Maria,
Vestir essa nudez que alimenta as
fantasias de mirones de talho, pendurados em esquinas sujas por eles. Devagar;
peça a peça. Oferecer-me o capricho de pedir meias tão apaixonadas pelas tuas coxas
que nelas se detenham, rendadas e rendidas, seria um crime de lesa-desejo
cobrir as longas pernas que apontas ao céu, uma de cada vez, alisando o negro
que lhes assenta como uma luva e desafia as minhas mãos. Como a tua voz, em
aliança irónica e esquiva com os olhos, “que sapatos?” Também negros, sabes a
resposta, mas gostas de ma escutar, enrouquecido. A lingerie e mais um toque de risonha crueldade, “ajudas-me?”. E eu
faço-o, os dedos debatem-se com o fecho, o mesmo não acontece ao teu pescoço
com os meus lábios, aceita-lhes o beijo leve com a naturalidade do senhor
feudal que estende o anel ao vassalo, a
imagem, de tão espontânea e imediata, não pode ser casual. O vestido
mini-neiro, mais adulto a cada passo pelo corredor, com um gesto rápido o
cabelo cobre-te o rosto e volta a escorrer pelas costas que me viram as costas,
eis-nos face a face e junto à porta, “escolhes tu o restaurante”, a tua mão
entreabre e a minha fecha, “posso escolher a mesa?”.
E sobre ela nos perdermos tão
longamente que a noite acabe em assalto ao frigorífico, roupas espalhadas pelo
chão e adormecer exausto, mas tranquilo. Não porque tudo está bem quando acaba
bem, o sono entrelaçado não é o fim de nada, apenas o tempo que nos separa do
abraço matinal. Mas por ambos sabermos que, em ocasiões como esta, raios de luz
no cinzento do quotidiano, jamais te ocorrerá dizer “por que me deixaste
vestir?”, seria o fim do erotismo e o começo do sexo melancólico e suicidário.
God forbid, Mary.
11 comentários:
FABULOSO!
Que dizer de quem assim escreve?:)
O texto respira erotismo por todos os poros. É lindo! Doce...
"...o sono entrelaçado não é o fim de nada, apenas o tempo que nos separa do abraço matinal."
Que dizer mais? "Apenas" saborear:)
Obrigada, Júlio. Obrigada, Maria:)
Ahhhh!!! a melhor parte é a que menciona a utilidade dada à mesa. Ou seja; aqui, o pragmatismo foi mandado às urtigas, atribuindo ao móvel a sua natural função e utilidade, que é: serve para nele se comer (ponto). Do mesmo modo, o frigorifico serve para nele se preservar os alimentos e a caminha, para um soninho descansado. Pontos postos nos "i's", tecer considerações acerca do passeio lânguido pela lingerie, é uma redundância. Quanto ao perdão divino; quem quiser conhecer a minha opinião acerca, faça o favor de ir espreitar o mesmo post ao face (não me apetece voltar a escrever).
E prontes... que nunca nos faltem as mesas...as Marias multiplicam-se naturalmente.
Bartolomeu,
Naturalmente??????? Seu D. Juan:)))))).
Se a Maria Vem Pronta
Para Quê
Estar a desarrumá-la
Tem razão; esqueci-me de colocar vírgula antes de "naturalmente"- ai bégue iór párdon.
Leio Mais Tarde Ainda Há Muita Luz
"http://www.youtube.com/watch?v=aqANo5qDPhQ"
Já li. A mesma água! Passa pelo mesmo moinho? Duas vezes...
Reli. Porque a beleza do texto me fascina.
"...e mais um toque de risonha crueldade, “ajudas-me?”.
Pois, nós gostamos de ser cruéis...mas só com quem vale a pena:)))))))))))))
Boas férias, malta.
Vou voar por aí...volto em breve se as asas me ajudarem:)
http://www.publico.pt/sociedade/noticia/em-seis-meses-foram-assassinadas-24-mulheres-e-a-maioria-por-violencia-domestica-1664858
Estas são outras Marias:((((((
Bartolomeu... Compensaste a virgula? Com os! Assentos.
Está bonito, está... :)
Murcon totalmente erotizado...
Uf, uf...
Enviar um comentário