Coisas sólidas e verdadeiras.
O leitor que, à semelhança do de O'Neill, me pede
a crónica que já traz engatilhada perdoar-me-á que, por uma vez, me deite no
divã: estou farto de política! Eu sei que tudo é política, que, como diz
Szymborska, "mesmo caminhando contra o vento/ dás passos políticos/ sobre
solo político". Mas estou farto de Passos Coelho, de Seguro, de Portas, de
todos eles, da 'troika', do défice, da crise, de editoriais, de analistas!
Por isso, decidi hoje falar de algo realmente
importante: nasceram três melros na trepadeira do muro do meu quintal. Já
suspeitávamos que alguma coisa estivesse para acontecer pois os gatos ficavam
horas na marquise olhando lá para fora, atentos à inusitada actividade junto do
muro e fugindo em correria para o interior da casa sempre que o melro macho,
sentindo as crias ameaçadas, descia sobre eles em voo picado.
Agora os nossos novos vizinhos já voam. Fico a
vê-los ir e vir, procurando laboriosamente comida, os olhos negros e brilhantes
pesquisando o vasto mundo do quintal ou, se calha de sentirem que os
observamos, fitando-nos com curiosidade, a cabeça ligeiramente de lado, como se
se perguntassem: "E estes, quem serão?"
Em breve nos abandonarão e procurarão outro
território para a sua jovem e vibrante existência. E eu tenho uma certeza: não,
nem tudo é política; a política é só uma ínfima parte, a menos sólida e menos
veemente, daquilo a que chamamos impropriamente vida.
Manuel António Pina no JN.
34 comentários:
Grande Manuel António Pina! Venero este homem!:)
Gostei imenso do texto. Faz-nos de facto falta apreciarmos as coisas simples da vida. E ternurentas, ao mesmo tempo.
"...a política é só uma ínfima parte, a menos sólida e menos veemente, daquilo a que chamamos impropriamente vida."
Assino por baixo!
Júlio,
Quando comecei a ler o texto, pensei que fosse seu. Mas quando cheguei a esta parte:
"Mas estou farto de Passos Coelho, de Seguro, de Portas, de todos eles, da 'troika', do défice, da crise, de editoriais, de analistas!"
estranhei...não costuma ser tão radical e taxativo...:)))
À parte a minha ignorância àcerca de Szymborska, e o bonito retrato do Manuel Pina:
O solo é político e por isso
Manuel Pina escreve, eu leio, a realidade é enfadonha, existe uma necessidade de evasão....
Os passos são políticos sempre que
Manuel Pina escreva sobre política, a queira ignorar ou não, influencie outros com a sua actuação, o Júlio partilhe a sua opinião, exista um quintal e uma trepadeira....
Até o espaço e o tempo para observar e descrever é solo político.
Quanto à política, estamos conversados. Decidi que com o meu voto JAMAIS entrará em Belém ou São Bento qualquer "democrata". Em relação aos melros, adorei. No meu jardim, às 06h00 da manhã já vi 6 (seis) casais à procura das aranhas e dos outos insectos que há na relva depois da rega da madrugada. Histórias de ninhos... tenho muitas mas não dá para este espaço. Um abraço
:D graaaaaaande
(é mais forte que eu)
Nem só o M.A. Pina tem um melro no quintal, eu também tenho, desavergonhado e sem medo de ninguém, esgaravata no jardim e come os bichinhos, por vezes dou-lhe pão e ele agradece.
Só não tenho a sorte de cá fazer ninho, sente-se demasiado vulnerável com a omnipresente existência de humanos para tamanha ousadia / responsabilidade. É que tem que dar segurança aos filhinhos, e com os exemplos que deve ver nas televisões que pululam por todas as casas das redondezas, por entre as quais voa descontraidamente, não tem razão para confiar demasiadamente, apesar de ter sido sempre bem tratado. As imagens da Síria devem estar permanentemente a fazer-lhe tocar a campainha de alarme: cuidado com estes tipos, não são de confiança.
Mas isto agora é política, não é? Já borrei a pintura toda.
Oh Professor
Olhe que se tiver com atenção tambem lá deve ter melros nas proximidades da sua casa do Porto:) Veja bem!:)
Estive nestes dias em casa de amigos que por acaso são seus vizinhos num condomínio próximo e no jardim deles tinham vários melros a cantarem imenso.
