Maria,
O cansaço, como a doença e a velhice, tem o condão de pôr a vida em perspectiva. (Talvez por com elas partilhar uma certa melancolia distanciada). Por isso me quedo a desejar-te, baixo-relevo cravado no silêncio da casa. E dos dois sou eu o fantasma precário, assombrando a tua memória, granítica por eterna. Como o amor...
61 comentários:
O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser…
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto…
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço…
Álvaro de Campos
Há também várias perspectivas das perspectivas que o cansaço trás..
Oh Professor que poético!
Decididamente gostei!:)
Belo e profundo!...A memória que permanece em nós é de facto um bom barómetro do Amor que ainda e sempre sentimos...
Thora:)
Bela escolha! sem dúvida...
Fez-me lembrar a incrível encenação da obra de Fernando Pessoa (e que me levou às lágrimas) em "Turismo Infinito" excelentemente representado no D Maria.
Belíssimas palavras!
Boa noite, Professor!:)
Beijo
Prof, não quero ser indelicada, mas anda cá com uns humores:(:(
Solte lá uma gargalhada das suas e mais uma das inconveniências "do costume" (soit disant...)
Isto está muito depressivo!
Não me fale em cansaço:)))))))))
Mas confirmo, tem o condão de pôr a vida em perspectiva, sim...
Thora,
Muito bem aqui trazido Álvaro de Campos, miúdo:)
Não sendo mulher de letras nem de plavras impossível não dissecar um murmúrio que tem tanto de curto como de intenso.
"baixo-relevo cravado"- liiindo
"memória, granítica por eterna"- POSSANTE!
(batem as expressões no tabuleiro de inox ;)- diagnóstico: alma sensível ;)))))
(Muito bonito)
Laura o FDL é que podia animar a malta com umas piadas sobre as minorias, mas não!
De toda a forma todos somos uns fingidores e nem sempre o que se escreve é a "moda" da alma.
Bons sonhos
(concordo, andorinha- o "puto" ;))) esteve muito bem ;)))
Traz...de trazer! Ai ai..! :)
PS - Mas também podia ser o cansaço de trás, é nas costas que o bicho ataca primeiro.. :)
Professor, as suas palavras são tão cheias de ternura, que me emocionam.
Obrigado.
Obrigado Professor. Mais uma vez a lição é que o que nos prende às pessoas, não é o saber, mas a humanidade nele. Ou, se quisermos precisar, a interpretação que dele faz cada um. Nos interstícios da ciência procuramos o homem. Por ser com ele que vivemos.
Ter alguém em baixo relevo é fitá-lo de frente, olhos nos olhos. Ao alcance da mão. Ou do pensamento. A memória pode ser granítica pela densidade; contrariando Hume, pela intensidade. À força granítica subtrai-se apenas a frieza. Memórias de Maria são labaredas.
Bom Regresso. Há pormenores e situações que em perspectiva não se vêem. A perspectiva é só uma face de tudo.
Um abraço a todos
ando a ler o seu livro O amor é... já no outro dia lhe tinha ouvido uma definição que me cabe como uma luva, como coloquei no blog também eu sou uma depressiva que gosta muito de viver.
Obrigada!
ana
Prof. já não sei se cá venho pelo Prof. se pelos comentários, de qualquer maneira vá aparecendo mais vezes. Adorei os poemas do Eugénio de Andrade que por aqui passaram, e hoje mais um, Alvaro de Campos, obrigada Thorazine
Olá
Só ontem é que descobri que tinha um blog, exactamente porque andava à procura do seu e-mail.Ainda bem!
Será que mo poderia facultar?
Sou professora numa "pequena" escola profissional em Matosinhos e gostaria de lhe fazer um convite para nos fazer uma visita...
Obrigada
O meu mail é paulabsousa@sapo.pt
às incandescentes Marias
"Ainda hoje a visão de continuidade da via férrea e o cheiro próprio das traves de madeira a perpetuarem-se no espaço, me acompanha a memória. E sobre a linha, em “pas de pliés”, Tu. Tu a dançares sobre os carris, a pulares de um a outro com suave gravidade. E o tempo. O tempo a crispar-te o rosto e apressar-te os passos... o meu coração que se partia devagarinho. E um comboio que sempre te levou de mim. E ficavam só uns carris que não sei porquê me apertavam a garganta, e um buraco a crescer cá dentro. E eu com vontade de gritar “quero a minha Bailarina, não como, não durmo, senão quando ma trouxerem.” Punhas-me doente, Bailarina. Ver-te, nunca foi sofrer-te menos. Não te inventei. Existes. E isso deixa-me melhor. Existe, por favor. Existe longe. Onde quiseres e com quem quiseres. Mas existe. E dança e canta para mim sobre os carris da vida. E pensa que te encontro em todos os silêncios. Talvez até naquele que a todos nos guarda."
