Da raiva e outras defesas
O psiquiatra esboçou um sorriso oblíquo,
- Talvez não fosse má ideia...
Bateu a porta enfurecido, “nunca mais cá ponho os pés, o tipo aboleta-se com uma pipa de massa e ainda goza à minha custa, se não é má ideia que o faça ele!”. A empregada e o habitual sorriso untuoso e plastificado, “até para a semana, senhor engenheiro”. Grunhiu um “talvez” de mau agoiro e diagnosticou-lhe aspecto foleiro, o cabelo oxigenado já vira melhores dias, os pés de galinha à volta dos olhos também. Imaginou que o iluminado clínico lhe punha a mão nas horas vagas e assim a impedira de arranjar marido, cheirava a quarentona encalhada a milhas de distância. A tarde cinzenta. No parque de estacionamento os carros já eram poucos. O seu piscou, obediente, à ordem do controlo remoto, para onde? Não lhe apetecia jantar sozinho, muito menos em casa. Folheou agenda e nomes: X - boa conversadora, mas péssima na cama; Y - exactamente o contrário, talvez passasse por casa dela ao fim da noite para uma rapidinha, aturar-lhe banalidades ao jantar é que não lembraria ao Diabo; Z – casara. Pôs um sinal de interrogação à frente do nome, quanto tempo levaria a fartar-se do marido?; ficava em espera; B - perfeita, se não exigisse relação “com futuro”; C – pedal a mais, impossível ter a certeza de quem fora o último a petiscá-la, estava sem pachorra para a ginástica do preservativo.
Bom, alimentar a máquina rapidamente e decidir depois o rumo a dar à noite. O restaurante às moscas e o criado favorito ausente. Morrera-lhe um familiar, explicou, indiferente, um colega tão pálido que também parecia prestes a bater a bota. Um arrepio desconfortável nas costas, “traga maduro tinto”. O bife mal passado e contudo anémico. Batatas gordurosas. Decidiu beber a taça até ao fim - além da garrafa... -, “uma salada de frutas”. De lata... O empregado imperturbável, “o senhor engenheiro deseja mais alguma coisa?”. A canelada imediata - “só se fosse um frasco de sais de fruto, não acha?”. Como única reacção, olhadela trocista à garrafa vazia; o parvalhão não tencionava abanar a preguiça porque um cliente bebera demais, provavelmente tinha a patroa à espera para assistirem juntos à terceira novela da noite e depois mergulharem na cama. Ele com a mesma camisola interior suada que usara nos últimos três dias, ela com as banhas mal disfarçadas pela combinação preta que uma vizinha prometera ser remédio santo para o desinteresse sexual do marido. Não ia funcionar, ele estava apaixonado pela cozinheira. Bem feito! Desligou a fantasia e saiu.
Para casa? Não, beber um copo. Sentir a adrenalina de passar junto à bófia com a certeza de não se poder dar ao luxo de soprar ao balão. Esticando a corda, parou e abriu a janela, “o senhor guarda desculpe, não sou de cá, vou bem para a Foz velha?”. Escutou as indicações com ar atento, quase humilde, agradeceu e seguiu Boavista abaixo. Virou à esquerda no Castelo do Queijo, por que não a Foz velha? O barzinho estava cheio, coisa rara aquela hora, parzinhos de namorados, curtidores ou lá como se chamam no dialecto de hoje. Alguns tipos da sua idade galando miúdas anoréxicas que não pareciam muito interessadas nos seus cavaleiros andantes imberbes. Talvez já não chamassem pelas maezinhas em situação de aperto, longe vai a época do “a menina dança?” nos bailes do Ateneu. Às vezes tinha de se pedir primeiro a autorização dos papás, quatro olhos inspeccionavam o candidato a abraçar por uns minutos a virginal filha, o sim apenas permitia liberdade a prazo e limitada, nada de faces demasiado próximas. Moral de comerciantes!, era preciso salvaguardar o valor de troca da mercadoria...