Achei lindo!
O texto está uma ternura e concordo com o seu comentário final no Face:)
Estes poetas, pensam que nos enganam quando se "disfarçam" de prosadores:).
Gostei!:))
Júlio. Subscrevo. Fica-se saturado, quando se abre a televisão ou a rádio. Debates, discussões, frentes a frente, seja o que for, para lá do noticiário - é mais do mesmo.
Seria bom que os políticos olhassem mais para a Natureza, isso é um facto, mas estamos de tal modo condicionados, tipo cãozinho de Pavlov, que o meu Amigo fala de melros e eu só os imagino nas tardes de chuvisco, a tirar larvas das "relvas"...
Abraços!
Boa noite:)
Gostei muito do texto, do primeiro parágrafo,eloquente e realista, e da parte poética, os melros.
Onde trabalho posso observar melros à vontade, porque eles decidiram ficar a viver naquele jardim, onde já não estranham a presença humana.
Aquiles
O vídeo que lhe deixei um dia, a curta-metragem "North Atlandic" de Bernardo Nascimento, já é uma das dez finalistas do Your Film Festival concebido pelo realizador Ridley Scott, que fez o "Blade Runner" e "Alien".
Este filme vai ao Festival de Veneza, onde será escolhida a obra vencedora.
Como andei dias a votar no vídeo, cá vai: Viva Portugal!
Desculpem o meu entusiasmo, mas nem só de desporto vive o Homem:))
Deixo novamente o link:
http://www.youtube.com/watch?v=aScwR4tmFmI
Rainbow,
Já que estamos a falar de melros...também vejo vários da minha varanda. Um dia destes eu estava lá com a Mafalda e ela forma um salto sem eu esperar a tentar apanhar um que passou a voar muito perto. Moro num primeiro andar, é o que me vale:)
Não o apanhou, felizmente. Ficou lá em baixo a olhar para mim com "cara de parva" e lá tive eu que ir buscar a "menina"...Dona sofre...:)
Esse video é muito bom, já comentei na altura. Merece o sucesso que está a ter.
http://www.youtube.com/watch?v=tjOZ8upPXyc&feature=share
Fiquem bem:)
Pois fique sabendo, Senhor Professor; aquilo que diz respeito aos melros, também se encontra envolto em política. E mais! Em religião também, pelo menos, fazendo fé no que escreveu Guerra Junqueiro:
(Vá, apanhe lá com este enxerto, se conseguir manter-se no divã, sem pestanejar)
O MELRO
O melro, eu conheci-o:
Era negro, vibrante, luzidio,
Madrugador, jovial;
Logo de manhã cedo
Começava a soltar, dentre o arvoredo,
Verdadeiras risadas de cristal.
E assim que o padre-cura abria a porta
Que dá para o passal,
Repicando umas finas ironias,
O melro; dentre a horta,
Dizia-lhe: "Bons dias!"
E o velho padre-cura
não gostava daquelas cortesias.
O cura era um velhote conservado,
Malicioso, alegre, prazenteiro;
Não tinha pombas brancas no telhado,
Nem rosas no canteiro:
Andava às lebres pelo monte, a pé,
Livre de reumatismos,
Graças a Deus, e graças a Noé.
O melro desprezava os exorcismos
Que o padre lhe dizia:
Cantava, assobiava alegremente;
Até que ultimamente
O velho disse um dia:
"Nada, já não tem jeito!, este ladrão
Dá cabo dos trigais!
Qual seria a razão
Por que Deus fez os melros e os pardais?!"
E o melro entretanto,
Honesto como um santo,
Mal vinha no oriente
A madrugada clara,
Já ele andava jovial, inquieto,
Comendo alegremente, honradamente,
Todos os parasitas da seara
Desde a formiga ao mais pequeno insecto.
E apesar disto, o rude proletário,
O bom trabalhador,
Nunca exigiu aumento de salário.
Que grande tolo o padre confessor!
Foi para a eira o trigo;
E, armando uns espantalhos,
Disse o abade consigo:
"Acabaram-se as penas e os trabalhos."
Mas logo de manhã, maldito espanto!
