quarta-feira, junho 18, 2008
Em território "daliniano".
Não é raro os meus alunos sublinharem a frequência de slides de Dalí nas aulas. É verdade. E no entanto nunca "atravesso" as obras, o personagem por trás delas é-me antipático, na sua obsessão com a mais longa obra a que se dedicou - a própria imagem. Cadaquès, Port Lligat, Creus, o pano de fundo de muitos quadros está ali, na costa retalhada com fúria, que se abre para um mar plácido. Não é o caso dos meus favoritos - A Tentação de Santo António e A Persistência da Memória. No primeiro, imagina-se mal como fé e cruz poderão proteger a virtude de um simples homem contra elefantes aracnídeos que se preparam para o soterrar por baixo de prazeres de carne e espírito; no segundo, os relógios, a quem entregámos o privilégio de substituir Estações, Sol e Lua na marcação da cadência do tempo, "escorrem", flácidos, para o chão. A memória não é do reino deles...
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
24 comentários:
"Cadaquès, Port Lligat, Creus, o pano de fundo de muitos quadros está ali, na costa retalhada com fúria, que se abre para um mar plácido."
Se tudo correr como previsto, o mais tardar em 2009, é uma das coisas que gostava de fazer - visitar estes lugares e passar dias inteiros a fazer uma das coisas que me dá mais prazer nessa vida ~~ " consumir " a arte de Dali !
"Tenho um gosto incomensurável pela vida. Tenho simpatia pela morte. Depois do erotismo, é o tema que mais me atrai". Salvador Dalí
Dalí era Mefistofélico. De noite, talvez cuzasse uma leitura eminentemente escatológica com os livros Kaplanianos. A antipatia devia resultar disso.
A seu pai, entregou um saco com esperma, dizendo-lhe de seguida que a sua conta estava saldada. Não ficou a dever nada a ninguém. A mim, nem simpatia deve. Po(a)sso bem sem a sua simpatia; não passo bem sem ver as suas pinturas, esulturas e desenhos.
Caro professor, “atravesse” as obras! E quando resolver fazê-lo, deixe-me presenciar. Já tinha vontade de assistir às suas aulas, mas agora… :)
Cumprimentos dalinianos.
"E no entanto nunca "atravesso" as obras, o personagem por trás delas é-me antipático, na sua obsessão com a mais longa obra a que se dedicou - a própria imagem."
Concordo em absoluto; de facto uma coisa é a sua obra, outra será aquele homem de exuberante e sofisticado bigode que não esconde a sua sempre vaidade e onde o exemplo maior disso foi a forma deliberada e intensional como construiu a sua fundação ainda em vida.Mas a estes homens tudo se perdoa quando se admira não sem alguma estranheza, a imensa criatividade e os voos ora de interpretação e profundidade humana ora de enlevamento estético e espiritual para onde a sua obra o levou...
Houve um tempo que o quadro (poster) da Persistência da Memória me encantou e acompanhou ca em casa e claro que Dali tambem sabia que o tempo permanece para alem de tudo inclusive muito para alem da sua própria memória...
O que são os homens! Um dia, na Feira do Livro, Lobo Antunes dava autógrafos. Pedi-lhe que autografasse o livro que comprara. Mal me olhando, respondeu que ainda não tinha começado a sessão e sugeriu que, entretanto, podia ir olhando para ele. Respondi-lhe que o via nos livros e essa era a visão que me interessava.
É assim que Dali me interessa. Retiro-o. Não o considero nos auto retratos explícitos. E estudo-o nos outros. E gosto dele ao exagero e por isso não sei que dizer de um percurso daliniano, senão que tenho inveja :) No Palácio do Freixo lembro-lhe os doces e misteriosos traços de lápis nos cabelos das mulheres, como se um enleio invulgar ali o prendesse. Ou a humanidade exposta e como que espantada de si nos braços desprendidos e arqueados em que todos nos revemos, na peça de ourivesaria do Cristo de S. João da Cruz; impressionam aqueles braços abertos, a postura tão de humano sofrimento... e estas peças pequenas, que não são sequer o melhor de Dali, dão-nos permissão a quê?
