domingo, dezembro 31, 2006

Cadeiras, passas, desejos e outros rituais...

Maralhal,

Um bom 2007! Em breve acontecerá um novo ataque das esdrúxulas Produções Murcon, sempre fiéis ao seu lema - conseguir fazer ainda pior! Eu, pelo menos, consegui - apanhei uma gripe à beira-rio:).

sexta-feira, dezembro 29, 2006

A coberto do balão da Brigada:).

Cantelães. Só saio daqui em 2007. A idade traz a aceitação. Alguns dos meus amigos não percebem como posso meter-me cá em cima no fim-de-semana da passagem de ano. Outros vêm ter comigo:). A aceitação, dizia eu. Compreendo quem não se imagina a mergulhar no minuto a seguir à meia-noite sem música, passas, cadeiras, bailarico, riso alto. Já o fiz, e com prazer. Mas não percebo por que será tão estranho o gozo imenso que retiro do silêncio apenas entrecortado pelo riacho, da conversa preguiçosa, do abraço comovido e singelo, sem estereofonia. Live and let live...

quinta-feira, dezembro 28, 2006

A propósito das taxas de juro...

Na minha terra, não há terra, há ruas;
mesmo as colinas são de prédios altos
com renda muito mais alta.
...
Jorge de Sena, Os Paraísos Artificiais.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Até dói:(.

Porto está a ficar deserto
2006/12/27 09:14- Jaime Gabriel de Jesus (Agência Lusa)

Em 2011 terá apenas 200 mil habitantes. Gaia e Maia ganham habitantes

O Porto terá apenas 200 mil habitantes em 2011, descendo a um nível demográfico próximo do que tinha no advento da República (183 mil residentes em 1911), segundo uma projecção do Instituto de Ciências Sociais.
A confirmar-se este cenário, o concelho cairá do terceiro para o quarto lugar do «ranking» populacional, atrás de Sintra (que terá quase 480 mil habitantes), Lisboa (471 mil) e Gaia (321 mil).
A maior população do Porto foi atingida em 1981, com 327 mil habitantes, número que desceu para 302 mil em 1991 e para 263 mil em 2001.
Já em 2005, uma contagem inter-censitária do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou que restavam no Porto 233 mil moradores, uma perda de 11,3 por cento em apenas quatro anos.
Em números absolutos, a perda populacional do Porto está abaixo da registada em Lisboa (menos 45 mil habitantes) mas é percentualmente superior à da capital (que teve menos oito por cento).
Em contraciclo, Gaia passou, no último ano, as três centenas de milhar de residentes, consolidando o estatuto de terceiro concelho português mais povoado, que já subtraíra ao vizinho da margem Norte em 2001.
Em 2005, o INE atribuiu ao concelho da margem Sul do rio Douro uma população de 304 mil habitantes, confirmando a tendência crescente evidenciada em sucessivos censos: 1981, 226 mil moradores; 1991, 249 mil; e 2001, 289 mil.
Só um bairro de Gaia, o de Vila D¿Este, freguesia de Vilar de Andorinho, tem mais habitantes do que as quatro freguesias do centro histórico do Porto.
A população de Vila d¿Este está estimada em 17 mil habitantes, mais cinco mil do que a verificada, nos Censos de 2001, nas freguesias portuenses de Sé, S. Nicolau, Vitória e Miragaia. Estas quatro freguesias da zona histórica do Porto perderam metade da população entre 1981 e 2001, passando de 28 mil para 13 mil habitantes.
No mesmo período, o conjunto citadino - que compreende mais 11 freguesias - perdeu 64 mil habitantes, o equivalente ao que o município de Gaia ganhou no mesmo hiato (63 mil).
Mas a perda demográfica do Porto não favoreceu apenas Gaia, já que sete outros concelhos periféricos ganharam, no mesmo período, um total de 90 mil residentes.
Maia foi o município da região que maior crescimento demográfico percentual registou. Entre 2001 e 2005, a população da Maia, concelho imediatamente a Norte do Porto, cresceu 10,8 por cento, somando quase 13 mil novos moradores aos 120 mil que já possuía.

terça-feira, dezembro 26, 2006

O elo.

Maria,
Quando cheguei, o Tiago exigiu que o seguisse à despensa. Explicou-me que ia fazer desenhos "com luz". O brinquedo é engraçado - uma espécie de marcador que deixa o papel marcado..., no escuro! Sentei-me encostado à porta, para evitar que alguém na peugada de molho para o peru nos provocasse um traumatismo craneano ao som de um "mas que raio fazem vocês aqui?" O miúdo transformou a folha de bloco num pequeno farol que lhe iluminava o rosto, diligente e fascinado. Eu chegara de visitar o negro Alzheimer da Mãe, sinistro à luz do sol que entrava pela janela. E naquela despensa, mínima e da cor do breu, quedei-me pensativo, hipnotizado pelo sorriso que inundava a face do Tiago, "estás a ver, Avô Júlio?". Estava. Vi, Maria, vi claramente. Os rabiscos do maroto; e o futuro da lenda familiar no encantamento de um loiríssimo neto:). Encostei-me à porta com mais força. Sou uma ponte entre margens...

sábado, dezembro 23, 2006

Assim seja!

"Não se aprende grande coisa com a idade.
Talvez a ser mais simples,
a escrever com menos adjectivos.
..."

Eugénio de Andrade, O Sal da Língua.


GENTE,

OBRIGADO PELA TERNURA E BOM NATAL.

MURCON.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Em época de compras:).