O abade, inda na cama,
Ouvindo do melro o costumado canto,
Ficou ardendo em chama;
Pega na caçadeira,
Levanta-se dum salto,
E vê o melro, a assobiar, na eira,
Em cima do seu velho chapéu alto!
Chegou a coisa a termo
Que o bom do padre-cura andava enfermo;
Não falava nem ria,
Minado por tão íntimo desgosto;
E o vermelho oleoso do seu rosto
Tornava-se amarelo dia a dia.
E foi tal a paixão, a desventura
(Muito embora o leitor não me acredite),
Que o bom do padre-cura
Perdera o apetite!
Andando no quintal, um certo dia,
Lendo em voz alta o Velho Testamento,
Enxergou por acaso (que alegria!,
Que ditoso momento!)
Um ninho com seis melros, escondido
Entre uma carvalheira.
E ao vê-los exclamou enfurecido:
"A mãe comeu o fruto proibido;
Esse fruto era minha sementeira:
Era o pão, e era o milho;
Transmitiu-se o pecado.
E, se a mãe não pagou, que pague o filho.
É doutrina da Igreja. Estou vingado!"
E, engaiolando os pobres passaritos,
Soltava exclamações:
"É uma praga. Malditos!
Dão me cabo de tudo esses ladrões!
Raios os partam! Andai lá que enfim"
E deixando a gaiola pendurada,
Continuou a ler o seu latim,
Fungando uma pitada.
Vinha tombando a noite silenciosa;
E caía por sobre a natureza
Uma serena paz religiosa,
Uma bela tristeza
Harmónica, viril, indefinida.
A luz crepuscular
Infiltra-nos na alma dorida
Um misticismo heróico e salutar.
As árvores, de luz inda douradas,
Sobre os montes longínquos, solitários,
Tinham tomado as formas rendilhadas
Das plantas dos herbários.
Recolhiam-se a casa os lavradores.
Dormiam virginais as coisas mansas:
Os rebanhos e as flores,
As aves e as crianças.
Ia subindo a escada o velho abade;
A sua negra, atlética figura,
Destacava na frouxa claridade,
Como uma nódoa escura.
E, introduzindo a chave no portal,
Murmurou entre dentes:
"Tal e qual tal e qual!
Guisados com arroz são excelentes."
* * * * * *
Nasceu a Lua. As folhas dos arbustos
Tinham o brilho meigo, aveludado,
Do sorriso dos mártires, dos justos.
Um eflúvio dormente e perfumado
Embebedava as seivas luxuriantes.
Todas as forças vivas da matéria
Murmuravam diálogos gigantes
Pela amplidão etérea.
São precisos silêncios virginais,
Disposições simpáticas, nervosas,
Para ouvir falar estas falas silenciosas
Dos mundos vegetais.
As orvalhadas, frescas espessuras,
Pressentiam-se quase a germinar.
Desmaiavam-se as cândidas verduras
Nos magnetismos brancos do luar.
..................................................
..................................................
E nisto o melro foi direito ao ninho.
Para o agasalhar, andou buscando
Umas penugens doces como arminho,
Um feltrozito acetinado e brando.
Chegou lá, e viu tudo.
Partiu como uma frecha; e, louco e mudo,
Correu por todo o matagal; em vão!
Mas eis que solta de repente um grito
Indo encontrar os filhos na prisão.
"Quem vos meteu aqui?!" O mais velho,
Todo tremente, murmurou então:
"Foi aquele homem negro. Quando veio,
Chamei, chamei Andavas tu na horta
Ai que susto, que susto!, ele é tão feio!
Tive-lhe tanto medo! Abre esta porta
E esconde-nos debaixo da tua asa!
Olha, já vão florindo as açucenas;
Vamos a construir a nossa casa
Num bonito lugar
Ai! quem me dera, minha mãe, ter penas
Para voar, voar!"
E o melro alucinado
Clamou:
"Senhor! senhor!
É porventura crime ou é pecado
Que eu tenha muito amor
A estes inocentes?!
Ó natureza, ó Deus, como consentes
Que me roubem assim os meus filhinhos,
Os filhos que eu criei!
Quanta dor, quanto amor, quantos carinhos,
Quanta noite perdida
Nem eu sei...
