sábado, outubro 25, 2008

Olhares.

Quase todos os professores com muita "estrada" vos dirão o mesmo - os críticos mais severos acoitam-se dentro de nós. Porque os anos ensinaram rotinas que maquilham a falta de inspiração e o consequente triste debitar da matéria, sem chama que desperte a curiosidade dos alunos. Mas aula acabada, espelhos íntimos não mentem - fomos medíocres e não medianos. E no entanto... Quinta-Feira, durante o Curso que ministro em Serralves, vi aparecer um dos meus filhos. E ao gosto da sua visita deu a mão um receio agudo de o desiludir. Bautista, como tantas vezes aqui lembrei, aponta a obscenidade de um filho morrer antes dos pais, mas além desse "drama absoluto" existem outros, comezinhos - sentem uma ponta de orgulho ao ouvir-nos?; desejariam voltar se constassem na pauta?; dirão um dia que "era bom aprender com o velho"? A lenda familiar responderá um dia a essas perguntas. Quando a minha presença e a gentileza deles já não influenciarem as respostas:).

33 comentários:

Branca disse...

Ah, professor,

Tenho a certeza, certezinha que não precisa preocupar-se com esses "dramas comezinhos". Até parece que estou a ver o brilhozinho de orgulho no olhar dos filhos e o sorriso de ternura ao ouvi-lo! Pois se até nós, o seu públicozinho o tem...!
Deixo um abraço de ternura e amizade.
Branca

AQUILES disse...

Engraçado. De há uns meses a esta parte tenho a mente muito ocupada sobre o que os meus filhos pensarão de mim. Se agi bem como pai. Se os desiludi. Se me iludi.
E ainda não tenho a certeza se sei que não sei. Mas ando angustiado.

cabecinhapensadora disse...

O Professor é um actor, tem o seu palco. E nele, tudo se apaga face a essa magia emergente que nasce a cada dia e hora de entrega. É certo que, por sermos homens, nem tudo é mágico; que a força do desejo encolhe à medida que estica o chão que pisamos. Mas os filhos aparecerem para nos ver, mais do que delicadeza, é o abraço de estarmos juntos; e, apesar da desordem momentânea das sinapses, reforço que não esquece. O resto, o Tempo dirá, num tempo em que a nossa diferença é já indiferente a todo o juízo :)
Bom domingo

andorinha disse...

Claro que dirão que "era bom aprender com o velho":)
Não lhe dizem hoje em dia tantas vezes?
E atreve-se a duvidar da sinceridade das suas palavras e actos? Não sabe os filhos que tem?:)

Ai, ai...não precisa que continue o sermão, pois não?:)))))

Fique bem.

andorinha disse...

Aquiles(2.05)

Penso que isso será uma preocupação comum a muitos pais e mães.
Todos cometemos erros ao longo da vida e pais perfeitos não existem, mas de certeza que tens a consciência tranquila.
Pelo que conheço do teu filhote mais velho não te saíste nada mal como pai...:)

Ai estas crises da meia idade:) Lol

LR disse...

Essa coisa da auto-avaliação (como pai ou mãe) é interessante.
Mais um ganho de geração! Quem, dos nosso avós, se interrogaria excessivamente sobre isso, excepto para se certificar de ter sido suficientemente exemplar, no sentido às vezes bom, mas tantas vezes mau do termo?)

Não sei se hoje em dia as coisas não estarão um pouco desequilibradas…
Isto é: - se da cartilha exigente sobre o que devíamos ser enquanto bons filhos (o código de valores era comum e universal) não teremos passado para o extremo oposto, uma espécie de modelo do “neutro total”, a preencher conforme, coitadinhos, os nossos irresponsabilizáveis rebentos vão podendo…?
Em compensação, na hetero-avaliação (o que deles vamos julgando) eles contam com um largo espectro de liberalidades:)

Para si, Professor, que é um pai / avô ainda jovem, I have good news!!!:
Como filha de pais longevos, afianço-lhe que a dita cuja avaliação nunca está terminada…
Parece óbvio? Pois parecé, mas não é! A verdade é que (como filhos) julgamos o quiz da inter-relação resolvido quando chegamos àquela fase (já ‘morna’…) da idade adulta em que pensamos que tudo cristalizou no seu ponto final. Perfeito ou imperfeito.
Nada disso!
A grande surpresa é que eles próprios são uma grande surpresa até ao fim dos seus dias.
- Sobre-avalio os velhos? Não, não!
O nosso conhecimento sobre eles nunca está terminado (ou as nossas oportunidades como pais nunca têm hora marcada nem previsão possível).

