quinta-feira, setembro 28, 2006

Três milhões...

"A excisão, como o cinto de castidade, é o medo que o homem tem da mulher" (Entrevista a Khady Koita, activista)



Três milhões de meninas são excisadas a cada ano. Na chamada África Negra, mas também na Indonésia, no Egipto e até na Europa. Há entre 130 e 150 milhões de mulheres no mundo a quem o clitóris foi cortado e esta senegalesa muçulmana a viver na Bélgica é uma delas. Em Lisboa para promover o seu livro e participar num seminário, fala deste crime e de como combatê-lo.Conta no seu livro como foi excisada, aos sete anos, "de surpresa": o clitóris "serrado" a sangue frio com uma lâmina velha enquanto três mulheres a seguravam, a dor, o sangue, o silêncio dos adultos. Quando é que alguém lhe explicou o que tinha acontecido e porquê?Nunca. Ninguém me explicou porque, suponho, quem faz isso também não sabe porque o faz. E eu também não fiz perguntas. Mas quando começamos a investigar, quando se lê sobre isso e se fala com os "velhos", temos várias respostas: faz-se para que a rapariga possa chegar virgem ao casamento, para que a mulher seja fiel ao marido; outros dizem que é preciso tirar "aquilo" porque se o marido lhe tocar morre, ou então é o bebé ao nascer que pode morrer... A maioria dir-lhe-á que é feito para agradar ao marido. Em nome da honra e dignidade do homem. Para que a mulher não seja demasiado gulosa por sexo...A origem da prática está identificada? É costume associá-la ao islamismo e a África. Sabe-se que já no tempo dos faraós se fazia a infibulação, que é a forma de excisão mais brutal, em que se corta tudo e se cose a vagina à mulher - foram encontradas múmias assim. Aliás no Egipto, ainda hoje, 97% das mulheres são excisadas. Em África faz-se no Iémen, no Djbuti, na Eritreia, na Somália. Mas faz-se também na Indonésia e no Curdistão iraquiano - não é uma prática só africana. E não é feita só pelos muçulmanos. Também os cristãos e os animistas a praticam. Não há uma religião específica dos que a fazem nem textos religiosos - não está no Corão nem na Bíblia - a preconizá-la. Mas como as mulheres de um modo geral não sabiam ler, disseram- -lhes que era um preceito religioso, e elas acreditaram que tinha de ser feito. Sobretudo porque foram educadas na ideia de que se não fossem excisadas não casavam, e se não casassem, não existiam. Por isso, a luta contra a excisão passa também por alfabetizar as mulheres. Desde que possam ler e escrever, começam a reflectir. Mas se alguém acredita num deus que teria feito tudo o que existe, e portanto as mulheres tal como nascem, como defender que teria criado todas as mulheres "com defeito"?Claro: se Deus fez as mulheres com clitóris, é porque acha que faz falta. É por isso que digo aos homens: "São vocês que instigam isto; é uma ideia vossa". É como o cinto de castidade que foi inventado na Europa, como quando os médicos europeus queimavam o clitóris das raparigas para, supostamente, lhes curar a histeria. O propósito é o mesmo: controlar a sexualidade da mulher. Vem do medo que os homens têm das mulheres .Quando é que começou a questionar-se sobre isso?Já adulta. Bastante tempo depois de ir viver para França. Escreve que as relações sexuais eram penosas e dolorosas com o seu primeiro marido. É possível ter prazer sendo excisada?Em todo o lado - talvez à excepção da Europa actual - espera-se que o homem tenha prazer no sexo, mas a mulher não, e menos ainda quando casada contra vontade, como no meu caso. Eu nem sequer participava no acto. Quanto à dor, depende da forma como se foi excisada. Umas mulheres têm-na, outras não. Mas mesmo sem clitóris é possível ter prazer sexual - depende do parceiro. E hoje em dia há médicos que reconstroem o clitóris. Resulta em alguns casos. Fala também de problemas no parto devido à mutilação. Aquela zona está cicatrizada, perdeu a elasticidade, o que implica que as mulheres fiquem todas rasgadas e tenham dores horríveis. Mas nos primeiros partos eu não sabia que isso se devia à excisão, ninguém me disse "você foi mutilada e vai ter este e aquele problema". Nenhum dos médicos que me seguiu mencionou sequer o assunto. Isto em França! Tinha 15 anos quando dei à luz pela primeira vez e a médica que me viu não me fez uma única observação sobre a cicatriz que viu no lugar do clitóris. Só depois da morte de três meninas, em França, nos anos 80, é que isso começou a mudar. A mais mediatizada foi a de uma bebé do Mali, de três meses, em 1982. Na sequência disso começou a haver formação nessa área entre os médicos e o pessoal da assistência social.Três das suas filhas foram excisadas em França, nos anos setenta, por uma amiga sua, que nem sequer lhe pediu permissão. Mas escreve que se ela tivesse perguntado, teria assentido...Nessa época, o meu espírito não estava preparado para criticar, ou mesmo para questionar a prática. Nunca me tinha perguntado se estava bem ou mal. Era normal e era preciso fazê-lo. Foi muito mais tarde, quando comecei a envolver-me, como intérprete, na luta contra a violência sobre as mulheres que conheci, nos hospitais, uma associação que combate a excisão e da qual fazem parte muitas médicas, que me explicaram as consequências nefastas da excisão. Como vê, hoje, a atitude dos médicos que se calaram?É o relativismo cultural, aquela ideia "É a cultura deles, não temos nada a ver com isso". Mas há cultura e cultura! A mutilação sexual feminina tem de ser vista no contexto dos direitos humanos. E aí não há cores nem culturas. Não se pode fazer discriminação em termos de direitos humanos, dizer que são só para alguns. Mas são também as comunidades imigrantes que dizem: "vivemos aqui mas não queremos ser como vocês, não queremos adoptar os vossos valores". E aí há um conflito, como no caso da interdição do véu muçulmano nas escolas públicas francesas. Eu sou muçulmana e não uso véu. No meu país não se usa. E acho que se deve respeitar o direito da escola. Se são essas as regras da escola laica, se eu a frequento devo respeitá-las. Tal como, se estou num país, tenho de respeitar os seus valores, adaptar-me. Claro que há conflitos. Mas penso que nos países em que os imigrantes não vivem todos ao molho, em gueto, as coisas funcionam melhor. Que devem os países europeus fazer?Não é essencial fazer leis específicas contra a excisão: creio que em nenhum lugar da Europa é permitido mutilar qualquer parte do corpo. O que é preciso é ter atenção a essa realidade. Por exemplo, em França, todas as crianças dos zero aos seis anos são examinadas, incluindo o sexo, nas consultas pediátricas, e tudo é anotado na ficha respectiva. E explica-se à família tudo o que há a explicar sobre a excisão em termos de saúde, sublinhando que é uma prática interdita, ilegal, e que se a criança aparecer excisada o médico será obrigado a comunicar o facto ao ministério público. Em França há mais de 30 processos por esse motivo. E na Suécia houve um processo contra um pai que fez excisar a filha de 13 anos na Somália.