Uma das rapariguinhas navegou até ao balcão. Decidiu que se tratava de incitamento divino e ensaiou abordagem clássica, “não a conheço de algum sítio?”. Talvez demasiado clássica para a catraia, que esboçou um sorriso enquanto disparava em tiro raso, “credo!, julguei que esse tipo de engate já não existia, é melhor você candidatar-se a um curso de reciclagem”. Para depois o inspeccionar com mais atenção e fazer xeque-mate, “se ainda for a tempo!”. Encolheu os ombros, you can’t win them all. De qualquer forma não se via a ministrar-lhe curso de educação sexual, têm muito speed mas pouca arte, para a cama nada como balzaquianas assustadas pela idade ou desiludidas por namoros longos e chatos, têm pressa de viver. Saiu. Suficientemente sóbrio para saber que o não estava, fugiu à Brigada metendo pelas ruelas da Foz velha em direcção ao Campo Alegre, depois seguiu disciplinada e clandestinamente atrás de outro carro, só lhe abandonou a sombra protectora para virar em Guerra Junqueiro.
A casa. Arriscando um pé fora da rotina, não ligou de imediato a televisão. O silêncio pareceu-lhe aterrador, os programas – se mereciam tal nome! – eram catastróficos, mas o quadrado enganava a solidão. Por vezes seria incapaz de repetir o que vira, accionava o comando a ritmo digno de metralhadora, os canais acotovelavam-se, reality show atrás de reality show, bloco publicitário atrás de bloco publicitário. “Aquilo” mexia, preenchendo o amuo do telefone, silencioso. Certas noites pagaria bom dinheiro por um toque da secretária a lembrar-lhe reunião para a manhã seguinte. À falta de melhor..., para onde tinham fugido os amigos? Ou para onde fugira ele sem sair da cidade, para assim os perder vista e ouvido? Rendeu-se. E a caixinha que mudou o mundo desiludiu a sua esperança de ver o seu um pouco mais alegre, tudo decorria normalmente - filmes de bolinha alternavam com grupos de concorrentes que se batiam ou amavam conforme as instruções das produtoras.
Que fazer? Lembrou-se da canção do Abrunhosa, talvez... Sorriu e pegou no telefone, do outro lado a voz ensonada resistiu, “a esta hora? Vem cá tu se quiseres”. Não queria, se o desejo ganisse podia sempre voltar aos tempos do colégio, quando a rapaziada se masturbava alegremente, o sexo era tão sociável como o snooker. Por que não ler? Pelo simples gozo da coisa e não a reboque da preparação de um qualquer seminário profissional. Vasculhou a estante - só velhos conhecidos. O pai costumava lembrar a frase de um académico francês, já no fim da vida: “je ne lis plus, je relis”. Não lhe apetecia reler.
Ouvir música. Como dizia o sobrinho? Pôr um som... Beatles? Atrás viriam os bailes de garagem, os amores de praia, a estranha sensação de se haver traído. Mozart? E com ele regresso a Salzburgo, Viena, Praga, os concertos em cada esquina, alegres viagens em turística que antecederam outras em executiva para enfadonhas reuniões. Sérgio Godinho? Paz, pão, habitação... Como se passa de hippie furioso a yuppie obcecado, com breve passagem pelo processo revolucionário em curso e os seus bailes trotsquistas cheios de envergonhadas filhas da burguesia? Olhos fechados, indicador em riste, regressou à infância: “pim, pam, pum, cada bola mata um, pr’á galinha e pr’ó peru, quem se lixa és tu!”. Estremeceu ao ver a pontaria da sorte (o sacana do psi falaria de inconsciente...) – Dave Matthews Band.
Decidiu não recuar e pôs os auscultadores. Minutos depois a cabeça explodiu e com ela a andropausa, o vinho, o calmante que se esquecera de tomar, o jogging da manhã seguinte, a tromba do cliente a quem decidira apertar os calos nos preços para se oferecer o último todo-o-terreno da Mercedes, as mulheres desejadas sem paciência, o criado indolente; tudo.
Levantou-se, percorreu o corredor e abriu a porta do quarto pela primeira vez em muito tempo. A empregada cumprira a sua obrigação, parecia um museu. Olhou em volta: os posters, a guitarra, o computador, a colecção de latas de cerveja, a fotografia que a namorada nunca viera buscar. Quase imaginava Paulo a qualquer momento regressando de vadiagem nocturna, “ainda a pé, velho?”. Sempre paternal, o miúdo. Quando as horas fugiam, brindava-o com telefonema, “vou chegar às quinhentas, não te preocupes”. Até ao dia em que o aparelho tocara e não era ele, mas sim um dos amigos - óleo na estrada, despiste, urgência. Morto. A Mãe aos gritos, “a culpa é tua, por que lhe emprestaste o carro?”. Nunca mais lhe falara, não precisava da sua ajuda para se sentir culpado. Uma solidão horrenda, o puto não era “apenas” o amor da sua vida, mas também o público, buscava-lhe o orgulho e a aprovação com desespero, para os outros estava-se nas tintas.