E tudo, tudo em vão!
Filhos da minha vida
Filhos do coração!!!
Não bastaria a natureza inteira,
Não bastaria o Céu par voardes,
E prendem-vos assim desta maneira!
Covardes!
A luz, a luz, o movimento insano,
Eis o aguilhão, a fé que nos abrasa
Encarcerar a asa
É encarcerar o pensamento humano.
A culpa tive-a eu! Quase à noitinha
Parti, deixei-os sós
A culpa tive-a eu, a culpa é minha,
De mais ninguém! Que atroz!
E eu devia sabê-lo!
Eu tinha obrigação de adivinhar
Remorso eterno! eterno pesadelo!
.................................................
Falta-me a luz e o ar! Oh, quem me dera
Ser abutre ou fera
Para partir o cárcere maldito!
E como a noite é límpida e formosa!
Nem um ai, nem um grito
Que noite triste!, oh, noite silenciosa!"
E a natureza fresca, omnipotente,
Sorria castamente
Com o sorriso alegre dos heróis.
Nas sebes orvalhadas,
Entre folhas luzentes como espadas,
Cantavam rouxinóis.
Os vegetais felizes
Mergulhavam as sôfregas raízes
A procurar na terra as seivas boas,
Com a avidez e as raivas tenebrosas
Das pequeninas feras vigorosas
Sugando à noite os peitos das leoas.
A lua triste, a Lua merencória,
Desdémona marmórea,
Rolava pelo azul da imensidade,
Imersa numa luz serena e fria,
Branca como a harmonia,
Pura como a verdade.
E entre a luz do luar e os sons das flores,
Na atonia cruel das grandes dores,
O melro solitário
Jazia inerte, exânime, sereno,
Bem como outrora o Nazareno
Na noite do calvário!
Segundo o seu costume habitual,
Logo de madrugada
O padre-cura foi para o quintal,
Levando a Bíblia e sobraçando a enxada.
Antes de dizer missa,
O velho abade inevitavelmente
Tratava da hortaliça
E rezava a Deus-Padre Omnipotente
Vários trechos latinos,
Salvando desta forma, juntamente,
As ervilhas, as almas e os pepinos.
E já de longe ia bradando:
"Olé!
Dormiram bem? Estimo
Eu lhes darei o mimo,
Canalha vil, grandíssima ralé!
Então vocês, seus almas do Diabo,
Julgam que isto que era só dar cabo
Da horta e do pomar,
E o bico alegre e estômago contente,
E o camelo do cura que se aguente,
Que engrole o seu latim e vá bugiar!
Grandes larápios! Era o que faltava
Vocês irem ao milho,
E a mim mandar-me à fava!
Pois muito bem, agora que vos pilho
Eu vos ensinarei, meus safardanas!
Vocês são mariolões, são ratazanas,
Têm bico, é certo, mas não têm tonsura
E, nas manhas, um melro nunca chega
Às manhas naturais de um padre-cura.
O melhor vinho que encontrar na adega
É para hoje, olé! Que bambochata!
Que petisqueira! Melros com chouriço!
E então a Fortunata
Que tem um dedo e jeito para isso!
Hei-de comer-vos todos um a um,
Lambendo os beiços, com tal gana enfim,
Que comendo-vos todos, mesmo assim
Eu fico ainda quase em jejum!
E depois de vos ter dentro da pança,
Depois de vos jantar,
Vocês verão como o velhote dança,
Como ele é melro e sabe assobiar!"
Mas nisto o padre-cura, titubeante,
Quase desfalecendo,
Atónito de horror, parou diante
Deste drama estupendo:
O melro, ao ver aproximar o abade,
Despertou da atonia,
Lançando-se furioso contra a grade
Do cárcere. Torcia,
Para os partir os ferros da prisão,
Crispando as unhas convulsivamente
Com a fúria dum leão.
Batalha inútil, desespero ardente!
Quebrou as garras, depenou as asas
E alucinado, exangue,
Os olhos como brasas,
Herói febril, a gotejar em sangue,
Partiu num voo arrebatado e louco,
Trazendo, dentro em pouco,
Preso do bico, um ramo de veneno.
