terça-feira, janeiro 31, 2006

E quem garante os votos? O padre ou o Senhor, maravilhado com tamanho sacrifício?:).

Berlusconi promete castidade até às eleições


O primeiro-ministro da Itália, Sílvio Berlusconi, de 69 anos, fez uma promessa eleitoral pouco comum deixará de ter relações sexuais até as eleições legislativas de 9 de Abril. A promessa foi feita num comício na Sardenha, ao lado do padre Massimiliano Pusceddu, pregador muito popular na televisão local. Segundo o jornal "Il Giornale", o padre prometeu o seu apoio: "Vou tentar corresponder às suas expectativas e prometo, de agora em diante, dois meses e meio de absoluta abstinência sexual", disse Berlusconi, que foi bastante criticado no passado por fazer piadas machistas e insinuações sexuais. Segundo a BBC, Berlusconi, que se divorciou após 27 anos de casamento e tornou a casar-se recentemente a actriz Veronica Lario, loira e cheia de charme, o primeiro-ministro italiano vê-se como um D. Juan.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Boas críticas, maralhal:).

Roma na 2 às 23.

Incesto, pedofilia, bestialidade e outros equivalentes da homossexualidade...

Fundamentalismo e homofobia


João César das Neves naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt
Professor universitário


omo se sabe, existem nos Estados Unidos vários movimentos cristãos integristas que pretendem impor como científica a visão da Criação ensinada na Bíblia. Tomando a Escritura como um livro de Biologia, afirmam que nas escolas a teoria da evolução de Darwin deve ser substituída, ou pelo menos completamentada, pelo criacionismo. O fundamento invocado para essa proposta, inclusive em tribunal, costuma ser o conceito de liberdade religiosa.

A tolerância de culto constitui, sem dúvida, um pilar fundamental da sociedade civilizada. As terríveis perseguições recentes, que ainda permanecem em tantas zonas do mundo, são infâmias inqualificáveis em qualquer cultura digna. Mas a liberdade religiosa, se dá a cada pessoa e comunidade o direito à sua fé e celebração, não lhe concede a possibilidade de impor essa sua visão particular à totalidade.

Os cristãos integristas, como todos os outros grupos, devem ter autonomia para, no respeito pela lei, acreditar e defender o que quiserem; podem ensinar aos seus filhos o que acharem melhor. Mas só uma compreensão distorcida de liberdade os leva a exigir que as suas opiniões sejam postas em igualdade com os resultados científicos que toda a sociedade subscreve. Liberdade e tolerância não significam imposição de uma atitude minoritária à globalidade.

Tais exageros são certamente fenómenos típicos da América. Ou não serão? De facto, na Europa verificam-se situações paralelas, em que a única diferença é que a lei já pretende impor ao todo a opinião da pequena minoria.

Na sua sessão do dia 18 deste mês, o Parlamento Europeu aprovou a "Resolução sobre a Homofobia na Europa" (P6_TA-PROV (2006)0018). Invocando os direitos humanos e o combate à discriminação, o documento constata que "os parceiros homossexuais não gozam da totalidade de direitos e protecções de que beneficiam os parceiros heterossexuais e que, por conseguinte, são vítimas de discriminação e de desvantagens" (ponto E) e, por exemplo, "insta os Estados membros a adoptarem disposições legislativas para pôr fim à discriminação de que são vítimas os parceiros do mesmo sexo em matéria de sucessão, de propriedade, de locação, de pensões, de impostos, de segurança social, etc.;" (n.º 11).

A homofobia, como qualquer outra forma de violência, opressão e discriminação, é inaceitável e deve ser fortemente combatida. Qualquer cidadão europeu tem o direito de não ser perseguido pelas suas escolhas pessoais e estilo de vida. Mas isto não é combate à homofobia, mas promoção da homossexualidade, insultando toda a Europa, que desde sempre fez e faz naturalmente o que esta lei agora considera discriminação. O Parlamento Europeu, tal como os criacionistas americanos, distorce o conceito de liberdade para impor uma visão aberrante.

A liberdade exige que cada um possa ter a vida que quiser. Mas não força a que todos achem que todas as alternativas são equivalentes; tal como a liberdade religiosa não exige que se ensinem nas escolas as teorias de qualquer seita. Uma pessoa, em liberdade, tem o direito de pensar que a homossexualidade é uma depravação, tal como pode achar que o criacionismo não é ciência. Isso, em si, não significa homofobia e intolerância, desde que não persiga os que pensam de forma diferente da sua. Pelo contrário, é o Parlamento Europeu que, ao consagrar na lei geral a posição abstrusa, viola a liberdade.

Não é discriminação tratar de forma diferente aquilo que é diferente. Os activistas pensam que a homossexualidade é igual ao casamento, tal como os criacionistas acham que o Génesis é ciência. Mas as relações homossexuais, tal como a promiscuidade, incesto, pedofilia e bestialidade, nunca foram consideradas equivalentes à família, até nas sociedades antigas que as tinham como correntes.

Os benefícios que o Estado concede à família, célula-base da sociedade, não são direitos individuais ou simples manifestação do amor mútuo. Eles provêm dos enormes benefícios que a comunidade humana recebe da solidez familiar, no nascimento de bebés, educação dos jovens, trabalho, estabilidade emocional, amparo de idosos. Esses benefícios não podem ser estendidos a qualquer outra relação, só porque alguém a considere igual.

O Parlamento Europeu não é para levar a sério. Ao tentar impor dogmas alheios a toda a legislação dos países civilizados, ao acusar de violação de direitos humanos todas as sociedades modernas, só se desprestigia a si mesmo.

domingo, janeiro 29, 2006

Da tristeza infantil à saudade adulta.

Parabéns ao Sporting, bela prova de classe e, sobretudo!, querer. Quanto ao meu Benfica, espero que a desilusão sirva ao menos para moderar alguma arrogância visível em discursos recentes. Mas os anos passam e eu não tenho emenda - eles perdem e fico triste como um puto. Depois obrigo-me a relativizar os factos: refugio-me em poesia e música, lembro desgostos "a sério". Como a morte do Eugénio. Aqui vos deixo uma velharia escrita num dos seus últimos aniversários, agora que chega o primeiro do Murcon:). Fiquem bem.



Para o Eugénio, com gratidão (*)


As manhãs cinzentas no Douro são teimosas; ficam. Aquela não foi excepção. E no entanto, teria sido mentiroso decretar dia melancólico no Passeio Alegre; desde bem cedinho pescadores e domingueiros assistiam, embasbacados, ao espraiar de procissão risonha e pagã. Contagiados por cantos e danças, deixaram as margens do rio à sombra de canas e palmeiras, as pedras órfãs de passos namoradeiros. E se muitos engrossaram a multidão sem perguntas - pois a súbita calma que lhes invadia o espírito chegava e sobrava para justificar a romagem -, outros, escravos da razão, entregaram-se ao tacteio das palavras e gemeram porquês. (Arriscados, o prazer sobrevive mal a busca de explicação.) Mas as gaivotas – também as havia, calcorreando terra, mesmo sem cheiro de tempestade! –, condoídas, tranquilizaram-nos: era magia, sim, mas não satânica; apenas aniversário de trovador amado.
E o cortejo, na sua irreverente solenidade, dirigiu-se a casa de varanda sobre águas próximas e mundos longínquos. À porta, rapazinho e gato, afáveis mas firmes – visita a conta-gentes, a espera de alguns é menos importante do que a fadiga de quem oferece vida e luz embrulhadas nas palavras. Primeiro, incontestados, entraram os amantes sem dinheiro, “silêncio à roda dos seus passos”, ou não mereça o amor respeitosa clareira à sua volta. Depois avançou Apollinaire, companheiro de ofício, rodeado por corte de “saltimbancos, galdérias, vadios, ciganos e anões”, por definição impacientes, urrando que “a esperança é ainda violenta, mas estamos tão cansados de esperar”. (Visita longa, não admira, talentos e almas gémeas...) Cá fora, alguém se despedia, “Não temos já nada para dar./Dentro de ti/não há nada que me peça água./O passado é inútil como um trapo./ E já te disse: as palavras estão gastas./Adeus.” O outro protestava, não convencido, “é urgente o amor, é urgente/permanecer.”,... “Quem não amou/ está morto.”
Exactamente!, Pasolini estava de acordo, arremetia contra os hipócritas: “A farsa a nojenta farsa essa continua”. Que também Ruy Belo desprezava, de propósito vindo lá do Céu onde vivia, “à vontade entre os anjos, com esse sorriso onde a infância tomava sempre o comboio para as férias grandes,". E com eles muitos outros, esplendorosamente nus, livres da sinistra maldição que fez da parra tecido para fatos completos e obsessivos, escondendo esse “Corpo para beber até ao fim/meu oceano breve/e branco,/minha secreta embarcação,/meu vento favorável,/minha vária, sempre incerta/navegação.”
Já levemente incomodado pelo contínuo rumorejo por baixo das janelas, o trovador murmurou: “Palavras...Onde um só grito/bastaria, há a gordura/ das palavras.” Como preferiria repousar nos braços de alguém, pelos seus versos embalado: “Quando a ternura/parece já do seu ofício fatigada,/e o sono, a mais incerta barca,/ inda demora,/quando azuis irrompem/os teus olhos/e procuram/nos meus navegação segura,/é que eu te falo das palavras/desamparadas e desertas,/pelo silêncio fascinadas.” Docemente cruéis, as memórias felizes...
A todos recebeu, face iluminada por severo carinho. Quando partiram acenou-lhes da varanda e regressou a livros e música. Mas não só: “Com que palavras/ou beijos ou lágrimas/se acordam os mortos sem os ferir,”? Ferir, sim, como receava tê-lo feito há muitos anos: “No mais fundo de ti,/eu sei que traí, mãe/...Não me esqueci de nada, mãe./Guardo a tua voz dentro de mim./E deixo-te as rosas./ Boa noite. Eu vou com as aves.”
E do passado voltou a querida mulher da Beira. A solo!, pois não teve homem que a ajudasse a criar o rapazinho. Que a recebeu com madrigal: “Não canto porque sonho./Canto porque és real.” Ela acariciou-lhe a face, esculpida pelo tempo mas suave para dedos maternos. Olhou as gaivotas, perfiladas em guarda de honra na varanda. Sem rancor. Eram livres, belas, irresistíveis, não culpava o seu menino por um dia ter partido. Com gesto breve e imperioso deu-lhes a ordem e o milagre aconteceu: “Uma gaivota passa e outra e outra,/a casa não resiste: também voa.” No meio do vendaval, cabelos soltos de rapariguinha, a velha senhora empurrou, gentil, o trovador: “Abre de novo as asas, querido”. E ele, obediente, beijou-lhe as mãos e preparou as suas, perante olhar guloso das folhas de papel branco.
No Passeio Alegre outro poema ia nascer.