LIQUIDAÇÃO (QUASE) TOTAL

EVERYTHING BUT THE GIRL


Acabei de compor Careless e devo confessar que não me sinto melhor - por onde andará Tracey? As últimas semanas foram diabólicas, tudo acabado pela quinquagésima vez, ambos sem autoridade moral para acusações – nem sequer é líquido quem começou a desenhar triângulos… – e agora esta ideia heróica e comercial de gravar Baby, The Stars Shine Bright de qualquer modo. Odeio a conversa acerca de sermos adultos, trabalho é trabalho, etc... Lérias! Assim que vir a letra da canção vai ter uma fúria homérica e aparecer com um namorado pronto a usar só para me agredir. O ambiente vai ser o pior desde que os Beatles gravaram em Abbey Road e partiram em quatro direcções...
Que nos vem a acontecer? Parece ter sido ontem, o americano pela boutique dentro, começou a cheirar por todo o lado, apalpava a roupa como se escolhesse – e assassinasse! – fruta. Assentou um formidável murro no balcão para lhe verificar a resistência, teve o descaramento de meter conversa com os clientes, (talvez tenha desconfiado que eram amigos nossos a fingir de clientela) ah!, como me apeteceu pô-lo na rua com um biqueiro no cu. Tracey e os sonhos de glória…Que mal tinham os espectáculos de fim-de-semana em pubs não selectos? Boa cerveja, à segunda noite os clientes pareciam velhos compagnons de route. Não eram fãs mas prata da casa, aceitavam-nos sem truques de estúdio, o mais das vezes nem palco havia. E Tracey, o dedo acusador, patati patata, a minha falta de ambição, trauteava Lennon e McCartney fora do contexto – como agora se diz, para fazer passar a mensagem… –, Baby, You Can Drive My Car, Yes I’m Gonna Be a Star. Ainda acaba por acertar, se não me acautelo estou a caminho de ser o guitarrista e chauffeur de Miss Tracey Thorn, a divina. Merda!
Quando o raio do américa se deu por satisfeito com a vistoria de roupas, vizinhança, contas e freguesia, perguntou se era tudo para vender!? Devia tê-lo mandado comprar um castelo na Escócia para o reconstruir no Texas, imagino o gáudio de baleias alimentadas a hamburgers e ansiosas por ver fantasmas com garantia e gaita-de-foles. Pois! Em vez disso, olhei para Tracey de pé entre filas de vestidos indiferentes, o olhar suplicante perdido na face incrivelmente ruborizada, mãos brancas, de tão apertadas à volta do futuro; imaginei, egoísta, aquele seu modo de me saltar para o colo e sugerir orgias alimentares porque uma inglesa decente não menciona as outras. Quis dar a mim próprio o prazer imenso de lhe ver aquela sua felicidade infecciosa e resmunguei para o sobrinho do Tio Sam – “tudo, é tudo para vender, preciso do dinheiro para ser famoso sem o desejar”. E de repente – não fosse o Diabo tecê-las – ouvi-me pôr em respeito os dólares gulosos dele – “Tudo para vender, tudo excepto a rapariga!”

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Honra lhe seja!

Médico confessa ter retirado tubo de ar a Welby

Italiano pedia suspensão de tratamento que o mantinha vivo

O primeiro anúncio da morte de Piergiorgio Welby - um italiano de 60 anos, que sofria há 30 de distrofia muscular e pedia a suspensão do tratamento que o mantinha vivo - dava conta que esta havia acontecido naturalmente. Mas, pouco depois, surgiu uma confissão, a do médico Mário Riccio, que reconheceu ter retirado a Welby o tubo lhe fornecia oxigénio.
«Acedi à sua petição de morrer», revelou o médico anestesista do hospital de Crémone, numa conferência de imprensa, realizada em Roma, em que disse ainda ter administrado ao paciente medicação com a finalidade de lhe evitar uma morte dolorosa.
O caso de Welby - cuja vida dependia desde 1997 de um respirador artificial e era alimentado por uma sonda - gerou um amplo debate sobre a eutanásia em Itália que dividiu as forças políticas. O Partido Radical Italiano apoiou-o nas últimas semanas e foi o seu presidente, Marco Panella, que deu a notícia ao país através da rádio.
Welby recorreu aos tribunais para que os médicos lhe suspendessem a respiração assistida após sedação terapêutica, mas uma juíza do Tribunal Civil de Roma, Ângela Salvio, considerou que se tratava de «um direito não tutelado concretamente no ordenamento jurídico».
Em Setembro passado, o homem de 60 anos havia enviado uma vídeo-mensagem ao presidente italiano, Giorgio Napolitano, em que mostrava as suas condições e pedia o direito a decidir livremente morrer.
«A vida é como uma mulher que te deixa»
Na mensagem descodificada pelo sintetizador de voz que o permitia comunicar, Welby explicou: «Eu amo a vida. A vida é como uma mulher que ama, o vento no cabelo, o Sol na cara. A vida é também uma mulher que te deixa num dia de chuva».
E acrescenta: «Agora o meu corpo já não é meu, está à mercê de médicos, familiares e assistentes (...). Se fosse Suíço, holandês ou belga, poderia poupar-me a tudo isso. Mas sou italiano e aqui não há piedade», disse.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Até onde podem ir a estupidez e o medo?