Anfitrite disse...

Espero que tenha manifestado muito mais, aos seus filhos, o apreço, admiração e carinho que sentia/sente por eles, para que eles não venham a ter esses problemas existênciais.

AQUILES disse...

Andorinha
Obrigado pela simpatia. Mas julgo que há muito ultrapassei o meio da idade.

cdgabinete disse...

Ah professor,
O país inteiro tem vindo a aprender consigo e a cada nova "aula" a audiencia de "alunos" mantém-se... de certeza que os filhos gostam de aprender consigo e a lenda familiar vai ser sempre muito clara em relação a isso!
E se constassem da pauta... voltariam mais rapido na expectativa de uma nota melhor ... dado o parentesco :)

CrisTina disse...

Do meu pai guardo o afecto e o carinho... que importa se às vezes me desiludiu...

baiebolta disse...

É bom vê-los a seguir o seu caminho, felizes, a respeitarem os princípios que lhes incutimos e com um lugarzinho para nós no meio das suas relações.

Irene Ermida disse...

Mesmo que não o reconheçam agora, nós (os pais) faremos sempre parte deles: podem sempre aprender com os nossos erros! E isso é já, por si só, positivo! :)

Nelson disse...

Os medos de uns e outros repetem-se de geração em geração. Os medos de não serem perfeitos, os medos de não saberem expressar os afectos e até os medos de revelarem que têm medo...
Mas também sabemos que fica enorme saudade desses tempos!

A Menina da Lua disse...

"sentem uma ponta de orgulho ao ouvir-nos?; desejariam voltar se constassem na pauta?; dirão um dia que "era bom aprender com o velho"? A lenda familiar responderá um dia a essas perguntas."

Pois! pois! não os trate bem não e vai ver o que lhe acontece :) entra rapidinho nas brumas do esquecimento que é para onde nos mandam as memórias que se recusam a nos recolher nos seus doces jardins da lembrança...:))

Pronto! pronto! não vai ser assim! aliás tenho a certeza que o Professor vai ter garantido um lugarinho ao sol no tal jardim... com direito a visitas regulares à leitura dos seus livros e tudo:) mas principalmente à lembrança dos que mesmo e só porque "sim", o vão manter sempre entre as suas mais preciosas recordações que é sem dúvida a especialíssima memória pelos nossos pais.

Stranger disse...

Parece-me que a resposta a muitas perguntas poderá estar no título deste post :)

Olhar disse...

Há uns anos atrás Professor, vi, numa sala cheia, o seu "caçula" começar baixinho e docemente a trautear-lhe o parabéns a você, e assim, contagiar sala inteira.
Será que isso não lhe prova nada?:)

Canseiroso disse...

Este post traz-me à mente o possível síndroma dos pais que largam os filhos, ou os filhos que por tabela com as mães, largam os pais e às tantas não se sabe se o que os pais dizem, está a ser ouvido pelos filhos, ou pelos filhos com os ouvidos das mães.

Por um lado acho que é pacífico o facto dos pais se separarem e deixarem os filhos entregues às mães. Quase sempre o lado biológico/maternal assim o exige e parece reunir o consenso de pais, mães e filhos que, entre os gritos de pai e mãe, qual catarse, nos momentos que antecedem a separação final, estes últimos e quase sempre os últimos, se voltam e aninham junto da mãe, antes de desferiram as primeiras perguntas sobre o que se está a passar no reino da discórdia.
A mãe passa a orientar o discurso.

Depois instala-se a rotina. O pai aproxima-se de quando em vez do habitat dos filhos, para o cumprimento dos deveres sociais e morais. O seu discurso a partir daí, surge quase sempre descontextualizado, atrapalhado, desconfiado, impregnado de sons estudados, temperados na forja da solidão e do abandono. Vai buscar os filhos e enquanto os tem consigo sente o seu cheiro, que se mistura com os cheiros da mãe. Entontece, aborrece-se, fica sem jeito enquanto tenta ser claro e objectivo na explicação aos filhos do significado de um quadro em determinada exposição. Os filhos misturam as cores dos quadros com a atrapalhação do pai, ao mesmo tempo que procuram a sua mão e o convidam a sair do museu.
– Pai, que horas são?...
-Porquê? Vamos já à mãe?- ou seja- Querem ir já para casa?

