domingo, junho 27, 2010

Também fiz urgências, é uma irresponsabilidade total:(.

O conselho de administração do Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio, em Portimão, deu ordens para que, a partir do próximo mês, as urgências funcionem apenas com um especialista de medicina interna, cirurgia e ortopedia. A escala de médicos passa a ser composta por apenas um clínico das 8h00 às 16h00. E a decisão, comunicada num ofício enviado aos directores de serviço a que o i teve acesso, é justificada como uma "forma de dar resposta ao plano de contenção para redução de despesas em horas extraordinárias".A ordem, que não é motivada pela falta de médicos, mas pela vontade de cortar nas despesas, está a criar um verdadeiro terremoto. O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e a Ordem dos Médicos já manifestaram o seu "veemente protesto" junto da ministra da Saúde, Ana Jorge. E usam palavras como "irresponsabilidade", "gravidade", "desrespeito" e "violação das recomendações" de qualidade e segurança no atendimento aos doentes para descrever esta decisão.Numa altura em que o Algarve vê a sua população multiplicar-se devido às férias de Verão, a medida torna as urgência daquele hospital "tecnicamente inoperacionais". É que, em cirurgia, ortopedia e medicina geral, um médico a trabalhar sozinho nem sequer pode operar um doente urgente que lhe chegue às mãos. A urgência do Hospital de Portimão tem a categoria medico-cirurgica - um nível avançado de diferenciação, a seguir às urgências básicas. E ter apenas um médico de serviço viola os requisitos mínimos definidos para estes serviços.De acordo com a ordem assinada pelo presidente do conselho de administração da unidade de saúde, "em caso de necessidade de intervenção cirúrgica urgente" deve estar outro elemento designado para fazer equipa, que será chamado ao serviço. O médico especialista que estiver na urgência "acumula ainda com a reanimação numa parte significativa dos dias do mês, ficando a urgência sem especialista", critica o SIM. Tendo em conta que "está em risco a assistência condigna aos doentes", o SIM deu instruções aos clínicos do hospital para que se "abstenham de actos específicos sem que as equipas cumpram o determinado técnica e legalmente". E, por isso, os médicos são aconselhados a transferir todos os doentes que cheguem ao hospital a partir de 1 de Julho.Também a Ordem dos Médicos do Algarve aconselha os doentes a não irem àquele hospital devido "às deficientes e inaceitáveis condições em que passará a funcionar o serviço". "Assumidamente não estão reunidas as condições mínimas para a prestação de cuidados", conclui um comunicado assinado pelo presidente do conselho distrital, Martins dos Santos.O corte nas horas extraordinárias é uma das medidas decididas pelo governo para conter despesas na saúde. E as urgências são os serviços responsáveis pela maior fatia dos gastos com trabalho suplementar.

Fonte - Jornal i.

9 comentários:

Vírgula disse...

Quem trabalha na saúde fica viciado nesta área. Fazendo parte da gestão administrativa, sempre tive como objectivo o utente. É com mta preocupação que vivo o dia-a-dia sobretudo desde a chamada gestão SA. A qualidade do atendimento diminui e, ao contrário do que dizem os políticos, há muito que o utente deixou de estar no centro do sistema. Excelente 'post' embora preferisse que não houvesse razões para a sua existência. O túnel está às escura e os morcegos estão presentes! Abraço solidário!

Cê_Tê ;) disse...

Ao mesmo tempo, outros médicos, esfregam as mãos e abrem clínicas particulares.Clientes não faltam. No Algarve até já ouvo falar em "pacotes saúde" para casais de idade.
Um destes dias estou a idolatrar o autista do Fidel Castro!

E aquela:

"Um assessor do secretário de Estado Paulo Campos deixou o Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações para assumir o cargo de administrador executivo em Portugal da Q-Free, empresa fornecedora dos chips de matrícula que o Governo queria usar nas Scut." in:t/detalhe/noticias/nacional/politica/assessor-dirige-firma-de-chips

Pelos vistos as coisas funcionam assim: inventa-se um coisa que tem de se comprar... o pessoal sabe antes de TODA A GENTE, sai, monta a empresa, faz o produto adequado à procura e mesmo que haja concurso púiblico (que até acho que nem houve) o produto já está escolhido.

Uns tirinhos de borracha...


Alarga-se o fosso... e enche-se desta gentinha...

fiury disse...

É o sentido de prioridade desta gente que parece que anda a brincar:( e ainda lhes sobra tempo.
O disparate assumiu o estatuto de normalidade mediante a falta de espirito critico e de reflexão de um povo embrutecido pelos "bons" exemplos.

Unknown disse...

Senhor Professor, terei de concordar consigo. Quando se compara, no nosso país, aquilo que vai mesmo pior, não tenho dúvidas que são os Serviços de Saúde. É claro que, se compararmos fora, depende com quem comparamos…E se compararmos dentro, mas no tempo, também depende… As urgências que fez, foram, por certo, feitas com outras variáveis. Como sabe, muitos médicos abandonam o Sistema de Saúde Público, não por serem mercenários mas, muito pelo contrário, por se recusarem a ser um exemplo do que não deve ser. Efectivamente, são necessárias medidas para conter despesas na Saúde. Mas este parece um exemplo do que não deve ser. Mas serão também necessárias medidas para conter o saque a que está sujeito o Sistema de Saúde. Sob o lema “Eles roubam muito mais”, a tal classe média que se indigna vai, diariamente, carregando as despensas e as carteiras, com medicamentos e outros produtos retirados das farmácias hospitalares e não só. Tudo o que, virtualmente, puder ser furtado ao sistema, sê-lo-á. Afinal tudo é de todos, não é?

andorinha disse...

É vergonhoso o que se passa neste país.
Que tristeza sermos governados por gente desta que é capaz de sonegar os direitos mais básicos de qualquer cidadão.
Até onde irá a desfaçatez?
Por mim, sinceramente, já espero tudo:(((

andorinha disse...

thenewdo,

Porquê tanta irritação em relação à classe média?
Curiosidade, apenas...

Ponto de Interrogação disse...

É curioso como duas das áreas que, obrigatoriamente não podem, por razões óbvias, dar lucros monetários, são das mais exploradas a nível financeiro. A Saúde e a Educação são direitos - ou deveriam ser - inalienáveis. Como é que nos dias de hoje continuamos a permitir que nos assaltem o espírito, a dignidade e, o mais importante, a liberdade. Falo em lucros monetários porque o que se ganha com o salvar uma vida ou na correcta formação de um cidadão vale mais do que todas as riquezas mediáticas e efémeras deste mundo.

Cada vez tenho mais vergonha de pertencer a este planeta, embora esteja o mais solidária possível com as suas raízes e é o que me vai mantendo de pé.

Também trabalho na saúde e sei que as prioridades vão para tudo menos para aquilo a que se dedica: o cidadão e os seus direitos mais básicos - a vida e a sua saúde.

Abraço!

Unknown disse...

Andorinha,
Peço desculpa se pareceu irritação, mas é análise social. A minha. :)

Guimaraes disse...

Ora cá está uma maneira de aumentar os resultados económicos do hospital. O doente chega, é registado e de seguida transferido. Para a estatística e contabilidade analítica conta um doente tratado. E assim se podem "tratar" dezenas de doentes a custo zero, o que aumenta grandemente a produtividade do hospital.
Quando entrei para estas coisas da saúde, no "S. João", em 1969, alguém me ensinou que "a pessoa mais importante do hospital é o doente". Mas isso foi em 1969...