(*) Todos os versos de Eugénio de Andrade citados no texto constam de Antologia Breve, 3ª Edição aumentada.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Ai se eu fosse esperto, dubidubidubidu... (lembram-se de Um Violino no Telhado?).

... hoje colocava no Murcon o concerto para Flauta e Harpa K.299 de Mozart. E mais do que nunca as minhas palavras seriam baças:).

quinta-feira, janeiro 26, 2006

É a esquerdalhada!

Maralhal,
Está em curso uma campanha contra o nosso candidato a Chefe da Casa Civil da Presidência da República! Antes de publicar os comentários de A Sul e Moon tentei fazê-lo a mais uma instrutiva, recatada e singela palinódia do Noise. Sabem o que apareceu no ecrã? Que o blog estaria em manutenção durante trinta minutos! Mas para os outros comentários não houve problemas... Nã, a mim não me levam, a esquerdalhada já se pôs em movimento contra as legítimas aspirações dos murcónicos em levar aos círculos do poder um dos seus mais..., mais..., mais..., carismáticos (uf!) membros - o Noise (ou o gajo que faz uma barulheira do caraças, como diz o Sousa:)). Mantenham-se vigilantes, um novo PREC nos espreita. A luta continua, a Casa Civil será sua!

Chega de política!, o Noise que faça pela vida:).

Ditadoras


A minha secretária, peremptória: “A Mafalda disse para escrever sobre automóveis”.
Raio de ideia!, nunca fui crente dessa religião que exibe andores de quatro rodas e lhes discute cilindradas, sistemas de travagem, consumos médios e talento para atrair olhares femininos; considero o carro uma ferramenta, não uma paixão. (Vivo casamento afectuoso com um BMW, e no entanto espero a chuva para o lavar sem fazer bicha na bomba de Gomes da Costa.) O meu instrutor pasmava com tamanha ignorância, “você nem sequer sabe em que velocidade se arranca?” Com efeito. Passei brilhantemente o exame de condução por ele conhecer o percurso e me treinar tão bem que o faria de olhos fechados. (Se calhar, mantive-os assim..., afinal nos dois primeiros dias bati três vezes!) O meu Pai, feliz proprietário da chapa amassada – um Simca Versailles para lá da meia idade -, propôs uma estratégia de redução de danos: só arranjaríamos as amolgadelas passados seis meses sobre o início de tão trôpega carreira automobilística. Note-se que o velho chaço também tinha os seus achaques e caprichos, adorava encharcar em plena Rua de Santo António, que ao tempo se subia. Prevenido, eu tinha sempre um livro no porta-luvas para os longos minutos de espera, mas quem desesperava atrás de mim recorria ao insulto com frequência, “andas ou não?, ó, filho da... (Ora aí está, nem essa história posso contar, isto é um suplemento decente. Mas nenhum leitor acreditaria em discussão de trânsito sem vernáculo entre dois tripeiros!)
E se... Uma tarde vinha de Lisboa com os miúdos, em claro excesso de velocidade e na via da esquerda, quando um camionista fez a graça do costume – ultrapassou sem pisca. Achei que não nos safávamos, por descargo de consciência pus-me quase de pé em cima do travão. Finalmente percebi o que era isso do ABS, o carro parecia desfazer-se por baixo de nós, mas ficou a centímetros salvadores da traseira do outro. Nem tive tempo para meditar sobre os progressos ao nível da segurança automobilística. O Guilherme ordenou secamente que me pusesse a par do mastodonte, abriu a janela e cobriu-o de insultos. (Lá está, não posso repeti-los, e assim perde todo o colorido.) Por dever de solidariedade, juntei dois ou três palavrões que ele tinha esquecido e fugi, com medo de algum encontro ácido e traumático na portagem, que já não estava longe. No banco de trás, o João permanecera em silêncio. O irmão berrou-lhe o desagrado pela traição e o caçula assumiu uma postura digna perante a injustiça, exemplificando o gesto que fizera ao brutamontes (também ele indescritível, na sua magnífica rudeza...) Desisto, aparentemente só tenho histórias automobilísticas para adultos!
E depois..., não me apetece. Santa paciência, vou mesmo escrever o drama conjugal que tinha imaginado. Ele vai chegar, tresandando a álcool e perfume barato, o colarinho ruborizado. Mas não de vergonha!; de bâton. E ela acordada e à espera, o marido ensaiará explicações insultuosas para a inteligência de ambos, numa voz tão cambaleante como os seus passos. Ao perceber – no meio da bruma... - que não engana ninguém, vai tornar-se agressivo, porque a melhor defesa é o ataque. Invocará a falta de autoridade moral dela para fazer uma cena de ciúmes, atendendo ao facto de se ter atrevido a dormir com o anterior namorado, em vez de esperar por o conhecer. E a propósito de dormir propor-lhe-á uma trégua na cama, com direito a algumas habilidades que provariam o perfeito estado de conservação em que regressava a casa. Sem pronunciar palavra, ei-la porta fora e no dia seguinte a aproveitar a “sugestão” - telefonando ao outro que, por acaso assaz provável nos tempos que correm, também estará separado de mulher que azedou.
E se tentasse contentar secretária e editoras? (Irra!, tanta mulher a dirigir a minha vida.) Talvez o seu pedido e a minha novela sejam compatíveis... Já sei! Quando ele tiver terminado a sua lenga-lenga de macho virgem de pecado nocturno, ela, antes de sair em tromba e de trombas, dir-lhe-á, numa voz a abarrotar de desprezo,
- António, não te canses. P’ra mim..., vens de carrinho!
(Dar-se-ão as ditadoras por satisfeitas?)

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Está na cara que a nossa sugestão mexeu com ele!

Cavaco Silva tira dois dias de férias
Rescaldo
Nome do futuro chefe da Casa Civil do presidente da República mantém-se ainda em segredo
leonel de castro





Isabel Teixeira da Mota

Anão ser que queira dar um sinal deliberado, Cavaco Silva não vai deixar escapar proximamente o nome que tem em mente para ocupar o cargo de chefe da Casa Civil do Presidente da República, um serviço de consulta, de análise, de informação e de apoio técnico ao mais alto magistrado da nação.

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Velharia a propósito da dúvida sobre mim que angustia Cêtê:).

