Maria,
Escrever???? Peço-te ombro, conselho ou terapêutica e tu sugeres que escreva???? Não invoques lucidez, catarse ou sublimação, é de um castigo que se trata, a escrita dói:(. E não permite os requebros da palavra dita; sobrevive, acusadora, em papel ou word. Como esta nossa correspondência esquizofrénica de ex-amantes e futuros conhecidos, que escapa ao alívio do delete por eu preferir o murmúrio ténue ao silêncio atroador. E a este louco equilíbrio tu defendes que junte a ficção...? Nem pensar, minha querida, a realidade recusa-se a ceder-lhe o lugar, mesmo travestida.
28 comentários:
Isto começa mesmo a ter traços de escrita esquizofrénica. O escritor escreve uma mensagem a uma musa, fictícia, em que lhe diz que não aceita escrever ficção.
"..mesmo travestida."
A realidade que cada um experiencia é subjectiva e cada um vive a sua "ficção", logo dizer que a realidade recusa-se a ceder-lhe o lugar é uma fantasia porque a maioria das pessoas não tem acesso à realidade. Por isso é travestida, certo? :)
Sensacional o jogo de palavras...e de idéias.
Gostei mt mesmo.
Parabéns.
É isso aí.
Boa semana.
Manifesto contra a racionalidade: http://oamornostemposdablogosfera.blogs.sapo.pt/75149.html
Aconselho vivamente a leitura!!
Aqui está o podcast da Prova Oral (de Fernando Alvim) com a entrevista ao autor: http://mp3.rtp.pt/mp3/wavrss/at3/520095_53073-0910071919.mp3
Vale a pena!
Assim, sem mais informação, somos levados a concordar com o 1º post de Thorazine. Enfim, serão formas de estar (felizes?)... Mas olhe que nem tudo o que as mulheres pedem é o que realmente desejam… Arrisque! Olhe que há gestos que valem mais que mil palavras.
...abreijosssssssssssssss
Cá para mim... o Professor JMV está a tentar dar um "nó cego" na cachola do maralhal...
;)))
Ok, bora lá nessa!
Sabieis, caríssimas damas e caríssimos cavalheiros, que fernando pessoa, usou um heterónimo feminino?
Ah sim, todos sabiam?!
Ok, vou mandar emoldorar esse "atestado de incultura" que acabasteis de me conferir.
;))))
Bom, de todo o modo e porque penso que se enquadra neste post, aqui vai a carta da corcunda Maria José, ao serralheiro António.
"Não sei quem me sonho" (Fernando Pessoa, "Chuva Oblíqua")
Fernando Pessoa gastou a sua vida a sonhar-se outras pessoas, a experimentar várias máscaras, a vestir-se com a pele dos que observava e a ocultar-se assim aos olhos de todos. Não sei se chegou a viver uma vida própria, acho que não e terá sofrido por isso, mas o seu génio e a sua arte permitem-nos a nós viver com ele uns e outros.
De tantas peles que vestiu, usou por uma vez a de uma mulher, Maria José, uma deficiente presa no seu corpo incapaz de inspirar o amor, alguém que vê passar o mundo da sua janela, também ela se sonha ser outra, ser como os outros, como ela imagina que são os outros. É assim essa carta:
“Senhor António:
O senhor nunca há de ver esta carta, nem eu a hei de ver segunda vez porque estou tuberculosa, mas eu quero escrever-lhe ainda que o senhor o não saiba, porque se não escrevo abafo.
O senhor não sabe quem eu sou, isto é, sabe mas não sabe a valer. Tem-me visto à janela quando o senhor passa para a oficina e eu olho para si, porque o espero a chegar, e sei a hora que o senhor chega. Deve sempre ter pensado sem importância na corcunda do primeiro andar da casa amarela, mas eu não penso senão em si. Sei que o senhor tem uma amante, que é aquela rapariga loura alta e bonita; eu tenho inveja dela mas não tenho ciúmes de si porque não tenho direito a ter nada, nem mesmo ciúmes. Eu gosto de si porque gosto de si, e tenho pena de não ser outra mulher, com outro corpo e outro feitio, e poder ir à rua e falar consigo ainda que o senhor me não desse razão de nada, mas eu estimava conhecê-lo de falar.