E belo e grande e trágico e sereno,
Disse:
"Meus filhos, a existência é boa
Só quando é livre. A liberdade é a lei,
Prende-se a asa mas a alma voa
Ó filhos, voemos pelo azul! Comei!" -
E mais sublime do que Cristo, quando
Morreu na Cruz, maior do que Catão,
Matou os quatro filhos, trespassando
Quatro vezes o próprio coração!
Soltou, fitando o abade, uma pungente
Gargalhada de lágrima, de dor,
E partiu pelo espaço heroicamente,
Indo cair, já morto, de repente
Num carcavão com silveiras em flor.
E o velho abade, lívido d'espanto,
Exclamou afinal:
"Tudo o que existe é imaculado e é santo!
Há em toda a miséria o mesmo pranto
E em todo o coração há um grito igual.
Deus semeou d'almas o universo todo.
Tudo que o vive ri e canta e chora
Tudo foi feito com o mesmo lodo,
Purificado com a mesma aurora.
Ó mistério sagrado da existência,
Só hoje te adivinho,
Ao ver que a alma tem a mesma essência,
Pela dor, pelo amor, pela inocência,
Quer guarde um berço, quer proteja um ninho!
Só hoje sei que em toda a criatura,
Desde a mais bela até à mais impura,
Ou numa pomba ou numa fera brava,
Deus habita, Deus sonha, Deus murmura!
............................................................
Ah, Deus é bem maior do que eu julgava"
E quedou silencioso. O velho mundo,
Das suas crenças antigas, num momento,
Viu-o sumir exausto, moribundo,
Nos abismos sem fundo
Do temeroso mar do Pensamento.
E chorou e chorou A Igreja, a Crença,
Rude montanha, pavorosa, escura,
Que enchia o globo com a sombra imensa
Dos seus setenta séculos d'altura;
O Himalaia de dogmas triunfantes,
Mais eternos que o bronze e que o granito,
Onde aos profetas Deus falava dantes,
Entre raios e nuvens trovejantes,
Lá dos confins sidérios do infinito;
Esse colosso enorme, em dois instantes
Viu-o tremer, fender-se e desabar
Numa ruína espantosa,
Só de tocar-lhe a asa vaporosa
Duma avezinha trémula, a expirar!
.................................................
.................................................
E, arremessando a Bíblia, o velho abade
Murmurou:
"Há mais fé e há mais verdade,
Há mais Deus concerteza
Nos cardos secos dum rochedo nu
Que nessa Bíblia antiga Ó Natureza,
A única Bíblia verdadeira és tu!..."
Guerra Junqueiro
;)))))))
Bartolomeu:)
Muito engraçado:)
Já agora e a propósito tambem lhe digo que meu pai que era escritor e poeta, escreveu e publicou nesse mesmo ano de 1930, o opúsculo "O Pinto". Trata-se dum poema de crítica político social, de assumida paródia ao longo poema "O Melro" de Guerra Junqueiro. poeta que aliás admirava e a quem dedicou e referenciou em alguma obra.
Transcrevo por graça, a parte do poema de meu pai no passo correspondente ao início do de Guerra Junqueiro:
O cura era um velhote conservado,
Malicioso, alegre,prazenteiro;
Não tinha pombas brancas no telhado,
Nem rosas no canteiro:
Andava às lebres pelo monte, a pé,
Livre de reumatismos,
Graça a Deus, e graças a Noé.
O melro desprezava os exorcismos
Que o padre lhe dizia:
Cantava assobiava alegremente;
Até que ultimamente
O velho disse um dia:
... ...
e agora repito o de Guerra Junqueiro para confronto:
O melro, eu conheci-o:
Era negro, vibrante, luzidio,
Madrugador, jovial;
Logo de manhã cedo
Começava a soltar, dentre o arvoredo,
Verdadeiras risadas de cristal.
E assim que o padre-cura abria a porta
Que dá para o passal,
Repicando umas finas ironias,
O melro; dentre a horta,
Dizia-lhe: "Bons dias!"
E o velho padre-cura
não gostava daquelas cortesias.
:))
Parabéns à A Menina, herdeira da ilustre gene poética de seu pai.
Mas minha querida... não compreendi a questão da semelhança dos poemas.
Hoje devo ter acordado um pouco mais lerdo do que é habitual...