Os filhos olham-se, como que a procurar respostas que ninguém os ensinou a dar.
Entretanto o silêncio instala-se durante o percurso até casa da mãe. Os olhos dos filhos revelam medo e insegurança, enquanto observam em silêncio os últimos gestos do pai nessa semana.
Aprenderam tanto nesse dia…e ainda têm a mãe, que como dizia o trovador :« …Aquele que tem a mãe…/ Recebe no meio da luta/ ternos afagos de alguém…»

São os filhos que vão ensinar o pai doravante, a não elaborar o discurso, pois eles darão o mote em jeito de síntese para todos os encontros. É só segui-los.

Julio Machado Vaz disse...

Olhar,
O maroto fez mesmo isso?:).


Canseiroso,
Tive sorte, eu e minha ex-mulher deixámos os rapazes longe das nossas desavenças, um deles respondeu uma vez num inquérito escolar que tinha 3 casas: a de cada um dos pais e a dos avós.

ao saber dos dias disse...

sem dúvida tenho saudade do sommaire e do sumário desenvolvido.

Canseiroso disse...

É por isso que é professor.:)
Penitencio-me,porque esse segmento da família (os avós) são indispensáveis nesta estória.
Todavia, foram tão pesarosas as relações que tive com esse par materno, que inconscientemente não os referi.
Louvo os meus filhos por nunca os trazerem à baila. :)
Obrigado pela rectificação.

Olhar disse...

JMV 9.13 PM
Sim. Foi o que me pareceu.:)
No lançamento de livro, em data de um seu aniversário.
Mas..., sabe, pode sempre confirmar com ele, pois estavam mais jovens na mesa...
:)

lobices disse...

...um dia, escrevi:
...
...“... não, não me pediste, meu filho, para nascer, não... Foi apenas um desejo meu, um desejo muito antigo, daqueles desejos de me tornar num Homem plantando uma árvore, escrevendo um livro e fazendo um filho… sim, foi um desses desejos íntimos que, na companhia da mulher que te deu à luz, eu te dei vida, uma vida desejada e acompanhada até aos mais ínfimos pormenores... É verdade, foste desejado com muito carinho e muito amor... não amor carnal para gerar um filho mas amor de pai que pretende ser pai… mas tu não foste ouvido, não o podias ser… mas sempre pensei que a vida nasce sem que a gente a provoque, ela nasce pela simples razão de que tem de ser…
E num determinado dia, rasgando as carnes de tua mãe, vieste beijar a luz deste mundo que tão diferente é daquele em que, durante 9 meses, te escudaste das maldades que nos rodeiam e nos provocam náuseas por não sabermos como evitar tais momentos…
Esses 9 meses de gestação prodigiosa que somente Deus pode conceber e permitir, foram meses de acalentadas esperanças pelo dia tão ansiosamente esperado... nove meses de fortuna espiritual por te saber ali, por te saber vivente e prodigiosamente sobrevivente num mundo perfeito que somente se conhece mas não se sente pois não nos lembramos nunca de como se passaram esses momentos “lá dentro”…
E quando, então, rasgaste as carnes maternas eu chorei de alegria por saber que eras algo meu, algo vivo, materializado, que tinha vindo de mim e se transformado dentro do ventre materno... sim, chorei de alegria por te saber ali a meu lado e por saber que estava a teu lado…
Mal te pude pegar, pois tinha medo de te magoar... não queria macular com as minhas mãos aquilo que estava imaculado, pois naquele momento nenhum pecado poderias ter cometido pois estavas ali por vontade suprema de Deus Pai e que ninguém me diga, que ninguém me ouse dizer que um recém-nascido vem maculado por qualquer tipo de pecado… Deus te criou por meu intermédio no ventre de tua mãe; nasceste por vontade Dele, logo não cometeste qualquer pecado e abençoados todos os que nascem por vontade única de Deus Pai.
Os anos que se seguiram foram anos de alegria e anos de espanto pelas habilidades que davas a conhecer aos que te rodeavam de amor e carinho…
E numa criança te tornaste e como criança cresceste para o mundo... percorreste todos os caminhos normais e habituais que qualquer criança costuma percorrer: os trambolhões, os choros, as maleitas, a escola… a entrada pela porta da vida prática de qualquer ser humano…
E muito cedo num homem te tornaste, pelo abandono forçado que tive de te proporcionar por razões que não te diziam respeito e das quais não eras responsável nem sequer tinhas nada com elas… então, porque razão haverias de sofrer pelos erros cometidos pelos outros, especialmente pelos dos teus progenitores?... Que pecado cometeras tu para pagares pelos erros dos outros?... Que mal fizeras ao mundo para ele te responder dessa maneira?... Que tinhas tu a ver com as agruras da vida de teus pais se não eras a origem desse mal?... Por que haverias de pagar por erros não cometidos?...
Não te sei responder, meu filho...
Mas que pagaste…e bem…lá isso pagaste...
E esse preço faz parte da minha dívida para contigo... dívida que jamais poderei pagar, pois por mais que te ame, jamais te pagarei o sofrimento que te provoquei…
E esse preço faz parte da minha angústia para o resto da minha vida, pois por mais que te ame, jamais aliviarei a dor que sinto no meu peito…
E esse preço faz parte integrante do meu dia a dia, pois por mais que te ame, jamais sairá do meu peito a dor da dor que te dei…
Não te peço perdão pois não sou digno dele... não te peço que me releves todas as minhas faltas... não te peço que me compreendas... não te peço sequer que entendas…
Peço-te apenas que acredites na dor que vive comigo…”
Teu pai.
Joaquim Nogueira