Fechou os olhos. A voz do psiquiatra, “ninguém consegue esquecer uma coisa dessas, é preciso digeri-la. Em dois anos já o vi afundado em trabalho, a trocar de mulher como quem troca de camisa, a meter uma em casa do dia para a noite e a pô-la de lá para fora da noite para o dia semanas depois, a correr o mundo em férias sem descanso ou paz, a mudar de carro de três em três meses, a moer a cabeça dos outros e a sua, mas nunca o vi a encarar de frente a tristeza. Não acha estranho?”. E que sabia ele de amargura, na sua petulância de especialista? “Há muitas formas de estar triste. Qual é o seu conselho? Pôr a minha vida em stand-by e chorar? Como essas mulherzinhas histéricas que se sentam na beira do sofá e torcem o lenço na mão?”. A resposta do tipo.
Por acaso havia dois magníficos sofás no quarto, mas as lágrimas surpreenderam-no enroscado na cama do pequeno.
65 comentários:
Boa noite.
Não. Agora vou ler:)))
Dr. Murcon
Sabe o que falta ao seu amigo engenheiro?
O meu número de telefone :-)
Yulie,
Ts, ts:)))))), you naughty girl!
Sr. Professor:a perda transforma-nos.não sei o que é ficar sem um filho, não posso avaliar, mas sentimento de culpa pela perda de algo importante terei de carregar para sempre...
Mas como diz yulunda:ao seu amigo falta o meu n de telefono...e a mim tantos números que para aí andam e eu sem os saber...
Velharia ao nível das anteriores.:)
Adorei a parte da agenda, monólogo tipicamente masculino...
Os homens são lixados, caraças:)
Yulunga,
Querias também fazer parte da agenda do engenheiro?
Eu confesso que não te entendo, rapariga.:)))))
digo YULUNGA...que raio de nome!!!original mas dificil de decorar.
Credo!
Agora é que o engeneheiro vai ficar ainda mais indeciso, com tantas a quererem-lhe dar o número de telefone.:)
As mulheres hoje em dia são umas "oferecidas"; no meu tempo não era nada disto.:))))))))))))))))))))
Ainda bem que assim é!!!Mas isto anda tão mal que nem escrevendo o meu nº tlm na por cima da pala do siza em lisboa me aparece alguém...nem os pilotos de avião que devem ser oa unicos que conseguem ver...Agora vou tentar uma faixa nos clérigos!!!
Dr. Murcon
;-)
Vareira
e a mim tantos números que para aí andam e eu sem os saber...
Faz como eu. Ando sempre com a lista telefónica num saco.
Andorinha
Entendes, pois.
Vareira
Já uma vez expliquei aqui que o meu nick é o nome de uma música dum album duma banda de nome Dead Can Dance.
Se quiseres vai até ao meu blog. Está lá o video clip. Julgo que te vais apaixonar pela sonoridade deles.
Yulunga,
"Ando sempre com a lista telefónica num saco."
Looooooooooooooooooooooooooooool
Mas confesso que às vezes não te entendo, mesmo.
Eu acho é que tou a precisar de oculos...já não vejo,letrinhas...se calhar é esse o problema...
Yulunga,
Aqui para nós que ninguém nos ouve:), diz-me lá: tu gostavas mesmo de constar da agenda do engenheiro?
Yulunda, muito obrigado pelo convite.Até agora não entrei em nenhum blog, mas vou já fazê-lo.
Ándorinha
Pois não me entendes. Nem eu a mim. Não ando bem sabes?
Acho que ando a precisar é de um psiquiatra ;))))
E eu que não tinha nada para fazer antes de me ir deitar...
Os posts pseudo-biográficos são os que gosto mais....este em particular está brilhante.
O Professor já pensou escrever um livro?:)
Boa noite!
Deixem-se lá disso. Até parecem a X, Y, Z, A, B, C... ;-))
Fora da lei
Já te dei o meu número de telefone?
;-)
Ei fora da lei, que tal mandares o teu nº?
Yulunga, já não posso ir ao seu site, bloqueio aqui em casa...filhos melgas que querem miminhos.Boa noite.