Olá
Gosto dum cansaço assim... a filtar-nos a vida, teimando em não deixar passar na malha a essência!
Para sempre a falta sentida...só assim sabemos não estar sós!
Uma vez mais sorri ao ler. Obrigada
Ternurento e sentido!
feliz o desejo de mais e sempre a escrita do desejo.
Não sou muito assidua destes locais.
Entrei por caso e gostei do que li, não que me tivesse surpreendido, tenhos saudades de alguns programas de tv...
vou andar por aqui mais vezes
Conheço os dias amargos em que a neve podia ter caído; as
horas estranhas, entre o branco e o negro, ouvindo o silêncio
que murmura com a noite. Ouço, então, a tua voz: e
por dentro dela as dúvidas que ela me traz, a angústia
que me impregna a alma, muito embora lhe possa opor os
argumentos da razão, a segurança de uma lógica absoluta
em que reconheço os vestígios de quem despiu
emoções e sentimentos. No entanto, dizes-me, o que
conta é o amor. Vejo o significado da palavra: o que
une um a outro ser, não importa em que circunstâncias.
Na sua abstracção, não preciso de mais nada para saber que a
realidade podia ser esta, se na realidade não fôssemos humanos,
e outras condições não se impusessem. Se o mundo fosse
à nossa medida, talvez nenhuma destas questões existisse; mas
temos de ir ver os dicionários, de procurar sinónimos para
cada palavra, de encontrar uma forma de dizer o que não se pode
dizer, agora que alguma coisa agoniza, enquanto te ouço.
Folheio os livros da noite. Abro-os nas páginas ímpares, em busca
do teu nome. Os cães ladram quando empurro o portão da vida,
e te puxo para dentro da memória em que nos perdemos de quem somos.
Construí-te uma alegoria de gestos sem saída; e agora que
saíste, fiquei preso a cada imagem, como se não fosses tu a única
imagem. Mas continuo a ler, e no fim do livro salto as folhas
em branco, esperando que sejas tu a que me espera nesse quarto
do fundo, onde a janela continua fechada, e o vento se transformou
em canto obscuro. Por que não voltaram os cães a ladrar? Que sombras
me impedem de empurrar esse portão, como se a tua memória o
prendesse? Tudo isto para te dizer que não sei onde estou, nem que
direcção tomar para sair do labirinto, agora que os rios secaram,
nesta margem do inferno, e o azul da ausência me apaga o teu rosto.
Como se não fosse o amor o único assunto que nos
ocupa. Discuto-o contigo. Pratico uma dialéctica de interrogações,
deixando as certezas penduradas nos cabides do ser. Amo a tua angústia,
digo-te. É assim que te quero libertar dela, roubando-a para os meus
braços, enquanto os enigmas da tarde se desfazem. Talvez me perca,
voltando a ouvir o vento que entra pela janela aberta, nesse quarto do
fundo para onde a tua memória me empurra, sem me importar com as
árvores secas do quintal, com os passos de quem não encontra a saída
do labirinto, com essa respiração que pontua o silêncio, soletrando uma
resposta possível para a angústia que me deixaste. Então, fecho
esse livro. Deixo de procurar o teu nome nas páginas ímpares; e
escrevo-o nas folhas da noite, rasgando as capas de fogo, até chegar
aos teus lábios. «Dizei-me, peço-lhes, as palavras limpas de cinza e
de musgo.» - «Outras definições», dizes-me. Como se as pudesse
encontrar, aqui, onde nenhum cão ladrou, nesta noite que desce no teu silêncio.
«Fala-me, então: não deixes que esse silêncio ocupe o lugar em
que deviam crescer as palavras; nem que um vazio se prolongue por
dentro das mãos.» E lembro-me dessa margem para onde me
levaste; das tuas hesitações; e de como nos perdemos, ao voltar
à cidade. O tempo levará esse tempo, como a água do rio levou
outras águas, e assim por diante, até nada ficar de ambos.
