Maria,
Domingo de chuva. Conheces-me - trabalho espojado no tapete. As armadilhas da memória. Tu no sofá, um "degrau" acima. Lendo o jornal, preguiçosa e marota, ave de rapina abençoada por este lagarto de sangue já frescote:(. A tua voz, neutra e falsa; como o olhar, perdido no trigésimo quarto suplemento do semanário - "vão sendo horas...". Os amigos à espera e nós contentes por isso, que bom desejá-los pela companhia e não para disfarçarem silêncios fúnebres que tivessem invadido a relação. Igualar o teu bluff, "tens razão, vamos lá". Esse riso, tão vivo ainda que o alucino, ei-lo no ecrã, espera!, pronto - também no computador és o wallpaper da minha vida. Vamos lá, dizia eu; mas não, vinhas tu. Escorregavas do sofá e disfarçavas o teu desejo de esmola ao meu, "acho que te vou abrir o apetite". Os nossos corpos, exasperados. A televisão em fundo; a porta da vizinha; o relógio honesto mas benevolente. A pressa descomposta. Os olhos procurando-se no carro. A minha mão risonha na tua coxa, à revelia do cansaço mole que me encanta a preguiça e entristece a gula, dedo ante dedo..., "está quieto", a voz trémula desautorizava a ordem. O restaurante. A malta. O dono, ele próprio velho amigo. E, como de costume!, eu dava a alma à tua palmatória - de tão saciado, morria de fome:).
27 comentários:
encantador e poetico o texto e nas entrelinhas uma confissão de amor. adorei
a hoje murka.
Bom dia maralhal.
Dr. Murcon
Os posts à Maria mostram-nos que o senhor é uma autêntica Matrioska. Cada vez que nos abre uma bonequinha, mesmo que cada vez mais pequena, as surpresas vão sendo maiores.
Gostei da pressa descomposta.
Envolvente. Parecia uma mantinha de lã, daquelas que há na Serra da Estrela, bem quentinha em que apetece aconchegar-se nos pachorrentos domingos de chuva como este.
Com a mesma textura e calidez de mantinha de lã, desejo um bom domingo ao Dr. Murcon e ao maralhal!
essa maria é uma sortuda... já não há muitas destas marias, nme há muitos que saibam cuidar delas com este carinho e malandragem ao mesmo tempo... muito bonito. porque às vezes é bom fazer-se esperar... "de tão saciado morria de fome" gostei...
bom domingo para si e para todos os que aqui vêm.
Boa tarde.
Delicioso!
Venham mais domingos de chuva para termos textos destes:)
A Maria, que já o conhece de gingeira, sabe-a toda:"Acho que te vou abrir o apetite."
E não é que abriu mesmo?:)))
P.S. Fique bem e preserve essa relação. Olhe que será difícil substituir a Maria...:)
Improviso Apaixonado
Suave e aconchegante
que bom é amar assim
sonhando a cada instante
que tu estás dentro de mim.
E mesmo se estás ausente
e nem sei se voltarás
bebo a dúvida presente
na tarde cor de lilás.
Ouço uma música em fundo
num crepúsculo tristonho
fecho os olhos para o mundo
só os abro para o sonho.
* * *
Poema feito agora que dedico a todos os apaixonados da blogosfera.
Bjs,
Aspásia
O que vale, é que não há fome que não dê em fartura. Senão... ;-))
eu não gosto de domingos....muito menos de chuva
mas gostei do que li... não da maria ...mas das palavras nas entrelinhas---
jocas maradas de bom tempo
;D
Bendito Gordon!;]]]]]
(apetecia-me temperar um pouco mais o retrato mas se o professor se refreou...;]]]]])
Ò sr.Professor!!!!! Quem é me indemniza pela compra da NG? LOL
Boa noite
O amor sem hora marcada. Como deve ser e como melhor sabe :)
Aspásia
Belíssimo poema. Para ombrear com o que a Andorinha colocou lá num post. Não perca os rascunhos, pois tenho a certeza de que contêm preciosidades.
Aspásia,
Faço minhas as palavras do Aquiles.
És uma caixinha de surpresas:)
So_she_says,
Sem dúvida. Nada de pré-marcações:)))
Aspásia... esta apaixonada agradece...
Caro Dr... caso para dizer que há Marias cheias de graça :)))
Bom restinho!! Fiquem bem!!!
Condimentos essenciais para uma bela relação. Realidade ou ficção!
Aspásia:
O teu poemas das 7.05 PM de ontem, era para mim, não era?
(Não digas nada: é só para fazer inveja aos outros)
(Está muito bonito)
Agora me lembro: afinal quando é o novo jantar?
Entrelaço a tua ausência
nas agulhas do meu tricotar
faço dela uma manta de paciência
e a demora que faz desesperar
porém não esqueço
que és quem não mereço
e apenas desejo que nessa tua não presença
estejas tão cansada como eu quando ouvi tua senteça
Não passa um dia em que não te reveja naqueilo que sou
No solar onde um dia felizes fomos
E passe por mim quem quer que seja
Que lembrar me faz do lugar onde não estou
E a tristeza me tolda o olhar
Nas lágrimas deste meu amar!
(Vê-se mesmo que não sei escrever poesia)
É chato, eu sei, mas foi o que saiu.
Boa tarde.
Belo retrato, muito bem escrito, como não podia deixar de ser, de momentos de grande cumplicidade entre um casal, durante este seu jogo amoroso. Familiar, pois ambos conhecem os trâmites e o resultado, embora não menos excitante por isso. "Cenas de um casamento", em versão "feliz" (a recordação).
Com optimismo, por S. Cupido, desejo que a maior parte dos leitores e leitoras nele se tenham reconhecido, se não no presente, pelo menos no passado, e que a quem isso não sucedeu de todo, que lhe venha a acontecer num futuro bem próximo:).
Ontem quando cheguei a casa, liguei a televisão para me entreter enquanto comia uma tangerina. Estava a dar, não um Bergman:), mas "Harper", com o Paul Newman. Aspasia, não garanto, mas julgo que originalmente passou no S.Jorge. Não guardei o bilhete:).
Não tive disciplina nenhuma e vi o resto do filme até quase às 3 da manhã:)).
Pamina:
http://us.imdb.com/title/tt0060490/
...Lew Harper
...1966
...também tive esse bilhete :)))
...Laureen Bacall
...Janet Leigh
ando so on
A parte mais chocante é mesmo a do "lagarto..." :|. Quanto ao resto, fantástico! ;)
Hoje dia 25, 1º Centenário de Dmitri Shostakovich
Não se lembram de ter ouvido "isto" em qualquer parte?
Simplesmente LINDO!
Fabulástico!
Deliciosamente traduzido o sentir pelo escrever.
Mesmo!
:-)
não pesco nada disto,
para quem não pesca, leva intuição para uma valente Caldeirada.
CêTê, não estará a intuir mal?!
Belo pedaço de prosa, quiçá desperdiçou-se um escritor...
(O conteúdo é irrelevante.)
:)
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