E fora da lei, nós mulheres interessantes ás vezes brincamos...as nossas agendas já estão cheias de nº...de engenheiros!
Eles dizem que não são melgas mas querem mesmo miminhos!
Fora de lei(10.55)
Grande compincha! Até que enfim alguém que me entende. Já não me sinto tão sozinha.:)))))))))))))))))
xelim
Não tenho nenhum virus no PC :))
xelim,
anda à procura de uma ligação de amigo no emule, é? :))))))))
Andorinha (10:25)
Adorei a parte da agenda, monólogo tipicamente masculino...
Olha que não.
Faço o mesmo tipo de rastreio pela minha lista sempre que me apetece ir dançar umas africanadas ou umas salsadas.
Muda um pouco o discurso, sim.
A - Bom na cama mas pé de chumbo e hoje só me apetece dançar, pelo menos até ver.
B - Bom dançarino, mas muito melga.
C - Só dança rock
D - Não dança nem sai de cima
E - Casado
F - Bom dançarino mas recentemente divorciado e com uma depressão do caraças.
Ai como entendo bem o engenheiro.
xelim
Eu sei que é legal, mas não tenho mp3.
Obrigadissima pela atenção.
Vou ver se me entendo a fazer downloads.
Primeiro periodo definitivamente "mediocre" (2). No segundo conseguiste atingir alguns dos requesitos básico por isso levas um "satisfaz menos" (3-). Não dou o "satisfaz" só para não comprometer o 3º periodoº! :))))
Boss,
O texto não, a punch line eu já lhe tinha pegado. Não foi por acaso que a 26 de novembro de 2005 escrevi este comentário:
"noiseformind said...
Oh Jú, não foi ao outro que o psi disse:
- Se calhar era uma boa ideia
quando ele andava contendo os diques tremendos da saudade do filho partido???
Ai, ai, ai, lá pq tu escreveste não te dá o direito de auto-plágio ; ))))))))))))))))))))
Racionalizar a tristeza, e aqui por falta de vocação escudo-me nas palavras certeiras do nosso (estive quase para meter as comas neste nosso, confesso) Andrew Solomon:
"E no entanto, todas as coisas parecem vãs. O povo inuit não sofre menos e a ausência da sua expressividade facial leva a que usem quartos de tons na sua escala tónica. A palavra parece ganhar significância quando a expressividade diminui, o sofrimento nos povos menos verbalizadores parece maior pois os graus de empatia gerados na comunidade são nitidamente mais baixo. Porém, a partilha com os outros parece ser mais uma agravante na maior parte das culturas, o que está em contra-ciclo com o que seria o senso-comum. Parece que o interiorizar da melancolia, como fazem os povos asiáticos, é a única fórmula de persistir na tristeza sem que isso nos paralize. E daí que os Vietnamitas sejam muito mais contraditórios e não haja um conhecimento nunca certo da sua personalidade. Aceitam-se os contratos afectivos com outros sempre até certo ponto mas nunca permitindo que o "eu" fique refém de palavras partilhadas com um elo exterior."
e mais tarde refere:
"e então minha mãe partiu. Com a minha ajuda. Não suportava contribuir para a sua permanência em estado de carne viva e não me foi difícil conjurar e objectiviar os elementos que precipitaram a sua morte. E foi nessa partida que a minha primeira depressão se manifestou, eu tinha feito a coisa certa, apoiava aquela causa, apoiava-me nela e na certeza de ter feito a coisa certa. Porém, o suicídio é sempre uma forma de homícidio, e até à última hora pode não ser. Ficámos portanto suspensos do horizente do evento, o quase-ser, que no meu caso foi. Julgava estar quase a entrar em depressão se não fosse apoiante do desejo da minha mãe. Sendo apoiante no seu suicídio ficou a réstea da culpa do homícidio. A gestão da culpa em situações como esta é sempre uma balança desiquilibrada, pq ninguém está a sentir o que nós estámos a sentir, ninguém partilha connosco a relação com aquela pessoa específica, ninguém pode saber a falta que estámos a sentir, ninguém pode estar no nosso lugar... senão nós mesmos. E é essa singularidade que chamámos depressão, a falta de pontos de referência para fora dos nossos julgamentos."
E já agora, tenho saudades destes posts. Curtinhos, reveladores de um teu livro de preferência, com um pequeno pensamento em final...
Boss said:
"Porque a tristeza pensada é estruturante.