O senhor é tudo quanto me tem valido na minha doença e eu estou-lhe agradecida sem que o senhor o saiba. Eu nunca poderia ter ninguém que gostasse de mim como se gostasse das pessoas que têm o corpo de que se pode gostar, mas eu tenho o direito de gostar sem que gostem de mim, e também tenho o direito de chorar, que não se negue a ninguém.
Eu gostava de morrer depois de lhe falar a primeira vez mas nunca terei coragem nem maneiras de lhe falar.
Gostava que o senhor soubesse que eu gostava muito de si, mas tenho medo que se o senhor soubesse não se importasse nada, e eu tenho pena já de saber que isso é absolutamente certo antes de saber qualquer coisa, que eu mesmo não vou procurar saber.
Eu sou corcunda desde a nascença e sempre riram de mim. Dizem que todas as corcundas são más, mas eu nunca quis mal a ninguém. Além disso sou doente, e nunca tive alma, por causa da doença, para ter grandes raivas. Tenho dezanove anos e nunca sei para que é que cheguei a ter tanta idade, e doente, e sem ninguém que tivesse pena de mim a não ser por eu ser corcunda, que é o menos, porque é a alma que me dói, e não o corpo, pois a corcunda não faz dor.
Eu até gostava de saber como é a sua vida com a sua amiga, porque como é uma vida que eu nunca posso ter — e agora menos que nem vida tenho — gostava de saber tudo.
Desculpe escrever-lhe tanto sem o conhecer, mas o senhor não vai ler isso, e mesmo que lesse nem sabia que era consigo e não ligava importância em qualquer caso, mas gostaria que pensasse que é triste ser marreca e viver sempre só à janela, e ter mãe e irmãs que gostam da gente mas sem ninguém que goste de nós, porque tudo isso é natural e é a família, e o que faltava é que nem isso houvesse para uma boneca com os ossos às avessas como eu sou, como eu já ouvi dizer.
Houve um dia que o senhor vinha para a oficina e um gato se pegou à pancada com um cão aqui defronte da janela, e todos estivemos a ver, e o senhor parou, ao pé do Manuel das Barbas, na esquina do barbeiro, e depois olhou para mim, para a janela, e viu-me a rir e riu também para mim, e essa foi a única vez que o senhor esteve a sós comigo, por assim dizer, que isso nunca poderia eu esperar.
Tantas vezes, o senhor não imagina, andei à espera que houvesse outra coisa qualquer na rua quando o senhor passasse e eu pudesse outra vez ver o senhor a ver e talvez olhasse para mim e eu pudesse olhar para si e ver os seus olhos a direito para os meus.
Mas eu não consigo nada do que quero, nasci já assim, e até tenho que estar em cima de um estrado para poder estar à altura da janela. Passo todo o dia a ver ilustrações e revistas de modas que emprestam à minha mãe, e estou sempre a pensar noutra coisa, tanto que quando me perguntam como era aquela saia ou quem é que estava no retrato onde está a Rainha de Inglaterra, eu às vezes me envergonho de não saber, porque estive a ver coisas que não podem ser e que eu não posso deixar que me entrem na cabeça e me dêem alegria para eu depois ainda por cima ter vontade de chorar.
Depois todos me desculpam, e acham que sou tonta, mas não me julgam parva, porque ninguém julga isso, e eu chego a não ter pena da desculpa, porque assim não tenho que explicar porque é que estive distraída.
Ainda me lembro daquele dia que o senhor passou aqui ao Domingo com o fato azul claro.
Não era azul claro, mas era uma sarja muito clara para o azul escuro que costuma ser. O senhor ia que parecia o próprio dia que estava lindo e eu nunca tive tanta inveja de toda a gente como nesse dia. Mas não tive inveja da sua amiga, a não ser que o senhor não fosse ter com ela mas com outra qualquer, porque eu não pensei senão em si, e foi por isso que invejei toda a gente, o que não percebo mas o certo é que é verdade.
Não é por ser corcunda que estou aqui sempre à janela, mas é que ainda por cima tenho uma espécie de reumatismo nas pernas e não me posso mexer, e assim estou como se fosse paralítica, o que é uma maçada para todos cá em casa e eu sinto ter que ser toda a gente a aturar-me e a ter que me aceitar que o senhor não imagina. Eu às vezes dá-me um desespero como se me pudesse atirar da janela abaixo, mas eu que figura teria a cair da janela? Até quem me visse cair ria e a janela é tão baixa que eu nem morreria, mas era ainda mais maçada para os outros, e estou a ver-me na rua como uma macaca, com as pernas à vela e a corcunda a sair pela blusa e toda a gente a querer ter pena mas a ter nojo ao mesmo tempo ou a rir se calhasse, porque a gente é como é e não como tinha vontade de ser.
