sábado, junho 28, 2008

O costume...

Ontem fui recebido como amigo e conterrâneo na E/B de Vieira do Minho. Tão importante como a conversa mantida com a assistência foi ouvir a descrição das inicitiativas levadas a cabo por técnicos, professores, pais e alunos. Admiráveis, mas - como de costume... - dependentes do suor, carolice e solidariedade das pessoas. Não pode ser:(. O Estado continua a refugiar-se em directivas vagas e declarações redondas. É preciso apoiar, estruturar, enquadrar. De modo a que eu não ouça frase angustiada - "até 2009 está assegurado, depois...". Porque alguém se vai embora, as condições objectivas deixam de existir, o cansaço derruba quem trabalha fora de horas, etc... E pensar que a lei de Educação Sexual é de 1984!

quinta-feira, junho 26, 2008

Muito adequado ao mundo em que vivemos.

"Os que sobrevivem neste ofício são os que têm prioridades e não princípios."

Carlos Ruiz Zafón - O Jogo do Anjo.

domingo, junho 22, 2008

Entre buzinadelas e morteiros.

Barcelona em festa! Merecida, Espanha jogou bastante melhor do que uma calculista Itália. E eu partilho da alegria, sempre me senti em casa neste país. Mas valha a verdade que em particular na Galiza e na Catalunha, mas hoje não é noite para dar largas à minha costela autonómica:).

quarta-feira, junho 18, 2008

Em território "daliniano".

Não é raro os meus alunos sublinharem a frequência de slides de Dalí nas aulas. É verdade. E no entanto nunca "atravesso" as obras, o personagem por trás delas é-me antipático, na sua obsessão com a mais longa obra a que se dedicou - a própria imagem. Cadaquès, Port Lligat, Creus, o pano de fundo de muitos quadros está ali, na costa retalhada com fúria, que se abre para um mar plácido. Não é o caso dos meus favoritos - A Tentação de Santo António e A Persistência da Memória. No primeiro, imagina-se mal como fé e cruz poderão proteger a virtude de um simples homem contra elefantes aracnídeos que se preparam para o soterrar por baixo de prazeres de carne e espírito; no segundo, os relógios, a quem entregámos o privilégio de substituir Estações, Sol e Lua na marcação da cadência do tempo, "escorrem", flácidos, para o chão. A memória não é do reino deles...

sábado, junho 14, 2008

Sénanque.

A Abadia ainda não estava rodeada por aquela espantosa mancha azul de lavanda:(. Mas na missa do meio-dia respirava-se uma paz ecuménica, que me trouxe a atmosfera do velho colégio João de Deus. No fim, os monges correram a igreja cumprimentando as pessoas com um sorriso afectuoso na mão e nada mais, perguntar é muitas vezes o primeiro passo para dividir. Eu, que nunca o faço, respondi ao apelo do livro de mensagens e escrevi o óbvio - obrigado pela serenidade. Vim-me embora a pensar que a vertigem do poder temporal foi uma armadilha terrível para certa Igreja, que nunca se libertou da sua nostalgia. Erro crasso, as palavras e vidas destes homens lembram-nos bem melhor que o sonho de Cristo era possível.

segunda-feira, junho 09, 2008

À sombra dos Alpilles.

Mesmo carrancudo, o céu da Provença continua a derramar uma luz inigualável. Pego no jornal e leio que o Presidente da Câmara de Paris, Bertrand Delanoë, preconiza um aumento dos impostos à Total, cujos dirigentes se enchem de dinheiro enquanto a crise se agrava. Sugere uma fiscalidade "mais agressiva" para as grandes companhias. Parece impossível, ninguém lhe explicou as quase inexistentes margens de lucro delas?:(. Esta mania de fazer os ricos participarem nos custos da crise... Ainda me lembro de um slogan arrepiante!: eles que a pagassem. Há gente capaz das ideias mais absurdas, postas na prática assassinariam a ordem social como a conhecemos - lógica: bancos e grandes empresas necessitam de sossego para produzirem riqueza, posteriormente distribuída com justiça por todos nós. Quem duvida disto é um cínico sem esperança ou perdão!

quinta-feira, junho 05, 2008

Entre o hemiciclo e a rua.

Em Abril, Fora-de-Lei escreveu que a eleição de Manuela Ferreira Leite convinha ao PM, porque seria quase uma "garantia" da concentração do voto útil de esquerda no PS. O argumento era válido e recordei-o hoje, enquanto assistia ao debate sobre a moção de censura apresentada pelo CDS/PP. Curiosamente, com a sensação de que a cabeça do Engenheiro Sócrates se debruçava mais sobre as 200.000 pessoas que desaguaram nas ruas de Lisboa. Não basta dizer que os números não são preocupantes, apenas as ideias, ou catalogar de "conservadoras" outras esquerdas. Penso que os portugueses, na sua esmagadora maioria, já estão para lá do voto útil. Se este Governo for incapaz de - ao menos... - diluir a imagem de cumplicidade com o evidente agravamento do fosso entre classes à custa da média, o voto de protesto será inevitável. De protesto e pressão quanto a coligações ou simples entendimentos pontuais!, um bloco central em 2009 só engrossaria as manifestações...

terça-feira, junho 03, 2008

Montalegre.

No fim-de-semana fui ao Congresso de Clínica Geral em Montalegre. Mesa deliciosamente assassina, braços abertos, colegas de curso, jovens do secundário com risos francos. Não me arrependi por chegar a Cantelães com 24 horas de atraso. A Clínica Geral é a fiel depositária de uma longa tradição de Medicina de cabeceira, holística, artesanal, quase fraterna. E reconhece a extraordinária importância das super-especialidades sem cair na esparrela que trazem à arreata, fazer de nós simples técnicos de saúde, eruditos no que a determinados órgãos diz respeito, tantas vezes a anos-luz de distância da humanidade para lá deles - palpáveis, científicos, a preto e branco. Mortíferos mas ingénuos...