Ultimato


- Senta-te, precisamos falar.
(Pigarreou.)
- Olha, a conversa chega com dez anos de atraso, mas foi o que se pôde arranjar - atrapalhado como estou aos vinte e cinco, nem quero imaginar como seria aos quinze, dava-me um treco! Bom. Lembras-te de me pedir no liceu para entregar um bilhete ao Mário? Quando te vi atravessar o recreio na minha direcção cheguei a acreditar num milagre, ias dizer que não tinhas pachorra para tanta timidez e declarar oficial o namoro.
(Vermelho como um tomate.)
- Por favor, não interrompas! Claro que estava apaixonado por ti. E nunca me passaria pela cabeça que o não notasses, sentia-me tão incompetente a escondê-lo! Mas não, sua excelência ia responder ao Mário. Que sabia de tudo pela minha boca, o sacana... Mas não se descaiu, jurou apoio moral e correu a antecipar-se na declaração. Traste, ainda bem que com a mudança de governo perdeu o tacho. Adiante. Far-me-ás a justiça de reconhecer que lhe entreguei a maldita resposta sem um ai, não foi difícil perceber que aceitaras a ida ao cinema, ele babou-se de gozo. Antes de me pedir, com os olhos em alvo, que a tua escolha não comprometesse a nossa amizade. Mas qual escolha, porra? Se eu não me chegara à frente!
(Respirou fundo.)
- Depois fui chorar para o colo da minha mãe. Palavra! Ri-te, anda, diz que sou o menino da mamã. Com ela podia fazê-lo, ao velho só gostava de aparecer triunfante, de rabo entre as pernas nem morto. Ela deu largas à costela feminista, disse que felizmente passara o tempo de as mulheres ficarem caladas e serem escolhidas como jumentos ou camelos, conforme a sociedade. Mas a seguir previu que o mais provável era o namorico não dar em nada, se tu fosses inteligente descobririas rapidamente que ele era bonitinho mas de neurónios anémicos. Respondi-lhe que não me importava de trocar o meu QI pelos olhos azuis do Mário e ela afiançou que havia medidas menos radicais a tomar – deveria passar a ser o teu melhor amigo e não dele (com a osga que lhe tinha, a segunda parte não me pareceu difícil). Sugeriu que aproveitasse o estatuto de padrinho do namoro conferido pelo bilhete e assumisse o de confidente. Quando a paixoneta desse para o torto, compreenderias a importância do meu ombro. E nesse momento eu esboçaria um recuo estratégico, abrindo espaço à tua saudade, que acarretaria uma nova compreensão do que sentias e por quem. Lembro-me de ficar estarrecido e lhe dizer que era maquiavélica. Respondeu que às vezes é preciso dar um empurrãozinho ao destino. Acertou em quase tudo. Quase... Mal saí de cena, fizeste um escândalo por te deixar sozinha quando mais precisavas de apoio. Não para chorares o cínico do Mário!; para te aconselhar sobre o candidato seguinte. Para variar, não era eu... Devia ter-te mandado à merda. Exactamente – à merda! Mas cortei-me, quis permanecer a teu lado, ao menos como amigo. Ela jurou que se tratava de grossas asneira e fez bingo outra vez.
(Com um suspiro.)
- E assim fui teu confessor ao longo dos anos, vendo-te cortar cabeças e lamber nódoas negras. E eu ali, criado para todo o serviço. Sim, criado; a tua desfaçatez!... De vez em quando acordavas desse egoísmo cego e perguntavas por que não tinha namorada, prometias apresentar-me uma fulana qualquer e logo mudavas de opinião – “não merece o meu melhor amigo” Numa noite de copos chegaste ao desplante de perguntar se era gay. Toda abespinhada, “não confias em mim?”. Houve alturas em que me perguntei se não teria sido mais feliz... Já te disse que não interrompesses!, falaste dez anos seguidos, agora ouves.
(Martelando as palavras.)
- Desta vez foste longe demais. Ou a minha paciência esgotou-se. Aturei a enésima paixão, o noivado, ser escolhido para padrinho, dar opinião sobre electrodomésticos e tintas de parede. Resisti à base de álcool e pensamentos cristãos do género “o importante é que ela esteja bem”, fiz uma lavagem ao meu próprio cérebro. E tu mudas de ideias uma semana antes do casamento por descobrires não estar preparada para assumir um compromisso!? Muito menos com um tipo “amoroso”, mas que não te faz ferver o sangue nas veias… Chega!, a ferver estou eu. Ficas avisada - não vais chorar no meu ombro, vais chorar com saudades dele. Porque tenciono desaparecer da circulação e procurar alguém que me deseje para amante e não capacho. Adeus.
(Olhar de esguelha.)
- A não ser que reconheças imediatamente ser eu o homem da tua vida e não o tanso a quem falas dos homens na tua vida.
(Silêncio.)
Desarvorou porta fora para lhe fazer o ultimato. O ensaio ao espelho não correra nada mal!


P.S. Para demonstrar definitivamente a força do maralhal como lobby, sugiro um abaixo-assinado a propor o Noise para Chefe da Casa Civil do Presidente da República!

domingo, janeiro 22, 2006

Presidenciais.

Pela segunda vez em pouco tempo não abordei um tema que me interessava para não ser mal interpretado. Vamos então a isso:):

1) Imediatamente a seguir ao Dr. Manuel Alegre afirmar que não dividiria a Esquerda, fui contactado para integrar a Comissão de Honra do Dr. Mário Soares. Não tive dúvidas em aceitar. Sendo embora suspeito, por existir uma velha amizade entre os Soares e os Machado Vaz, era para mim evidente ser ele quem mais se aproximava do perfil que defendo para um Presidente da República.

2) E no entanto preferia que não se tivesse candidatado. O "efeito Soares" já estivera ausente nas europeias e nas internas do PS. Além disso, não se pode gritar "basta de política!" e depois esperar que as pessoas o esqueçam. Muitos portugueses continuam a aceitar tudo a Mário Soares, mas não já no registo de Pai da Pátria, e sim no ternurento de Avô. Acresce que, visto de fora, todo o processo de escolha de candidato pelo PS cheirou a esturro. E a inversão da "ordem natural" das coisas, a candidatura à Presidência da República deve ser uma iniciativa pessoal e não uma resposta ao apelo de Partidos. (De resto, toda a gente desconfiou que o não fora:)).

3) Pouco tempo depois da campanha se iniciar fui solicitado para nela participar activamente. Recusei, explicando porquê. Com um candidato à Direita mudo, quedo e ansioso por se vitimizar, a estratégia escolhida pareceu-me suicidária. À primeira pergunta de um jornalista seria obrigado a dizê-lo. Mário Soares tinha passado, longínquo e próximo, mais do que suficiente para apresentar as suas propostas e intenções e deixar as pessoas julgá-lo por elas. "Presentear" Cavaco com insinuações sobre o que os líderes europeus diziam dele e Alegre com um adjectivo como "patético" são passos certos a caminho do desastre. Que aconteceu...

4) Dito isto, votei Soares. Porque o considero o melhor dos candidatos na corrida, para me despedir em termos políticos e para lhe expressar a minha admiração pela energia que pôs no combate. Mas voltaria a recusar participar neste tipo de campanha.

5) Simpatizo com Manuel Alegre como pessoa. E agradeço ao poeta momentos mágicos no passado. Confesso que me desiludiu como candidato, esperava mais e melhor. Em contrapartida, aqueceu-me o coração o movimento que à sua volta surgiu em tão pouco tempo. Ainda há gente capaz de se mobilizar por ideias e bater-se com denodo e isso é bom. (Eventuais "réplicas" no interior do Partido Socialista não me dizem respeito.)

6) Quanto a Cavaco, a situação do País não permite devaneios e ele sabe-o. Esta raquítica maioria, com tudo a seu favor, também não. Espero que a coabitação funcione e desconfio que durante um par de anos será quase idílica. As pessoas que fizeram dele - com a sua colaboração... - o novo Messias vão ter um despertar amargo, não está nas suas mãos resolver os problemas que as afligem. Mas o que seria de Portugal sem o Sebastianismo? Sem esta convicção de que um homem austero meterá na ordem os malandros dos (outros) políticos? Sem a esperança de uma noite de nevoeiro no CCB:)?

sábado, janeiro 21, 2006

A fotobiografia.

Hoje, no JN, a fotobiografia de meu Bisavô, Bernardino Machado. E, enquadradas pelo magnífico texto de minha prima Elzira, fotografias nas quais revejo um Pai que nunca conheci, de tão jovem. Uma saudade imensa. E a certeza que ele estaria de acordo com a Aspásia, no apelo ao voto que deixou nos comentários. Porque demasiada gente esperou demasiado tempo - e à custa de demasiados sacrifícios... - pelo direito de colocar um simples papel na urna. (Com a certeza de os resultados não serem falsificados pelos cortesãos do homem de Santa Comba que declarou o ler, contar e escrever suficiente para a maioria do povo português...)

Viva o jardineiro...

... que cuida do relvado do Gil Vicente!:)

sexta-feira, janeiro 20, 2006

R.I.P.

Urdiu a teia das palavras, com o vagar de quem conhecia as armadilhas da inspiração. Saboreou os labirintos do erotismo, liberto das cadeias frenéticas do desejo nu. Viveu o milagre da vida, com o fulgor dos que sabem a morte à espreita em cada esquina. Habita memórias gratas, sem temer o pó sombrio das prateleiras esquecidas.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Manel dixit:).