O senhor que anda de um lado para o outro não sabe qual é o peso de a gente não ser ninguém. Eu estou à janela todo o dia e vejo toda a gente passar de um lado para o outro e ter um modo de vida e gozar e falar a esta e àquela, e parece que sou um vaso com uma planta murcha que ficou aqui à janela por tirar de lá.
O senhor não pode imaginar, porque é bonito e tem saúde o que é a gente ter nascido e não ser gente, e ver nos jornais o que as pessoas fazem, e uns são ministros e andam de um lado para o outro a visitar todas as terras, e outros estão na vida da sociedade e casam e têm baptizados e estão doentes e fazem-lhe operações os mesmos médicos, e outros partem para as suas casas aqui e ali, e outros roubam e outros queixam-se, e uns fazem grandes crimes e há artigos assinados por outros e retratos e anúncios com os nomes dos homens que vão comprar as modas ao estrangeiro, e tudo isto o senhor não imagina o que é para quem é um trapo como eu que ficou no parapeito da janela de limpar o sinal redondo dos vasos quando a pintura é fresca por causa da água.
Se o senhor soubesse isto tudo era capaz de vez em quando me dizer adeus da rua, e eu gostava de se lhe poder pedir isso, porque o senhor não imagina, eu talvez não vivesse mais, que pouco é o que tenho de viver, mas eu ia mais feliz lá para onde se vai se soubesse que o senhor me dava os bons dias por acaso.
A Margarida costureira diz que lhe falou uma vez, que lhe falou torto porque o senhor se meteu com ela na rua aqui ao lado, e essa vez é que eu senti inveja a valer, eu confesso porque não lhe quero mentir, senti inveja porque meter-se alguém connosco é a gente ser mulher, e eu não mulher nem homem, porque ninguém acha que eu sou nada a não ser uma espécie de gente que está para aqui a encher o vão da janela e a aborrecer tudo que me vêm, valha me Deus.
O António (é o mesmo nome que o seu, mas que diferença!) o António da oficina de automóveis disse uma vez a meu pai que toda a gente deve produzir qualquer coisa, que sem isso não há direito a viver, que quem não trabalha não come e não há direito a haver quem não trabalhe. E eu pensei que faço eu no mundo, que não faço nada senão estar à janela com toda a gente a mexer-se de um lado para o outro, sem ser paralítica, e tendo maneira de encontrar as pessoas de quem gosta, e depois poderia produzir à vontade o que fosse preciso porque tinha gosto para isso.
Adeus senhor António, eu não tenho senão dias de vida e escrevo esta carta só para a guardar no peito como se fosse uma carta que o senhor me escrevesse em vez de eu a escrever a si. Eu desejo que o senhor tenha todas as felicidades que possa desejar e que nunca saiba de mim para não rir porque eu sei que não posso esperar mais.
Eu amo o senhor com toda a minha alma e toda a minha vida.
Aí tem e estou toda a chorar."
("Carta da Corcunda para o Serralheiro", texto publicado na revista Egoista, número especial, Junho 2008)
... agora fico à espera dos comentários da minha amiga Andorinha, como cão espera o osso...
;)))))))))))))
Pois;)... a realidade tem uma nudez denunciante magnífica ainda que seja delicioso advinhá-la e julgá-la a do(s) que conhecemo(s).
A propósito,... (;)))loool)
Professor, existe alguma cadeira no curso de psi que seja "Técnicas de adivinhação"?
;))))
Cá para nós... fez a Maria bem "picá-lo! ;))))
Aqui está o Fernando Alvim a ler o manifesto: http://www.metacafe.com/watch/3524406/manifesto_contra_a_racionalidade/
Bartolomeu e andorinha, acho que a parte do amor se encaixa na converso de há dias. Até que ponto a racionalidade não matou o amor?
Fica um excerto de um dos meus livros favoritos.
«A escrita é o desconhecido. Antes de escrever não sabemos nada acerca do que vamos escrever. Com toda a lucidez.
É o desconhecido de nós mesmos, da nossa cabeça, do nosso corpo. Não é sequer uma reflexão, escrever é uma espécie de faculdade que temos ao lado da nossa pessoa, paralelamente a ela, de uma outra pessoa que aparece e que avança, invisível, dotada de pensamento, de cólera, e que, por vezes, pelos seus próprios factos, está em perigo de perder a vida.
