Só a salvo das palavras. Porque do resto... Por isso é que uma relação, ou um amor sem palavras são mais translucidos. Até que há um tempo em que tem de haver aquela palavra a mais, a que dita o efémero.
Às tantas é por isso que há uns meses decidi por o meu corpo a salvo das palavras que eram debitadas na televisão e decidi encostar o aparelho. Lá tive que inventar os jantares dominicais com a mamã, para ver o unico programa que sentia falta: os gato fedorento. Deram-me conta que está para breve o seu regresso ao pequeno ecrã, inclusivé o tinha anunciado aqui no blog. Para que dia da semana é que vai ter que passar a ser o jantar semanal com a família? :P
Prof, isso é uma boca para "aquelas" que cuidam o corpo e têm o cérebro pior que uma alface? (não é piada distrital :))
Hoje no AXN deu uma reportagem sobre os Fading Commission! Até então já tinha visto o resto da banda (num bar no porto) menos o seu filho! :)) Falha colmatada!
ANTES QUE ANOITEÇA a voz de timbre transmutável ajusta-se ao diálogo, ao tema, ao assunto, à situação. É uma voz de contextos, mimética. O olhar ligeiramente alucinado, a espaços. As mãos têm a forma e a dimensão de carícias esquecidas, prudentemente evitadas. O porte altivo. Um friozinho incómodo e insistente percorre-me. Pergunto-me quem é o estrangeiro. Não o reconheço. Um eterno espanto invade-me. Sinto que a adolescência permanece em mim encasulada, latente como um vírus em hibernação. Penso em serpentes. Reais e míticas. Uma letargia acomoda-se no medo que chega e se sente à vontade como presença antiga. As minhas mãos não podem tocar-te antes que anoiteça. Bebemos água. Redentora. Mais um sinal de fogo. O sofá do filho está vazio. Na cama dorme a ausência que já nem o é. O homem foi exilado ad eternum. Talvez proscrito. Se há coisas que nunca soube fazer foi amar como quem cresce, naturalmente. Não se toca em estátuas. Não foram feitas para serem tocadas. Contempla-as. Pus-me mansamente a contemplar o homem que se enroscava em posição fetal no sofá vermelho da sala. E tudo regressava com despudor e um à vontade natural. Vieram-me à memória as bilhas de barro da infância por onde a água escorria fresca e com gostinho a argila. Os bordados de seixos nas bilhas de barro de Niza. Tudo. O homem era o gato negro, era o filho-assombração. Não, eu queria-o estrangeiro. Apenas. Ele não me via. Olhava a pantalha. Eu olhava para trás. Que bom viajar na barca que nos conduz onde tudo é memória e mito porque o passado é sempre fábula e labirinto. Antes que anoiteça. E o gato enroscou-se, ocupou o seu território. E o filho pôs a melena a jeito da carícia. Parvamente, deixei-me invadir por um doce remanso e pus-me a amá-lo. Em silêncio.
O problema é mantê-lo liberto das palavras, das ideias feitas e da necessidade estranha de encontrar uma razão para justificar o que se sente! O que se sente é para ser vivido, não para ser explicado! E o corpo que o diga...
Thora, I"sso é uma boca para "aquelas" que cuidam o corpo e têm o cérebro pior que uma alface? (não é piada distrital :))"
Tu já escreves isto só para me provocar, diz lá...e eu caio sempre na provocação:)))) Ainda se não fizesses referência a "piada distrital", eu até podia deixar passar...
E "aqueles" que cuidam do corpo??? Cada vez há mais...e há algum "mal" nisso? Ai, miúdo, esses preconceitos...:))))))))) Looool
Nelson, Tanta gente contra as palavras... Eu não, gosto delas e fazem-me falta:)
Justificar o que se sente, não faz sentido, mas verbalizar, por que não? Sei bem que por vezes não são necessárias palavras...
Ontem, por razões profissionais revisitei os locais da minha infância no Porto. Está tudo tão diferente... desde a velhinha Dionisio Santos Silva até ao Hospital de S. João. A saudosa "Viela da Bouça" e a vegetação que a rodeava - oásis rural no centro da grande cidade - deram lugar a um grande centro comercial, a estações de Metro, Instituições de Ensino, etc. Mas algo ficou, algo que passa despercebido a quem hoje, de passagem, pousa o olhar naquele espaço. Uma árvore, solitária e orgulhosa mantém-se irredutível desde esses tempos, como se fosse um fantasma que teima em aparecer, em não deixar o nosso mundo, em nos lembrar o passado, a história daquele lugar. Na sua casca ( no seu corpo ) cicatrizes que são palavras no seu sentido literal, frases de amor que o tempo não apagou, afagos verbais indeléveis que a vida pode ou não ter deixado esquecer. Palavras que trazem imagens do que já passou, do que não volta, mas que ficou gravado, fotografias de vida naquele corpo que nos teima em dizer: "Sim, já vi passarem por aqui muitos como tu... vi os seus risos, os seus choros, as alegrias e as mágoas, as vitórias e as perdas, e ainda estou aqui, contemplativa, com estas palavras escritas em mim, que fazem do meu corpo um pouco de ti e de todos como tu". Absorvendo com o olhar aquela extraordinária ( embora ao observador comum parecendo fraca ) árvore ficamos com vontade de ser como ela: continuar altivos, sobreviventes, fazendo das palavras ( recordações ) no nosso corpo uma força que ninguém consegue apagar. Nem mesmo o tempo.
