Os abaixo-assinados, cidadãos do Porto, cidadãos do Mundo, incapazes de aceitar passivamente a prepotência e a mais preocupante cegueira política, opõem-se veementemente à decisão recentemente comunicada pelo Presidente da Câmara Municipal do Porto de concessionar a «exploração» do Rivoli Teatro Municipal a entidades privadas. Quando, há quase dez anos, o Rivoli Teatro Municipal reabriu as suas portas, fazia-o com um objectivo muito preciso: dar finalmente corpo, na cidade do Porto, à ideia de um Teatro Municipal contemporâneo, de vocação multi-disciplinar, aberto à inteligência, motor de conhecimento e criatividade, capaz de ajudar a caracterizar o Porto como cidade cosmopolita, como uma das grandes cidades europeias.
Um espaço para onde convergiram as diferentes linguagens, todos os tipos de públicos, os maiores nomes, bem como os novos artistas, os principais festivais da cidade, motores de toda uma dinâmica que se pretendia continuar e desenvolver, envolvendo mais e mais vozes e protagonistas. O papel insubstituível do Estado – seja o estado central seja a administração autárquica – na criação e manutenção de espaços de crescimento e afirmação das artes performativas (por definição, as mais sociais das artes) é um dado civilizacional de base que não é questionado em nenhum país ocidental. Tal como, de resto, o papel das artes e das correlativas actividades culturais na afirmação de maturidade de uma comunidade, ou ainda na sua afirmação plena nos contextos nacional e internacional. Não é pois possível aceitar que a decisão unilateral de um edil – uma decisão que equivale, pelo absurdo, à de arrasar todas as árvores da cidade, invocando o respectivo, necessariamente elevadíssimo custo de manutenção (porque os números, como sabemos, são sempre muito facilmente manipuláveis) – comprometa irremediavelmente um equipamento que, pela sua pertença à cidade, é público por natureza. Numa altura em que o esforço de todo o País deve, como condição de sobrevivência, orientar-se para a educação e para a qualificação, numa altura em que a invenção e a afirmação de uma consciência cidadã são factores críticos de desenvolvimento de uma sociedade que enfrenta desafios novos, esta decisão do Presidente da Câmara Municipal do Porto é inaceitável por razões cívicas e culturais básicas, é medíocre enquanto decisão política e é sinal de uma prática política definida pela arrogância de impor uma curteza de vistas pessoal a toda uma comunidade. No preciso momento em que a rede de Teatros Municipais cresce por todo o País e em que se torna imperioso definir e estabilizar um quadro de cooperação entre os níveis nacional e local que lhes permita serem eficazes na sua missão, o exemplo dado pela segunda cidade do país é desastroso e envergonha quem vê a cidade como algo mais do que uma paróquia. Por estas e muitas outras razões que poderíamos aqui avocar, exigimos a simples anulação desta decisão e o lançamento imediato de uma discussão pública sobre as formas de gestão, financiamento, programação e mediação cultural de um Teatro Municipal digno desse nome e à altura de uma cidade como o Porto
13 comentários:
Subscrevo integralmente!
Há algo para subscrever noutro lugar... já volto.
............
http://www.juntosnorivoli.com/
AQUI ESTÁ.
bjocas
Boa noite.
Como estou totalmente de acordo com o teor do texto, já lá fui.
Boa noite
Segui o voo da Andorinha. Isto parece uma novela rasca! Qual é o Teatro que se segue?...
Assim vai a Cultura deste país.
Por vezes interrogo-me, se mesmo detidos, não teremos mais liberdade para recriarmos uma liberdade teatral, ou outra qualquer, que por vezes é sonegada pelos grandes senhores da Cultura.
Pode parecer fora de contexto, mas a verdade é que em termos artísticos estamos libertos do jugo da monopolização da arte.
Digo-lhe eu, que estou mais um tempinho fora dessas artimanhas editoriais.
Bom dia!
Por detrás da ideia de privatizar o Rivoli está a mesma filosofia economicista / neo-liberal subjacente ao encerramento de Centros de Saúde, Escolas, Maternidades, etc por parte do actual governo. Encerramentos estes que, diga-se de passagem, são atentados muito mais graves contra as populações do que uma hipotética privatização do Rivoli.
Por isso mesmo, tenho pena que muitas das pessoas que agora se aprontam para subescrever este abaixo assinado - alguns deles apenas para porem Rui Rio (PSD) em causa - não vejam que o governo (PS) da sua possível simpatia é quem tem marcado mais perversamente a agenda neo-liberal deste país.
Claro que, embora sendo de Lisboa, vou subscrever o referido abaixo-assinado. Mas faço-o por uma questão de coerência de princípios e não por qualquer azedume contra Rui Rio. Até porque não tenho pena nenhuma do ex-incumbente, o tal do capachinho que está hoje na GALP a mamar à vara larga à pala do contribuinte.