Mas este amor?, acaso algum rio o poderá arrastar para um mar de esquecimento,
ou alguma água afogar a sua respiração? Como esquecê-lo, quando
ainda o guardo, e ele me traz de volta a tua imagem? Pedes-me que
a abandone. Perdê-Ia-ei - sombra nas ermas memórias da noite - ou
poderei encontrar-te - corpo que sai de uma esquina do verso,
atravessando a rua da estrofe - nesta esplanada em que te espero,
ouvindo a queixa matinal do outono? E é como se tivesses chegado,
trazendo na tua voz a luz branca da madrugada, para que eu te peça
um último sorriso, agora que o café vai fechar para o inverno.
Dir-me-ás que as coisas são assim. A vida não tem desvios
nem demoras. Sairemos de casa, amanhã, para cumprir os hábitos
de sempre. Nenhum de nós irá procurar o outro; nada do que
dissermos dirá o que nos dividiu. Mas poderia ser de outro modo,
isto é, poderiam os nossos caminhos ir dar ao centro? Como se eu
e tu não nos tivéssemos perdido de nós no próprio centro destas
palavras; e não soubéssemos em cada encontro que o fim
estava no princípio. Abro então a última porta da casa; e deixo-a
aberta para um dia, que há-de ser o dia em que os cães voltem a ladrar,
quando por ali passarmos, sem saber se estamos a sair, ou a entrar.
Nuno Júdice
Obrigada pelo poema de Nuno Júdice!
Nada pode descrever melhor a dor e angústia de um amor que já foi, e o vazio de uma perda...cheia de recordações.
Essa Maria deve ser especial.
Console-toi, tu ne le chercherais pas si tu ne l'avais trouvé.
Li agora no Público: "Islândia deverá ter a primeira chefe de Governo lésbica do mundo."
Só espero que daqui a uns anos esta notícia deixe de ser notícia.
Bingo,Andorinha. Enquanto a diferença se apontar, é preconceito. E o pior é que Portugal (nós), se curva e deixa dominar por eles. A homossexualidade é apenas a colcha da cama em que dormimos; os nossos preconceitos são muitos mais. Inúmeros. Resmas.
E não haver uma empresa que limpe mentes, higienize o pensamento, abra janelas, promova a elegância da mente.
Um dia, quem sabe...
andorinha 12:46 AM
A propósito dessa ou outra minoria, e dos seus elementos que são escolhidos / eleitos para posições políticas de destaque, deixo aqui a versão tuga do lema de Obama: YES, WEEKEND!
cabecinha,
como já disse há uns tempos é preciso derivar (tipo, ser notícia) para depois integrar. E, como na matemática, após estas operações vamos ter um resultado exactamente IGUAL! ;))
Acho que é notícia mais por ser diferente do que pelo preconceito. O preconceito está em quem lê..
"O preconceito está em quem lê.."
Não podia estar mais de acordo, Thorazine !
itc
Thora,
"O preconceito está em quem lê..."
Nada disso, miúdo, nada disso.
Nas circunstâncias actuais essa notícia ainda se justifica e é bom que se lhe dê relevo.
Daqui a uns anos espero que deixe de o ser pela sua banalidade.
É preciso explicar-te tudo, miúdo?:)
FDL,
:)))
Ò Stôra, leia outra vez o que eu escrevi se faz favor!! :))
Thora,
admito, tenho preconceitos, não crescemos no vácuo. Mas o que acontece à notícia-novidade se teima em ser notícia e deixa de ser novidade? A imprensa procura, e tanta vez constroi, os seus 'fait divers'.E o preconceito é possível em quem lê e em quem escreve. A um bom governante exigem-se capacidades várias que a opção sexual não restringe nem aumenta. Quero dizer, não é uma lésbica que é eleita, é uma pessoa que se julga ser capaz de gerir um país. Parece-me que o título viola qualquer coisa "que não é para ali chamada", uma quase intimidade, por deslocado. "é notícia mais por ser diferente", a luta de todas a minorias, Thora, é por tratamento igual. Confesso: sou um zero a matemática, dela, amo os fractais e a sua infinita repetição no mundo natural, beleza que me pasma; o quotidiano, para mim, é um fractal:))
O que queres dizer com o teu IGUAL? que qualquer dia vamos ler qualquer coisa como "Cavaco Silva, um heterossexual, foi eleito presidente da república portuguesa"? Ou que chegaremos à aceitação?