Então, num súbito ataque de tristeza que me fez muito bem para perceber quem era, consegui chorar.
Juan José Millás, A Ordem Alfabética.
Se não for pensada e digerida pode cristalizar na depressão ou refugiar-se na auto-piedade."
E, pq gosto de contribuir para o bem-estar desta comunidade internética, cá fica uma sugestão para se entreterem esta noite... um filme vagamente inspirado na música "house of rising sun". Espero que contribua para que tenhan, sem excepção, um serão agradável. Recolho agora aos meus aposentos ; )))))))))))
phenix,
espero há uma semana por uma resposta sua! Muitas dúvidas ainda estão por tirar.. :))
2 bjs! :)
Xelim
Claro que o grupo existe e a-do-ro!
Obrigada pelo site advisor. É sempre bom saber. Principalmente eu, que sou uam porra loca e ando por tudo quanto é página.
Obrigada mesmo.
Boa noite maralhal e boas blogadas.
(...) "mas nunca o vi a encarar de frente a tristeza. Não acha estranho?”. E que sabia ele de amargura, na sua petulância de especialista? “Há muitas formas de estar triste. Qual é o seu conselho? Pôr a minha vida em stand-by e chorar? (...). A resposta do tipo."...
Pois é..............
Boa professor. A mensagem de que um homem tambem chora, tambem precisa de chorar passa bem.
Agora, interessante, interessante mesmo é ler as entrelinhas, o que está para lá de expressões destas:
1. aspecto foleiro, o cabelo oxigenado já vira melhores dias, os pés de galinha à volta dos olhos também
2. cheirava a quarentona encalhada a milhas de distância
3. a combinação preta que uma vizinha prometera ser remédio santo para o desinteresse sexual do marido. Não ia funcionar, ele estava apaixonado pela cozinheira. Bem feito! [Bem feito?!?!?]
4- perfeita, se não exigisse relação “com futuro
Etc, etc...
Isto do inconsciente é tramado :)
Sabe, apetecia-me descrever o engenheiro assim como um tipo que, para lá de ser uma pai porreiro que até encontrava o filho no POP e no Estado Novo e lhe pagava uns copos e fazia de conta que não sabia que a namorada do filho dormia lá em casa....
... pois, para lá de ser assim um pai porreiro, o engenheiro...
Este post lembrou-me um filme espectacular - "O Quarto do Filho". Julgo que não pode haver nada pior do que isso. Nada volta a ser o que era, depois da perda de um filho. Tenho o exemplo de dois casais amigos que perderam os filhos em acidentes e que, embora aparentemente as vidas deles continuem o seu rumo até porque há mais filhos, sente-se neles um luto que não os abandona nunca...
Yulunga,
Não a sabia fã dos Dead Can Dance... "that good old icon" da música independente da 4AD. Bom gosto.
o papel de "provocador" de um luto nestas circustancias deve ser, de facto, odioso.
recordo-me do meu pai dizer ( consciente da proximidade da morte): "alegro-me por não ter perdido nenhum filho, não teria sido "natural".
que medo aterrador!
Esta carta foi enviada por um Psicologo e líder espiritual a um casal que perdeu a filha de 11 anos:
Dear Steve and Anita,
"Rachel finished her work on earth, and left the stage in a manner that leaves those of us left behind with a cry of agony in our hearts, as the fragile thread of our faith is dealt with so violently. Is anyone strong enough to stay conscious through such teaching as you are receiving? Probably very few. And even they would only have a whisper of equanimity and peace amidst the screaming trumpets of their rage, grief, horror and desolation.
I can't assuage your pain with any words, nor should I. For your pain is Rachel's legacy to you. Not that she or I would inflict such pain by choice, but there it is. And it must burn its purifying way to completion. For something in you dies when you bear the unbearable, and it is only in that dark night of the soul that you are prepared to see as God sees, and to love as God loves.
Now is the time to let your grief find expression. No false strength. Now is the time to sit quietly and speak to Rachel, and thank her for being with you these few years, and encourage her to go on with whatever her work is, knowing that you will grow in compassion and wisdom from this experience.
In my heart, I know that you and she will meet again and again, and recognize the many ways in which you have known each other. And when you meet you will know, in a flash, what now it is not given to you to know: Why this had to be the way it was.
Our rational minds can never understand what has happened, but our hearts– if we can keep them open to God – will find their own intuitive way. Rachel came through you to do her work on earth, which includes her manner of death. Now her soul is free, and the love that you can share with her is
invulnerable to the winds of changing time and space. In that deep love, include me.