Bartolomeu:)
Se calhar foi isso:) um pouquinho lerdo:)) (não leve a mal)
Então! existe coincidência no objectivo geral da obra; poema satírico de crítica social e política, com críticas a figuras sociais semelhantes e em cumplicidades implícitas e explícitas; um chama-se "O MELRO" e o outro "O PINTO".
Existentem assim semelhanças, no mesmo jeito burlesco e brincalhão... na forma e até no estilo dos poemas...
A comparação que aqui coloquei, se bem que diminuta, permite alguma ilustração dessa descarada e brincalhona semelhança, aliás assumida pelo meu pai!
Claro que cada poema é distinto e original e por isso não se coloca a questão de plágio..
Understand?:))
Bom dia:)
Porra, Bart!:) Não entendo como se consegue acordar a essa hora da madrugada:) com essa genica toda...
Tens que me ensinar o truque:)
E já que estamos em maré de poesia aqui fica um belíssimo poema que "roubei" ao Júlio lá no outro lado.
Sempre
Do teu passado
Não tenho ciúmes.
Vem com um homem
às costas,
vem com cem homens nos cabelos,
vem com mil homens entre o peito e os pés,
vem como um rio
cheio de afogados
que encontra o mar furioso,
a espuma eterna, o tempo!
Trá-los a todos
Ao lugar onde te espero:
Estaremos sempre sós,
Estaremos sempre, tu e eu,
Sozinhos sobre a terra
Para começar a vida!
Pablo Neruda, Os Versos do Capitão.
Lindo! Se todos, homens e mulheres agissemos assim, não seria otimo?
Que dizes, Bart? Opina...:)
Vou...fiquem bem:)
A Menina;
revela-se assim, a minha incapacidade de perceber à primeira, as coisas simples.
Lavre-se em acta!
;)
Andorinha, não ha truques. é tudo ao natural.
;)
Opino!
Opino que o Pablo era um ganda mentiroso. Ou então, esqueceu-se de referir no verso:
Trá-los a todos
Ao lugar onde te espero:
Que já tenho pronta a comida envenenada e;
Estaremos sempre sós,
Estaremos sempre, tu e eu,
Sozinhos sobre a terra
Para começar a vida!
A menos que o escritor estivesse a pensar dedicar-se à produção de enchidos...
Ainda à dias dizia o Professor à Inês, que lhe chegam caramelos às consultas bloqueados na ideia de que na vagina da mulher, permaneceram pénis de outros homens...
O engraçado da questão, é a mente do homem não bloquerar perante a certeza de que, a mulher que acabou de conhecer e com quem está disposto a ter sexo, já o teve com variadíssimos outros. Só o aflige se a situação se passar com a própria mulher.
Somos mesmo parvinhos, caráças!
Fala-se muito da política pelo vazio de não haver. como se falar sobre, a traga de volta. E vai ficando a sobra das palavras,excesso vazio e imprestável de caixas que não guardam.
E não distingo os melros de outras aves mas talvez que algum no quintal a chagar-me o juízo. Porém, quem quer que sejam, estes pássaros são reais não apenas porque existem; a realidade é vê-los viver a sua condição, havê-la no presente. E isso falta àqueles a quem demos o direito de serem políticos.
É preciso retirar o que demos.
E fiquem bem. que.
beijinhos
Boa Tarde:)
Menina,
Agora percebo donde vem a sua sensibilidade. Quem sai aos seus...:)
Bea
Sua desaparecida:)Abraço.
Andorinha,
Obrigada pela música, gostei muito.
Ia começar a falar de melros, quando o Bartolomeu me silenciou com o belo poema de Guerra Junqueiro.
Sobre a Mafalda, pois, tem sete vidas, a malandra, não fosse ela uma gata:)
Do poema de Pablo Neruda, acho lindíssimo.
Os ciúmes, irracionais sempre, são uma perda de tempo. Ainda mais se forem retrospectivos. O passado é fundamental na construção da pessoa que nos tornámos.
http://www.youtube.com/watch?v=Nj_X-Uv7yyA
Bom dia per tutti
Rain
os intervalos estão para a vida como o silêncio para a música.
bigada, viu?
a Simone sim, que tem voz de fascinação.