Ambiente influencia mais o sucesso do que os genes
2006/01/19
Especialista evocou os exemplos de Albert Einstein e da maratonista Rosa Mota para provar tese

O investigador Manuel Sobrinho Simões afirmou hoje, perante uma plateia de centenas de jovens, que as histórias de sucesso se devem muito mais ao ambiente do que as genes.
"A nossa evolução enquanto seres vivos é fundamentalmente resultado não dos nossos genes mas do nosso treino, educação e trabalho", disse Sobrinho Simões numa conferência organizada pelo Instituto de Investigação Interdisciplinar d a Universidade de Coimbra.
Falando para cerca de oito centenas de finalistas do ensino secundário, aquele professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto evocou os exemplos de Albert Einstein e da maratonista Rosa Mota para vincar que "as histórias de sucesso são muito mais por causa do ambiente do que dos genes".
"Se alguns de vós, os privilegiados, acham que têm umas características genéticas especiais, ou trabalham muito ou estão lixados", advertiu num dos vários momentos em que causou o riso da audiência.
Sobrinho Simões lembrou também um grupo de jovens do programa Ciência Viva, com quem trabalhou há dez anos, e que actualmente são profissionais de sucesso.
"São histórias de sucesso, não porque tinham um gene do sucesso mas por que trabalharam", sublinhou o director do Instituto de Patologia e Imunologia Mo lecular da Universidade do Porto (IPATIMUP).
Na conferência, intitulada "Genes e Ambiente: do Super-homem ao Popeye" , o investigador salientou também que "a grande maioria das doenças se devem, não a alterações genéticas mas ao estilo de vida" e que a influência do ambiente começa "muito cedo", ainda no período de gestação.
Segundo Sobrinho Simões, "em todas as doenças civilizacionais, como o cancro, a obesidade, a depressão, a SIDA e a tuberculose, há factores de susceptibilidade genética" mas prevalecem causas relacionadas com a alimentação, sedentarismo e stress profissional.
Já durante o período de resposta às perguntas da audiência, o docente, galardoado com o Prémio Pessoa, disse desconhecer qual a quota-parte do ambiente e dos genes nos génios precoces e ainda na homossexualidade.
A conferência foi a primeira do ciclo de colóquios "Despertar para a Ci ência", que conta com o patrocínio da Fundação para a Ciência e Tecnologia e da Fundação Calouste Gulbenkian.


PortugalDiário.

Pois...

Saúde



Portugal no topo da gravidez adolescente e VIH
Portugal é o segundo país da Europa Ocidental com maior número de mães adolescentes e o primeiro na infecção pelo VIH, alertam os promotores de um simpósio sobre educação sexual que começa quinta-feira em Lisboa.

A gravidez na adolescência e os comportamentos de risco associados à sexualidade são alguns dos tópicos que vão ser debatidos até sábado no «4º Simpósio de Sexologia da Universidade Lusófona de Lisboa», este ano dedicado à educação sexual.
De acordo com Américo Baptista, promotor do encontro e especialista em sexologia, o objectivo é «tentar perceber como estamos em educação sexual e quais os caminhos que devemos seguir».
«Pretendemos avaliar como nos situamos em termos de educação sexual em relação aos nossos congéneres europeus» e além de especialistas e entidades portuguesas, foram convidados peritos estrangeiros na matéria que vão abordar a situação em Espanha, Itália e Inglaterra, explicou.
Em termos comparativos, o especialista indicou que Portugal «está mal» no que respeita à gravidez na adolescência, com 22 casos em cada mil jovens entre os 10 e os 19 anos, muito longe de países como Espanha, Bélgica, Itália ou Suíça, todos com uma taxa de gravidez abaixo dos 10 por cada mil adolescentes.
Nesta matéria, Portugal só é superado a nível europeu pelo Reino Unido (30,8), Eslováquia (26,9) e Hungria (26,5), de acordo com indicadores da UNICEF, publicados em 2001.
Também quanto ao VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana), Portugal é citado pelas piores razões, sendo o país da Europa Ocidental com maior taxa de incidência de infecção.
Com 27.013 casos acumulados desde 1983, Portugal registou 1.174 novas notificações só no primeiro semestre de 2005.
No entanto, Américo Baptista sublinhou que o país evidencia as mesmas tendências evolutivas verificadas no resto da Europa, como o crescimento da transmissão entre heterossexuais, a diminuição de casos associados à toxicodependência e o aumento de casos de SIDA entre os 45 e os 54 anos.
Para prevenir os comportamentos de risco, «o conhecimento é fundamental, mas não chega», segundo um estudo conduzido por Américo Baptista junto de 1.018 estudantes universitários portugueses, que será apresentado pela primeira vez no simpósio.
De acordo com a pesquisa, «a relação entre os conhecimentos e o comportamento foi praticamente nula», o que significa que «quanto maior foi a prática de comportamentos de risco mais os jovens estavam conscientes daquilo que estavam a fazer».
Por isso, o estudo conclui que as campanhas de sensibilização têm uma eficácia muito limitada junto da população.
O especialista defende que a educação sexual nas escolas não deve apenas transmitir conhecimentos sobre os riscos associados à sexualidade, mas também motivar os jovens «a querer e a ser capaz» de adoptar uma atitude realmente preventiva.
A formação dos professores em educação sexual, o papel da comunicação social ou as disfunções sexuais são outros dos temas do simpósio, que reúne responsáveis de entidades como a Associação para o Planeamento da Família, a Liga Portuguesa Contra a Sida ou a Confederação Nacional das Associações de Pais.
Diário Digital / Lusa

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Reforma activa.

Maria,
O meu filho mais novo fez 29 anos. O outro vai a caminho dos 32. Fiz a minha parte. Apetece-me deslizar para os bastidores, sem ruído ou amargura, apenas com um telemóvel disponível. Rever a estrada. E Montségur. O marco singelo - als catars. Buscar ao longe o Mediterrâneo. Sem sucesso. Atribuir a culpa às nuvens, e assim ilibar a miopia, a vista cansada, a velhice jovem. Refugiar-me no teu sorriso curioso e ávido - "conta-me". Abraçar-te os ombros, rejuvenescer setecentos anos - "foi assim". E contigo percorrer os caminhos que trilhavam para fugir aos Inquisidores. Mais um dia, ainda um mês, com sorte um ano, até à inevitável fogueira. O fim da história. O silêncio. O nosso fogo homenageando o deles. Boa noite.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

O mal aqui tão perto.

Recomeço dos Sopranos à Segunda no Hollywood. E o fascínio de um argumento que nos mete pelos olhos a absoluta humanidade dos "maus da fita". O humor baloiçando entre o ingénuo e o corrosivo; os pequenos dramas burgueses de um pai, marido e amante desorientado; o imenso poder da mãe depressiva que reescreve a história do seu casamento; os diálogos brilhantes entre uma psi assustada pelo sub-mundo que aflora e um mafioso de luto pela solidária família de patos que lhe habitou a piscina; uma banda sonora magistral. E o mal ali - aqui! - tão perto: humano, intrínseco, natural. Inevitável...

domingo, janeiro 15, 2006

A Gertrudes é porta-voz do S.Bentinho!

Estávamos eu e o Guilherme já no carro, ansiosos por devorar quilómetros de auto-estrada molhada com as respectivas derrapagens controladas e um pião para celebrar a chegada à catedral quando..., o telefone tocou. Era o Sousa. Aflito e - talvez por isso... - sem o respeito habitual. "Patrão", disse ele, "não vá a Lisboa". "E porquê, homem de Deus?", respondi, impaciente e já a fazer relinchar os cavalos do motor. "A Gertrudes foi ao S.Bentinho", gemeu o Sousa, "e ele diz para o patrão ficar no Porto". Expliquei-lhe, paciente, que sou agnóstico e portanto, pese embora o respeito que me merece a fé dos outros - neste caso da Gertrudes... -, não me deixo impressionar por revelações sobre o futuro, próximo ou longínquo. Sosseguei-o com meiguice, afinal a sua preocupação era ternurenta, "Sousa, estou a sair cedo para não correr riscos na estrada, vai tudo correr bem". E ele, teimoso, "Olhe que não é só por isso, patrão, embora o temporal nos preocupe. O desgosto não é na estrada, mas no Estádio". Confesso que tremi um pouco, seria o S.Bentinho capaz de prever o fim do estado de graça do Moretto? Mas um homem é um homem e a águia Vitória o bicho favorito dos benfiquistas. Enchi o peito, busquei com o olhar a aprovação do Guilherme, pelo sim pelo não pus o God Only Knows dos Beach Boys no leitor de CDs e arranquei. O Sousa percebeu e gritou: "não atravesse a Arrábida, patrão". E eu, já com o sentimento de desafiar os deuses que se escondiam por trás do aviso do S.Bentinho à Gertrudes, berrei a minha resposta com altivez: "SLB, SLB, Glorioso SLB, ganharemos contra tudo e contra todos, humanos ou divinos! Percebeu Sousa? Over and out". (O over and out aprendi nos filmes...). O Sousa, vencido e desalentado, rendeu-se à minha determinação. "Faça como quiser, patrão", disse, "mas olhe que se for, o Estrela não ganha ao Porto. Boa viagem". E desligou.
Além de ser agnóstico, também me considero imune a qualquer espécie de superstição, gostaria de o deixar bem claro. Mas não gosto de saber preocupado quem guardo no coração. Depois, o Guilherme pareceu-me um bocadinho constipado. E embora eles o não tenham dito, percebi que os meus netos estavam ansiosos por brincar com o Avô. Já para não falar da hipótese de um nevão me impedir de estar amanhã a horas no consultório!
Irritadíssimo, fiquei e lá vimos o jogo no sofá. O bom do Sousa telefonou há minutos com más notícias, a caldeira está de novo avariada em Cantelães. E, talvez por isso, não resistiu a uma tentativa infantil de me animar: "Viu, patrão, o Estrela ganhou, o S.Bentinho não ia mentir à Gertrudes!".
Desliguei sem o contrariar. O Sousa e a Gertrudes são gente boa, simples e crédula, para quê desgostá-los, provando-lhes a futilidade das suas crenças? Nem pensar! Fiz exactamente o contrário, pedi que no regresso passassem de novo pelo S.Bentinho a perguntar o que preciso fazer para o Benfica ganhar ao Gil Vicente na Sexta.
Só para os manter felizes...

