segunda-feira, setembro 07, 2009

Voto útil.

Um certo sabor a redundância... Pois, não é o voto sempre útil? Bom, no sentido de eficaz, apenas se a Democracia funcionar, lembro-me de votações para a Presidência da República em que o inenarrável Almirante Américo Tomaz entusiasmava de tal modo os apoiantes - estrategicamente colocados... - que acabava a ganhar por 110% em não poucas mesas de voto:). Mas quando não existem tais "excessos de zelo em defesa da pátria" não se justifica a pergunta?


Útil para quem ou quê? Parece-me consensual que o partido beneficiado por "aquele" boletim o considera muuuito útil, afinal a voto dado não se olha ao dente! Mas a expressão tornou-se um êxito de bilheteira por traduzir uma realidade diversa - o voto útil resulta da análise fria das possíveis geografias pós-eleitorais e de uma decisão que não coincide com o primeiro e espontâneo movimento da alma que comanda a mão, patroa da esferográfica cuja tinta vai colorir um anémico quadradinho, ao abrigo de uma cortina que já viu melhores e mais limpos dias.


Ou seja: alguém que se inclina para a abstenção, o voto em branco ou em determinado partido, molha o dedo em água ou cuspo e averigua de onde e para onde sopram os ventos políticos; franze o sobrolho; cofia a barba ou acaricia pele lisa; suspira; e decide que valores mais altos se alevantam.


Em geral, o episódio não prima pela originalidade - trata-se de evitar que a vitória bafeje quem não a merece ou - sobretudo... - ameaça transformá-la numa realidade mais penalizante do que a actual; algo do género "para melhor está bem, está bem, para pior já basta assim". Mas também pode tratar-se de uma avaliação dos votos necessários para eleger mais um deputado por este ou aquele partido da nossa área política, à luz dos resultados das últimas eleições. Neste caso ouve-se muito a expressão "não desperdiçar o voto".


A política portuguesa é deprimente a vários níveis, escolhamos um - raramente o poder é conquistado pela sedução exercida por um programa político, oposição bem feita ao longo de uma legislatura ou mesmo a confiança despertada por um líder. Em Portugal, o mais das vezes, não se ganham eleições, os outros perdem-nas. Tal facto explica a postura expectante e silenciosa da oposição, no fundo perguntando simplesmente "não estão fartos deles? Nós somos a alternativa!".


(Em vários períodos ao longo dos últimos trinta e cinco anos a palavra "alternativa" aplicada ao PS e PSD justificaria uma análise mais aprofundada...).


Como funciona então o discurso apelativo? Mais ou menos assim - "só o PS e o PSD podem formar Governo, gente, isto é entre nós e eles!". (Uma formulação mais económica e narcísica da questão leva a reduzir as eleições à escolha de um Primeiro-Ministro...). "Alguns de vocês não gostam do que fizemos no Poder ou do que nos propomos fazer com ele, mas já imaginaram a consequência do vosso amuo se traduzir em voto alheio? "Eles" ganham! E por culpa vossa...".



Deixemos a evidente tonalidade chantagista do discurso e concentremo-nos nas consequências: se acontece navegarmos nas águas de um dos dois maiores partidos, as possibilidades de escolha são inexistentes. (Poderão contrapor que as angústias também:)). Se aplaudimos a sua prática votamos neles porque merecem; se estamos afectados pelo célebre amuo também votamos, para impedir a vitória do outro. No limite, chega a ser um desperdício caro e fatigante a existência dos outros partidos, da abstenção e do voto em branco! Tudo se poderia reduzir a um tête-à-tête entre o PS e o PSD, melhor dizendo entre o Engenheiro Sócrates e a Dra. Manuela Ferreira Leite, imagem que me delicia:).



Nesta argumentação surgem palavras como estabilidade, governabilidade, arco do poder, etc..., que seguramente voltaremos a encontrar. A basezinha, creio, é a seguinte: um voto de acordo com a nossa consciência também pode ser muuuito útil. Para quem? Para nós:). Que também contamos!, é bom não esquecer que fazemos parte do povo que todos os políticos juram ser quem mais ordena, nunca o Zeca imaginou ter coro tão afinado a acompanhá-lo:(. Dos dois principais partidos, o que perder melhor faria em pôr-se ao espelho, em vez de culpar a irresponsabilidade de quem nele não votou.

P.S. O Gonçalo tem razão, o PS sempre foi a referência familiar, desde o meu Avô. Mas eu esperneio mesmo muito e por isso já votei em branco e noutros partidos, só a abstenção me está vedada:). Quando isso aconteceu, fiquei triste. Mas sem remorsos...