FBI divulga ficheiros secretos de Lennon

2006/12/20 22:37

Documentos estiveram 25 anos arredados dos olhares públicos porque eram «ameaça»

O FBI divulgou os últimos dez documentos secretos relativos ao assassinato de John Lennon e que ficaram escondidos dos olhares públicos durante 25 anos, supostamente para evitar uma «retaliação militar» contra os Estados Unidos.
De acordo com a «Reuters», os arquivos continham apenas informações já conhecidas sobre as ligações de Lennon a líderes esquerdistas e grupos pacifistas de Londres, em 1970 e 1971.
A revelação foi feita pelo professor de História na Universidade da Califórnia em Irvine, John Wiener.
«Hoje vemos que o argumento da segurança nacional utilizado pelo FBI há 25 anos é absurdo. O arquivo de Lennon no FBI é um caso clássico de segredo excessivo por parte do governo», disse Wiener em comunicado.
Entre os documentos divulgados há um que afirma que Lennon «é um revolucionário ... pelo conteúdo de algumas de suas músicas».
Outro arquivo refere que o ex-Beatle fez campanha pacifista e prometeu financiar uma livraria de esquerda em Londres. Um terceiro documento descreve uma entrevista de Lennon ao jornal Red Mole de Londres, na qual o cantor «enfatizou o seu historial proletário e a sua solidariedade para com os oprimidos e desfavorecidos da Grã-Bretanha e do mundo».
Wiener requisitou os arquivos pela primeira vez em 1981. Depois de uma batalha judicial que chegou até ao Supremo Tribunal dos EUA, o professor conseguiu consultar mais de 300 páginas de arquivos sobre Lennon, isto em 1997.
Mas dez documentos continuaram secretos, sob a alegação de que afetavam a segurança nacional. O FBI declarou nos tribunais norte-americanos, em 1983, que a divulgação desses documentos poderia «levar a retaliações diplomáticas, económicas e militares contra os Estados Unidos».
Wiener descreveu a sua cruzada num livro que serviu de base ao documentário «The U.S. versus John Lennon» e publicou documentos aqui
«Duvido que o governo de Tony Blair lance um ataque militar contra os Estados Unidos em retaliação pela divulgação destes documentos», ironizou.
Lennon, autor do tema pacifista «Imagine», foi assassinado, em Dezembro de 1980, em Nova Iorque, por um fã perturbado.

Ou seja: nenhum macho verdadeiro pode queixar-se de agressão por parte da frágil companheira...

Não há violência doméstica entre homossexuais

Juízes consideram que não há crime quando o casal é do mesmo sexo

A Associação Sindical de Juízes considera que não pode haver crime de violência doméstica quando o casal é composto por duas pessoas do mesmo sexo, escreve hoje o Diário de Notícias.
Pedro Albergaria, um dos autores do parecer, diz que não estando previsto no Código Civil o casamento de pessoas do mesmo sexo, não se pode estabelecer no Código Penal que a violência entre casais homossexuais constitua um crime específico dos relacionamentos conjugais ou paraconjugais.
De acordo com este juiz também «não está minimamente demonstrado que estas situações (de violência) existem» sendo que o legislador deve legislar sobre o que geralmente acontece e não sobre o que pode acontecer.
No parecer da Associação, os juízes consideram mesmo que «a protecção da família enquanto composta por cônjuges do mesmo sexo tem um notório - e apenas esse - valor de bandeira ideológica, uma função, por assim dizer, promocional».
O coordenador da Unidade de Missão para a Reforma do Código Penal, Rui Pereira, discorda do parecer da Associação Sindical de juízes lembrando que «há pessoas do mesmo sexo a viver em união de facto», situação que a lei já prevê.
«Se há violência nessa relação, a tutela jurídica não pode fechar os olhos», adianta. «O crime em causa envolve violência física e psíquica, e não é necessariamente o mais forte fisicamente que maltrata o outro», como defende o parecer, refere Rui Pereira.
Segundo o coordenador da Missão para a Reforma do Código Penal, se assim fosse «nenhum homem poderia apresentar queixa por levar pancada de outro homem em qualquer circunstância, ou uma mulher por ser agredida por outra mulher».
Rui Pereira disse ainda, em declarações ao Diário de Notícias, que «foram preocupações da revisão do Código Penal a consagração da igualdade na prática, no que respeita à orientação sexual, de acordo com a norma constitucional». Para a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, a inclusão das uniões de facto homossexuais na definição de crime de violência doméstica «é pacífica», lembrando contudo que a maioria das situações de violência que são relatadas se podem definir como de «violência de género».

P.S. Quanto à expressão "função promocional", entendida como único objectivo de uma soi-disante "protecção da família" não tecerei comentários, de tão evidente o preconceito.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Dores de crescimento.

Ninguém consegue proteger alguém para sempre.


Arturo Pérez-Reverte, O Cemitério dos Barcos sem Nome.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Viktorada.

O Viktor teve a gentileza de me ensinar a colocar um atalho no blog para as Produções Murcónicas. O mais extraordinário é que enquanto eu me debatia com um diagnóstico de erro por parte da besta, ele me enviava um mail a dizer que tudo estava a funcionar:). Decididamente não nasci para material tão caprichoso! Como dizem os mecânicos de automóveis - é fêmea:).

sábado, dezembro 16, 2006

No rescaldo da infamante estreia:).