Adiante.

Tinham alterado o programa e eu não sabia - Mozart..., nem ouvi-lo:((((((. Ressacar da música dele é tão difícil que não gozei o concerto como devia. E agora, para a estrada com um tempo sinistro... Mas decidi ver os rapazes e não volto atrás. Tive uma pequena desilusão. Que fazer? Lá diz o Eugénio:


Recomeço.
Não tenho outro ofício.


A vida toda em dois versos:).

sábado, janeiro 14, 2006

Sooooooouuuuuuusssssssaaaaaaaa!!!!!!!!

Ó homem, desculpe:(. Esqueci-me de o avisar, não vou para cima, há Mozart na Casa da Música (chlep, chlep, chlep). E vocês preparados para arrancar... Já sei, vão na mesma! Goze a casa e os dias sem ter de se preocupar com o patrão. Nada de jornal pela manhã, petiscos ao almoço e copo de leite na mesa de cabeceira ao deitar. É justo. Nunca lho disse cara a cara por este pudor cretino que castra os homens, mas você tem sido muito mais que mordomo e motorista - você é já amigo e confidente. Cantelães fica bem entregue e estou certo que acolherá a Gertrudes com a ternura que ela merece. Bom fim-de-semana.
P.S. Não se esqueça de desligar a caldeira!
P.S.1 - A salada de atum que está no frigorífico ainda é segura?
P.S.2 - Há jeans lavados?
P.S.3 - Acha que a camisa de quadrados azul aguenta com o blusão castanho em cima?
P.S.4 - Arrisco estacionar na Casa da Música ou é melhor ir de táxi?
P.S.5 - E sobretudo não se preocupe comigo!!!!!! Você tem tendência para pensar que eu não me safo na sua ausência. Francamente, Sousa, já não sou nenhum garotinho:).

sexta-feira, janeiro 13, 2006

De alguém que não conheço, mas faz parte do maralhal:).

Brisa


Se, sozinho
O corpo cansado a alma inquieta
Sentires um afago, uma carícia
Uma brisa que ao ouvido é sussurro
Palavra de conforto, calor.
Sou eu.
Rasgando o tempo
Atravessando o espaço
Tornando-me
Brisa, carícia,
Possibilidade de abraço
Palavra, amor.

Encandescente, in Encandescente, Colecção Polvo, Edições Rui Brito.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

A propósito de mulheres e com os cumprimentos do RAM. Que não escreveu o poema:).

Poema de Mulher

Que mulher nunca teve
Um sutiã meio furado,
Um primo meio tarado,
Ou um amigo meio veado?

Que mulher nunca tomou
Um fora de querer sumir,
Um porre de cair
Ou um lexotan para dormir?

Que mulher nunca sonhou
Com a sogra morta, estendida,
Em ser muito feliz na vida
Ou com uma lipo na barriga?

Que mulher nunca pensou
Em dar fim numa panela,
Jogar os filhos pela janela
Ou que a culpa era toda dela?

Que mulher nunca penou
Para ter a perna depilada,
Para aturar uma empregada
Ou para trabalhar menstruada?

Que mulher nunca comeu
Uma caixa de Bis, por ansiedade,
Uma alface, no almoço, por vaidade
Ou, um canalha por saudade?

Que mulher nunca apertou
O pé no sapato para caber,
A barriga para emagrecer
Ou um ursinho para não enlouquecer?

Que mulher nunca jurou
Que não estava ao telefone,
Que não pensa em silicone
Ou que "dele" não lembra nem o nome?


Só as mulheres para entenderem o significado deste poema!
Estamos em uma época em que:
"Homem dando sopa, é apenas um homem distribuindo alimento aos pobres"

"Pior do que nunca achar o homem certo é viver pra sempre com o homem errado"

"Mais vale um cara feio com você do que dois lindos se beijando"

"Se todo homem é igual, porque a gente escolhe tanto???"

"Príncipe encantado que nada."
Bom mesmo é lobo-mau!!
Que te ouve melhor...
Que te vê melhor...
E ainda te come!!!


Para mulheres que precisam rir, ou para homens que possam lidar com essa realidade!!!!!

Sai uma velharia, não vá o Sousa voltar das compras mais cedo e antecipar-se!

O milagre


Ao bater a porta atrás de si, não resistiu a frase célebre, desejo impossível e suspirado, curiosidade tremenda e receosa,
- Quem me dera ser mosca...
E o Senhor, avesso a conceder aos fiéis o monopólio dos milagres, satisfez-lhe o capricho. Tendo o cuidado de a não transformar em varejeira, para melhor poder escutar sem ser ouvida...
Mulher pragmática – passe a redundância! -, não perdeu tempo a interrogar-se sobre o que tinha acontecido ou a fazer planos de futura conversão ao catolicismo. Voou de imediato por frincha da janela, e asa ante asa reuniu-se aos pais na sala de estar. A mãe continuava no seu ponto de cruz, mas os cantos dos lábios vergados para o chão diziam tudo – por dentro eram as preocupações a bordá-la a ela. O pai pegara de novo no jornal. E contudo as páginas sucediam-se a um ritmo demasiado rápido para homem tão obsessivo nas viagens pelo mundo das notícias. Não lia, ganhava fôlego.
Para,
- E que achas disto da miúda?
Era sempre assim. Tinha uma opinião formada, mas gostava que o tiro de partida fosse dado pela mulher. Depois entrava no comboio em andamento ou tentava fazê-lo mudar de agulha.
- Já não é uma miúda.
A correcção, aparentemente apenas devida aos números constantes do bilhete de identidade, trazia consigo um esboço de resposta. E ele assim o entendeu, de imediato resmungou,
- Pois olha que parece! Esta gente nova fala de divórcio com uma ligeireza inacreditável.
A agulha não parou, os olhos não se levantaram.
- Não é feliz, sabe-lo tão bem como eu. Cada um desempenha o seu papel: nós fazemos de advogados do diabo e ela decide o que fazer da vida dela. De qualquer modo, no amor só se aprende com as nódoas negras.
O marido, amuado com as certezas pausadas que lhe aterravam no colo,
- Não te sabia especialista em nódoas negras amorosas, pensei que tínhamos um casamento feliz. A não ser que te refiras ao tempo em que ainda não nos conhecíamos...
(E olhava-a com ciúme, velho de trinta anos mas afiado.)
A agulha recolheu à caixinha de costura que herdara da mãe, aquela extraordinária avó que nunca recebia os netos sem um Everest de fatias de bolo de laranja. Os olhos, verdes como o último raio de sol, pousaram no marido, ainda tranquilos mas já severos.
- Às vezes são os outros a tropeçarem e nós a ficarmos com as nódoas negras.
Pausa.
- E não estou a falar de antigos namorados.
Ele sentiu um arrepio na espinha. Era impossível que tivesse descoberto a pomba que mantivera durante uns meses em apartamento dos arrabaldes. Teria a rapariga piado depois daqueles anos todos? Não fazia sentido, apresentara-a a um conhecido como sua colaboradora na empresa e tinham acabado juntos e com dois filhos. Tornara-se madame acima de toda a suspeita, jogando bridge e contribuindo para as mais selectas obras de caridade. Até já acontecera aterrarem os quatro na mesma mesa em casamentos e jantares de negócio! Estaria a mulher à pesca ou a fazer bluff? (Com aquele olhar tão límpido era impossível adivinhar...) Pôs-se nas mãos de Deus, sem saber que estavam já ocupadas por outro membro da família.
Digno,
- Não sei a que te referes.
Ela sorriu.
- Sabes perfeitamente. Mas o que lá vai, lá vai, tive de tomar uma decisão e tomei-a. Como a miúda está a fazer agora...
(Afinal também a tratava assim!)
- ... e nós vamos ajudá-la em tudo o que pudermos porque a amamos, não é verdade?
Era mais do que verdade. Mas, se não fosse, ele também concordaria, tinha a vaga sensação de passear á beira de um abismo.
- Absolutamente.
E voltou ao jornal.
A mosca voou para a rua, Deus fez o milagre ás avessas e a miúda que decidira esquecer as nódoas negras de um amor e partir para outro foi-se embora; pendurada num assobio, calorzinho bom no coração. Sabendo que por trás dos sobrolhos franzidos os velhos a apoiavam, sentia-se capaz de desafiar o mundo. Não se converteu e o Senhor fez vista grossa a tal ingratidão. Ele próprio, quando debruçado com algum vagar sobre os trôpegos seres humanos e o caos que irradiavam, admitia sentir-Se tentado pelo agnosticismo. Era tão difícil imaginá-los embalados por algum propósito divino...

quarta-feira, janeiro 11, 2006

O Sousa trata disso.