Da próxima vez falarei de cenários pós-eleitorais.

17 comentários:

andorinha disse...

Atão que é isto?
Ninguém comenta????!!!!:)


"A política portuguesa é deprimente a vários níveis..."

Eu só substituiria a palavra "vários" por "todos":)
É, concordo, é de muito baixa qualidade, é feita ao sabor do vento, sem ter verdadeiramente um qualquer fio ideológico condutor, as pessoas entretêm-se em guerrilhas pessoais e em angariar benesses para os "seus".

Voto útil?
Nunca o usei, espero nunca ter que o vir a fazer; votei sempre por convicção ideológica e quando não foi o caso, em branco.

No panorama actual, o voto útil é à esquerda. A esquerda para mim resume-se a BE e PCP. Espero que cresçam os dois, é importante para o futuro deste país. Talvez cresça mais o BE, o PC tem um eleitorado já muito estabilizado.

"Mas também pode tratar-se de uma avaliação dos votos necessários para eleger mais um deputado por este ou aquele partido da nossa área política, à luz dos resultados das últimas eleições. Neste caso ouve-se muito a expressão "não desperdiçar o voto".

Em cheio! O meu voto não será desperdiçado:)

Estou fartíssima desta bipolarização. O PS é evidente que teve uma política desastrosa a variadíssimos níveis; o PSD, minha Nossa Senhora, Deus nos valha:))))))
Iríamos retroceder imenso, sobretudo a nível de direitos humanos (não me ocorre outra expressão...) refiro-me a questões como: o casamento e a adopção por parte de casais homossexuais, o regime das uniões de facto, a procriação medicamente assistida, etc...
Esta fiquei a saber ontem no debate Louçã/Ferreira Leite.
Nem me tinha ainda apercebido que a mulher é contra...

Enfim, o PS está fora de questão, não sou masoquista, tenho memória e nunca poderia votar em quem tanto fez para tirar toda a dignidade profissional a uma classe que devia merecer muito mais respeito e consideração.

E daí não sei...agora vão passar a tratar-me com mais gentileza, talvez seja um caso a pensar:) Loooooooooool
O tipo deve pensar que somos idiotas!
Quanto ao PSD está nos antípodas de tudo aquilo em que acredito.

E como já alguém perguntou (penso que há por aí um cartaz do BE que põe essa questão...digo, penso, porque raramente olho para cartazes, já não suporto tanta mentira e demagogia na maior parte deles:) não estão fartos de 18 anos a serem governados pelas mesmas pessoas e pelas mesmas políticas?
Não foram essas políticas que nos conduziram ao pântano onde estamos?
Só a ruptura será eficaz e nos poderá levar a algum lado.
Não me respondam que o BE não tem propostas, que é só um partido do contra-poder e do "bota-abaixo".
Não é. Tem propostas que me parecem fundamentadas e realistas.
Resultarão na prática?
Não sei, mas só o poderemos saber se tiverem oportunidade de as implementar.
Como, não sei...mas isso já tem a ver com o post seguinte - cenários pós-eleitorais.:)

Só mais uma coisita: não me venham também com a história de que sem uma maioria consistente do PS ou PSD o país fica ingovernável.
Ingovernável está ele agora...

Portanto, pensar "útil", é pensar à esquerda. O caminho será por aí...

Ufa!!! Desculpem o testamento, mas entusiasmei-me:)))

thorazine disse...

A minha luta agora é: "uma realidade mais penalizante do que a actual" Vs "votos necessários para eleger mais um deputado por este ou aquele partido da nossa área política"..

thorazine disse...

Andorinha,
"Iríamos retroceder imenso, sobretudo a nível de direitos humanos (não me ocorre outra expressão...) refiro-me a questões como: o casamento e a adopção por parte de casais homossexuais, o regime das uniões de facto, a procriação medicamente assistida, etc..."

Uiiiii...só de imaginar o Manuel Pinto Coelho de volta ao IDT.. :(((

Julio Machado Vaz disse...

Thora,

Exactamente, direitos humanos, um dia destes falaremos da utilização perversa do adjectivo "fracturante".

goncalo disse...

Cara Andorinha,

Olha que tenho dois primos que são professores e que já me anunciaram: "vamos votar Manela!..." e ainda acrescentaram - "Gonçalo!, o PSD tem de estar unido!..." O argumento é simples: só o PSD pode tirar o PS do poder. No meu caso, a referência familiar, também desde meu avô, é o PSD. Também já votei noutros partidos, mas a tendência é sempre a mesma...E no caso que temos pela frente, confesso que me sinto mais confortável do que em outras ocasiões.

goncalo disse...

