sexta-feira, dezembro 03, 2010

O frio lá fora (?).

Maria,

Um frio de rachar. Mantê-lo fora não é simples, ronda-me, o patife!, apaixonado pela humidade que sente na casa, pudesse eu e atirava-lha das ameias com uma asma alérgica de brinde. A ladainha da Avó Sorgue: "fechem portas e janelas...". O medo que nunca lhe confessei e me punha holofotes no cérebro, a insónia também envelheceu, agora adormeço bem e acordo de madrugada:(. Deixemos isso para mais logo, shall we, darling? Verifico as persianas em busca de abraço menos entusiasta de algum par de ripas, tudo acima, mergulho abaixo, ou as uno ou encravo a geringonça, será isto viver perigosamente para um pequeno-burguês tripeiro?

A tua voz no corredor - "abre-a". O maroto a esfregar as mãos de antecipada alegria, eu a soprar na janela e a escrever, "a persiana, mafarrico". Tudo acima devagar, não por cuidado, por gozo de Tântalo. A porta do quarto abrindo alas. E esse corpo que jamais deixavas cair na esparrela da nudez apressada, eu agradecia, despir-te era um ritual improvável entre o cambaleio dos meus dedos e a firmeza que os esperava por baixo de saia e blusa. A luz da noite e das girafas metálicas do jardim ignorando-me, e com razão!, o mundo a convergir para o centro do mundo - tu. Por incrível que pareça, quando chegava eu, sacudiras o pó das estrelas e a lama da Terra, nada mais existia, "vem".

Maria, porque está mudo o corredor e enregelado o meu sentir?

40 comentários:

Paula disse...

Atrevido, este Nosso Profe
Não queria ele frio e uma bela duma companhia,,, a susurrar-lhe ao ouvido: vem, baby vem.
Antes que se atreva a dizer mais qq coisa, que até gosto, vá lá ver as persianas e sossegue Profe.

Uma noite feliz. Se nao tiver mais ng, lembre-se que a Paulinha está aqui, nao para lhe fazer companhia fisica... vale o pensamento e a audacia.

bea disse...

Pois, senhor professor, o frio é mesmo mau para a asma alérgica, companheira de vida de alguns de nós. Há pior. E melhor tb :) essa coisa das persianas e ripas e tal, pode ser azelhice sua. Ou maluquice das persianas, amuos tontos de quem não sabe o que é e resolve armar em mete nojo. Ou elas são inocentes e é tudo frio e mãos trôpegas (de frio :), dedos entaramelados em casa queixosa de solidão. A esta hora, já pacificados, o clima - de dentro - é decerto outro. Quanto às madrugadas...é pááá, estamos todos na mesma: a ver o sol nascer. Aprendemos a gostar das estrelas que batem o pé,aos puxões à saia da fugitiva noite, o claro dia a apresentar-se ao serviço, todo comedimentos de luz, a desviar as sombras em vénia delicada "desculpe, tem de ser, voltam mais logo, sim?".
E já agora, senhor professor, é boa imagem o "ritual improvável"; ainda que tal coisa não exista.
E que tal uma casa sem corredor? Não é boa ideia, não. A gente abre a porta e cai numa sala. Não tem graça. Até as casas precisam de preâmbulos.

Maria

trata de enfeitar o corredor, ok?

Bartolomeu disse...

Dá-me licença, Júlio, para que faça um pequeno "arranjo" na parte final da letra?!
«Maria, porque está mudo o meu sentir e o corredor enregelado? »
De resto, a música parece-me bem...
;)))

Julio Machado Vaz disse...

Bartolomeu,

Bela alternativa! Com uma vantagem adicional - a pergunta pode tornar-se retórica. Espere aí... - e/ou ameaçadora:).

Bartolomeu disse...

Sempre é preferível "ameaçadora", que premonitória...
;)))))
A menos que se preverta a imagem de "corredor"!
;))))))
Você parte-me todo, Júlio!
;))

Cê_Tê ;) disse...

