Primeiro foi no carro - quase juro ter pressentido um sabor a triunfo na voz do locutor, "a Ministra pediu desculpa aos professores". Depois foi o rodapé, em marcha lenta para a minha esquerda, a jurar que o ramo de oliveira estivera presente na Assembleia da República, ao arrepio da reportagem. Da qual eu não precisava, assisti em directo. Quando alguém se "desculpa" pelo incómodo provocado aos docentes, acrescentando ser ele necessário em nome dos alunos, do País e da Escola, não estende a mão aberta e sim o indicador ex-cathedra. Os professores são definidos como quem apenas se preocupa com o seu bem-estar e ignora a rapaziada que devia justificar-lhes a existência profissional, a Instituição formativa que deles depende, a Mãe Pátria, no futuro liderada pelos mesmos que agora desleixam. Pedido de desculpas? Credo!, foi uma pífia tentativa de bofetada de luva encardida:).
Dou comigo soterrado por consciências tranquilas. Fátima Felgueiras, Victor Constâncio, Bruno Paixão, Manuel Pinho, Maria de Lurdes Rodrigues, John McCain - essa também! - e mais trinta e cinco mil personagens não encontram razões para vasculharem espelhos interiores. Seja. Mas em verdade vos digo - nem sequer exijo um pecador arrependido, já absolveria um que embalasse dúvidas, esses pormaiores que nos tornam humanos...
18 comentários:
Nos últimos tempos, vejo muita crueldade nos olhos da Ministra. Vejo muita arrogância nos olhos do 1º Ministro. Será defeito dos meus? Ou aquela crueldade tem raíz e é imposta por aquela arrogância?
P.S.- Como me sinto humano, confesso: não pecebo e, por isso, tenho dúvidas quanto à presença de McCain naquele grupo!
É óbvio que o Professor não teve 120 mil no seu consultório a pedir ajuda para as suas demências.
Terá tido alguns, que por força de constrangimentos que o Professor conseguirá entender bem, justificam a dificuldades de se envolverem de peito aberto, não com a Ministra da Educação, mas com certeza absoluta, com o esforço que lhes é pedido numa fase adiantada da sua vida.
Sobretudo quando esse esforço exige que apresentem planos de aulas a quem os vai avaliar. E a questão é essa caro Professor.
Repare-se no semblante dos professores reclamantes e faça-se uma regra de três simples. Verificar-se-á com facilidade tratar-se de professores que se instalaram no Sistema, de há muitos anos a esta parte e que reivindicaram para si o estatuto de intocáveis, a quem nada deve ser exigido. Estagnaram. Cristalizaram.E entraram em pânico quando lhes foi proposto que provassem o que valiam. E muitos deles valem muito pouco , creia.
Há sem dúvida pequenos aspectos a rectificar neste processo de avaliação, mas nada que justifique a rendição das propostas da Ministra da Educação, pela pertinência, honestidade e responsabilidade que encerram.
Serei um dos poucos que tem a coragem de ir contra a corrente, mas julgo estarmos perante uma classe docente desorientada e pouco escrupulosa neste momento, com as poucas devidas excepções.
Venha a avaliação! É necessária. Mas que seja uma avaliação justa, ponderada e responsável. Não a avaliação para a estatística ou para a imagem.Chegou ao nosso país a avaliação por objectivos... método testado e abandonado por outros países. A escolha dos objectivos a atingir é hilariante... para não lhe chamar leviana...
Tem razão Professor, não foi e não pareceu um pedido de desculpas. O que confunde é haver quem julgue que ser professor é instalar-se. Onde se instala quem todos os anos começa? porque breve os deixa quem teceu e partilhou o discreto jogo de aprender. Nessa oficina onde cada um se vai tecendo, nem sempre como quer, só o tempo é inflexível. Por ser tempo.Há qualquer coisa de artesanal no trabalho da Escola que não pode perder-se. Ao contrário de tantos, espero nos professores. Acredito neles. Ou desacredito da educação institucionalizada. Poucos têm, como eles, uma hipótese de trabalho com o princípio do futuro.
E nunca a parte pode ser tomada pelo todo.
BEM HAJAM OS PROFESSORES DESTE PAÍS.
Permita-me a intromissão Professor, já o leio há uns tempos sem nunca ter proferido uma única palavra neste espaço mas, hoje, ocorre-me o desabafo. Bastar-me-ia um pecador com consciencia de que o era, um ser humano com consciencia de que o superhomem Nietzschiano não tem existência prática em nenhum de nós e que o olhar para o buraco do seu próprio umbigo não é de todo a mesma coisa que contemplar o universo nos rodeia.
...be afraid, be very afraid...
...
...este "slogan" fazia parte do anúncio de um filme há muitos anos atrás... não me recordo do filme mas esta frase ficou para ser usada depois em muitas outras coisas...
...provavelmente, hoje, estamos numa dessas situações em que ela se pode, de novo, aplicar:
...be afraid, be very afraid
...
...algo (o quê, não sei) se está a instalar lentamente neste País que era, de brandos costumes.......
...reparo que foi desactivada a moderação dos comments
...na verdade, voltou a possibilidade de diálogo na hora
...grato, Profe
...
...abreijos
Concordo, consigo... mas chamar aquilo desculpas, professor??? Puro optimismo, se me permite. Iam carregadinhas de cinismo pouco disfarçado. Lamentável.