O tempo é a nossa marca. Não o dos relógios - que também tem o seu peso - o outro, no qual devimos e nos vamos tornando cada vez mais no que somos. E se memória não houvesse, ainda que o tempo existisse, não o saberíamos. Ora, o não saber é uma forma de não existência. Por isso, a memória é a forma última, e também a primeira, de não estarmos sozinhos. Fora dela, a solidão é absoluta; felizmente não se sabe.
Que Mnemosine sempre nos proteja.
Et, bon voyage
( o que é que Dali terá que tenha a ver com as Suas aulas ? não faço uma pequena ideia :( do que possa ter a ver ! )
Eu adoro tudo o que já vi de Dali ! as cores, a ousadia sem limite, a fúria da impressão, a elegância, o carisma, as escolhas, a paixão de si mesmo por si mesmo, o absurdo, o óbvio, o génio puro, em movimento, tanta, tanta coisa ~~
O Homem em si, apesar de o achar um rosto bonito de Homem, não me diz nada de especial,
nem nunca me deu para " investigar " melhor a sua pessoa!
Chega-me o prazer que me dá o gozo de apreciar as suas obras, de sentir os meus olhos divertirem-se com aquele festival de cores que me agradam muito, e a forma como se conjugam e interagem com os temas e as formas ~~ são deliciosas !
Para além da presença dum "ESPAÑA", numa presenteada parede cá da casa, a minha última visita ao DALI foi no Palácio do Freixo...A viagem foi programada em função desse encontro com a sua loucura...soube tão a pouco!... Só "desamuei" quando me mimei pousando o olhar sobre um lindo rio que iluminava aquele entardecer!
Durante anos "Laguna" era o meu perfume de eleição...Hoje penso se seria o sedução do aroma ou a marca "Dali" a determinarem a minha preferência! O que é certo é que parece ter saído do mercado.
:-( !
Gosto muito de vários quadros de Dali. Mas perante a profusão da sua obra e a enorme extravagância dos seus gastos, haverá algum fundo de verdade no livro do crítico e vendedor de arte Stan Lauryssens? Este, acusa-o de ter encomendado peças às quais dava, apenas, uns retoques finais! E de que, juntamente com Gala, incentivava transacções de obras falsas!
A ser verdade, as obras de Dali não perdem qualidade por isso. Confirmam, tão-só, a falta de qualidade do homem-artista. Que para mim é, também, antipático.
"No Palácio do Freixo lembro-lhe os doces e misteriosos traços de lápis nos cabelos das mulheres, como se um enleio invulgar ali o prendesse."
Cabecinhapensadora,
de repente, ao ler o seu comment, só me apetecia ouvir esta canção* que um dia destes tive o prazer de voltar a ouvir, logo a seguir a um Amor é... dominical :)
http://br.youtube.com/watch?v=GTuHeCjww_o
Estou mesmo a vê-lo a usar Dali, Professor:)
Mas também o via bem - mais ainda! -, a mostrar uns Chagall ou uns Magritte (pano para mangas…) Ou até Klimt, na fase pós dourada (na mouche:))
- Mas para quê mandar palpites?
Realmente cada coisa emociona à sua maneira pessoas diferentes.
E a arte não é de facto um catálogo de … prêt-a-penser:)
"Erro crasso, as palavras e vidas destes homens lembram-nos bem melhor que o sonho de Cristo era possível."
"No primeiro, imagina-se mal como fé e cruz poderão proteger a virtude de um simples homem"
Resta saber professor se estamos no campo da santidade ou da neurose?
Fernando
Pilar
Tambem estive na exposição do Palácio do Freixo e durante horas lá o tentei interpretar mas sempre com a sensação de que ficou imenso por entender daquilo do que Dali queria expressar...
Mas em pintura (nesta exposição eram mais desenhos) assim como noutras manifestações de arte nem sempre o mais importante é o que o autor diz ou quer dizer mas sim o que provoca em nós quando os admiramos ou detestamos...