Ó Thora,

É injusto parodiar ou zombar, como gosta de dizer o Dr.Portas, com um homem que fez do combate à liberalização do consumo de drogas a luta da sua vida...

andorinha disse...

Gonçalo,

Acho bem, acho que os professores devem votar em qualquer partido excepto no PS.
Não estou a ser irónica.
Mas votar no PSD é superior às minhas forças:)))
Até porque não sei que política tem o PSD para a educação, não faço mesmo a menor ideia.
Sei de algumas posições que MFL tem transmitido a esse respeito, mas não as levo a sério, ou seja, não acredito nelas. São apenas uma forma de tentar capitalizar o descontentamento dos professores.
Ela diz o que pensa que nós gostaríamos de ouvir.
Não vou por aí...
E não só por isso, por tudo o que disse acima.
Ao fim e ao cabo, todos temos as nossas "famílias" políticas.

Respeito as opiniões dos outros, mas a minha neste caso é inabalável.
:)

Há imenso tempo que não falava contigo...e sentia-te a falta, acredita.

Um abraço.

O Moscardo disse...

Ora bibas...
há muitos sistemas de voto e há muitos sistemas eleitorais. A goegrafia política Portuguesa seria muito diferente se "pontuassemos" os partidos, dando mais pontos ao preferido, e depois dando menos sucessivamente... Ou se tivessemos votos de primeira e segunda volta, em cada círculo (ex: França); se tivessemos um só circulo uninominal (Portugal vota assim, para parlamento europeu!), ou se cada distrito elegesse numa base "winner takes all", como nos Estados Unidos...
Mas o nosso sistema é o de um voto simples, com eleição por distrito, numa base de método de Hondt, que não é proporcional, e sem "círculo" nacional... e isso traz consequências...
Um exemplo: se tivessemos 150.001 mil votos expressos num distrito, e 3 deputados... e o partido A tivesse 30.000, o B 20.000, o C 10.000 e o partido D 90.001, o sistema de Hondt ditaria: 3 deputados para o partido D, 0 para todos os outros. Ou seja: 60.000 votos seriam inutilizados, enquanto 90.000 elegiam os 3 deputados do círculo.
votar em círculos como V. Real, Guarda, Bragança, Castelo Branco, Évora, Beja, etc... implica que uma boa parte dos votos é ... inútil em termos parlamentares... Ou seja: não serão representados na legislatura seguinte! Em geral, apenas 2 partidos elegem deputados nestes círculos...
Por isso: faço contas. Votar em Lisboa é diferente de qualquer outro distrito. O Porto também é "unico". Braga e Setuball intermédios...
Um exemplo: votar MMS ou PCTP-MRPP, ou até MEP, fora de Lisboa, é de facto um voto totalmente desperdiçado, pois não tem hipótese de eleger deputado... Mesmo votar, por exemplo, CDU em na Madeira, ou votar CDS no Alentejo, ou votar BE em Vila Real, são votos que nunca se converterão em representação... e nós vivemos numa democracia representativa...

Um voto é, pois, uma expressão de vontade, mas também algo que podemos escolher, ou não, ser meio de eleger representantes... E por isso é razoável fazer contas... no meu caso, é mais do que provavel que venha a ter 4 votos diferentes reservados aos próximos 4 boletins (legislativas, Camara, Assembleia Municipal, Junta de Freguesia)...
www.osocratico.blogspot.com

thorazine disse...

Gonçalo,
Parodiar é pouco!
O Jimmy Carter, nos idos 70, disse algo do género: "as políticas de combate às drogas não devem provocar mais danos que o consumo das mesmas".

A política seguida pelo Dr. MPC segue esse rumo, sustentando-se na coacção do consumidor (a todos os níveis) em vez da sana redução de danos. Basta ir ver os números: estados com políticas liberais e programas de redução de danos tiveram uma drástica redução do número de utilizadores das drpgas chamadas "pesadas", uma diminuição da criminalidade associada ao narcotráfico, um aumento da consciencialização por parte da população dos efeitos e perigos das substâncias , uma diminuição das overdoses e acidentes relacionados com drogas, etc...

Depois, a sua maneira de recrutar soldados para a sua "War on drugs" não é a mais digna. Como ainda há poucos dias escrevia por aqui, ele usa o seu título de doutor para distorcer informação científica e desta forma dramatizar os malefícios e os perigos. Faz vídeos para o youtube, vai aos programas da manhã, anda na recruta da guerra que já foi perdida há muitos anos! Eu obviamente concordo que há substâncias que actualmente ainda são um problema na nossa sociedade, mas a coacção dos consumidores nunca irá ser a via de o resolver.