Ainda na Galiza, verifico que a brincadeira das produções murcon já está "no ar". Quero agradecer o desvelo do Viktor, do Pedro e de quem preferiu manter o anonimato. Quanto a mim, devo confessar que me deu gozo filmar isto, não se tratou apenas de provar a minha gratidão ao "maralhal". Vivemos tempos de sujeição escrava às audiências, o que limita as escolhas de temas e formatos. As produções murcon presentearam-me com o privilégio de associar livremente sobre o que me desse na gana. Por isso da próxima vez falarei de Ovídio, sem que alguém me peça para "apimentar" o programa ou convidar a estrela cadente do momento. O "programa" será mais curto, penso que 15 minutos é o tempo ideal. Mas, acima de tudo!, será espontâneo; artesanal; livre. Sem preço:)))))).

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Circular.

Solicitou-me a Assembleia Geral das Produções Murcónicas - infame organização que tem por objectivo levar ao nível zero a qualidade do audio-visual! - que informe o maralhal do seguinte: a qualquer momento será colocado no Murcon o presente natalício (obviamente envenenado...) da sinistra empresa para todos os murcónicos.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Galiza sempre.

De partida para Santiago. Em trabalho. Mas a sensação é a do costume - regressar a caminhos percorridos dezenas de vezes, abraçar amigos da outra margem do rio, folhear recordações; muitas. E sentir-me em casa:).

terça-feira, dezembro 12, 2006

Não me surpreende, mas gostaria de ver comparados estatutos socio-económicos.

Um estudo da Associação para o Planeamento da Família, a ser apresentado na quarta-feira, conclui que um terço das mulheres que fizeram Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) teve necessidade de recorrer a um serviço de saúde para completar o aborto.

O estudo, realizado com base sobre as práticas do aborto em Portugal e que recorreu a inquéritos a 2.000 mulheres, conclui que cerca de 14,5% das mulheres entre os 18 e os 49 anos já fez uma IVG.De acordo com os dados apurados por esta associação, entre 346 mil a 363 mil mulheres portuguesas já realizaram abortos. No último ano foram realizados entre 17.260 a 18 mil abortos.A Associação para o Planeamento da Família conclui ainda que a grande maioria das mulheres fez um único aborto e que cerca de 73% das mulheres que realizaram IVG fizeram-no até às 10 semanas de gestação.

Correio da Manhã.

Estou de acordo, não creio em "fronteiras" biológicas.

Cientistas rejeitam conceito de «pré-embrião»
2006/12/12 20:47

E defendem o mesmo «estatuto biológico» do adulto

Mais de 200 cientistas e professores universitários tornaram público, esta segunda-feira, um manifesto no qual mostram a sua oposição em relação a alguns dos conteúdos do Projecto de Lei de Pesquisa em Biomedicina, que se debaterá na próxima quinta-feira no Congresso dos Deputados da Espanha.
Segundo escreve a Veritas, agência católica de notícias espanhola, o manifesto - promovido por Luis Franco Vera, da Real Academia de Ciências Exatas, Físicas e Naturais e catedrático de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade de Valência - foi assinado por 14 académicos, dois cientistas premiados com o Prêmio Jaime I, 39 catedráticos universitários e mais de 150 pesquisadores e professores.
Segundo a Veritas, o manifesto afirma que, «de um ponto de vista estritamente científico», «não têm sentido as distinções semânticas como a que se introduz ao chamar pré-embrião ao embrião obtido por fecundação in vitro».
Os cientistas assinalam que há dados que tornam «inadmissível desde um ponto biológico identificar o embrião como uma simples massa de células, nem sequer nos dias anteriores à sua implantação», e acrescentam que o embrião é «um organismo individual da espécie Homo Sapiens, certamente em estado incipiente de desenvolvimento, mas não por isso merecedor de um estatuto biológico distinto do adulto».

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Paris.

Paris continua a ser uma cidade ideal para andarilhos claustrofóbicos. E lá a calcorreei, ainda barafustando contra o horror vivido na Eurodisney. Dois momentos se empoleiram nos outros, quando revisito o fim-de-semana: quatro "rapazes do meu tempo", lançados num jazz eufórico em plena ponte sobre o Sena, e os jovens que tocavam música clássica na minha querida Place des Vosges. Mas nada chegou aos sorrisos maravilhados de um par de rufiolas irrecuperáveis: os Machadinhos!


P.S. Em quatro dias o Benfica perdeu os oitavos de final da Liga dos Campeões e a Liga Portuguesa. Como de costume, o Engenheiro Fernando Santos identificou as razões para os insucessos e não duvido que haverá mais uma longa conversa no balneário. É um alívio! Passamos o Natal já derrotados, mas lúcidos:))))))).

sábado, dezembro 09, 2006

Às ordens do Gaspar e do Tiago.

Sartre escreveu que o Inferno são os outros. Permito-me aprimorar o conceito - o Inferno são os outros..., na Eurodisney. Irra!

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Ingenuamente (?) desonesto. E ridículo...