"O medo que nunca lhe confessei e me punha holofotes no cérebro"- conheço a sensação! Muito bem ilustrado ;P
Também gostei das girafas! ;D

E claro dessa visão Ypslólica das coisas e das contra-coversas com Bart

É um prazer espreitar-lhe a correspondência por "cima do ombro".
;P

Anónimo disse...

taco-a-taco...

«Há um caminho marítimo no meu gostar de ti.
Há um porto por achar no verbo amar
há um demandar um longe que é aqui.
E o meu gostar de ti é este mar.», Manuel Alegre

«O fingidor é um poeta
Finge tão completamente o acompanhante
que chega a fingir que é dor
o xulo que deveras temes.», a "Voz"

Caidê disse...

Se eu tivesse pincel e aguarelas pintava o frio da cor da praia cortada pelo vento da manhã. Se eu tivesse lápis de cera pintava o frio do avião russo sobrevoando atlânticos destinos. Se eu tivesse lápis de cor pintava o frio da casa do monte. Se eu fizesse bonecos de neve esculpia o desespero de não encontrar o abrigo da montanha. Se eu tivesse tinta de óleo deitava o amarelo sobre o teu corpo e quando viesse o frio acendia nele quentes labaredas de vermelho calor. Da cor da terra os nossos encontros, brancos e frios todos os desencontros. Pois que seja Inverno, mas só lá fora. A carvão pinto ainda o desenho de umas -as tuas- mãos: delicadas, cheias e suaves, desencantando acordes.

bea disse...

E venho eu escangalhar isto. bfachada, "Conselhos de avô"....larga a sopa João sou eu que digo... larga a sopa João eu sei que gostas, mas come antes um peixinho e umas lagostas...
my space.com/bfachada

Anónimo disse...

Na verdade, o poema da "Voz" não passa de uma reles adaptação desconexa de uma quadra do Fernando Pessoa:

«O poeta é um fingidor. Finge tão completamente. Que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente.»

Azar para a "Voz".

Agora vou introduzir um novo conceito - relação vitoriana (de Vitor "i" Ana). É definida como uma relação entre um manipulador desesperado e uma rapariga carenciada. E os resultados estiveram à vista: na Casa dos Segredos.

Anónimo disse...

Também tenho uma adaptação especial - de minha autoria - para psiquiatras:

«O psiquiatra é mestre inconsciente de transferência.
Projecta tão completamente
que chega a pensar que é dos outros
a depressão que deveras sente.»

E esta, ein?

Anfitrite disse...

Precisamente por isso é que este blogue é uma tertúlia, que se transforma numa sessão colectiva de psicoterapia.

E quem se sentir ofendido é porque não sabe que precisa de tratamento.

Anfitrite disse...

Ah! Esqueci-me. Adorava ser um pequeno-burguês assim, mas não tripeiro. E por causa das frestas que deixam passar a luz é que este colarinho azul além de persianas e vidros tem portadas tripartidas.
E é o problema que tenho tido, nas viagens que tenho feito a crédito, onde o raio das persianas nos hotéis não fecharem devidamente. E lá estou, sejam quais forem as horas, a corrê-las num só impulso, acordando toda a vizinhança, para ver se consigo o meu intento.

Paula disse...

Boa tarde Caros Murcons,

Claro que precisamos de tudo o que falaram e principalmente, todos... muito mesmo... de tratamento. Deixem-se disso, nao queiram sequer trocar os textos que o Nosso Profe que nos tao gentilmente envia e,... lá vou eu novamente bater no ceguinho- Com este frio, ía bem mesmo era o tal do arroz doce, recordam? Sejam doces, babies!
Beijinhos grandes.
Paulinha

Canseiroso disse...

Anfitrite...como te entendo neste paranóico espaço terapêutico.
Mas porque é que não se fala claro e não se diz que tirando a tesão, tudo o mais é melodrama?

É claro que o Professor é responsável na medida em que nao intervem, quando devia intervir.
Ninguém tem que andar a reboque das suas palavras e ele sabe-o melhor que ninguem.

É humano como todos os intervenientes, mas aparentemente esclarecido técnicamente.