- Tá lá? Sousa?
- Sim, patrão.
- Chego tarde, resolva você as dúvidas sobre a masturbação.
- É p'ra já, patrão. Obrigado pela oportunidade.


Maralhal (isto é para vocês pensarem que eu sou ele!), aqui vai:






Sexercising
By: C. Michael Smith (Mas nada disto é novidade para mim, Sousa!).
KISSING:
Kissing can burn around 120-325 calories an hour, or around 2-5
calories a minute. Engaging in long make-out sessions with your
partner is not only good for your relationship; it is also good for
your waistline. A 10 minute make-out session with your partner each
morning and each evening could burn up to 100 calories a day. That’s
36,500 calories a year, or just over 10 pounds worth of weight loss.
When was the last time you made out with your partner?
UNDRESSING:
According to an Italian professor, even undressing can burn off
calories. Unclasping a bra with two hands burns 8 calories, while
unclasping it with only one hand burns up 18 calories. Unclasping it
with your mouth can burn 87 calories.
ORAL SEX:
15 minutes of oral sex can burn off the calories consumed in a long
sip of wine. There are calories present in semen, though, so if you
swallow, there are around 7 calories in a teaspoon of semen. Since
the average volume of ejaculation is 1-2 teaspoons, you can expect
an average of 7-14 calories per ejaculation. That will easily be
burned off during the course of your lovemaking, though.
MASTURBATION:
You don’t have to have a partner to enjoy the calorie-burning
effects of sex. Masturbation can burn up the calories, as well. You
can lose between 100-150 calories for each act of masturbation,
according to the Young People’s Reproductive and Sexual Health &
Rights Organization. You can raise that amount to around 300
calories, though, through a 5 minute vigorous masturbation session,
according to Japanese scientist Dr. Shukan Tokuho.
INTERCOURSE:
The “average” lovemaking session burns between 50 and 100 calories.
Having sex 3 times a week burns 7500 calories per year. That's the
equivalent of jogging 75 miles. The more intense the sex, the more
calories are burned: up to 15,000 calories annually (at a frequency
of three times weekly). 15,000 calories equals over 4 pounds of
weight loss per year, just from having sex three times a week.
ORGASM:
Experts estimate that an orgasm can burn between 60-100 calories.
Losing weight has never been so much fun!


(Um dia ainda seremos www.machadovazesousa@sexologia.com).

This is a must:).

personal trainer said...
Sexual Calorie Counter

It has been known for many years that sex is good exercise, but until recently nobody had made a scientific study of the caloric expenditure of different sexual activities. Now after original and proprietary research they are proud to present the results.

REMOVING HER CLOTHES:
With her consent........................ 12 Calories
Without her consent.................... 187 Calories

OPENING HER BRA:
With both hands.......................... 8 Calories
With one hand............................ 12 Calories
With your teeth........................... 85 Calories

PUTTING ON A CONDOM:
With an erection......................... 6 Calories
Without an erection..................... 315 Calories

PRELIMINARIES:
Trying to find the clitoris............... 8 Calories
Trying to find the G-Spot............... 92 Calories

POSITIONS:
Missionary................................. 52 Calories
69 lying down............................. 78 Calories
69 standing up............................ 112 Calories
Her on top................................. 524 Calories
Doggy Style................................ 726 Calories

ORGASM:
Real......................................... 112 Calories
False........................................ 315 Calories
POST ORGASM:
Lying in bed hugging..................... 18 Calories
Getting up immediately................. 36 Calories
Explaining why you got
out of bed immediately................. 816 Calories

GETTING A SECOND ERECTION:
If you are:
20-29 years old........................... 36 Calories
30-39 years................................ 80 Calories
40-49 years................................ 1124 Calories
50-59 years................................ 1972 Calories
60-69 years................................ 2916 Calories
70 and over................................ You just died

DRESSING UP AFTERWARDS:
Calmly....................................... 32 Calories
In a hurry................................... 98 Calories
With her father knocking at the door...1218 Calories
With your wife knocking at the door....5521 Calories

9:37 AM

Personal Trainer, o Sousa acaba de se despedir. Diz que vai trabalhar para si:))))).
Vou tentar uma segunda erecção por semana e vender a bicicleta!

terça-feira, janeiro 10, 2006

Adenda.

O Dr Machado Vaz chegou esgotado de Braga e encontra-se em meditação transcendental para decidir se cobre as ofertas dos clubes ingleses por Simão Sabrosa. No entanto, e atendendo a vários protestos murcónicos, encarregou-me de pesquisar no Sapo os gastos calóricos provocados por um acto sexual. Baseado na minha própria experiência com a Gertrudes em horário pós-laboral - ao fim-de-semana, como é óbvio!, espraiamo-nos por todo o dia... - considero a seguinte tabela aceitável:



Gastos Calóricos

Atividades não esportivas, calorias consumidas em 1 hora de atividade
Dormir 65 Calorias
Descansar deitado 77 Calorias
Descansar sentado 100 Calorias
Comer 105 Calorias
Jogar Baralho 105 Calorias
Tricotar 110 Calorias
Datilografar 115 Calorias
Trabalhar em pé 115 Calorias
Passar Roupa 140 Calorias
Tocar instrumentos 180 Calorias
Cozinhar 190 Calorias
Andar Devagar 200 Calorias
Dançar Lento 220 Calorias
Dar aula 220 Calorias
Trabalho de escritório 230 Calorias
Limpar a casa 260 Calorias
Pedreiro 440 Calorias
Trabalho no campo 500 Calorias
Relação Sexual 700 Calorias
Subir escadas 1.100 Calorias
Cortar Lenha 1.200 Calorias

Com os melhores cumprimentos,

Sôzá, consultor especializado na área do transporte automóvel.

Pois, a Prevenção...

Virgínia Alves


"Os actuais estilos de vida seguidos pelos jovens - o sedentarismo, a obesidade e a anorexia - podem levar a um decréscimo da esperança de vida nos países desenvolvidos. A acontecer, será a primeira de várias gerações a contrariar uma tendência que se tem verificado nas últimas décadas.

Esta previsão é feita por alguns especialistas ao verificarem o aumento de doenças crónico-degenerativas - a hipertensão, a diabetes e os acidentes vasculares - e o facto de estarem a ocorrer cada vez mais cedo.

"As doenças crónico- degenerativas, há uns anos, aconteciam numa fase terminal da vida. Actualmente, devido aos estilos de vida que são seguidos, essas doenças surgem a meio do ciclo de vida e há pessoas que convivem metade do seu ciclo de vida com estas doenças", explicou Manuel e Silva, professor da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física, da Universidade de Coimbra.

Por outro lado, referiu, a tecnologia na Medicina permite "que se prolongue a vida, com alguma qualidade é certo, mas de alguma forma afectada". Isto porque, sublinhou o professor, "o organismo convive bem com um factor de risco, por exemplo a diabetes, mas normalmente esse está associado a outros", pelo que "o combate torna-se muito mais difícil".

Apostar na prevenção

Perante este quadro, Manuel e Silva defende a prevenção secundária para os que já sofrem de algum mal. Mas, "acima de tudo, a prevenção primária, junto dos mais novos, porque é nas duas primeiras décadas de vida que se criam hábitos para que se possa contrariar esta tendência".

"É importante passar a mensagem de valorização da saúde, não como algo que depende da sorte ou do azar. Em particular, na sociedade actual, onde o corpo é visto como uma religião, e se encontram cada vez mais os extremos, a magreza ou a obesidade, esta como uma forma de chocar, de contrariar os valores adoptados pela maioria", salientou o professor.Razão pela qual a prevenção primária deverá apelar a uma dieta equilibrada e à prática de actividade física. "Porque o homem foi feito para ter actividade física e esta tem vindo a ser substituída graças à tecnologia", sublinhou.

A prova disso está num estudo desenvolvido por este professor, com 98 jovens dos 12 aos 16 anos, alunos de uma escola de Avelar, no concelho de Ansião. Do estudo, que avaliou a actividade física dos jovens, conclui-se que, em geral, os rapazes são mais activos que as raparigas e, em particular, no que diz respeito a actividades intensas, sobretudo durante os dias da semana e após horário escolar. Por outro lado, são também os rapazes os que mais tempo passam em frente da televisão ou do computador.

"Estes valores foram obtidos numa população fora de uma zona urbana. Nas cidades o sedentarismo é ainda maior", frisou.


377

mil praticantes de desporto federado em 2004. Apesar de estarmos perante um número recorde, que nunca antes fora atingido, o certo é que representa apenas 4% da população portuguesa.