Ouvimos dizer" q 1 imagem vale + q mil palavras".Mas há palavras q alinhavadas num corpo incandescente,valem mais q mil imagens e constroem um trono d veludo para as sensações...
Ouço o Corpo e ele pede uma coisa, mas o ritmo do dia a dia e dos vários afazeres fazem com que ele só não mande!
Enfim ritmos da Sociedade...
Ou citando :" mal deste mundo é que os estúpidos vivem seguros de si e os sensatos cheios de dúvidas."
Bertrand Russel
E já agora também:"Nao queira ser como aqueles que passam metade da vida a dizer o que vão realizar e a outra metade explicando por que não o realizaram.
Lembrei-me agora do que dizia Schopenhauer sobre a Vontade: que ela nasce livre; sendo (só/logo) depois enquadrada numa categoria do pensamento (mais ou menos isto).
23 comentários:
Eu escuto. Por exemplo, quando faço uma noitada - seja ela de que tipo for - no dia seguinte o corpo grita-me com toda a força que tem.
Só a salvo das palavras. Porque do resto...
Por isso é que uma relação, ou um amor sem palavras são mais translucidos. Até que há um tempo em que tem de haver aquela palavra a mais, a que dita o efémero.
Às tantas é por isso que há uns meses decidi por o meu corpo a salvo das palavras que eram debitadas na televisão e decidi encostar o aparelho.
Lá tive que inventar os jantares dominicais com a mamã, para ver o unico programa que sentia falta: os gato fedorento.
Deram-me conta que está para breve o seu regresso ao pequeno ecrã, inclusivé o tinha anunciado aqui no blog. Para que dia da semana é que vai ter que passar a ser o jantar semanal com a família? :P
Boa noite.
Um amigo disse-me há pouco tempo algo de semelhante: "Só os corpos não mentem, as palavras são mentirosas."
Percebo, mas não sei se concordo...há corpos que mentem e palavras que não o fazem...
FDL,
Não o escutas, se escutasses, não repetias noitadas:)
Aquiles,
Não te entendi, homem.:)
Por que razão um amor sem palavras é mais translúcido?
Porquê o medo das palavras?
Vamos todos amar mudamente?:)
Prof,
isso é uma boca para "aquelas" que cuidam o corpo e têm o cérebro pior que uma alface? (não é piada distrital :))
Hoje no AXN deu uma reportagem sobre os Fading Commission! Até então já tinha visto o resto da banda (num bar no porto) menos o seu filho! :)) Falha colmatada!
Pedro,
Em televisão nunca se sabe, mas foi-me dito que o primeiro programa iria para o ar a 5 de Outubro por volta das 22.30 na SIC-Mulher.
ANTES QUE ANOITEÇA a voz de timbre transmutável ajusta-se ao diálogo, ao tema, ao assunto, à situação. É uma voz de contextos, mimética. O olhar ligeiramente alucinado, a espaços. As mãos têm a forma e a dimensão de carícias esquecidas, prudentemente evitadas. O porte altivo. Um friozinho incómodo e insistente percorre-me. Pergunto-me quem é o estrangeiro. Não o reconheço. Um eterno espanto invade-me. Sinto que a adolescência permanece em mim encasulada, latente como um vírus em hibernação. Penso em serpentes. Reais e míticas. Uma letargia acomoda-se no medo que chega e se sente à vontade como presença antiga. As minhas mãos não podem tocar-te antes que anoiteça. Bebemos água. Redentora. Mais um sinal de fogo. O sofá do filho está vazio. Na cama dorme a ausência que já nem o é. O homem foi exilado ad eternum. Talvez proscrito. Se há coisas que nunca soube fazer foi amar como quem cresce, naturalmente. Não se toca em estátuas. Não foram feitas para serem tocadas. Contempla-as. Pus-me mansamente a contemplar o homem que se enroscava em posição fetal no sofá vermelho da sala. E tudo regressava com despudor e um à vontade natural. Vieram-me à memória as bilhas de barro da infância por onde a água escorria fresca e com gostinho a argila. Os bordados de seixos nas bilhas de barro de Niza. Tudo. O homem era o gato negro, era o filho-assombração. Não, eu queria-o estrangeiro. Apenas. Ele não me via. Olhava a pantalha. Eu olhava para trás. Que bom viajar na barca que nos conduz onde tudo é memória e mito porque o passado é sempre fábula e labirinto. Antes que anoiteça. E o gato enroscou-se, ocupou o seu território. E o filho pôs a melena a jeito da carícia. Parvamente, deixei-me invadir por um doce remanso e pus-me a amá-lo.
Em silêncio.
O problema é mantê-lo liberto das palavras, das ideias feitas e da necessidade estranha de encontrar uma razão para justificar o que se sente!
