Serralves. A Invenção da Alma, do Jaime Milheiro. O desconhecido acarreta a ideia securizante de Deus. A cultura formata-nos numa das religiões. E a base de tudo isto sofre de injustiça - por que razão desvalorizamos a "simples" razão emoldurada pelos afectos?
37 comentários:
"Quem procura muito a razão. Acaba por a perder"
Mesmo na Matemática: quanto mais dividimos. Com menos se fica. Até se ficar com nada.
"O desconhecido acarreta a ideia securizante de Deus"
Não podia estar mais de acordo!
Não sei se "desvalorizamos a "simples" razão emoldurada pelos afetos"...
Não sei se será do adiantado da hora:), mas não vejo bem a relação de uma coisa com outra.
Haverá pessoas de bem com a razão e com os afetos e que acreditam em Deus e numa vida futura.
O acreditar seria só apanágio dos mais simplórios?
Não sei se "li" bem ou se já não vejo bem..., mas surgiram-me estas ruminações:)
Pedro,
Bons sonhos:)
Hoje num dos "coffe breaks".
Ouvi uma das boas:)
O treinador de basket do Benfica. Quando fez aquele gesto para Os Super Dragões.
Vieram alguém explicar o acontecido:
Oque ele queria dizer era que: O titulo estava bem guardo no bolso. Mas com aquela ginática toda. Bem que o podia guardar num "manguito".
Realmente seria o post anterior referia-se ao jogador.
;-)
dEUS - Quatre Mains
http://youtu.be/WsFfHdqNOWI
Cliquem até verem aquilo que os olhos não veem a olho nú. Por falar em afetos:
http://3.bp.blogspot.com/-TepAaQtF4-k/T8j52Jx2jDI/AAAAAAAAEHg/rkKb1QDlMz4/s1600/0087.jpg
Professor,
Como no outro dia comentei:
"vida de artista não é fácil, Por vezes mais vale dizer "que nada de faz"
Anfy,
"artista" com minusculas!
Pois é!
A Hotência não se ficou por menos. Já vem uma a caminho:)
http://4.bp.blogspot.com/-dafdMsmjR-Q/T8ij4mCxjKI/AAAAAAAAEHA/x_Hd8uZlV1o/s1600/0070.jpg
“A cultura formata-nos numa das religiões”
Eventualmente.
Não conheço as interrogações de Jaime Milheiro, mas parece-me que o homem busca em Deus a partilha da sua imortalidade.
O seu vituosismo estará em saber assegurar em vida, que o homem e a sua alma terão a salvação eterna.
Exercisar afectos pode dar-nos felicidade, pode até prolongar-nos no tempo, mas nunca nos dará a eternidade.
"Folheava um livro, quando senti a presença de alguém à minha frente. Levanto a cabeça e atino com um cliente com um ar sisudo, testa enrugada e olhar inquisitivo. Vestia um fato cinzento, uma camisa, imaculadamente branca, apertada até ao último botão do colarinho e um crucifixo prateado destacava-se brilhando na lapela do casaco. Julguei ser um padre, suspeita que ficou confirmada assim que levantou a voz:
- Agora vendemos pornografia? – Disse-me o Sr. padre, apontando para o livro que eu segurava, aberto, entre as mãos.
Não me engasguei e, inabalável, respondo:
- Não sei se o Kamasutra pode ser considerado um livro pornográfico. Eu diria antes literário!
A minha resposta não foi satisfatória e o cliente contra-ataca.
- E essas gravuras que tão obscenamente ostenta, não são pornográficas?
- Não, são arte.
- Ah, arte!... O senhor deve sofrer de alguma perversão sexual para achar que essas ilustrações podem ser consideradas arte?
Mantenho a calma, arquitecto um ardil e contraponho:
- Meu caro senhor. Posso dizer com o orgulho que de todas as perversões sexuais não é da mais estranha que padeço.
O padre, não resistindo à curiosidade, inquire:
- E qual é a mais estranha, posso saber?
- O celibato!
Ao ouvir a minha resposta, o padre balbuciou qualquer coisa, virou-me as costas e eu senti-me excomungado."
Jaime Bulhosa
Inté,
Saiu-me melhor em castelhano. Consegues tirar pelo sentido concerteza.
