sexta-feira, julho 30, 2010

Sem as orelhas a arder!

Maria,

As vantagens de te escrever não escrevendo, o ralhete com que me brindarias...:). Porquê? Ora, o tema "proibido" - a morte. Que abominavas, por deslizar com facilidade para uma em particular; a minha. E tu recusando, teimosa, a evidência, eras uma viúva a prazo, com ou sem papéis assinados, "não gosto que fales disso". Este fim-de-semana outros falam e eu penso. O fim do António Feio na comunicação social. Gostava dele e respeitei a dignidade e o humor com que viveu o último ano e meio. Pai e Avô de amigos do peito aqui no Porto, os olhos marejados de lágrimas, nunca sei o que dizer, espero que tenham "ouvido" bem alto os meus abraços:(. Finalmente em marcha o processo de cremação do Velho, a angústia de o saber longe da sua Menina, como lhe chamava, vem-me roendo:(. Sabes?, à noite, em Cantelães, quando me ofereço uns minutos de recolhimento no corredor, uma sensação estranha aparece, de assustadora de início passou a reconfortante - (já) estou em casa. Um dia destes não fitarei o relvado, na esperança de ver surgir a minha raposita esfaimada, serei parte dele.
E a tribo crescerá, literalmente apoiada em mim:).

27 comentários:

Fora-de-Lei disse...

"Gostava dele e respeitei a dignidade e o humor com que viveu o último ano e meio."

Há pouco mais de um ano atrás parecia que António Feio conseguiria vencer a doença...

Ana disse...

Na comoção do Feio, as palavras do Professor, fazem-me, de novo, chorar.
Obrigada
Bom descanso (ainda MUITO longe de ser eterno) em Cantelães.
Bjnhs

Fora-de-Lei disse...

"Um dia destes não fitarei o relvado, na esperança de ver surgir a minha raposita esfaimada, serei parte dele."

Professor: isto refere-se a si, ou seja, às suas próprias cinzas ?

Julio Machado Vaz disse...

Fdl,

Cura em cancro pancreático continua a ser a abençoada excepção,creio:(.

Exacto, espero não matar as flores do prado:).

andorinha disse...

Tal como a Maria também não gosto que fale disso...
Associo imensa coisa e a melancolia invade-me...

Digo o mesmo que a Ana, descanse tranquilamente e deixe o relvado em paz:)

fiury disse...

Relva sintética já, não vá a rapozita fazer das suas ou comer ervas daninhas ou assim:)

Fora-de-Lei disse...

Julio Machado Vaz 12:26 AM

"Exacto, espero não matar as flores do prado:)."

O meu receio estava mais virado para a raposita, não fosse o bicharoco - qual Keith Richards - começar a snifar o dito pó... ;-)

jb disse...

será que a rapozita teria "razão" para tentar saciar a sua fome se você fizesse parte do relvado

Julio Machado Vaz disse...

Fdl,

O velho Keith até o pai snifou, ao que consta:).

Andorinha,

Ora, mulher, coisa ruim não tem perigo:).

Fiury,

E isso não sai caro?

Bartolomeu disse...

A morte, é talvez um tema mais abordado e temido que a vida.
À partida, parece-nos a procedência natural, mas, se remontarmos aos primórdios, concluímos que, para existirmos, foi necessário que houvesse morte.
Mas isso agora não interessa nada.
Ontem, assisti a uns retalhos televisivos, retrospectivos de entrevistas a António Feio.
Pareceu-me alguém consciente da importância da vida, naquilo que ela tem de interactivo com a sociedade, a família e o mundo, mas ainda, consciente da sua fragilidade da sua subjectividade e da sua finitude.
Enaltecer o espírito, a figura, a eminência daqueles que morreram, parece-me gratuito. Apesar das promessas expressas de fidelidade à memória, apesar dos registos em fita magnética, ou em discos rígidos, pesará o tempo, esse incomensurável apagador de imágens, de sons, de cheiros e de sabores. Aquilo de que é em si mesma a memória feita. Talvez por saber disto, António Feio pediu àqueles a quem queria, que vivessem cada um a vida que lhe estiver destinada viver e que não perdessem tempo a chorar a sua mudança de estado.
Ha quem consiga entender bem a utilidade da vida...

isabel disse...

Só começamos a viver - verdadeiramente, cada momento - quando aceitamnos - pacificamente - que vamos morrer ~~

Cê_Tê ;) disse...

;)
Eu também quero ser "cromada" mas atirada aos peixinhos. Vou parecer uma maré negra no Oceano Atlântico :P

Professor, aninhe-se no sofá, descalço, e pense em "comida" indiana ;)). (Ainda há-de ver enterrar muitas "marias" ;)))bjnhs

fiury disse...