Como diz muita gente, e o Fora de Lei teve o bom gosto de repetir, Yes, weekend.
littlehead :) ,
acho que os próprios homossexuais têm necessidade de marcar a sua diferença para depois esta poder integrada na sociedade. Da mesma forma que os negros sentem "orgulho" no Obama. Acho que faz parte do caminho da aceitação o vincar da "diferença" (aquela que na prática até existe, mas que é uma nas milhões de semelhanças e diferenças que os seres humanos partilham). Obviamente que a notícia "viola qualquer coisa que não é para ali chamada", dá-nos informações que em nada são úteis para avaliar a competência da pessoa para o cargo. Mas na minha opinião cumpre a sua função em mostrar que pessoas com aquela caracteríticas podem ocupar aqueles cargos, e quer sejam bem sucedidos ou não, vão sempre mostrar que são pessoas como as outras, que erram e que falham.
Acredito que vai haver o dia em que simplesmente essa informação já não vai ser útil para ninguém, em que o presidente dos USA é preto ou amarelo, ou se o Cavaco faz amor de frente ou de costas é trivial. Por agora, estão na fase da "parada", em que se exibem para mostrar a sua diferença.. :))
PS - Yeah! Os fractais são mesmo muito interessantes, explora desde o desenvolvimento das carapaças dos caracóis ou dos fetos até à "time wave zero" do Mckenna e 2012 do calendário Maya..Não sei se três vidas davam para explorar isso até ao tutano..lol
O que choca e incomoda é perante a situação gravíssima que actualmente se vive na Islãndia, a comunicação social ter dado destaque e preferência como notícia principal, o facto da senhora primeira ministra ser lésbica, tanto mais que ela é assumidíssimna e vive há tempos com a companheira,em detrimento do assunto principal e que realmente devia de interessar que são as enormes manifestações de contestação e desagrado e a falência económica em que o país se encontra.
O facto das pessoas estarem aflitas e passarem mal interessa bem menos do que um pormenor da vida privada da senhora que evidentemente só interessará a ela própria.
Isso é o que realmente entristece na notícia.
Lady Bird:)
Bom! tambem não era preciso carregar tanto...:) Esse texto do Nuno Judice pesa que se farta:)
Estou a brincar! Gostei imenso de o ler.
Thora,
as pessoas pensam em divergências inconciliáveis, e cada verdade particular oferece-se ao outro como se fosse um ângulo agudo mas, muitas vezes, falta-lhes apenas conversar, criar o ângulo raso. Infelizmente, estamos a desaprender a arte e o prazer da conversa.
Quanto a essa da fase... a toda a exibição falta maturidade. Há um tempo para tudo, mas alguns tempos têm um timing. Não se pode não crescer. Ou ficamos um aleijão Prefiro ser um fractal, nem que seja uma couve flor ou um bróculo:))
(Andorinha ;9
Até nisso somos grandes e humildes! Nós temos cabras e burros e não nos gabamos disso. ;P)
CêTê
«somos uns fingidores e nem sempre o que se escreve é a "moda" da alma».
Pois é, mas então devo ser eu que estou apanhada pelo clima ;)
Cinzento, chuvoso, opressivo. Uma desolação.
(Cá para mim, o nosso Prof. anda a ver se escreve tudo menos um "Freepost"...
Melhor assim, senão então é que o clima piorava e emigrávamos de vez para outras paragens;)
...abreijos e bom fds
Está-me cá a parecer que o professor está a "cozinhar" alguma...
Não que tenha alguma informação nesse sentido, mas os "sinais" que tento ouvir sempre dizem-me que sim...
Será um livro?
Eu gosto desse lado de pierrot apaixonado pela maria...porém não será demasiado confortavel essa idealização do amor?Ir a luta é que custa!!!!
O caminho mais longo
Gonçalo M Tavares
Vírus - Vejam o que dizem do amor:
«Isso nasce, aumenta, faz sofrer, passa.»
Uma gripe?
O amor é um vírus que apanha a razão distraída – disse a senhora Woolf.
o caminho mais longo - Pode complicar-se a declaração de amor, como faz Shakespeare no «Mercador de Veneza», mas algumas vezes ir pelo caminho mais longo - não dizer logo amo-te - não é maneira das pessoas se atrasarem, mas sim de poderem passar por sítios mais interessantes – disse a senhora Woolf.
Vês esta árvore, este lago, esta rocha?
É simples: se tivéssemos ido pelo caminho mais curto não teríamos passado por aqui.
Pode ser rápido ou longo ou meio longo mas é de certeza o caminho mais belo: eis por onde vai quem está apaixonado e se atrasa – disse a senhora Woolf.