Intervenha por favor e não nos deixe com a ilusão de que qualquer de nós é a Maria.

Sou assumidamente hetero pelo que deve entender oq ue acabei de dizer como um elogio.

Canseiroso disse...

«Mantê-lo fora não é simples...»?

Ó prof.por favor.... não recorreu ao dicionário desta vez?

Zé Duro disse...

O frio lá fora, necessariamente passageiro, é fruto da estação e lida-se bem com ele. O frio cá dentro é outra história, porventura indomável e não sujeito a caprichos e humores da meteorologia.
Se os dois frios se juntam, então sim, algo se perdeu e não há voz, nem vento, nem janelas que tragam algum rumor de consolação.
Mas, como se de um livro se tratasse, há sempre um virar de página...
http://www.youtube.com/watch?v=T1Q6WPhsSug&NR=1

Julio Machado Vaz disse...

Canseiroso,

Homem, não o quero angustiado, pela enésima vez esclareço que Maria "não mora aqui", entre os seus companheiros de tertúlia. Como é óbvio, atendendo à sua orgulhosa declaração e amável "elogio", o seu nome nunca esteve em cima da mesa:).

Paula disse...

Boa Profe,

Agoram digam lá para mudar o texto... Temos por aqui um HOMEM com grande PALEIO.
Curtam o frio, que por vezes refresca...

A Menina da Lua disse...

Oh Professor eu bem lhe falei que as neves estavam a chegar e o frio aparecia lá fora...

E para provar que o frio lá fora tambem tem as suas vantagens, aqui fica uma musiquinha da clássica "Baby it's cold outside"! mas desta vez com um toque de magia e graça...:)

http://www.youtube.com/watch?v=bp3UoqOkFJo

Uma boa noite para todos e em especial para si...

andorinha disse...

Não me interessa nada que a Maria "não more aqui", isso é irrelevante. Gosto dela e pronto:)
E destas conversas, sempre o disse.

Quanto ao frio há imensas formas de nos aquecermos. Se o seu sentir está enregelado, há que o descongelar:)

E concordo contigo, Bea, "até as casas precisam de preâmbulos".

andorinha disse...

"Como é óbvio, atendendo à sua orgulhosa declaração e amável "elogio", o seu nome nunca esteve em cima da mesa:)."

Loooooooooooooooool

Só reparei melhor agora e não pude evitar uma valente risota:)

ana b. disse...

porque é que neste blog parece que falam todos em código? Eu leio mais rapidamente um romance do Lobo Antunes do que os vossos comentários...

Cê_Tê ;) disse...

meninadalua, não conhecia a cena nem costumo gostar de fimes do género mas "gargalhei" ;D

Andorinha, é da idade!;P

Cê_Tê ;) disse...

Talvez seja bom acrescentar ;)))) que eu faria facilmente a figura do bobo!;P

Não me estou a ver é entrar nos balneários errados mesmo alucinada(excluindo a pura distracção, claro está ;P)

Anfitrite disse...

Ana b.

Para compreeender este blogue é quase preciso tê-lo acompanhado desde os primórdios. Isto se conseguisse resistir a uns elogios que íam surgindo pelo caminho. A não ser que seja uma jovem iluminada.
É o caso do ALA, que apesar de também ter fases, tinha de começar pelas "Memórias de Elefante", passar pelos "Cus de Judas", deliciar-se atentamente no"Fado Alexandrino" enlouquecer com "O Auto dos Danados" e por aí fora...

andorinha disse...

Têzinha:),

Bai guzar outra, tá bem?:)))))

Paula disse...

Oh pessoal, está td a passar-se? Quem quer fala em codigo, quem quer fala de outra forma e ainda,... quem nao quer, nem chega a entrar.

BE HAPPY! Paulinha

ana b. disse...

Cara Anfitrite

... e chorar com a Explicação dos Pássaros...Falta-me só ler o Sôbolos Rios Que Vão(sou fã do ALA) mas tenho que admitir que a 2º metade da sua obra tem vindo progressivamente a ficar mais hermética e mais difícil de ler(«descodificar»).Daí a analogia...´Gostei da sua explicação,faz-me sentido.