Gonçalo Rosa disse...

Prof.,

É por essas e por outras que não tenho filhos LOL. Assim, resolvo pela raiz as suas dúvidas e as inquietações de Amália LOL

Que raio de racionalização fui eu arranjar! eh, eh, eh...

Um abraço,

Gonçalo

Ti disse...

Quintas-feiras em Serralves...
Professor, pode dizer-me mais sobre esse curso?

Julio Machado Vaz disse...

Gonçalo,
Realmente:).

ti,

Sexualidade e Civilização Ocidental.

PILAR disse...

Quero acreditar que as respostas aos "dramas comezinhos", ainda que ténues e discretas, acabarão por chegar em algum momento à nossa presença!
Com o filhote, a caminhada dura à literalmente meia dúzia de anos, estando pois por cumprir, se tudo correr bem, a maior parte do caminho...
Mas existem as minhas manas (gémeas) doze anos mais novas... são para mim duas meninas, agora mulheres, destinatárias dum bem querer imenso que brota de mim, muito parecido ao que jorra desde a chegada do meu rapazinho. Agora as manas -mulheres estão próximas por laços outros, muito além da consanguinidade. Lendo nas entrelinhas, por vezes acho até não merecer a ternura, e a "importância" que me dão, mas que me sabe bem sabe!...
Parece então fazer sentido a Bethânia a cantar: " A vida só se dá p`ra quem se deu..."

redonda disse...

Fui às duas primeiras aulas no curso. Gostei.Corresponderam ao que imaginei que seriam.

mariam [Maria Martins] disse...

Júlio,
Trata-se de afectos, se bem geridos, vão dando saborosos frutos (consigo aprendi, também também!).
Anseios e receios todos os temos, infundados, porque os filhos conhecem-nos humanos, ternos, lutadores e falíveis!

emocionada fiquei com este post e com o seu coment a "Olhar" e "Canseiroso". OBRIGADA

boa semana
um sorriso :)

mariam

CêTê disse...

Venho deixar a todos um abraço.

Não se preocupe Professor. O Sr. sempre encantará, se não todos... muitos. E se momentos há de falta de inspiração outros há que não esquecem NUNCA!
(E essa "doença" de sermos severos autocríticos dá frutos suculentos ainda que nem sempre tenhamos o prazer merecido de ver árvores crescerem...)bjnh para si

tébastos disse...

Ola Julio. Não é um comentário mas uma dúvida... e não, desta vez não é sobre sexo... Como colocou música no seu blog?
Obrigada
www.patenteregistada.blogspot.com

andorinha disse...

Cêtê,

Tás viva, moça?:)

Mas que história é essa de os beijinhos serem só para o Júlio?!
Quanto não vale ser homem!!!
:)

Beijinhos.

P.S. Vês, vês? Eu sou uma mocinha educada e doce...mesmo com quem não o é comigo:)

Fica bem, cachopa e tenta levar as coisas com calma; é o que eu faço...

MS disse...

...interessante olhar sobre o 'espelho'...

Su disse...

hoje andei por aqui...............
gostei

jocas maradas