Vejam como se declara Pórcia, a mulher apaixonada:
«Malditos sejam os vossos olhos que me tiraram o sossego e me dividiram em duas; uma das metades pertence-vos, a restante é só metade vossa e a outra parte minha, mas se é minha também é vossa e portanto toda eu sou vossa.»
Era mais rápido dizer: sou inteiramente tua. Mas o amor gosta de brincar assim com a matemática, torná-la malabarista, fazer dela (da matemática) o que quer: torcê-la, cortá-las aos bocadinhos, saltar sobre ela – disse a senhora Woolf.
O amor pode fazer o que quiser com os números, tal como o poeta Vicente Huidobro faz. Ele escreve:
«Los cuatro puntos cardinales son tres: el sur y el norte.»
E são mesmo estes, de resto, os pontos cardeais importantes: dois. Preto e branco. Norte, sul. Gosta de mim, não gosta de mim.
Que ridículo jogar com as pétalas do malmequer e utilizar, por exemplo, 3 hipóteses:
1 – mal-me-quer
2 – bem-me-quer
3 – mais-ou-menos-me-quer.
Ou sim ou nada, eis o que é necessário – disse a senhora Woolf.
Juramento - Na peça 'Calígula' de Albert Camus – lembrou o senhor B. - Calígula pede a Cesónia:
«Jura ajudar-me, Cesónia.»
E esta responde, de modo certeiro:
«Não é preciso jurar, porque te amo.»
Gonçalo M Tavares
O cansaço a partilhar uma certa melancolia distanciada com a doença e a velhice... hum.... parece-me uma visao um tanto ou quanto pessimista
Laura, ;)))
Deviamos fazer aqui já um motim! Ou bem que há ração diária mesmo que em doses "frásico-miligrámicas" ou fazemos nascer aqui um movimento contra todas as minorias. ;P
Desculpe professor, mas acho que além de hipocondríaco é bipolar.
Como é que uma pessoa que gargalha ,de manhã, nos programas da rádio(sei que a voz da Inês ajuda), depois escreve postais mais deprimentes do que alguns poemas de Eugénio de Andrade(sem deixarem de ser belos, evidentemente).
E para uma pessoa que ainda não tem sessenta anos, o que hoje, equivale a dizer que está na flor da idade e da sapiência, ficar ainda mais na fossa do que eu, mando-lhe este poema, dedicado à minha Mãe(e a todas as Mães), que também se chamava Maria e, para mim, continua a chamar-se.
Para sempre
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Carlos Drummond de Andrade
Cêtê,
Andas muito revolucionária ultimamente, cachopa:))))
Jinhos.
Este site está engraçado...
http://www.worldometers.info/
tem múltiplas estatísticas sobre o MUNDO, mas convém ver às onze e meia da noite...
logo hoje, poiso os meus olhos de alma cansada sobre este post assim, tão frio, tão só, tão grande... quanto o amor.
hoje que o cansaço me abraça com braços de aço gélido e sem qualquer efeito de aconchego.
logo hoje, nesta noite tão fria quanto molhada, que se parece prolongar por toda uma vida, em que as palavras me bailam dentro da ocadidade do que sinto da vida: "ela vai morrer mto em breve"...
e é este cansaço pela impotência da luta contra a dor, contra o tempo, contra o amor, contra as folhas das árvores que caiem quando menos esperamos, no momento em que olhamos o céu e miramos os raios de sol espraiarem-se por entre as folhagens das árvores enormes, fortes, vivas, erectas, antigas...
lá cai uma folha. e fica o cansaço...
como o amor...
também fica. não acredito em amores que partem uma vez nascidos ....
cumprimentos
subscrevo o Lobices :)
"Tu és a minha liberdade mais íntima, aquela que ninguém me poderá tirar, liberdade livre, Liberdade, como a de Rimbaud ou a que Éluard chamou àquela que só ele sabia."