"Quien busca la razon. Se contenta en se quedar con nada o cuase nada. Como en la Matematica, quanto más subtraimos, con menos nos quedamos, solamente con la razon:)"
http://en.wikipedia.org/wiki/Communication
"Hoje, mais importante do que os factos são os relatos que deles se fazem. Por mais notórias que sejam as cedências aos gostos e aos emolumentos do relator, é isso que fica. Aliciantes deformações fazem carreira, numa cultura que promete salvação aos crentes e condenação aos dubitativos. Isso acontece nos textos do dia-a-dia e, mais estranho ainda, nos chamados fazedores de opinião que, quase sempre, apresentam como essência das coisas os apriorismos que na sua cabeça auto-elaboraram. Por norma, estes últimos nem comentam os factos apenas comentam a especialíssima leitura que deles fizeram, chegando ao ponto de longamente comentarem o que em absoluto desconhecem. Raramente se coloca a razão como objectivo: necessidades de protagonismo e outras tudo consomem."Jaime Milheiro: Jornal de Notícias / 2008/03/07
http://4.bp.blogspot.com/-Hi_asbntiKM/T8nWm4EvG9I/AAAAAAAAEIA/dbHm3R3aPmY/s1600/0101.jpg
Parafraseando Gabriel Garcia Marques e introduzindo apenas a palavra alma na frase original, quase estou tentado a escrever “A merda o leque da alma que o tempo é de brisa”. E se há bruxas…., queria dizer ……Deus?! Então estas frases são castigáveis, por pecadoras na sua essência. E agora?- Já sei, Domingo, antes do passeio vou à missa. Deus é misericordioso……
Ímpio
"por que razão desvalorizamos a "simples" razão emoldurada pelos afectos?
Pois! mas de facto falta aí a outra dimensão; a da espiritualidade e a da transcendência
Como vê não somos nada ambiciosos:)
Hegel na sua crítica religiosa: "A religião é o ópio do povo" aponta para a ideia de que o homem faz a religião mas a religião não faz o homem.
Historicamente penso que a religião preenchia vazios de fatalismo, desgraça e pobreza... mas igualmente soube mobilizar e orientar para os valores da caridade, igualdade e humanidade...
Nas actuais sociedades pós Hegel e em termos ocidentais, a religião já não tem tanto espaço para esse papel...Grande parte das pessoas tornaram-se ateias ou agnósticas. Contudo penso e apesar disso, que ficaram outros vazios igualmente por preencher...
Tambem tal como a Interessada penso que a nossa preocupação de Eternidade nos pode levar à Fé, à Crença e à aceitação dos fenómenos que não sabemos explicar. Mas e voltando ao princípio da frase do Professor, será preciso subir tão "alto" em ambição e transcendência para conseguirmos a Eternidade?
Talvez a simples razão emoldurada de afectos nos seja afinal mais que suficiente...quem sabe!
Aqui vos deixo este lindíssimo poema do Peixoto:
"Explicação da Eternidade
devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.
os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.
por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.
os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.
foste eterna até ao fim.
José Luís Peixoto, in "A Casa, A Escuridão"
Ímpio
Blasfemar ainda,com sessenta e dois anos de idade, é de homem corajoso :)
Interessada,
Depois do Obama. O mundo deisou de acreditar eo heróis.
Herois do Mar - Só gosto de ti [letra]
http://youtu.be/EWkhDkxY6G4
Paixão! São contas de outro rosário.
Interessada
A minha relação com as blasfémias é algo similar à da Grécia coma dívida. E pouca gente acredita que a Grécia saia do Euro.
Ímpio
Boa tarde:)
"porque razão desvalorizamos a "simples" razão emoldurada pelos afectos?"
Pela "simples" razão de que a razão não é simples.
"...Mas toda a alegria quer a eternidade,
quer a profunda, profunda eternidade!" - Nietzsche
Depois de tantas aspas,
Um bom fim de semana per tutti
A razão é uma coisa chata: compromete-nos.
É sempre mais tranquilizador dizer que algo divino nos transcende. Aí seremos sempre inocentes.