200 vezes superiores os gastos actuais nos hospitais portugueses para tratar um acidente do sistema cardiovascular, quando comparados com os de há 20 anos. Isto por causa dos meios técnicos utilizados.

Recomendações

Andar

Caminhar mil passos por dia, independentemente da intensidade e da idade, é o critério internacional que está a ser adoptado.

Mobilidade

Abandonar os meios motorizados e optar por caminhar ou fazer os percursos de bicicleta.

Lazer

Optar por actividades físicas e menos pelas que estão associadas de alguma forma ao sedentarismo.

Estratégias Numa ida ao supermercado, estacionar o carro nos lugares mais distantes da entrada. A caminhada de ida e a de regresso com os sacos de compras representa exercício físico.

Truques

Sair do transporte público uma ou duas paragens antes do destino já representa algum exercício.

Desporto

Praticar qualquer desporto em qualquer idade, de acordo com a sua condição física.

Crianças

Praticar actividades ao ar livre com elas. Fazê-las caminhar um pouco todos os dias, por exemplo o percurso para a escola ou parte desse percurso".



Pois, a Prevenção... Qualquer técnico que, como eu, trabalhe na área das toxicodependências, não evitará um sorriso. Todos sabemos que a Prevenção enche os discursos, mas acaba de bolsos vazios. Porque os seus resultados não são espectaculares e imediatos, não alimentam telejornais. E por isso, na hora de distribuir recursos financeiros ou técnicos fica a perder. E por isso, quando os cortes são indispensáveis, como agora em Portugal, está sempre na primeira linha para lhes sofrer as consequências. Mas não é só nas toxicodependências. Falta-nos uma cultura preventiva a todos os níveis. Estamos habituados - e isto inclui a Medicina... - a esperar as nossas pequenas tragédias e depois precipitarmo-nos com o Credo na boca, o Terço na mão, a praga na cabeça, o medo e a saudade antecipada no coração para as valências curativas.
Que rebentam pelas costuras...

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Sousa, o catalisador.

Foi interessantíssimo ler os comentários chegados até agora. Porque a intenção do post era sugerir como o completo entendimento do outro é - felizmente... - impossível. E esconde, para além de um projecto beatífico de acorde(o) perfeito, uma certa nostalgia de poder, traduzido pela capacidade de prever as reacções de quem amamos. Este furor analítico pode comprometer vivências feitas de menos córtex e mais hipotálamo, na minha opinião:). Em contraponto, descrevi uma pouco original cumplicidade "intra-género", fácil por básica. E só por isso!, o estereotipo, aplicado a ambos os sexos, enxota sempre o arco-íris da vida e a diversidade que habita cada um. Alguns de vocês leram o post neste registo ou nas suas imediações, outros no do machismo puro e duro. O que é magnífico para a discussão. Abençoado Sousa:))))).


P.S. A afirmação de Pina Moura sobre o caso Iberdrola, referindo que a Ética da República é a Ética da Lei, fez-me pensar numa velha máxima: nem tudo o que é legal é legítimo.

domingo, janeiro 08, 2006

O regresso.

- Boa noite, patrão.
- Boa noite, Sousa.
- Patrão...
- Sim?
- Como o Benfica ganhou, tem um minuto?
- Sousa! Está a insinuar que se o Glorioso perde não o ouço?
- De maneira nenhuma, patrão! Eu é que me acanho, prefiro deixá-lo chorar e bater com a cabeça nas paredes sem ser incomodado.
- Ah, bom. Então que há?
- Patrão, desisti de perceber as mulheres.
- Meu caro, fico feliz por si.
- Mas patrão...
- Sousa, tal decisão prova, sem sombra de dúvida, que subiu mais um degrau rumo à sabedoria. Tentar entender as mulheres é um processo moroso e invariavelmente destinado ao fracasso. Entretanto o tempo voa e perdemos oportunidades únicas de apreciar a vida ao lado delas.
- Acho que não percebi lá muito bem, patrão.
- Não se preocupe, era o meu lado feminino a divagar. Ligue para a Sporttv e traga duas cervejolas.
- Com o devido respeito, patrão - isso é que é falar!

sábado, janeiro 07, 2006

Seja feita a vossa vontade...

Sousa,
Não me pergunte porquê, mas o maralhal parece simpatizar consigo e decidiu imiscuir-se na nossa relação laboral. Perdoo-lhe, portanto, o atrevimento desta manhã. (A que, aliás, reagi com extraordinária bonomia, convenhamos!) Não só não o despedirei, como lhe concedo o Domingo para ir visitar a sua Gertrudes e impressioná-la com o meu espada. Mas não abuse. Quero-o em Cantelães logo após o jogo do Benfica para me conduzir ao Porto. E não se esqueça de vituperar o árbitro se a coisa der para o torto. Como diria D.Sebastião - perder, sim, mas a protestar! Perdão? Não, não me refiro ao Professor Cavaco Silva, lembre-me para lhe ensinar História de Portugal pelo caminho. Podemos até fazer um desvio por Alcácer-Quibir... Irra homem!, não diga asneiras - a terra com cegonhas a caminho do Algarve é Alcácer do Sal. Bom Domingo e que Deus lhe ponha a virtude. Sobretudo no que à Temperança diz respeito, se a Brigada lhe tira a carta..., racho-o. O que diria o José Castelo Branco se soubesse que fui obrigado a guiar como o vulgo?????????????????????

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Ils ne le quittent pas, ils ne l'ont même pas connu:(.

Maria,
Dei aulas aos meus meninos. Casa quase cheia, a próxima frequência ainda vem longe. Já não sei porquê, citei a letra do Ne me quitte pas. Apenas um deles sabia que a canção fora composta pelo Brel:(((((((. Eu sei, eu sei, avec le temps tout s'en va, dizia o meu querido Ferré. E o francês, para eles, é uma língua só um bocadinho menos morta que o aramaico! Mas faz pena. E medo... Quando parto em associação livre pelas minhas referências, nas mais diversas áreas, sinto-me como um morto deixado para trás por engano, o meu mundo não é deste mundo. O quê? Eu disse mundo e não Reino, ainda não estou psicótico! Estavas a brincar, não gostas de me ouvir assim. Pronto, não estou assim, estou assado. Porque a tristeza é contagiosa e seria criminoso apagar esse teu sorriso, que me encanta e salva. Et d'ailleurs..., si toi, tu ne me quitte pas, je me suis nas tintas para tudo le reste:).
Maintenant vou travailler. Sousa, traga la limusina!

quinta-feira, janeiro 05, 2006

A propósito da lufa-lufa em que vivemos.

À flor da pele



Estacionar é hoje um sonho que releva de fé enternecedora ou ficção científica arrojada. Mas nenhum de nós deixa de vigiar o passeio pelo canto do olho, qualquer movimento de pneus ou arrumador excita coração e cabeça, “queres ver que...?, merda!, vai entrar e não sair”. Há tempos dedicava-me a esse desporto masoquista com a ajuda do ritmo da fila, digno da piedade arrogante de um caracol entrevado. De súbito, o oásis! Parei e resisti heroicamente ao resmungo dos que me seguiam, forçados a desvio de equilibristas para ultrapassarem. Não me enganavam, os seus protestos eram filhos da pura inveja! Passada a fase de insultos e dedos espetados, preparei-me para estacionar em marcha-atrás. Rezando para o conseguir à primeira!, poucos passeios no Porto se podem gabar de não ter sofrido os efeitos da minha deficiente avaliação das distâncias...
Quando iniciava a manobra, ouvi buzinadela furiosa. Receei investir alegremente contra algum pára-choques, não seria caso virgem. Relance ao retrovisor - nada. Decidi que o chinfrim me era alheio e retomei a atracação. Novo protesto, agora mais irritado, a buzina – como o comboio do western de Gary Cooper! – tocou três vezes. Explorei as redondezas e percebi: do outro lado da rua encontrava-se um carro, obviamente cobiçando o mesmo lugar, só não se antecipara por necessitar de aberta para a inversão de marcha. Ainda olhei para o chão, na esperança de ver traço contínuo que lhe negasse o direito de pernada por violação do código, mas o branco no asfalto era intermitente. Nada a fazer. Salvo assumir postura de “viste-o primeiro, mas eu já cá estou, vai-te coçar”. Em geral o super-ego não me permite essa atitude (ajudado pela minha cobardia, imagino-me agarrado pelos colarinhos e a levar uns sopapos ao som do clássico “toma lá, ó espertalhão!”).
Segui. E não é que dez metros depois brilhava outro El Dorado? Vi-o como recompensa pela minha correcção e estacionei com perícia (o que mais me convenceu da intervenção divina). Quando saía do carro, reparei que o meu concidadão já estacionara e se preparava para abandonar o dele. Achando que um bocadinho de educação não me faria mal nenhum, fui explicar que o não vira, e apenas por isso esboçara a ocupação selvagem do “seu” lugar. Atarefado com telemóvel, pasta e casaco, só deu pela minha presença quando bati no vidro com os dedos. Juro que levemente!, como reza o poema...
Saltou cá para fora como um foguete. Plantado à minha frente, disparou: “quer alguma coisa?”. O tom não enganava, a linguagem corporal muito menos - pronto para a porrada. Amaldiçoando a triste ideia de lhe dar uma explicação, que ameaçava tornar-se passaporte para uns tabefes, procurei manter a dignidade e disse-lhe ao que ia. A sua expressão transferiu-se, com armas e bagagens, do registo beligerante para o de um espanto envergonhado. Pediu-me desculpa pelos maus modos e fez-me notar que nunca se lhe tinham dirigido para tal em situações de trânsito, mas sempre com intuitos agressivos. O que, pensando melhor, até admitia ser estúpido naquele caso, pois eu deixara-lhe o lugar. Resumiu o ocorrido: “foi um reflexo”. Aperto de mão, ala.
Longe de mim branquear os perigos da raiva surda que muitos acarretam à flor da pele, apenas esperando pretexto para se tornar cega. Mas considero-a parente próxima da depressão que os jornais afirmam em vertiginosa subida no “top-ten” das doenças modernas. Por também profundamente triste, em muitos casos ela brota da sensação de que a vida escapa ao nosso controlo e ainda por cima a culpa de tal frustração morre solteira, a quem ou o quê apontar o dedo? Trata-se de uma fúria que esbraceja contra desconhecidos, um choro virado ao contrário, uma nostalgia de abraço transformada no desejo de esmurrar, um receio da solidão mascarado de asco aos outros. Vivemos depressa e mal; empilhados mas sozinhos; tudo consumindo e no entanto horrorosamente vazios. Tristeza e raiva são faces da mesma moeda, quando a segunda mergulha em nós e não na cara de alguém transforma-se na primeira.
P.S. Nada do exposto nega a existência de simples javardos. Face aos quais abdico da “compreensão psico-socio-cultural” e me limito a verificar se são maiores do que eu. Infelizmente não é difícil...