In love,
Ram Dass"
Não acredito em deus, mas mas troco-o facilmente por "natureza"! :)
Caro Anfitrião,
Não chamaria velharia a algo com a singela idade de somente 3 anos e alguns meses. :))
Mas vamos ao post: imagino - e daí talvez não - quão terrível será (con/sobre)viver com o sentimento de termos desviado um rio de seu curso, de encontro a uma tumultuosa foz, precoce no contínuo do tempo e violenta na essência dos interstícios onde tocou o oceano do Além.
Se calhar "apertou de mais as comportas em momentos que exigiam olhos secos"; por muito que se negue, também para os homens a sociedade é castradora: nega-lhes os afectos!
(Re)Leio-o e procuro na biblioteca um poema de Pedro Sena-Lino que assomou à minha fraca memória:
"havia uma vez as mãos do poema
seguravam os sonhos infantis
para que chegassem longe
davam vida por "veias incorruptas"
e se as chamavam de longe
chegavam como se tivessem estado
desde o princípio do mundo
na sombra iluminada do grito
havia essa força de remoto pai
um porto acima dos dias e
na mais impossível morte
se caíres pai caio também
partilhamos os verbos todos em silêncio".
Não caiu o pai.
Caiu o filho... e os verbos foram partilhados em silêncio!
AGORA É DE VEZ! vou organizar a agenda!
Tipo aquelas resoluções de inicio de ano!! obrigada caro Dr.
Bom dia. Conheço à pouco tempo o autor. Mas posso adiantar que as palavras são naturalmente claras. Sempre atenta a novas e saudáveis terapias.
Isto de escrever em português, às vezes falha. Quero dizer "há pouco" e não "à pouco". Errar, é estar vivo, aprendendo.
Bom dia!
Devo dizer que deste post do professor resultaram muitas interessantes participações:)
A começarar pelo post, o qual gostei bastante e pelas razões que normalmente encontro naquilo que o professor escreve; grande lucidez, uma boa dose de realismo e sempre mas sempre cheio de ternura e sensibilidade...
Agora tambem gostei das "brincadeirices"da sempre bem disposta Yulunda, gostei do complemento, como sempre, poético do RAM e tambem do "nosso" Noise brincalhão e "barulhento" que se deu a reflexões sérias, até porque o tema da tristeza e a tristeza por perda dum filho é mesmo o pior que nos pode acontecer...
Para acabar digo tambem que o professor com estes seus escritos consegue tocar fundo e trazer ao de cima aquilo que de melhor temos em nós que é a nossa capacidade de sentir amor e compaixão pelos outros porque os descobrimos e conseguimos entender.
Que eu me lembre, não, Professor, mas agora estou sem time para reler...:((
Thora e Andorinha
Deve ser do calor que me fez ferver os miolos... (é o chamado Brainboiling em vez do conhecido Brainstorming;))
Um eventual romance, tórrido, claro... entre Vossas Mercês, poderia vir a ser classificado, nos Anais (nada de gozações...) da Psicanálise Ultra-Pós-Moderna como "Complexo de Édipo Adoptivo". Que acham? E que achará o Prof.??
Além disso o Thora passaria a ser conhecido pelo Thórrido e a Andorinha seria uma Mãe Andorinha... em vez de Mãe Galinha!!!
Just Kidding Kids!!!;))))))
P.S. - ai, ai... a Andorinha vai pôr milho roxo no meu comedouro...;(
2:15 PM
Como vêem e dado o meu dom da ubiquidade temporal, consegui comentar simultâneamente em dois momentos diferentes.
Vou já passar das revisões da Psicanálise para as da Relatividade Restrita....;)))
Que casamenteiros!! ARRE!
Isto é o blog do professor JMV ou da Teresa Guilherme? :)))))))))
Prof.
Foi óptimo reler. Ainda bem que no fim os diques se abrem, senão podia haver alguma inundação catastrófica.
Espero que continue óptimas férias.
Um abra(s)ão...com esta caloraça...;))
Ram
1:35
"a sociedade é castradora: nega-lhes os afectos!"
Eu diria antes: "nega-lhes a expressão dos afectos!"
Outro abra(s)ão!
Os comentários não tem relação nenhuma com o post.
Será que o meu PC tem algum virus?Como farei para resolver este problema?
