca de cena há 48 horas e tencionam continuar. Etc...
Crise? mas que crise?

Ainda a propósito de cinema: em 24 horas vi "O Leitor" e o "Quem quer ser Milionário?". Só encontro uma justificação para a chuva de óscares que se abateu sobre o segundo - o mercado indiano. Suponho que o próximo laureado seja chinês...

sexta-feira, março 20, 2009

Abençoados 78!

O último Eastwood é esplendoroso. Dir-se-ia a Paixão de um Dirty Harry que descobre a sageza e os outros:).

terça-feira, março 17, 2009

Continuando...

Uma das coisas que me continuam a impressionar nos mais velhos é a triste "eficácia" com que muitos ainda fazem suas imagens alheias. Não há pides tão severos como os que acarretamos dentro de nós e sussurram "o sexo é para os jovens, não sejas ridículo(a), como te atreves a empregar palavras como namoro, paixão ou desejo para o que te vai dentro? Já é uma sorte que não te decretem tão perverso nos afectos como analfabeto na informática e inútil na memória! ".

domingo, março 15, 2009

Números degradantes.

Sexualidade e Envelhecimento é já a conferência mais escolhida do meu "menu". Admitindo que as rugas próprias - de corpo e alma... - tenham algo a ver com tal sucesso, a razão principal é evidente - mesmo a custo, a sociedade vai-se aceitando que não nos tornamos assexuados por decreto do B.I. Mas quando leio que 230.000 portugueses, sobretudo idosos, já devem nas farmácias ou pagam a prestações, receio dissertar sobre um artigo de luxo:(.

domingo, março 08, 2009

O imperdoável desleixo.

Três dias na Madeira, a convite do Congresso de Medicina Interna. Trataram-me como um príncipe em todo o lado - no Congresso, na Câmara, onde fiz uma conferência, na rádio, onde gravei O Amor é... para a semana. Antigos alunos pararam-me nos corredores - "sou do ano...", um velho amigo de adolescência desaguou no hotel e pusemos a conversa (quase) em dia, os médicos "a sério" fizeram-me sentir um deles:).
E no entanto... Tudo o resto perdeu importância, quando comparado ao enorme gozo de reencontrar o Mário Espiga de Macedo e o Manuel Sobrinho Simões. O Mário é meu amigo há 47 anos, o Manel "só" há 41, mas a correria em que sempre andamos torna os encontros portuenses tão improváveis como raros:(. Foi preciso estarmos os três em trabalho a uma hora e meia de voo!
Tais desleixos são imperdoáveis. Sobretudo em médicos, especialistas na precariedade, para variar trocámos notícias tristes acerca de gente amiga... Por isso os olhei com ternura culpada durante o jantar de sexta. Como se o carinho que me invadia trouxesse a responsabilidade de não permitir nunca mais desencontros preguiçosos de workaholics, privando-nos de gargalhadas como as madeirenses, tão espontâneas e imaculadas que o coração, incrédulo e divertido, fita o bilhete de identidade e aconselha-o a procurar ajuda médica por diagnóstico fácil - sofre de obsessão pelo tempo dos relógios.

domingo, março 01, 2009

Trabalho e ecrã.

Maria,

Não fui para Cantelães. Conheces-me: a hipótese de levar à Madeira uma apresentação já preparada espicaçou esta culpabilidade judaico-cristã de agnóstico nostálgico; fiz outra. Mas com a televisão ligada...
O Congresso do PS fluiu como previsto. António José Seguro contribuiu para o debate estando presente, João Soares idem aspas; Manuel Alegre aceitou ser da Comissão de Honra, mas não pôs lá os pés; Vera Jardim levantou questões mais do que pertinentes e embrulhou-as num par de elogios, Ana Gomes surgiu no Eixo do Mal em 33 rotações no que às críticas habituais diz respeito, ambos ficaram a anos-luz da adjectivação ditirâmbica de outros... Resultado? Os grandes momentos de "heterodoxia" ficaram a dever-se a um delegado que nunca viu um galo apaixonar-se por outro galo, a outro que declamou versos dedicados à Dra. Edite Estrela - com a devida permissão da esposa! - e aos inevitáveis excursionistas, alguns dos quais responsabilizaram as televisões pelo apagão de Sábado á noite...
Lembrei-me de uma frase tua: "és cínico por convicção e ingénuo por fraqueza". Devo confessar que desde a separação ainda me irrita mais dar-te razão, mas... Imagina que fantasiei o enfado de Sócrates em face de tanto - como é a frase? - culto da personalidade. Eu sei, ele instiga-o e chama um figo às oportunidades de vitimização que lhe oferecem. Tenho pena, sabes? Nos últimos tempos o político vem-me desiludindo, na substância bastantes vezes, quase sempre na forma, sua ou dos "pretorianos" de serviço. Mas não deixei de gostar do homem.
A propósito, o duplo-padrão continua de boa saúde. Quando a Hillary se comoveu, não faltaram as vozes a dizerem que se tratava de manobra estratégica, Sócrates "abanou" e mesmo os comentadores mais agressivos se limitaram a estranhar a brecha na habitual armadura. Tivesse eu os últimos meses que lhe aterraram no colo e desconfio que me atribuiriam lugar cativo na Unidade Coronária! Mas tudo se paga, não me pareceu em boa forma. Os discursos foram medianos e a concentração do fogo sobre o Bloco de Esquerda um erro, na minha modesta opinião.
Como é evidente, Louçã capitalizou-o. Mas, para te falar com franqueza, não estou seguro que o Bloco perceba os perigos que se escondem por trás das generosas sondagens. Alegre não rompe, está bom de ver, por natureza e cálculo. O Bloco disputará com a abstenção uma larga fatia de eleitorado de esquerda, indisponível para decretar como únicas hipóteses a maioria absoluta do PS ou o caos neste jardim à beira-mar plantado. Mas se acontecer uma subida clara de votação no contexto de outra amuada maioria relativa do PS, os tempos de adolescência chegarão ao fim - ninguém exigirá ao Bloco alianças estruturadas, mas o apoio a medidas pontuais será cuidadosamente escrutinado. E se a imagem resultante do exame for a de uma oposição sistemática "porque sim", um ocaso à la PRD não é de excluir, há uma enorme diferença entre o voto reactivo e o consolidado.
P.S. À direita, como diria Remarque, nada de novo. Remarque? Margarida Rebelo Pinto? Dan Brown? Camões? Desculpa, mas depois de toda a discussão acerca da obra do Sartre que Pedro Passos Coelho leu (?) e com os sessenta anos ao virar da esquina, a memória parece cada vez mais traiçoeira:(.
Fica bem.