A sondagem dos homens grávidos Fernanda Cânciofernanda.m.cancio@dn.pt

Se estivesse grávido e atravessasse um momento de dificuldade ou dúvida sobre a gravidez, quereria abortar ou ajuda para levar a gestação a termo? A pergunta só pode ser retórica: toda a gente sabe que um homem grávido só pode querer dar à luz. Estão a ver o furor planetário, a chuva de talk shows, donativos e parangonas, a fama instantânea? Quem é que no seu juízo perfeito optaria pelo aborto? Isto sem esquecer, é claro, a alegria da, como chamar-lhe, pater-maternidade? Claro que, todos sabemos, isto não pode ser, pelo menos por enquanto. Quer dizer: todos, não. Há sempre gente que resiste, há sempre gente que diz não. São, precisamente, as pessoas portuguesas da Plataforma do Não, que se apresentaram esta semana com uma sondagem de três singelas perguntas, qualquer delas, assim como as opções de resposta, um prodígio de manipulação. A primeira pergunta é a já citada, sendo que a ficha técnica da sondagem (ver em www.nao--obrigada.org/sondagem) especifica que o universo de respondentes consistiu "nos residentes portugueses com 18 ou mais anos". Incluindo homens, portanto, que foram ques- tionados sobre o que fariam se estivessem "grávida". Parece a brincar, mas não é. As pessoas que encomendaram esta sondagem estão muito a sério. E felizes com o facto de entre três possíveis respostas - "Ser encaminhada para uma clínica onde lhe fizessem o aborto de imediato e sem risco para a saúde"; "Que o aborto fosse livre para poder abortar sem ser crime" ou "Ser ajudada e apoiada a manter a gravidez e poder manter o bebé" - a maioria, 75,6%, ter escolhido a última. A pergunta não é, note-se, sobre "não querer a gravidez". É sobre "dúvidas". Não fala em prazos. Não fala sobre perseguição penal ou sobre o que deve acontecer às mulheres que abortam. Nenhuma das perguntas o faz. Nenhuma incide sobre o que está em causa no referendo de 11 de Fevereiro: despenalizar a interrupção da gravidez até às dez semanas. Talvez não deva surpreender que haja quem encomende uma sondagem assim. Mas que um centro de sondagens que se apresenta como de referência - o da Universidade Católica - aceite fazê-la e a assine é um pouco chocante. Talvez se deva então assinalar um novo tipo de centros de sondagem. Os "de tendência".

quinta-feira, dezembro 07, 2006

O trio maravilha:).

CLANDESTINO


BRIAN WILSON

Bush é um tipo simpático e a cor do cabelo da mulher só lhe diz respeito a ela, mas não deixo de estranhar que em menos de trinta anos passássemos de símbolos californianos para exportação a trunfos eleitorais da Nova Direita. Não discuti o assunto com os outros. Desde 1967 tornou-se difícil discordar sem vir de imediato um palavrão psiquiátrico e a pergunta estafada – “Tomaste os remédios?” Não me agarram, neste corpinho não entram mais drogas; prefiro engordar por comer alarvemente. Mas durante o concerto na Casa Branca tive dúvidas se não os deviam internar a eles. Talvez a loucura me estivesse reservada, a mentira, essa, abençoou-nos a todos. Já o nome era de morrer a rir - só Dennis amava praia e mar – por isso foi justo que não suportasse terra e jazigos… – e nenhum de nós punha na beira do prato raparigas que não pudessem alegar serem nadas e criadas à beira do Pacífico. O som dos Beach Boys era uma sonoridade construída em estúdios mergulhados na penumbra, a forma elevada ao extremo da perfeição (perdoe-se-me a imodéstia!). Maior culpado? Este vosso humilde servo. Ainda os outros se maravilhavam com sucessos durante e após o palco e já eu preferia acariciar mesas de mistura. O tempo não importava, seis meses souberam a pouco, Good Vibrations podia ter saído ainda melhor.
Ou talvez eu não fosse suficientemente rápido. Smile devia ter ficado pronto em 65 ou 66, mas a culpa não foi minha. Eles não entenderam o que estava em jogo, os discos de platina e o dinheiro chegavam-lhes, quando lhes chamei a atenção…, responderam que cantávamos melhor do que os Beatles! E eu não tinha ouvidos? Ringo entrava mudo e saía calado, a voz de George não aguentaria uma rabanada de vento, e mesmo a “divina parelha” não estava à nossa altura. O problema não estava aí - era preciso dar o salto, explorar outras paragens, mesmo à custa do top-ten. John e Paul pressentiram-no. Strawberry Fields Forever e Penny Lane eram verdadeiras obras primas, por isso não venderam tanto e os Beatles nunca mais se arriscaram fora dos álbuns. Nem eu, mas o bichinho roía. Uma carreira frenética, não para chegar primeiro, mas para também chegar. É falso que tenha deprimido por inveja de Sgt Pepper’s, fui-me abaixo porque soube que nunca conseguiria algo de semelhante sozinho. É verdade que destruí o trabalho de meses, e depois? Era o meu trabalho. Os arabescos vocais dos outros desenhei-os, os sucessos que ainda hoje lhes mantêm piscinas e automóveis fui eu que os compus, quando lhes pedi a viagem riram-se-me na cara. Hipotecaram o futuro e o seu crime transformou-se em diagnóstico meu - nunca deixarei de ser paranóico em remissão. Loucos são eles; a cobardia é a sua religião; contam carneiros para viver.
A culpa não foi minha, só era impossível. John e Paul não seriam capazes um sem o outro, o talento aprimora-se ao espelho. O resultado está à vista: somos patéticos. Dennis morreu e nós exibimos barrigas e calvícies, canções quase balzaquianas, já nem lhes mostro o que componho. Traíram-me, não lhes darei a satisfação de acabar num asilo. O que sei e vejo, guardo-o comigo: espero que Bush não seja eleito; não acreditei numa palavra acerca do assassínio de John; o duplo de Paul que por aí anda só pode enganar papalvos, mesmo sozinho ele não faria aquelas xaropadas! Escondem-se, atrapalhados! E é compreensível, tantos anos não chegaram para compor um disco superior a Sgt. Pepper’s. Um dia perceberão que apenas eu os posso ajudar.
Os três juntos faremos a música dos anjos.

Expectativa cultural vs. realidade.