Ou será que é mesmo assim?
fanette,
fez-me sentir vivo, por momentos! :)))))
cd,
"só o silêncio é linear", disse o outro! :)
Bem,
vira o disco e toca o mesmo. Ando rever os "DBD's" (já que fui encarcerado por mais uma tarde) e mais uma vez fiquei congelado a ouvir isto : http://www.youtube.com/watch?v=djJGHcfFgAs
Realmente psicadélico. ;))))))))
Em relação a o tema, acho que pior que encarar a tristeza é não encarar a morte, mesmo quando esta não nos toca directamente. Não adianta viver num mundo de fantasia para num só momento a realidade ter o poder de o destruir.
Aspásia,
Agora não tenho um momento de sossego?
Esse brainboiling está-te a transtornar e eu é que sou o bombo da festa?:)))
De qualquer forma, qualquer romance com este calor seria sempre tórrido.
Não comeces a meter ideias na cabeça do miúdo, sabes como é, ainda começa a ter ilusões e eu não quero despedaçar o coração de ninguém. Loooooooooooool
Se tivesse mais idade, era uma hipótese a considerar, romances tórridos de Verão fazem bem ao corpo e à alma:)
"Não comeces a meter ideias na cabeça do miúdo, sabes como é, ainda começa a ter ilusões e eu não quero despedaçar o coração de ninguém."
LOLOLOL
"...estava sem pachorra para a ginástica do preservativo."
Pois!...
Eu bem ando a 'pregar! aos meus rapazes as inúmeras vantagens da "ginástica do preservativo"... Mas, cada vez que o faço só me consigo lembrar da sensualidade triunfal com que uma espanhola anunciava, há uns anitos, na tv: "Hago amor con control!"
E de dar comigo a pensar: Pffff...Grande coisa!... Fixe mesmo é fazer amor descontroladamente...
É nestes momentos que me custa tanto o papel de educadora. Uf... Se custa! A sensação de andar a "vender" a "banha da cobra aos putos" mesmo sabendo que, apesar de tudo, ela é milagrosa...
Ah, já me esquecia, adoro esta velharia! Muito!
Presumindo que Sousa & Cª estejam de férias:)))), os meus cumprimentos!
É por essas e por outras que gosto de velharias. As coisas que resistem ao tempo são intensas- fazem história. Gostei de o reler aqui.
Tens razão Andorinha, a mudares muda para vinho do porto LOL.
Thora, aguenta-te! ;]]]
Yulunga, beeeeeeeeeeem ;]]]]]] 6*s!
aspasia, lol, tens seguro de vida?
Professor, persinto o esboço de um novo livro seu... mas, não: deve ser o efeito alucinogénico do calor.;]
Cêtê,
Claro que a mudar, seguiria o teu conselho.
Embora nunca se possa dizer "Desta água não beberei.":))))))))))))
cêtê,
que remédio! :))
Oh pah..eu ouvi ou li em qualquer lado que o casal com mais distância etária eram 70 e tal anos. Um soldado, em cenário de guerra, que se apaixonou por uma senhora de 102 anos. Foram companheiros durantes os vários anos de guerra..e depois foram ficando. (Aliás, se não estou em erro até foi no "amor é.." que ouvi tal facto!
Mas é assim a vida! Nunca digo nunca. Até porque eu dormi na cama com a minha mãe até aos 10/11 anos (talvez por falta de imposição dos meus pais), por isso já estava habituado a tal discrepância corpórea! :))))
MAS..a vida não é só corpo! :)))))))
Thora,
Olha, quem sabe se não fomos feitos um para o outro?:))))))))))))))))))))
P.S.A tua namorada é que não deve gostar muito destas conversas, se ler isto.
Não quero ser responsável por nenhum drama familiar.
andorinha,
obviamente que se ela lesse saberia que era tudo brincadeira! Dramas destes não pegam para estes lados.. :)))
Thora,
Sendo assim, fico mais descansada...:)))
Mas pronto, acabou por aqui. Tudo que é em demasia farta! E já deu para perceber quee dentro de cada um dos blogueiros morcões existe uma "Terese Guilherme"! LOL
Arrivaderci ou mesmo "arrivé 10"!! ;))
Thora,
Claro que acabou, miúdo.
Don't worry, be happy!:)
letra 4:
Andorinha, olha que o "puto" não tem 19...;P
Cêtê,
Isso tenho eu andado a dizer há muito...:)
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