Ímpio
“Por norma, estes últimos nem comentam os factos apenas comentam a especialíssima leitura que deles fizeram, chegando ao ponto de longamente comentarem o que em absoluto desconhecem. Raramente se coloca a razão como objectivo: necessidades de protagonismo e outras tudo consomem."Jaime Milheiro: Jornal de Notícias / 2008/03/07
Em geral digamos que concordo com o dito. Mas gostaria de perguntar ao senhor – que até desconheço – se comentar os factos não envolve sempre a leitura que deles se faz. Se um comentário não é um prisma refratário.
Mas talvez ele se referisse a quem tem na sua opinião tal confiança (ou vaidade?) que a toma como se o próprio facto. E a quem engole tudo direitinho; remédio ou veneno, o que vier, marcha. Mas quem assim faz, em rigor, não pensa em nada.
(11:42) Acredito que se um deus existir é misericordioso. Mas não burro.
Menina
A eternidade de Peixoto é a única que entendemos. Por ela, muito obrigada. Não me parece de Hegel a expressão, mas não é isso que importa. Importa ver que é uma eternidade efémera. Foi. (ainda que use uma forma verbal melhor e mais evasiva, é passado).
Correndo o risco de ser como Jaime Milheiro tão bem diz: O que em mim é eterno não passa, salvo com a minha morte. E, sim, tenho esperança que fique, que encarne em alguém. Por ser bom demais para se extinguir. Seria desperdício. Claro que cada um vive a/da eternidade a seu modo. Crentes somos todos. O que varia é o objeto da crença. Havia um filósofo agnóstico que chamava Santa Clotilde à mulher :)
BEA
"E a quem engole tudo direitinho; remédio ou veneno, o que vier, marcha. Mas quem assim faz, em rigor, não pensa em nada. "
Pois é, certinho direitinho, como dizes. Há quem não pense e apenas engula o que lhe é posto no prato. E há quem apenas fale ou escreva, sem sequer pensar, por entender que já sabe e pensou tudo. A iluminação é-lhes tão grande e a ciência das suas palavras tão douta (pensam eles e quem lhes dá atenção)que se forem ligados a um candeeiro de rua iluminam o bairro inteiro. Uma maravilha....
Abraço
Ímpio
Bea
A afirmação que apesar de ter sido atribuida a autoria a Karl Marx, parece que já tinha aparecido referenciada em outros autores mas faz efectivamente parte duma citação na "Crítica da Filosofia do Direito de Hegel "
Tambem não lhe sei dizer mais pormenores:)
E ainda
"Claro que cada um vive a/da eternidade a seu modo. Crentes somos todos."
Estou absolutamente de acordo...
João Raposo
"É sempre mais tranquilizador dizer que algo divino nos transcende. Aí seremos sempre inocentes."
Interessante!:)
Para a "menina"
"A comparação da religião com o ópio não é original de Marx e já tinha aparecido, por exemplo, em escritos de Immanuel Kant, Herder, Ludwig Feuerbach, Bruno Bauer, Moses Hess e Heinrich Heine."
Tanto quanto me lembro Marx refere Feuerbach como o autor, mas não me parece importante nem vou confirmar.
Pedro,
Essa música dos Heróis do Mar é demais! velhos tempos!
Serralves, só é de lamentar a chuva...
Bom fim de semana.
A música do filme que está a dar na 2:
http://www.youtube.com/watch?v=hPXme_QGBTM
The trailler
http://www.youtube.com/watch?v=mo9jHiGBoP0
Obrigada Menina e João Raposo. Já aprendi alguma coisa de filosofia hoje :)
Peço desculpa. Não foi lapso. Só ignorância.
Boa noite. E bom filme. Ouvi dizer que é o melhor de Truffaut
Professor
Gostei imenso do seu programa de hoje! Afinal falou em como a transcendência nos toca e preocupa...mas tambem falou do Tempo esse grande escultor, como dizia a Yourcenar e lembrei-me do que escrevi há tempos:
De facto o tempo é, dizem, o grande “valor” das sociedades actuais; toda a gente luta contra o tempo que insiste cada vez mais em ser escasso…Há quem o aproveite bem mas há quem faça da vida um viver que nem “barata tonta” - andando dum lado para o outro sem rumo nem sentido…
O tempo servirá tambem para nos dizer no final, o que valeu ou não a pena viver…Contudo está na nossa mão fazer do tempo aquilo que a nossa vida nos diz; e por vezes é tão pouco…mas tão pouco que se reduz a Tudo…
E por vezes é necessário pararmos e olharmos para dentro de nós para vermos aquilo que realmente é importante…esvaziar o nosso tempo do “ruído” que nos sufoca para o voltarmos a encher com aquilo que realmente nos realiza e adoça a alma…
Compreendo muito bem a sua "fuga" para Cantelães, onde tal como diz o tempo dura dura dura...:)
João Raposo:)
Obrigada! o que vale é que há sempre alguem culto à mão para nos ajudar!:)
"Menina", obrigado, mas não é uma questão de cultura. Apenas de memória.