Júlio,

entre o metro quadrado de sintética e o erbicida duas vezes ao ano mais a manutenção da bicheza que bai criar, prepare a sintética.

cêtê,

eu quero lá saber com o que vão fazer com o meu corpo depois de morta: desde que verifiquem que estou bem passada, não me ponham um terço nas mãos, um lenço preto na cabeça e me façam o buço tásse bem:) Acho que os meus filhos mesmo assim vão elaborar uma guest para o funeral:)
quando morreres abisa que num como mais sardinhas no s. joão:)

Cê_Tê ;) disse...

fiury, e tu achas que eu sou comida de SARDINHA!? ;)))

bom fim de tarde para todos
bjs

Unknown disse...

O António Feio era um homem inteligente e sensível, que teve tempo de fazer o seu balanço com a Vida. Tenho a certeza que está na Luz.

"Um dia destes não fitarei o relvado, na esperança de ver surgir a minha raposita esfaimada, serei parte dele."

Senhor Professor, não há dúvida que o senhor se acha... único, e que nós outros ficamos cá todos...
Enquanto por cá andar, veja mas é se não deixa a bichinha à mingua.

Fora-de-Lei disse...

Julio Machado Vaz 1:14 PM

"O velho Keith até o pai snifou, ao que consta:)."

E eu mencionei o nome do Keith Richards precisamente por isso, ou seja, com o receio que a raposa snifasse as suas cinzas. É que o pobre animal não resistiria a tamanha pedrada... ;-)

Mas para se libertar dessa sua "deprimente" ideia relativa ao relvado, melhor seria que o Professor tentasse "engodar" a tal raposinha ao ponto de fazer com que ela se tornasse uma visita diária e amiga. Vai ver que é possível, que não acontece apenas com o pessoal do National Geographic...

yes! my love! disse...

~~ ^0^ ~~

andorinha disse...

"Ora, mulher, coisa ruim não tem perigo:)."

Nunca fiando, nunca fiando, Júlio:)


Bartolomeu,

Bocelência faz observações pertinentes para variar.:)
Claro que estou a brincar contigo, pá...

Cêtê,

Também quero ser "cromada" e às tantas ainda te vou fazer companhia no Oceano Atlântico:)))

fiury disse...

cêtê

bai sonhando com tubarões, bai:))))

Cê_Tê ;) disse...

@andorinha, as minhas cinzas quero-as NEGRAS. As tuas poderão ser de qualquer cor;P Com tanta sorte o vento nesse sia há-de atirá-las para terra. ;)))
@fiury, estás a revelar os TEUS desejos, ehehe, não os meus: eu quero ser "comida" pelo fitoplâncton!!!
@FDL, pelo link que colocou bem se vê a verdade da sentença popular: lninguém é perfeito! ;P

fiury disse...

Cêtê

Num conheço esse:))),(No testamento explica isso bem, inda bais ter ao colo de um qualquer peixe-aranha), mas pelo nome parece-me uma opção muito fashion e ambientalista:)))Eu sou mais antiquada: num quero tubarões nem cinzas nem algas nem nada que dê muito trabalho e despesa;))); o destino do meu corpo sem vida deixo ao critério de quem cá fica (será mais importante para eles do que para mim).
Tou mais preocupada com a BIDA!

Bartolomeu disse...

Outra coisa não seria espectável de uma andorinha!
;)
Sabes?
Aqui só para nós...
O Julinho, está fixado na mãe de Cristo.
Hmmm?
Yah... é isso, ma petite irondelle!
;)))))

Anónimo disse...

eu quero ir de pernas cruzadas. não sei para onde me querem levar:)

Ponto de Interrogação disse...

Não sei o que dizer... Melancólico ou não; nostálgico ou não - achei este post lindíssimo!

Abraço!

Su disse...

issimoo


jocas maradas com brilhozinho nos olhos;)

Teresa disse...

Tem cá um engano professor. Pensa que consegue livrar-se de nós assim sem mais... Ainda precisa suar as estopinhas antes de fazer florir esse seu jardim!!!

Bjinho (posso?)

NiNa Tuga disse...

Bom, depois disto, resta dizer: Obrigada Feio pelo "humor e carinho" com que nos fizeste ver a vida;
Professor siga a sugestão que passo a citar: "Aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros. Apreciem cada momento, agradeçam e não deixem nada por dizer, nada por fazer."
(aínda deve ter muito que apreciar, muito que dizer e muito para fazer;-), digo eu;))