Manuel Alegre, A Terceira Rosa
"...abre-te ao mundo que te rodeia e sorri o mais que puderes... e, por mais lágrimas que tenhas, não as guardes, deita-as cá para fora, grita se disso precisares mas, no fim de cada choro, mesmo assim, resplandece-te com um sorriso..."
lobices
«...um até já, meu amor, que por amor se corre e por amor se não percorre... um até já, meu amor, pelas correrias que correste e pelas paragens à minha espera... um até já, meu amor, pelo amor caminhado, pelo amor parado como os dias que correm á nossa frente e nos arrastam irremediavelmente para essa morte... a morte do amor que de amor morreu no dia em que em vez de um até já, me disseste adeus...»
lobices
Cabecinhapensadora,
ainda que mal pergunte:
uma liberdade assim tão íntima, que utilidade prática pode ter ?
eu fico a fazer co-incidir
o sorriso que lhe conheço
com estas palavras.
e sim! :)
(assim, a ignorar o contexto,
sempre a ignorar)
~
Olá Isabel
não pergunta mal. Só pergunta. E só respondo. Ainda que responda mal, por ser Manuel Alegre quem melhor responderia. Nem tudo tem que ter utilidade ou é para ser útil.O frágil é quase sempre belo e, nem sempre útil, a beleza lhe nasce da efémera condição. O amor é liberdade íntima, sim. Se o não for, foge ao nome. Mas, curiosamente, não me parece que Manuel Alegre se referisse apenas a essa relação dualista e simples em "A terceira rosa". o poema de Paul Éluard reza
"sur mes cahiers d'écolier
sur mon pupitre et les arbres
sur le sable de neige
j'écris ton nom
Sur toutes les pages lues
sur toutes les pages blanches
Pierre sang papier ou cendre
j'écris ton nom
........
Sur toute chair accordée
sur le front de mes amis
sur chaque main qui se tend
j'écris ton nom
Sur la vitre des surprises
sur les lévres attendries
Bien au dessus du silence
j'écris ton nom
................
Et par le pouvoir d'un mot
je recommence ma vie
je suis né pour te connaitre
pour te nommer
Liberté
E talvez Manuel Alegre tenha razão e a liberdade de Paul Éluard fosse feminina. A liberdade íntima tem uma única 'utilidade', torna-nos melhores. Desprende-nos e desata-nos. Laços não são cadeias. Desculpe se não me fiz entender, mas as palavras servem-me mal os sentimentos. Sinto-me a invadir, sem jeito, o campo dos poetas:)))
Boa noite
Uma boa semana para todos.
;)
...cabecinhapensadora:
...
...permito-me subscrever na íntegra as suas palavras das 10.08 PM
...um abraço
E já agora Lobices se me permite tambem as subscrevo:)
"Laços não são cadeias", sem dúvida que não!..., principalmente quando feitos e realizados em liberdade.Melhor! correspondem a um estado "superior" de estar na vida que traduz o ser capaz de nos entendermos e realizarmos a nós próprios no entrosamento da realização de e com os outros, numa sinergia que só pode ser positiva...
"A liberdade íntima tem uma única 'utilidade', torna-nos melhores. Desprende-nos e desata-nos. Laços não são cadeias."
Cabecinhapensadora,
só vejo algum interesse prático numa liberdade que nos torne melhores para fora de nós, ou que nos desprenda e nos desate de nós para chegarmos ao(s) outro(s) pelos tais laços;
e é claro que nem tudo tem que ter uma utilidade prática, ou nem tanto,
eu também só perguntei se tinha e gostei de ler a sua resposta.
Pode ser uma tonteria, até um complexo, sei lá. Mas comove-me que alguém interpele ou subscreva o que penso. E comove-me uma e em cada vez. Sei. O que aqui se escreve é para todos que queiram ler; porta aberta que agradeço. Mas acontece que o acto da escrita é solitário e isso nos traz uma certa impunidade no sentido de nos podermos aproximar do eu que somos e trazemos tão enroupado. Quando assim nos entendemos, só as palavras nos vestem. E nao sei se não será o mais que conseguimos da humana nudez.
Obrigados, Meninadalua e Lobices
E também Isabel, só agora vi o que escreveu:)))
Cabecinha,
Embora com algum atraso, porque só agora as vi, subscrevo também as tuas palavras.
Palavras recheadas de sageza, poesia e muito verdadeiras, quanto a mim.
Tonteria??? Complexo????!!!!
Nada disso, amigo, sensibilidade, "apenas".
"Quando assim nos entendemos, só as palavras nos vestem. E nao sei se não será o mais que conseguimos da humana nudez."
Tão belas estas palavras!
Vês? Tu é que me comoves.
:)
Andorinha, tem um ponto em que, como disse witgeinstein, as palavras são nada. Só os poetas atravessam a contradição e dizem o indizível.
Como estamos fora dos eleitos, resta-nos 'sermos homens que pensam noutra coisa'. Por exemplo, que este é o melhor dos mundos. E deve ser verdade, porque ainda não rebentou ( mea culpa, Leibniz, não foi por mal):)))
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