BEA e INTERESSADA
Falando em tom sério e sendo honesto, poderei dizer que penso que existe em mim uma certa “religiosidade”. E ponho entre aspas por respeito a quem ache o contrário ou considerando-se religioso, ou um verdadeiro religioso, não se queira confundir comigo, ou melhor dizendo, não queira confundir a sua verdadeira religiosidade com a minha; numa palavra, por respeito para com o outro que é diferente de mim. Daqui resulta que me considero ateu! Resulta daqui que também acredito nos factos e no ver (ou demonstrar) para crer. Acredito que amanhã vou acordar e que o mundo continuará como hoje está e que aqui e acolá haverá algumas modificações algumas mudanças mas que na sua globalidade o mundo evoluiu de forma contínua mas lenta. E que é isto senão mais que uma crença tão digna quanto as restantes? Que é isto se não mais do que uma questão de fé que a ciência evoluiu e que o conhecimento do homem acompanha essa evolução? Assim, a minha “religiosidade”, ou a minha “crença” anda muito perto da palavra “fé” ou “fezada”.
E que tédio seria o do mundo dos ortodoxamente crentes se não existisse um mundo de “pagãos” que os primeiros ambicionam trazer para o seu reino de luz?
Abraços
Ímpio
Ímpio
não ambicionamos, não. Cada um tem direito a ser quem é. Não desejo convencer ninguém. Pela Interessada não posso falar. quando e se as coisas se discutem é para entendermos a outra pessoa, porque ela nos merece isso: o interesse pelas suas convicções.
quanto à evolução científica, e apesar de todas as evidências, duvido imenso.
Bom domingo a todos
Ah! e não vi aluz. Mas gostava:) exceto se tivesse que ser santa. Isso é que não. Eu e os terços não nos damos.
Menina
Gosto de a ler, talvez porque as suas referências são as minhas ;)
Também gosto de ler outras, mas com cabeça, tronco e membros.
Nem sempre me apetece ler canções de embalar, que por vezes cançam.
E nunca me escquecerei de que um dia escreveu “Gosto de pessoas”. Mas que pérola!
Julgo que nunca senti maior ponto de identificação por aqui.
Yourcenar é um deles.
bea e Ímpio
Ainda bem que eu e vocês não estamos de acordo.
Desta forma o Murcon fica bastante mais colorido.
Que a ciência e o homem evoluiram, há registos que o provam.
Mas admito que existem realidades que ainda escapam à compreensão dos homens, e por isso são inexplicáveis.
Tudo o que o homem cria perece, neste mundo mortal. Mas porque se transforma.
Em qualquer momento o que está em cima pode descer e o que está em baixo pode subir.
Mas existe racionalidade nos feitos da imprevisibilidade, que é o somatório de várias ocorrências.
O fortuito e o inexplicável surgem como resultado de uma série de circunstâncias e têm portanto causas próprias e obedecem a leis.
Nada pode ser feito a partir do nada.
As coisas acontecem por necessidade, por vontade nossa, ou ainda pelo que chamamos acaso, mas que mais não é do que o somatório de outras ocorrências.
A minha fé está no homem.
E não preciso de saber que existe um Deus que controla o mundo e que o justo será recompensado e os maus punidos, pois que as minhas acções ficam justificadas pelos efeitos que delas advêm.
Agora vou desfrutar das coisas simples da vida.
Ao fim-de-semana não temo nem espero. Respiro apenas :D
Abreijos
Só mais um instantinho para vos deixar um presente lindo
Impio,
"E que tédio seria o do mundo dos ortodoxamente crentes se não existisse um mundo de “pagãos” que os primeiros ambicionam trazer para o seu reino de luz?"
Concordo contigo, pá!:))))
Abraço
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