Quase 50% dos portugueses considera Natal época de stress
Quase 50% dos portugueses considera que o Natal é uma época de stress, de acordo com um estudo da seguradora Axa, intitulado «Axa Barómetro Reforma», hoje divulgado.
O estudo, que teve em conta uma pesquisa internacional com 11.373 entrevistas em 16 países, constata que 46% dos activos e 42% dos refor mados portugueses encaram o Natal como uma época de stress.
No entanto, a maior parte dos portugueses (85% dos activos e 77% dos reformados) considera que o Natal é uma época de felicidade, uma opinião partilhada pelos inquiridos na maioria dos países como, por exemplo, Estados Unidos, Singapura, Austrália, Reino Unido, Canadá, Nova Zelândia e Alemanha.
A solidão é um sentimento apontado por 19% dos activos portugueses, apenas atrás dos espanhóis (20%), adianta o estudo «A 3ª vaga do Axa Barómetro Reforma».
No caso dos reformados, 35% dos portugueses refere que o Natal é uma época de solidão, superior aos espanhóis (31%).
Pelo contrário, apenas 4% dos activos e 9% dos reformados nos Países Baixos falam em solidão.
No que se refere às prendas, 68% dos activos portugueses tencionam comprar prendas de Natal, à frente do Japão (63%), Singapura (49%), Países Baixos (48%), China (46%) e Hong Kong (36%).
Estes números ficam bastante atrás dos verificados em países como os Estados Unidos (93%), França (93%), Austrália (91%), Nova Zelândia (89%), Canadá (88%), Reino Unido (86%), Bélgica (82%), Alemanha (81%), Espanha (75%) e Itália (71%).
No caso dos reformados, os valores oscilam entre os 81%dos Estados Unidos e os 22% de Hong Kong.
Em Portugal, 42% dos reformados tenciona comprar prendas de Natal.
No que se refere aos desejos de Natal para a família e amigos, 84% dos activos e 80% dos reformados portugueses falam em saúde, seguindo-se os votos de paz (59% dos activos e 60% dos reformados).
Diário Digital / Lusa
07-12-2006 10:47:24

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Conferência da Justice Foundation.

Lutou pelo sim, mas defende o não

2006/12/06 00:24 Hugo Beleza

Norte-americana que levou à legalização do aborto no seu país está em Lisboa. Norma McCorvey disse estar arrependida das consequências do processo em que se envolveu em 1973 e defendeu o «direito à vida»

Representantes da organização norte-americana Justice Foundation defenderam esta noite que Portugal deve dar um exemplo ao seu país e dizer «não» no referendo à despenalização do aborto. Na conferência, que teve lugar na Faculdade de Letra da Universidade de Lisboa, a interrupção voluntária da gravidez foi descrita como estando na origem de comportamentos marginais. Norma McCorvey, responsável pelo processo que levou o Supremo Tribunal dos EUA a considerar o aborto um direito constitucional, mas que, posteriormente, se tornou uma opositora desta decisão, foi uma das oradoras.
Perante cerca de uma centena de pessoas que compuseram o auditório 1 da Faculdade de Letras, num encontro organizado pelas Associações Juntos pela Vida e Missão Vida, McCorvey, também conhecida como Jane Roe - nome fictício que utilizou no célebre caso Roe versus Wade que levou à liberalização do aborto nos EUA em 1973 -, disse estar profundamente arrependida por ter servido essa causa. «Não sou uma oradora hábil nem uma juíza. Sou, pelo contrário, uma pessoa que trouxe destruição para mim, para outras mulheres e para 43 milhões de bebés no meu país», disse, sublinhando que este número corresponde ao dos abortos realizados legalmente nos EUA, nos últimos 33 anos.
A activista - que nunca chegou a abortar, porque a duração do caso judicial em que se envolveu ultrapassou o tempo de gestação - disse que alterou a sua visão sobre a interrupção voluntária da gravidez depois de ter trabalhado em clínicas onde ela era praticada. No seu depoimento, McCorvey acusou os advogados que a representaram em 1973 de a terem enganado e a terem «usado para tornar o aborto legal nos Estados Unidos», em vez de a auxiliarem a «deixar as drogas e o álcool» e de a ajudarem a «entregar o seu filho para adopção».
Suicídio, álcool e drogas
O depoimento da mulher, de 59 anos, foi precedido pelo testemunho de outras três mulheres também norte-americanas - Cynthia Collins, Myra Meyers e Rebecca Porter -, que se centraram na forma negativa como o recurso ao aborto as afectou. «Tentei cometer suicídio e passei por várias overdoses porque me odiava pelo que tinha feito», confessou Porter, afirmando que o álcool e as drogas se tornaram um refúgio, em parte da sua vida, após ter abortado. Um relato semelhante à das outras duas activistas.
Além da «defesa da vida», os conferencistas colocaram a tónica das suas intervenções também nas consequências negativas do aborto na saúde das mulheres e nos seus potenciais efeitos desestruturantes, a nível pessoal e social.
Claytton Trotter, conselheiro jurídico da Justice Foundation, afirmou que nos EUA o número de mulheres a cumprir penas judiciais subiu enormemente depois de 1973, e apontou que numa sondagem à comunidade prisional feminina, 60 por cento das mulheres disse que na origem do seu percurso marginal esteve a prática de um aborto. Razão que levou o jurista a defender: «É melhor instaurar alguns processos [a mulheres por interromperam a gravidez] do que enviar milhares de mulheres para a prisão».
Reed Olson, outro activista, sublinhou por seu lado que a liberalização poderá ter um efeito despenalizador das consciências e levar progressivamente ao alargamento do período em que é permitida a interrupção da gravidez, potencialmente, quase até ao nascimento do bebé.
O activista norte-americano ilustrou este «perigo» com alguns processos abortivos já praticados no seu país em fase avançada de gestação e deixou um repto aos portugueses para que votem «não» no referendo. «Por favor não sigam este exemplo. Sejam um exemplo para nós. Nós precisamos dele. Não recusem a vossa convicção de proteger a vida, porque os olhos do mundo estão aqui. Não atravessaríamos o Atlântico se não fosse assim».