P.S. - As velharias do baú foram publicadas no JN e DN há tempos atrás, muitas delas constam de livros meus publicados. Faço o esclarecimento porque alguns de vocês me incitaram a escrever regularmente em jornais. Fi-lo durante três anos sem férias e ainda não estou disposto a reatar essa obrigação semanal que me angustia:).

P.S.1 - Longe de mim "desprezar" as viagens, tenho a certeza que o Luís diria o mesmo. Venha a estrada! Ambos falávamos de uma certa forma de viajar - sem quase olhar e nunca vendo:). En passant...

quarta-feira, janeiro 04, 2006

"Fazerem férias de si próprias".

"Detesto a mania pós-moderna das viagens e gente que não pode estar quieta. A meu ver, esta moda que tantos pensam ser sinal de sofisticação só revela almas inquietas, que não se suportam a si mesmas e mudam constantemente de sítio no desespero de fazerem férias de si próprias, que é afinal aquilo que sem saber procuram".

É este o destaque do artigo do Professor Luís Fernandes no Público de hoje. Ressalvando o perigo das generalizações, há muito de justificado na sua preocupação. Certas pessoas "investem" mundo fora a todo o gás, apenas para coleccionarem o que Bourdieu apelidou de capital cultural. Não conhecem gentes e sítios, afloram-nos distraídos e guardam-nos - como afirma o Luís - nas máquinas digitais. Sou suspeito. Com a idade, cada vez mais me encanta aprofundar recantos favoritos e, por cá, o sossego de Cantelães não desperta angústia, antes empurra para viagens interiores. Reconfortantes ou dolorosas, nunca monótonas. No Liceu recordo qualquer coisa acerca de umas partículas cujo movimento não produzia resultados práticos, penso que o tinham crismado de agitação browniana. (Vocês me corrigirão.) Às vezes somos assim - aceleramos com desespero, não em fuga da BT, mas de nós próprios.
Ou, em alternativa, buscando-nos por todo o lado menos cá dentro.

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Desculpem a ignorância do macaco:).

Pronto, já "deletei" o post das reticências, que serviu para retirar a palavra "chave" da lista de membros do blog (que apenas tem um...). As minhas desculpas aos que torceram os neurónios à procura de um sentido para mais esse extraordinário exemplo do meu analfabetismo informático.

domingo, janeiro 01, 2006

Agora que a Casa do Vale está pronta e a propósito de cinemas fechados, Centros Comerciais e correrias.

De Paris a Vieira do Minho


A semana passada, numa das lentas conversas telefónicas que debalde tentam estrangular saudades, o meu filho mais novo contava história de quotidiano parisiense. Se bem percebi, a composição do metro em que viajava adiantara-se e foi necessária paragem mais prolongada numa estação. A forma como descreveu os passageiros nesse fim de tarde e trabalho não me surpreendeu – observo os mesmos olhos vazios e gestos cinzentos por cá. Ombros caídos e neurónios em sobrecarga, balançando entre o cansaço mais embrutecido e a raiva mais à flor da orelha; passos rastejantes rumo a casa, que lar é palavra fofa, nem sempre compatível com tal estado de espírito. Depois, sobreviver, culpabilizados, à saúde abençoada e contudo massacrante dos miúdos; engolir qualquer coisa de mesa e televisão; guardar o sexo para noite menos curta e dormir o possível que não o suficiente, o despertador canta e o lamento é sempre o mesmo, incrédula – “já?” Se não estou em erro, os franceses resumiam esse traintrain journalier em rima nada poética: métro, boulot, dodo (metropolitano, trabalhar, dormir... Para onde raio terá fugido o resto da vida?).
Durante a espera, o condutor resolveu sugerir aos passageiros que apreciassem a paisagem publicitária das paredes. Houve expressões de surpresa, não é muito habitual ouvir o restolho dos microfones, a não ser para debitar, monocórdico, o nome da próxima estação. Mas o homem não se ficou por ali, pediu desculpa por o serviço de bebidas e sanduíches não estar em funcionamento. Foi quando, segundo o meu herdeiro, brotaram os primeiros sorrisos. E como não há duas sem três, o “patrão da lancha” voltou à carga, pedindo aos passageiros para apertarem cintos e extinguirem cigarros - iam levantar voo! O metro não o fez, mas as gargalhadas sim, e com elas a disposição dos viajantes. O Machado Vaz Júnior ficou tão agradavelmente surpreendido com os efeitos do inesperado e jocoso atendimento que, à saída, se dirigiu ao condutor para lhe agradecer. Surpresa das surpresas – havia bicha para o fazer, com pessoas jurando ter sido a viagem mais simpática de que se recordavam! Sem por um momento beliscar a gentileza e bom humor do homem, dá que pensar. Como vivemos nas grandes colmeias para que duas ou três palavras solidárias espantem e sensibilizem as gentes? Diria que a monte, com pouca fé em Deus e ainda menor no próximo!
Pensei na história ontem, de visita a Vieira do Minho e cumprindo os rituais. Fui dar um abraço ao senhor Manuel do Talho, tentou-me com bagaceira capaz de fazer crescer a água na boca e o medo na vesícula, os dois amigos que com ele cavaqueavam de imediato aceitaram o intruso portuense na tertúlia; avancei para a Mindinha e corri, sem autorização, a meter a cabeça na cozinha para largar uma graça coxa mas sincera aquelas mulheres de mãos abençoadas; durante a almoçarada, gente houve que se me dirigiu a dar as boas vindas, a sugerir locais de visita, a opinar sobre tal artigo ou programa de televisão; percorri a obra com respeito de analfabeto, pela mão paciente do meu mais velho e ao ritmo lento a que o enganador sol de inverno convidava, lá ao fundo uma réstia de geada sobrevivia, o serralheiro afirmou placidamente que manhã cedo teriam estado três ou quatro negativos! À saída, o Guilherme puxou-me o braço – “repara”. E eu estaquei, pasmado com o espectáculo da Cabreira reflectida no vidro, parecia que a serra se mudara para a sala de estar e nós a cobiçávamos, reverentes e gulosos. Que pena a casa não ficar pronta para o Natal!
Já deixei claro que não idealizo a vida de quem se debate com o preço da interioridade, seria obsceno. Mas em Vieira sinto-me pessoa e vejo os outros da mesma forma, não como pano de fundo da minha correria. Esta cadência febril torna impossível a conversa repousada; o encontro que se não fica por aceno de mão distraído e promessa de telefonema; a ironia subtil, mais exigente do que a graçola pesadona; o olhar atento a cores que estilhacem o cinzento nevoeiro psicológico responsável pelo “reumatismo cerebral”. Vivemos acima dos nossos limites e abaixo das nossas possibilidades. Como discos de trinta e três rotações girando a setenta e oito, não importa o som distorcido se o vinil roda mais depressa.
Mas para quê? Para mais rapidamente mergulharmos no silêncio?

Boa noite.

1.45. Roger Waters ao vivo em Portland, Oregon. Wish You Here, a minha canção favorita. Boa noite, maralhal.

Um Bom 2006:).

Já o desejei aos meus. Mas vocês, nos últimos dez meses, também foram gente minha. Maralhal, tudo de bom e obrigado pela ternura!