Por fim, e esta é uma opinião pessoal, acho estranho a ideia de alguém que tenta encostar os consumidores à parede e que ao mesmo tempo lhe "vende" uma porta (o Dr. possuí várias clinicas de desentoxicação). Se calhar estou a ser injusto, e o Dr. MPC acredita de corpo e alma nas suas políticas, mas como vivemos numa democracia não me reservei ao silêncio.. :))

Andorinha,
acho que aos profs que virarem à direita lhes vai sair o tiro pela culatra. Só vi a Dr. MFL a dizer que é contra, nunca a falar de o que vai fazer quanto à avaliação de profs. Aliás, eu acho que ainda só ouvi dizer que é contra tudo que é socratiano.. :S

PS - Daqui a pouco tou a ver a Ana Drago a virar-se para o lado e a mandar dois tabefes ao Santos Silva nos P&C, o gajo não se cala..:))

O Moscardo disse...

Caro JMV: decidi dedicar-lhe um POST completo (com quadros e exemplos...) ... www.osocratico.blogspot.com.

Abraços de um seu admirador que o segue desde o Sexo dos Anjos, com o Aurélio Gomes, na Rádio Nova (sim, há bem mais de 20 anos... mas ainda tenho as cassettes!), e é amigo de sobrinhos (Pedro e Miguel) e de um dos filhos!

O Moscardo
twitter: omoscardo

Julio Machado Vaz disse...

Moscardo,

Já lá fui, grato pela gentileza:). E ainda bem que é amigo da tribo, tirando eu é tudo gente muito recomendável!

andorinha disse...

Thora,

Eu não posso obrigar as pessoas a votarem todas no mesmo sentido que eu, pois não?!:)))
Em relação a MFL e a este assunto já disse o que penso, portanto...

Em relação a Manuel Pinto Coelho nem me pronunciei porque não fazia a mínima ideia do que ou de quem estavas a falar...:)))))))
Lembro-me de ter visto esse video, como murcónica aplicada que sou:), mas não associei o nome à pessoa.

Jinhos, miúdo.

Porta-te bem:)

goncalo disse...

Thora,

A questão aqui é que conheço pessoalmente o MPC, um tipo porreiro, por sinal. Mas, obviamente de que não é de simpatia que estamos a falar. Em relação à questão de fundo, sou tentado a adoptar o princípio mais liberal de que aceito tudo o que não atinga a minha liberdade individual. Parece vago, mas francamente tenho dúvidas de que se aplique nesta matéria a velha ideia: "Máxima Liberdade, Máxima Responsabilidade..."

thorazine disse...

gonçalo,
a questão é que tudo aponta que a restrição da liberdade de acesso não resolveu, aliás só piorou, este problema. Se o acesso às drogas fosse liberalizado acabava-se com mais de 90 % do mercado negro, anulava-se crime financiado pelo narcotráfico, eliminava-se os problemas associados às adulterações das substâncias, etc. A proibição foi quem os criou. Basta olhar para a história: os primeiros gangs (do moon shining) e as primeiras intoxicações por bebidas adulteradas surgiram poucos meses depois da entrada em vigor da Lei Seca.

Obviamente que não falo de uma liberalização repentina mas sim uma lenta integração, de modo a ser possível "formar" a sociedade a lidar com as substâncias.

Até a nivel económico iria ter benefícios, o nobel da economia Samuelson escreveu uns textos muito bons sobre Economia do Vício.

E só para veres como toda a tentativa de controlo é em vão, há cerca de dois anos intensificou-se um novo mercado: "grey market". Dentro de muita coisa, há um produto chamado "Spice", que se encontra nas ervanárias e headshop's cá em Portugal. É vendida como incenso, mas na verdade é um eficaz substituto da marijuana. Analises preliminares (saidas em julho deste ano) confirmam a presença de canabinoides modificados que foram sintetizados e camuflados na ervas, que para além de serem de dificílima detecção são legais em portugal pois legalmente nem existem! O pior: podem provocar overdoses em quantidades 1000 mais baixas que a verdadeira marijuana! :( Só com o "jogo aberto" nos poderemos preparar para o futuro.

Prof,
http://www.youtube.com/watch?v=iaZBSZ0xbfk

Educação sexual? Para quê? O putos já sabem tudo..

thorazine disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
thorazine disse...

Moscardo,
muito obrigado por essa explicação. Informação deveras importante para as minhas dúvidas.. :))

Su disse...

estou deprimida...............
pois bem, fiquei muito mais

mas duma coisa estou cada vez mais certa, não, não vou fazer yoga, vou tentar uma carreira de tiro


jocas maradas....sempre

pstt, amei aquele "tête-à-tête ":)))