P.S. Há alguns dias, alguém me escreveu para O Amor é... queixando-se por eu não dar espaço "ao confronto de opiniões". Não é verdade. Em Estes Difíceis Amores esteve um dos líderes dos Movimentos pelo Não, que durante 50 minutos expôs as suas posições quase sem interrupção, por vontade expressa das três pessoas que faziam o programa. No Murcon acontecerá o mesmo, esta declaração deprincípios não será a última. Como pretexto para a discussão e porque acredito no respeito pelos outros, apesar de já ter perdido a conta às vezes em que fui apelidado de defensor de uma cultura de morte e arauto do desprezo pela Vida.

terça-feira, dezembro 05, 2006

A sabedoria do velho Eça:).

"Mas queria juntar duas linhas regeladas, impassíveis, que a ferissem mais que o dinheiro: e não encontrava senão frases de grande cólera, revelando um grande amor."

segunda-feira, dezembro 04, 2006

As duas Sidas, a nossa e a "deles"...

Mundo lento

Psicóloga genecanhoto@gmail.comJoana Amaral Dias

Na passada sexta-feira, o mundo assinalou o Dia Mundial da Luta contra a Sida. Nestes 25 anos de combate à doença, e apesar dos ambiciosos objectivos traçados pelos líderes mundiais, a pandemia ainda segue mais veloz do que o mundo. O número de pessoas infectadas com o vírus da sida continua a aumentar. São quase 40 milhões. Só este ano, registaram-se quatro milhões de novos casos e um recorde no número de mortes. São 15 milhões de crianças que ficaram órfãs. Crianças criadas por crianças. Na Suazilândia, metade da população está infectada. Um quarto, no Lesoto e no Botsuana, onde a esperança média de vida é abaixo dos 35 anos. Mas o problema não é apenas africano. Estima-se que em 2010 a Ásia terá mais pessoas infectadas do que a África, assistindo-se a um terrível aumento na América Latina, Europa de Leste e Rússia. O número de mulheres atingidas tornou-se arrasador. São sete mil mulheres infectadas por dia. E a sida tanto é causa como consequência da pobreza, indissociável do desenvolvimento económico. Persiste um acesso restrito aos tratamentos retrovirais. Apenas um quarto das pessoas que deles necessitam, sem adiamento possível, o recebem. Os problemas somam-se, desde as dificuldades em generalizar a testagem até aos serviços púbicos de saúde insuficientes. O que é ainda mais ultrajante quando se sabe que as campanhas de prevenção sólidas, como as conduzidas em alguns países africanos, são eficientes e que tratamentos adequados podem reduzir o impacto da doença, prolongando, com qualidade, a vida dos doentes. Um vírus que mata assim deveria ser uma preocupação de todos. Dos líderes religiosos, que insistem em interferir com questões de saúde pública. Bento XVI também se imiscui na política europeia, ao defender - e bem - a entrada da Turquia para a UE. Como terminou a sua visita a esse país exactamente no dia 1 de Dezembro, é pena que relativamente ao uso do preservativo não tenha, igualmente, mudado radicalmente de opinião. Uma preocupação dos governos, que continuam a não definir a luta contra a sida como uma absoluta prioridade, disponibilizando todos os meios indispensáveis, desde a prevenção ao tratamento, passando pelo combate à discriminação. E Portugal, com uma das maiores incidências de sida na UE, não é excepção.


P.S. Como pode uma Instituição defender à outrance a Vida e ser contra o preservativo? Ou há vidas e "vidas"?

domingo, dezembro 03, 2006

Pequena revolução...

Ascensão das mulheres marca viragem do milénio
leonel de castro
Pedro Araújo
Os jovens (15-29 anos) passaram a constituir um quinto da população, quando há uma década eram um quarto. A taxa de desemprego quadruplicou, mas a sua presença na universidade duplicou. Casam-se e têm filhos mais tarde, divorciam-se mais rapidamente e a união de facto ganha terreno. A tuberculose atinge os 71% entre as doenças e os condenados triplicaram em 14 anos. Hoje, na Universidade do Minho, responsáveis governamentais marcarão presença na apresentação do estudo "A Condição Juvenil Portuguesa na Viragem do Milénio" e deverão anunciar medidas.Vítor Ferreira, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e coordenador do estudo, concorda que a "pequena revolução feminina" sobressai da recolha estatística dos anos 1990 a 2005. Não havendo novidades absolutas, o manancial de dados de sete áreas (demografia, família, educação, emprego e desemprego, saúde e condutas de risco, sinistralidade, justiça) acaba por provar que a igualdade de sexos é quase uma realidade.As raparigas tendem a permanecer por mais tempo no sistema educativo, sobretudo nos níveis mais elevados. Elas tendem a casar-se e assumir a maternidade mais cedo. Há mais empresárias e quadros de topo femininos.Os rapazes, pelo contrário, tendem a abandonar precocemente os estudos, frequentemente sem concluir o 9.º ano de escolaridade. Logo, eles entram mais cedo no mundo do trabalho e encontram-se, segundo o estudo, "sobrerepresentados em fenómenos de delinquência, criminalidade, sinistralidade e condutas de risco, reflectindo-se, por exemplo, nas taxas de óbitos". Independentemente do género, a verdade é que os jovens estão diferentes. Já não podem contar com um emprego estável nem com um casamento duradouro. O retrato das habilitações é ainda desanimador - 35% dos jovens abandonam estudos sem o 9.º ano; 34% de chumbos no Secundário; 50% dos empregados (15-29 anos) não têm a escolaridade mínima obrigatória.A Sida parece relativamente controlada, óbitos por ingestão de drogas diminuem e a sinistralidade - rodoviária, laboral, doméstica e no lazer - tende a decrescer. O consumos de tabaco e bebidas alcoólicas mantém-se estável.