Bart,
Tu és doido! A comida envenenada...:) lol
"...a mulher que acabou de conhecer e com quem está disposto a ter sexo, já o teve com variadíssimos outros."
Teve agora!!!! Essa é virgem!
Mas se é só para sexo não faz mal...kékesehádefazer?
"Somos mesmo parvinhos, caráças!"
Subscrevo! Pois sois!:)
BEA:)
Saudades, miúda!
Boas férias.
Rainbow,
Belíssimo o dueto! Simone e Ivan Lins conjugam muito bem:)
Pois pouco ou quase nada tenho a acrescentar. Gostei da referência ao Poema do Melro do Guerra Junqueiro, esse sim um ser alado com forte sentido político; há pássaros que não gostam de se verem engaiolados. Quanto ao post pois não teria sido a minha escolha para falar de política ou mostrar o meu desencanto sobre ela, na actual conjuntura.
À política, levo-a a sério mesmo quando me desencanto ou farto dela, pois as coisas que se levam a sério por vezes fartam ou desencantam. Nestas alturas refugio-me na gargalhada, pois, lá dizem os médicos que rir faz bem e alivia a figadeira. E não devo ser o único pois já Eça de Queirós usava a mesma terapia.
“A Única Crítica é a Gargalhada
A única crítica é a gargalhada! Nós bem o sabemos: a gargalhada nem é um raciocínio, nem um sentimento; não cria nada, destrói tudo, não responde por coisa alguma. E no entanto é o único comentário do mundo político em Portugal. Um Governo decreta? gargalhada. Reprime? gargalhada. Cai? gargalhada. E sempre esta política, liberal ou opressiva, terá em redor dela, sobre ela, envolvendo-a como a palpitação de asas de uma ave monstruosa, sempre, perpetuamente, vibrante, e cruel – a gargalhada! Política querida, sê o que quiseres, toma todas as atitudes, pensa, ensina, discute, oprime – nós riremos. A tua atmosfera é de chalaça. “ Eça de Queirós
Saravá
Ímpio
Ímpio
Sinto o mesmo.
....
Simone e Ivan Lins encantam-me há tanto!...Boa!
....
O poema de Neruda é bonito, sim!
Somos feitos de vividos amores e desamores e é com eles que aportamos a cada novo abraço que se torna omnipresente quando é muito significativo.
Alguém já aqui disse que o melhor beijo é sempre o último.
É talvez a pessoa do beijo, seja ele significativo...
Faltou o miminho para o embalo:
http://www.youtube.com/watch?v=ulor1MHq5hY&feature=related
Caidê,
O melhor beijo é sempre o próximo:)
Fiquem bem.
http://www.youtube.com/watch?v=XGbcMuhlNiA
Obrigada pelo miminho. Nunca te esqueces...:)
Beijinhos
Já aqui disse e vou repetir, porque me parece que vocês não entenderam. A actração física, sentimental, sexual, etc. não é nada que nasça da nossa vontade, pela nossa vontade, com o fim de cumprir a nossa vontade. Não! Quando dois seres sentem atracção, física, sexual, sentimental, estão nesse momento, a protagonizar uma cena de uma peça, escrita pelo Universo. Desiludam-se os caríssimos que sentem - quando recostados plácidamente numa esplanada de um jardim tomando um refresco de manga e gozando o efeito dos doces raios do astro-rei; ao passar-lhes pela frente uma bela mulher, trajando a leve transparÊncia de um vestido florido, pisando o chão que lhe agradece a subtileza de cada passo, e lançando no ar a fragância doce do almíscar - uma intumescência e um forte desejo de a tomar nos braços, a beijar, acariciar excitar e penetrar, que esses desejos derivam de uma vontade própria, de um livre arbítrio.
Nooops!
É uma armadilha meus caros!
Basta que pensem que o mundo não existiria já, nem Deus, se esta armadilha não tivesse sido tão magistralmente urdida.
Imaginem se tanto o homem como a mulher, ao encontrar-se, não sentissem o menor desejo um pelo outro?!
Yahhh!!! Teríamos ficado pelo Adão e pela Eva.
Bart
a minha diretora de colégio diria o mesmo com outras palavras. E os dois sem a razão inteira. Mas uma parte cabe-vos.for sure.
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