Canseiroso 1:08 AM
”Repare-se no semblante dos professores reclamantes e faça-se uma regra de três simples. Verificar-se-á com facilidade tratar-se de professores que se instalaram no Sistema, de há muitos anos a esta parte e que reivindicaram para si o estatuto de intocáveis, a quem nada deve ser exigido.”
Aleluia! Até que enfim que eu descubro alguém que consegue - com a maior das facilidades e com um profundo rigor científico / matemático (regra de três simples) - avaliar as competências e o empenhamento das pessoas a partir do seu semblante. Sinceramente, acho que a partir de hoje, nada mais será como dantes... ;-)
lobices 9:12 AM
”... be afraid, be very afraid...”
Sem dúvida, lobices. Aliás, não serão por acaso as palavras – várias vezes repetidas – com que ontem Sócrates ameaçou (sem aspas) a classe dos professores, avisando-os solenemente que a lei tem que ser respeitada, pois caso contrário... (subentenda-se).
Para validar a veracidade desta velada - mas concertada - estratégia de intimidação do governo, basta atentar no que o “moço de fretes” diz hoje sobre esta questão no seu blog Causa Nossa.
Mal vai um país cujo governo tem que ameaçar o seu povo para que a lei seja cumprida, ainda por cima quando sabemos que há por aí muitos protegidos que “cagam de alto e de repuxo” para a Lei. Em vez de pedir desculpas aos professores de um modo claramente enviesado, a Milú devia era implementar um sistema de avaliação que seja realmente digno desse nome e com o propósito único de melhorar, de facto, a Educação deste país.
Bom dia, gente:)
Belo post, Júlio.
Obrigada por mim e por tantos outros que estão a sofrer na pele os desvarios desta senhora.
Quanto às "desculpas" nem vou acrescentar nada, a ministra destila ódio por todos os poros.
O JFR tem razão logo lá em cima.
Cabecinha,
Gostei muito das tuas palavras.
E continua a acreditar...nós merecemos.
:)
FDL,
"Sinceramente, acho que a partir de hoje, nada mais será como dantes... "
Concordo totalmente contigo, amigo e companheiro.
:))))) Looooooooooooooooooooool
Essa foi "de morte"!
:)
fdl Às 10.54
Não o/a conheço mas acredito que as palavras para si como para mim deverão servir para muitas coisas, até para se brincar com elas.
Pois...se o semblante das pessoas que se estão a manifestar é sinónimo de cansaço, logo o resultado da sua acção como professores será igual a X.
É claro que o facto de terem semblante carregado e desgastado não será por si só sinónimo de incompetência. Mas a partir do momento em que se manifestam daquela forma com aqueles argumentos, só se pode aferir do seu desgaste pela inércia a que chegaram, infelizmente...
Percebeu agora?
Canseiroso 7:27 PM
Desta vez, as palavras serviram para eu brincar com elas...
Assinado: O "fora-de-lei"
Canseiroso
bem se vê que nunca deu uma aula, que não conhece os professores (senão de os ver na manifestação) nem o que foi a escola pública nestes últimos 30 anos. Acha que os 120 mil estão instalados? Onde? A ganharem, ao fim de 35 anos de carreira, de uma licenciatura e muitas formações, de andarem pelas terras de ninguém, 3000 euros líquidos? Só não entendo as suas palavras como ofensivas porque creio que, tal como as da ministra e do 1º ministro, traduzem desconhecimento (e no caso destes últimos incompetência).
Claro Professor que "aquelas " desculpas são de uma ironia terrível. Para bem do País? e então os professores não são país?
E se somos todos tão maus como será que se formaram as pessoas que em Portugal são quadros? foram todos para o Estrangeiro? No ensino secundário? E os ministros acharão que têm boa formação? Creio que acham mas muitos deles foram alunos de professores como eu que dei aulas desde 1973, com muita alegria e orgulho. Alguns dos meus alunos estão à frente de universidades deste país e detêm cargos importantes no estrangeiro. Será que não colaborei nem um bocadinho? são todos autodidactas? Só gostava de ver estes senhores a trabalhar numa escola pública, nos dias que correm, durante um mês. Talvez depois soubessem o que nos move e desanima.
É mister de um prof ensinar e não manipular papéis. Ensinar não é uma "assembley-line" por mais tecnologias que queiram impingir. Ensinar é uma arte. Arte que os politicos não têm ,e os ministros desconhecem. É o grande mal do ensino português. Somente teóricos que tentam desempenhar funções. Tentam e tentam...e nada conseguem apenas e somemte destroem e destroem... e já lá vão tantos anos.
As gerações as vindouras
pagarão... muito , oh se pagarão!
Mateso 11:21 PM
"Ensinar é uma arte."
Ensinar é uma arte ??? hehehehehe... eu pensava que era uma competência.
Bem, se calhar por causa disso é que a andorinha é uma verdadeira artista... ;-)
FDL (7.45)
Não percebi...
Não sei se é uma piada, uma provocação, podes esclarecer-me, amigo e companheiro?:)
Ensinar é uma arte, sim.
Uma competência? Sim, também, claro.
Uma não exlui a outra.
Aliás, quando as duas se conjugam temos os ingredientes para um bom professor.
andorinha 12:10 AM
Claro que era uma provocação... ;-)
Mas ensinar não é uma arte. Definitivamente.
Definição de arte: actividade humana ligada a manifestações de ordem estética, feita por artistas a partir de percepção, emoções e ideias, com o objectivo de estimular essas instâncias da consciência em um ou mais espectadores.
FDL (11.01)
Não me lixes, pá!:)
Achas que me sobra tempo para te aturar?!
:)))
Enviar um comentário