Se soubéssemos alguma coisa do que vamos escrever, antes de o fazer, antes de escrever, nunca escreveríamos. Não valeria a pena.
Escrever é tentar saber aquilo que escreveríamos se escrevêssemos — só o sabemos depois — antes, é a interrogação mais perigosa que nos podemos fazer. Mas é também a mais corrente.»
Marguerite Duras, in Escrever
O escrever é um compromisso, nosso, conosco e com os outros. É assumir perante todos, não a ficção, mas a realidade (falo da escrita sincera, honesta.
O escrever é o casamento.
O falar é o namoro.
:)
Cê-Tê(tê)(desculpa a bincadeira... não resisti)
;)))
Agora a sério: "Sob a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia) eis como eça definiu (ou indefiniu)a ambguidade da vedade
;)
Meu amigo Thor (trovão)...
O manifesto contra - a racionalidade, de João Gomes de Almeida, assenta na sua essência sobre a filosofia de dois pilares, um Agostinho da Silva, Professor da vida, o outro, aquele que moveu um porradão de pipal ao Wood Stock.
Let's make love, is the only way to be free!!!
;)))))
Bartolomeu,
o poeta vadio que é o amor.. :)
ou o poeta vadio que há no amor..
Se escreves e a tua alma se solta por momentos, e te revês nessa alma liberta de ti, do tu que és em quotidiano, então sentes que existes para ti, numa existência que não se deixa agrilhotinar pela materialidade dos teus dias presentes ou passados.
Na transparência dessa comunicação entre ti e a alma que tens em ti, projectas-te em moldes de essência, sobrevém em ti a raiz de ti próprio.
A terapia, amigo,depende da dimensão do teu texto. Cria, cria-te por ele, emerge da tua raiz, desponta no relvado de um jardim, levanta o caule ao sol e sente esse calor que te faz desejar crescer em altura, em rumo, bem para o alto, em direcção bem calorosa. Beija o ar mansinho que te faz bailar num pendor bailarino, canta acordes de balada, atrai para redor de ti uma população de aves livres, ensinadas por rouxinóis. Pela escrita podes pintar os teus quadros e a cor e a tinta, nada de "fast", nem de todo só guache, aguarela quando choras por não seres Alice no quadro que desenhaste, cera quando te juntas aos ranchos de infantes que, de bibe, brincam sem se preocuparem se é racional, emocional, ficcional. Diz o amor que não deste, mas não ficou perdido, porque a tua alma, a que deixaste no grafismo do teu texto, essa é livre, livre como a tua escrita. Terás sempre o meu ombro, se encostares o teu rosto amante ao traçado da minha escrita, que essa morrerá quando a tinta se extinguir e eu própria, junto com a minha alma,tenha, então, de sucumbir - muda, fechada, no silêncio da ausência da escrita.
9:45 PM
Sejam uns queridos e despacham-me estes 3 bilhets que comprei por engano, esta bem? Obrigada
Acho óptima a sugestão da Maria.
A escrita dói?
E não é o sofrimento redentor?:)))
Também subscrevo o primeiro post do Thora. Às vezes esmeras-te, miúdo:)
Vale realmente a pena a leitura do manifesto. Interessante. E dá que pensar...
Dás sempre boas dicas à malta.
Bigada:)
Bartolomeu,
Não tenho tempo para te ler agora.
E deixa de dizer disparates, tá bem?
Já tens idade para ter juízinho:)))
FDL,
Importa-se de me devolver a bicicleta que o "monnhé" lhe deu?!
Acho que à medida que a idade avança, aumenta a aptidão para dizer disparates, Andorinha.
Serão provávelmente resultado das experiências de vida... assim ao jeito de balancete de escrita comercial, de um lado a coluna do deve, do outro a do haver e no final de cada rúbrica, o total puxado para o lado.
;)))))
Mas próqué cálguem pode desejar ser razoável? para se apresentar enquadrado na consciência dos que o rodeiam?
Nem pó... isséquéra!
;)))))
Sandra:)
"O escrever é um compromisso, nosso, connosco e com os outros. É assumir perante todos, não a ficção, mas a realidade (falo da escrita sincera, honesta.
O escrever é o casamento.
O falar é o namoro."