Cara Paulinha,

não preocupe...eu não lhe vou tirar protagonismo.RELAX!

Canseiroso disse...

Obrigado Professor por me retirar da bancada onde se debruçam os restantes «companheiros de tertúlia» e também por ter dado um valioso contributo, para que se entenda que a Maria «não mora aqui».
Mas onde fiquei deveras feliz, foi perceber que o professor entende a minha patologia distinta.

Para a andorinha, resta-nos a esperança, de que um dia tenha alta.

Por mim continuarei.

Paula disse...

ana b
Estou podre de sono. nem percebi...

bea disse...

Um blogue aberto a opiniões díspares, rareia. É ainda mais raro que o/a responsável comunique, apresente visões lúcidas do país, da política, dos pequenos nadas portugueses e humanos, a expectável perspectiva pessoal em som de fundo.E deixe dizer como que em associação livre. Maria é uma personagem. A quem o visita e a encontra, não interessa se real. Poetas e escritores dialogam com o leitor, interpelam-no, encantam-no até. Perguntar pela realidade ou ficção do que escrevem…é de somenos. Como a andorinha, gosto do pretexto. O resto, o senhor professor esclareceu: não mora aqui.

Caidê disse...

Balha-me Deus que nem os Manéis querem ser confundidos com Marias e se para aí há uma terra inteira cheia de Marias...Quanta literatura! Quanto rimance se pode escrever. Mas quem não quiser praticar a arte da escrita, que desdita!

Paula disse...

Ei people,

Acham sinceramente, que o Profe ía enviar a Maria para este palco de murcons extroviados? E acham mesmo, que ía deixar a sua vida, para nos aturar cada vez que um diz uma palermice? Deixem-se disso...
Bea e Caide gostei.
BE HAPPY, BABIES!

Canseiroso disse...

Senhora dona Paula,o Professor foi de uma educação insuspeita,introduzinho um toque de humor e brejeirice íntelectual, que na minha opinião lhe é peculiar.
Mas como se diz por cá,«quem anda à chuva molha-se» e ele (Professor)sabe os riscos que corre quando se mete nestas cavalgadas.
Todavia, lendo e ouvindo tudo que ele diz ou faz,sendo seu fá incondicional,percebi há umas luas atrás que curte bué, o que diz e o que faz,gostando de mimos como qualquer um de nós, assumindo-o nos seus discursos.É mesmo um querido.

Tudo isto que eu disse, em oposição a um certo incómodo que alguns (algumas) damas demostram quando lhes é revelado o seu lado sonâmbulo,que é como quem diz:-Tesão????Credo...mas não era disso que estávamso a falar...quem será o ordinário???
Mas que ficam excitadíssimas, com esta vernácula tendência para serem modernas,ai disso não tenho dúvidas nenhumas
Como repararam falei curto e grosso, para não ferir ninguem.

Su disse...

opssssssss
que falta faz agora o Noise .......

Canseiroso aqui neste espaço normalmente falamos do post e não entramos em delírios sobre as paranoias e o tesão de cada um

tem algum problema? sente-se perturbado?
insónias? ouve sons?
excita-se com meia duzia de palavras num blog?
assume-se como um ho. moderno e hetero?

toma lithium ? mas devia...


é q já não há paciência para voos picados, curtos e grossos

jocas maradas

opssss em rel. à Maria ela faz parte do prof e deste blog desde 2005....pois é.....

entretanto quem é que não tem Maria no nome ou que a mãe tb não o tenha????????

os riscos de haver tantas Marias:)

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
andorinha disse...

Canseiroso,

"Para a andorinha, resta-nos a esperança, de que um dia tenha alta."

Não tenhas essa esperança, já sou um caso perdido:)))

Graça Paz disse...

Um arrepio na espinha!

fiury disse...

será isto viver perigosamente para um pequeno-burguês tripeiro?

hihihihih

outras partes cómicas, mas estou de raspão.