Laura
Por acaso tambem acho que o Dali "casa" bem com o Professor e por razões óbvias, mas e igualmente penso que haverá outros que se lhe ajustam bem melhor ou pelo menos por motivações diferentes e quem sabe bem mais subtis:)...
Salvador Dali - personalidade ascorosa ou não ?!
Como fascista que era, Salvador Dali deu-se ao luxo de denunciar o cineasta surrealista Luis Buñuel como ateu, o que levou Buñuel a ser afastado da sua posição no Museu de Arte Moderna de Nova York e, posteriormente, a constar da lista negra da indústria cinematográfica americana.
Com a eclosão da Guerra Civil de Espanha, Dali fugiu. Após o seu regresso à Catalunha, já após a Segunda Guerra Mundial, Dali tornou-se muito próximo de Franco, chegando a felicitá-lo por "limpar a Espanha das forças destrutivas" e a elogiá-lo “pela morte dos presos políticos".
Salvador Dali - um grande dilema para quem não consegue separar o homem do artista.
Como ignorante na temática em causa ouso perfilhar da opinião, que é indissociável o ser humano da sua obra seja em que campo for. Como no caso em questão: será possível dissociar a temática onírica nos relógios moles de a "Persistência da Memória" do próprio Dali?
Bom dia maralhal.
Gosto dele! Gosto de "loucos".
Harry Haller, bons olhos te vejam
:)
Uma vez alguém na rua lhe perguntou...
"Você é Dali?"
ao que retorquiu
"Não, não, sou daqui. Nasci aqui a uns 500 metros"
;-)
...um óptimo Verão per tutti
...abreijos
Obrigada, Oui! às vezes há sintonias. A arte, duma forma geral, pasma-me. Como provavelmente acontece à maioria de nós, diluo no bico do lápis, no repuxar da tinta, sou parte de. Penso que não é só Gala. São todas as mulheres, é a glorificação do feminino em todo o seu inalcansável e fascinante mistério. A escultura "mulher nua subindo a escada", não é uma homenagem, é mais um reconhecimento:)
Obrigada pela música. Fui ouvir :)
E Bom Fim de Semana! Com domingo. E ritos dominicais (mesmo à semana) :)))
Gosto de Dali. Percorri 500km num dia para me deleitar com a sua obra no P. do Freixo. Como pessoa abomino a ligação exacerbada ao franquismo e a outros ideais duvidosos. Mas como dizia a minha avó "nunca não há amores perfeitos"
Até breve
eu gosto dos meus delirios.....
nem sempre aturo os dos outros, mas, é como tudo na vida.....
tem dias.....de loucura extrema.....a minha:)
jocas maradas
a mim só me lembra Hitchcock e sessões de psicanálise...
porque será :)?
não sei comentar arte, apenas dizer se aprecio ou "não me diz nada"... das obras que conheço de Dali, gosto muito. Em Paris, visitei o "Espace Dali Montmartre"... fantástico!
Sr. Professor, do pouco que sei de psicologia, parece não oferecer dúvida, que a infância (principalmente os afectos) condicionam o indivíduo ... S.Dali teve um pai castrador, uma mãe que embora submissa, o incentivou na sua arte. Com 5 anos os pais levaram-no ao túmulo dum seu irmão que morreu pequeno, antes dele nascer, tendo Dali referido que Ele era a sua reencarnação!!
ora, Professor, nada disto me parece muito "saudável" ou "normal" numa criança de 5 anos!!!
quanto às várias formas de arte, graças a Deus, consigo separar o Homem do artista.... caso de Dali, Manuel Alegre...
boa semana
um sorriso :)
http://tv.rtp.pt/antena2/index.php?article=298
até pode servir de escada, mas não é,
como até pode parecer uma mulher nua e não o ser,
com um Génio assim, nunca se sabe...
Boa Semana!
hmn este comment passou com erros a mais :)
Enviar um comentário