Achei-lhe graça:)
São de facto dois níveis de "compromisso" e intensidades diferentes...se bem que cada um para cada qual situação..:)
A durabilidade da escrita é de facto avassaladora e é interessantíssimo repararmos no impacto vivo e intenso que ainda pode despertar em nós a leitura de determinadas inscrições ou textos duma antiguidade longínqua onde já nem quase vestígios históricos existem:)
Quanto à realidade não será um pouco TUDO; a ficcionada e a outra?:) onde o interessante é talvez sabermos estar nessa cumplicidade entre o reconhecer a ficção e a vivência da nossa própria realidade?...:)
Oh Professor! quem é que o manda escrever estes seus textos tão intimistas e tocantes!:)) depois dá nisto; respostas assim a dar para o tudo e para o nada:)))
Bartolomeu,
Concordo absolutamente com vocelência:)
A vida sem dizer ou fazer disparates não tem gracinha absolutamente nenhuma, é uma autêntica sensaboria.
:).
Hmm...
Parece consensual...
Mas que medo é esse do castigo?
Portou-se mal foi? ;))
Efabule e partilhe Professor.
Estamos todos com saudades.
Parece-me... :).
Tinha-lhe dito que o bilhete que tirara para voar naquela "passarola" só tinha ida. Ele insistiu que partia. Assegurava que do retorno trataria ele. Não pude evitar. Deixei-o partir. Confesso que não sei roubar a liberdade de ninguém. Saberia. Não gosto. Não roubo.Sabia que partia por sua conta e risco.Talvez arriscar seja virtude. E há destinos! Destinos que não podemos adivinhar. Não podemos prender ninguém, nem a título de protecção.
Foi assim que partiu.
Posto que não há retorno, mas apenas reencontro, quando o há,nunca imaginei que voltasse. Nunca o desejei mesmo.Empurrei-o sempre, depois, para o seu destino. Só seu. O meu andava a construi-lo ao meu jeito - na maior das liberdades, a liberdade possível.
Há dias disse-me que estava ali porque me procurava. Não naquele momento em que eu era um ribeiro que estava a ir juntar-se a um rio. A liberdade pertencia-me, a de não querer arriscar secar porque me procurava. Ainda o dissuadi. Disse-lhe que sim, mas só mais tarde.
Curara-me do amor que lhe houvera dado ainda era eu regato de "Pedra Fria", de cascata a acordar pela manhã num murmúrio de água melodiosa, sem ruídos pela alma, que não os materiais. Curara-me de vez.
Mas há dias, quando me procurou, não tive condições para lho dizer.
Como sempre a escrita. Só pela escrita. É então que a alma se encontra e as palavras nascem na fonte que preservo em mim, como lençol - pura, invisível para os olhos.
Metafísico, Caidê, a parte do nosso "eu" ligada directamente com o universo e a ancestralidade a que pouco ou nenhum do nosso tempo, dedicamos atenção. Tal como à parte posterior do nosso físico.
Quantos de nós reconhecem a parte posterior do seu corpo? A nuca, por exemplo, quantos de nós viram já a sua própria nuca?
Porém, todos ou a maioria conhece "milimétricamente" os traços do seu próprio rosto, do seu peito, do seu ventre, da sua genitália, dos seus membros. Nós somos um todo e não somente um frontispício minha amiga, e é esse todo que obviamos e reduzimos à frontaria, quando nos apaixonamos e deixamos que o destino, o acaso, a sorte, nos revele nunca, o resto do edifício humano.
;)
Cada regato, desagua invariávelmente num rio e, por muito que se lhe consiga alterar o curso, ele desaguará indefectívelmente num rio. Se não queremos um rio que corra rápido ou manso, plano ou alteroso, que se espreguice num vale, ou se despenhe crepitoso de uma cascata... temos de nos apaixonar por um lago. Ou então aceitar esse rio da forma como ele e tirar o prazer possível dos seus remansos, ou das suas precipitações.
Digo eu... que pouco ou nada percebo de rios... ou de lagos... ou de...
Xa pra lá... que curto mêmo é a praia de preferência as frequentadas por naturistas... oh yeha!!!
;)))))
Escrita é comunicação. Comunicação é partilha de pensamentos e sentimentos sob forma de palavras. Partilha é generosidade. Generosidade é vida, vida humana. Viva a festa da palavra que nos chega a casa, graças às auto-estradas da web!
Viva, ainda, quem desperta essa vida!
Laurinda
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