O que se sente é para ser vivido, não para ser explicado! E o corpo que o diga...
Bom dia.
Thora,
I"sso é uma boca para "aquelas" que cuidam o corpo e têm o cérebro pior que uma alface? (não é piada distrital :))"
Tu já escreves isto só para me provocar, diz lá...e eu caio sempre na provocação:))))
Ainda se não fizesses referência a "piada distrital", eu até podia deixar passar...
E "aqueles" que cuidam do corpo???
Cada vez há mais...e há algum "mal" nisso?
Ai, miúdo, esses preconceitos...:))))))))) Looool
Nelson,
Tanta gente contra as palavras...
Eu não, gosto delas e fazem-me falta:)
Justificar o que se sente, não faz sentido, mas verbalizar, por que não?
Sei bem que por vezes não são necessárias palavras...
«Escuta o corpo, ele não mente.»
O corpo, somente?!
Era bom, era. O meu neste momento insiste para que volte para a cama, mas...
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Já que o diz, terei, noutros contextos, mais "cautela". :)))
Ontem, por razões profissionais revisitei os locais da minha infância no Porto. Está tudo tão diferente... desde a velhinha Dionisio Santos Silva até ao Hospital de S. João. A saudosa "Viela da Bouça" e a vegetação que a rodeava - oásis rural no centro da grande cidade - deram lugar a um grande centro comercial, a estações de Metro, Instituições de Ensino, etc. Mas algo ficou, algo que passa despercebido a quem hoje, de passagem, pousa o olhar naquele espaço. Uma árvore, solitária e orgulhosa mantém-se irredutível desde esses tempos, como se fosse um fantasma que teima em aparecer, em não deixar o nosso mundo, em nos lembrar o passado, a história daquele lugar. Na sua casca ( no seu corpo ) cicatrizes que são palavras no seu sentido literal, frases de amor que o tempo não apagou, afagos verbais indeléveis que a vida pode ou não ter deixado esquecer. Palavras que trazem imagens do que já passou, do que não volta, mas que ficou gravado, fotografias de vida naquele corpo que nos teima em dizer: "Sim, já vi passarem por aqui muitos como tu... vi os seus risos, os seus choros, as alegrias e as mágoas, as vitórias e as perdas, e ainda estou aqui, contemplativa, com estas palavras escritas em mim, que fazem do meu corpo um pouco de ti e de todos como tu". Absorvendo com o olhar aquela extraordinária ( embora ao observador comum parecendo fraca ) árvore ficamos com vontade de ser como ela: continuar altivos, sobreviventes, fazendo das palavras ( recordações ) no nosso corpo uma força que ninguém consegue apagar. Nem mesmo o tempo.
Claro, a somatização...
Ouvimos dizer" q 1 imagem vale + q mil palavras".Mas há palavras q alinhavadas num corpo incandescente,valem mais q mil imagens e constroem um trono d veludo para as sensações...
Ouço o Corpo e ele pede uma coisa, mas o ritmo do dia a dia e dos vários afazeres fazem com que ele só não mande!
Enfim ritmos da Sociedade...
Ou citando :" mal deste mundo é que os estúpidos vivem seguros de si e os sensatos cheios de dúvidas."
Bertrand Russel
E já agora também:"Nao queira ser como aqueles que passam metade da vida a dizer o que vão realizar e a outra metade explicando por que não o realizaram.
B.Franklin
Andorinha,
Talvez não me tenha feito entender, mea culpa, mea culpa!
Apenas as palavras que reflectem as ideias feitas e da necessidade estranha de encontrar uma razão para justificar o que se sente!
Há outras palavras que bem nos fazem, à alma e muitas vezes ao corpo!
Olá a todos...
O corpo nunca estará a salvo... por isso é que ele é verdadeiro mesmo quando mente... com ou sem palavras à mistura.
Há verdade no discurso do corpo e corpo na verdade do discurso.
Animais sim, animais sempre, mas ruminando...palavras pr'a cá e pr'a lá...
Lifepassenger,
Como te compreendo. Quantas vezes o meu corpo só me pede uma coisa, preguicite, e eu tenho que lhe dizer que não:)
Quanto às "realizações" é melhor propormo-nos objectivos realizáveis para não corrermos o risco de que aconteça o que diz B. Frankin
Nelson,
Mea culpa porquê?
A "culpa" pode ter sido minha...
Apenas clarificaste e estamos em sintonia:)
Andorinha
Por isso disse "mea"... um trocadilho com "meia"... meia culpa minha, meia culpa tua! :)
Gosto mt do seu cantinho e de o ouvir na antena 1. E continue a escrever, ja li um livro seu e fiquei fascinada.
Refexão k da mt k pensar. ;-)
Nelson,
:)
essa entrou mesmo...
ou seja, entendo bem!!
/ sem palavras...:)
/ vou copi�-la algures
pra ver
at� onde
me leva...
...
Lembrei-me agora do que dizia Schopenhauer sobre a Vontade: que ela nasce livre; sendo (só/logo) depois enquadrada numa categoria do pensamento (mais ou menos isto).
Enfim, lembrei-me!
:-)))
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