Para terminar, e só porque acabei de me lembrar das 'rasteirices' de João César das Neves no seu artigo de ontem no DN, apetece-me também dizer que "PÚBLICO É DE TODOS, PRIVADO É SÓ DE ALGUNS".
No Porto o teatro anda na rua!
Em geral detesto contrariar uma acção de movimento cívico, porque acho que é o tipo de movimento que mais falta faz aqui ao nosso cantinho europeu (quanto mais intervenção social dos cidadãos, melhor) mas sou contra este abaixo assinado.
Como ocasional produtor teatral (sem subsídios) considero que o apoio estatal às "artes" é o que não as permite avançar. Quando já se tem garantia de subsídio e de casa cheia à custa de convites, não há motivação para fazer um bom espectáculo, agora quando é preciso ter espectadores pagantes sentados nas cadeiras, aí sim é preciso dar tudo de nós para fazermos um bom espectáculo. E não se pense que só atraem público os espectáculos "pimba" ou "popularuchos". Isso é apenas uma visão redutora. É perfeitamente possível fazer um espectáculo de qualidade e de sucesso de bilheteira. Claro que também deve haver lugar à experimentação artística, mas para isso é que existem outro tipo de instituições mais pequenas e dedicadas especificamente à experimentação. Não são um Rivoli ou um S. João quem deve assumir esses projectos, correndo o risco de fecharem mais cedo ou mais tarde quando se reparar que já estão a absorver demasiado dinheiro.
Há espaço para tudo. Como já escrevi, é perfeitamente possível fazer espectáculos de qualidade que vendam bilhetes, mas claro que é difícil. Se fosse fácil toda a gente fazia, e assim já não tinha piada nenhuma. :)
Bom dia a todos!
Sempre me fez uma grande confusão a passagem para a gestão privada de instituições ou actividades que se defendem como sendo coisa pública...
Porque das duas uma; ou não tem interesse para os cidadãos em geral e apenas para alguns ou então tem de se assumir que falha competência ao estado (autarquias) no que respeita à sua capacidade de assumir responsabilidades relativamente às suas obrigações.
Porque será que indo para o domínio de gestão privada pode ser lucrativo?
Será por milagre? ou será que os gestores privados são assim tão fantásticos que começando por pagar o acesso à actividade conseguem ainda lucro e sem recuar uma "vírgula" na oferta do serviço que era prestado?
Estou a ironizar mas o que eu sinto muitas vezes é que existem interesses que no mínimo não são transparentes e que acabam infelizmente por trazer mais valias só para alguns...mas prejudicando e desfalcando o verdadeiro e legítimo utilizador que é o cidadão...
O património dum país tambem se avalia pela qualidade e capacidade de resposta às "necessidades cívicas e culturais básicas" e não só por uma boa e orquestrada contabilidade económica e financeira; as dinâmicas de desenvolvimento estão muitas vezes fora das "leituras cegas" dos dinheiros...
Na verdade a minha existência não é interrogável! Eu existo mesmo porque a chatice é o lema do meu País. Eis mais uma como muitas outras que por aí se vão cometendo. Portugal, aos poucos, deixará de ser caracterizado pela genuidade da sua cultura de 800 anos (ena tantos) e passará a ser uma vitrine de vaidades privadas na busca fácil do lucro. A identidade aos poucos deixará de existir.
Digam lá se isto não é chato, mesmo?!
Morrem os teatros, os cinemas, os recintos histórico-culturais. O que andamos aqui a fazer? Reciclados para consumo de IURDS e outras aberrações. Chego a pensar se não é maldição, não ter nascido Espanhol!
"Por isso mesmo, tenho pena que muitas das pessoas que agora se aprontam para subescrever este abaixo assinado - alguns deles apenas para porem Rui Rio (PSD) em causa - não vejam que o governo (PS) da sua possível simpatia é quem tem marcado mais perversamente a agenda neo-liberal deste país.
Claro que, embora sendo de Lisboa, vou subscrever o referido abaixo-assinado. Mas faço-o por uma questão de coerência de princípios e não por qualquer azedume contra Rui Rio. Até porque não tenho pena nenhuma do ex-incumbente, o tal do capachinho que está hoje na GALP a mamar à vara larga à pala do contribuinte."
Oh fora da Lei, eu t/b sou de Lisboa.
Eu t/b sou... não interessa.
E subscrevo.
Não tem anda que ver com politiquice "carago"!
Tem que ver com a importancia do teatro que faz parte da cultura da agenda cultural de momentos únicos e que o Estado deve proteger e incentivar.
BOLAS!!!
Que mau génio!
Que coisa!
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