sábado, dezembro 02, 2006

Espero que no Murcon se discuta sem resvalar para a ofensa pessoal...

As polémicas do referendo

Marina Costa LoboPolitólogamarinacosta.lobo@gmail.pt

Cavaco Silva cumpriu o prometido na campanha eleitoral anunciando na quarta-feira passada que convocaria o referendo sobre o aborto para 11 de Fevereiro de 2006. Este anúncio foi feito no seguimento da aprovação pelo Tribunal Constitucional da pergunta tal como ela vai ser formulada aos portugueses, nomeadamente se concordam com a interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas num estabelecimento de saúde por livre vontade da mulher. Esta pergunta encerra pelo menos quatro polémicas que poderão ser cruciais na decisão dos portugueses. Em primeiro lugar, discute-se a despenalização do aborto. Desde o último referendo sobre o mesmo tema, realizado em 1998, temos assistido a alguns casos mediáticos de julgamento de mulheres. Neste aspecto da questão reside o maior apoio ao "sim". Existirá um alargado consenso de que julgar e condenar mulheres em tribunal depois de terem realizado um aborto é errado. Em segundo lugar, discute-se a questão sobre quando é que um feto se torna um ser humano. Ao propor que a mulher tem soberania sobre a vida que tem dentro de si até às dez semanas, a pergunta remete para questões éticas e filosóficas sobre o início de um ser humano, tema que dá azo a explicações religiosas, já que os critérios científicos não conseguem dar resposta cabal a esta questão. Aqui joga-se a cartada mais forte do "não" ao referendo. A terceira polémica que a pergunta encerra e a que os portugueses vão ter que responder é a questão do papel do Estado neste assunto. A proposta do PS é que seja o Estado a financiar as interrupções voluntárias da gravidez. Esta cláusula parece importante para evitar que as mulheres com menores rendimentos continuem nas mãos de pessoas sem escrúpulos nem condições sanitárias para levar a cabo a realização de um aborto. No entanto, também aqui há acesos debates. Já li e ouvi comentários de partidários da despenalização mostrarem o seu repúdio pelo facto de serem os contribuintes do Estado português a arcarem com esta responsabilidade. Devemos promover um Estado providencial que "resolve" todos os problemas ou responsabilizar quem teve maturidade suficiente para engravidar? A quarta polémica que esta pergunta encerra reside no facto de o aborto ser realizado livremente a pedido da mulher. Esta expressão abre uma porta para que se advogue que, com a vitória do "sim", o aborto passa a estar liberalizado, isto é, transforma-se em mais uma forma de contracepção que pode passar a ser usada indiscriminadamente pela mulher.A partir de agora todos tentarão moldar eficazmente o discurso dos meios de comunicação sobre o tema, puxando a análise para a polémica que mais favoreça a sua opinião. Com a relativa descoordenação e falta de unidade dos partidos e a multiplicidade dos movimentos associativos, as probabilidades de que o debate se faça estrategicamente diminui. E a de que sejam grupos mais radicais de ambos os lados a tomar conta do discurso público aumenta. O resultado desta radicalização poderá ser um alheamento e consequente abstenção da população em geral. Daí que seja fundamental o empenho dos partidos na campanha por forma a garantir a estruturação do debate.Não teria sido possível aos autores da pergunta formular uma questão que abrisse menos polémicas e valorizasse mais a questão da despenalização? De facto, para que o "sim" ganhe será necessário que o debate se faça em torno desta questão. Apesar de tudo, existem razões objectivas para que assim seja. No dia seguinte ao referendo, se o "sim" ganhar haverá um efeito directo sobre o processo penal em Portugal: deixarão de ser julgadas mulheres em tribunal. Essa é uma certeza. Já os efeitos sobre o aborto em si resultantes de uma vitória do "sim" não são certos. Estes não dependem essencialmente da legislação, mas sim de uma série de complexas circunstâncias sociais, económicas, físicas e psíquicas em que a mulher se encontra.Se o ser humano começa a partir da concepção, os partidários do "não" deverão assumir-se contra o aborto em qualquer circunstância, incluindo a violação e outros casos extremos. Nos Estados Unidos, tem-se verificado não haver um apoio maioritário entre a população em geral a esse posicionamento, embora haja muitos eleitores contra o aborto nas fases mais tardias da gravidez. A ser assim também em Portugal, isso significaria que afinal o que divide a maioria dos portugueses não é o sim ou o não à intervenção voluntária da gravidez, mas em que condições esta deve ser realizada, o que também pode levar a concordar com a despenalização.