quinta-feira, maio 27, 2010

A whiter shade of pale.

Para lá da morte do ruído e antes do silêncio da morte há um bar. O empregado é mudo, evidentemente. A máquina de discos está avariada e a banda rock não apareceu porque a carrinha teve um furo. (Os copos não tilintam por mera delicadeza...). Como vês, trata-se do lugar perfeito. Bebe um trago, esgota a exaustão e pensa. Depois decide se recuas ou vais em frente, mas não percas demasiado tempo - a diferença não é assim tão grande, acredita. Lança a moeda ao ar, se preferes acreditar em sorte ou acaso. Mas não a deixes cair!, perdoo tudo menos o mais raquítico dos barulhos. Shhh..., incluindo o das palavras, sacana mentiroso e inútil, faltam-lhe demasiadas cores na paleta para aflorar o sentimento.

quarta-feira, maio 19, 2010

Diálogo nocturno.

- Nem penses, já estou em vale de lençóis.
- Bom, conheces o ditado: se o vale não vem a Maomé...
- A montanha, burro.
- Que se lixe, vou eu aí!
Ela notou, sem surpresa, que a humidade no vale aumentara...

sexta-feira, maio 14, 2010

Na auto-estrada.

Em viagem ouvi os comentários à visita papal dos Professores Anselmo Borges e Teresa Toldy. Fizeram-me, por vezes, regressar aos padres do meu querido colégio João de Deus. Não lhes poderia render melhor homenagem.

quarta-feira, maio 12, 2010

O Jorge.

O Carlos Magno é um amigo com privilégios firmes, o meu Velho gostava muito dele e isso chega e sobra. Mais um convite amável, os quatro dedos de conversa habituais e a surpresa dolorosa - o Jorge morreu. Ele, que com a sua Luísa foi meu aluno em Biomédicas e depois me acompanhou na magnífica loucura da Consulta de Sexologia do Magalhães Lemos. Um dia, mais tarde, bateu-me ao ferrolho e desabafou longamente. Recordo ter-lhe dito que ou diminuía o stress em que vivia ou estava em risco de passar da angústia à doença física. Não sei se o não pôde fazer ou se não fui convincente, o resultado está aí. Como a velha fotografia no jardim à frente do Instituto, os três sorridentes, eles à porta da vida profissional, eu grato pela ternura do pedido - "quer ser o nosso padrinho?". Ao longo de 36 anos tive muitos alunos, mas poucos discípulos. É compreensível, a esmagadora maioria da malta considerava o que eu expunha absolutamente inútil para o exercício de uma Medicina ingénua e arrogante, baseada nas super-especialidades. Alguns concordaram comigo - pensar a Medicina e os seus "pecados" não é traí-la. Gente como o Jorge e a Luísa, que me convidavam para jantar em sua casa e me faziam sentir um amigo e não o chefe. É um privilégio raro, que guardo no coração. Ensinei durante trinta e três anos numa instituição. Quando saí, excepção feita à minha Directora de Departamento, apenas recebi um abraço e o desejo de felicidades de um órgão - a Associação de Estudantes. E quando isso aconteceu, a gratidão expulsou a amargura. Porque foi com eles e para eles que fiz o melhor possível. Alguns ainda me contam alegrias e desventuras, numa demonstração tocante de fidelidade ao velho prof. Ver partir os mais jovens é anti-natural, como escreveu Bautista acerca da morte dos filhos, sinto um remorso hipócrita. Espero que a Luísa e os cachopos aguentem o melhor possível. E saibam que porta e braços estão abertos, mesmo sem o sorriso da fotografia:(.

domingo, maio 09, 2010

Para que conste.

Amanhã vou a Lisboa. Vocês conhecem-me, sou um preguiçoso militante, preferia ficar no sofá. Mas este ano foi especial, os marotos proporcionaram-me tantos momentos de prazer!:). Durante a semana houve quem se escandalizasse com a minha severidade acerca do descalabro emocional do Dragão. Lamento muito, sou um fanático livre. E se as coisas derem para o torto e eu não achar que foi apenas má sorte, rosnarei. Com a autoridade de quem vai trabalhar, depois guiar rumo a Lisboa mais depressa do que desejaria, roer as unhas e gritar de alegria ou aguentar insónia muuuuito triste. Mas - sobretudo! - de quem deixará Lisboa tão desesperadamente apaixonado pelo Benfica como chegou:).
Per omnia...

quarta-feira, maio 05, 2010

Prova provada.

- Como saberei que gosto de uma a sério, gostar mesmo, caramba!, perguntou o rapaz.
O velho senhor respondeu sem hesitação,
- Quando desejares dormir com ela depois de dormir com ela.
- Então é simples, congratulou-se o puto.
Nos olhos cansados espreitou um brilho divertido.
- Com efeito. Excepto se te apetecer fugir ao acordar.
E voltaram à contemplação das ondas, enlouquecidas pela nortada.

domingo, maio 02, 2010

O seu a seu dono.

Sinceros parabéns ao F. C. Porto pela atitude, o arreganho, o espírito de sacrifício. O Benfica? Uma enorme desilusão.