56 comentários:

noiseformind disse...

Sempre do contra Boss. Nem sabes respeitar o desejo economicista dos rapazes. Excisadas as mulheres são mais simples, mais buraco e menos bordas : )))) qualquer dia ainda te vou ver publicar aqui notícia de um qualquer pasquim a reclamar o direito das mulheres a recusarem o coito dentro do sagrado matrimónio... para onde vai este mundo...

noiseformind disse...

Mas gostava de precisar aqui uma coisa. Essa coisa de fazer a excisão para que a mulher não seja muito gulosa por sexo é um mito. Basta ver as mulheres portuguesas. Nunca encontrei nenhuma excisada e a grande maioria passa anos sem sexo e trata disso com a naturalidade de quem vê o Natal dos Hospitais sentada na cadeira de deficiente ; ))))))))))))))) serão os homens portugueses torniquetes amputadores cravados nas bordas (como gosto desta palavra) do desejo gágeo? Será, será?

A Menina da Lua disse...

Bom dia!

A descrição sobre este tema é para mim terrível... e deixa-me sempre este amargo sabor a revolta, a indignação mas sobretudo deixa-me este sentido profundo de desumanidade que o acto significa.

Ao nível das mentalidades e das práticas sociais, encontramos ao longo da História exemplos tenebrosos de brutalidade, tortura e de toda a espécie de requintes de malvadez. Muitos vistos à luz de valores próprios de cada época, eram aparentemente justificados pela sobrevivência individual ou do grupo. Mas existem outros que são resultado apenas de mera selvajaria e prepotência que por azar do destino lhe foi dado tempo e espaço na História...

A excisão existe há séculos e é uma prática silenciosa que decorre de facto do obscurantismo, do medo e da prepotência cega do elemento masculino sobre as mulheres.

É terrível imaginar o sofrimento duma criança naquela idade perante a dor avassaladora, a violência com que é praticada mas e principalmente pela incompreensão que lhe fica perante tudo isso...

Se analisarmos que é nessas idades que se formam e desenvolvem os grandes traços de funcionamento da nossa personalidade futura, dá para entender o que pode sentir uma mulher adulta depois de passar por isso.

Muitos dirão que é uma questão meramente cultural e que o sofrimento pode ser diluido ou filtrado por isso. Eu penso que bastará apenas uma tomada de consciência e lucidez para arrasar completamente com qualquer argumentação pois o que resta após isso é apenas e sómente uma grande REVOLTA...

noiseformind disse...

MiúdaSexyDaLua,
"A excisão existe há séculos e é uma prática silenciosa que decorre de facto do obscurantismo, do medo e da prepotência cega do elemento masculino sobre as mulheres."

Lá está. Como há pouca iluminação fazem a coisa mal feita e depois estragam as meninas ; )))))) mas devo avisar que espero não morrer sem ter enfrentado de frente (e com língua e de dedos) o desafio de fazer vir uma excisada. Se alguma guineense está a ler estas palavras mande-me mail, tá bem? ; )))

A Menina da Lua disse...

Noise

Apesar de duvidosa!! :)fica-lhe bem essas suas intensões, desde que consentida e partilhada em agrado pela devida guineense...

noiseformind disse...

Sexymoonlygirl,
O prazer é como uma seringa cheia de heroína num casal de toxicodependentes: é para partilhar conforme a resssaca ; )))))))

AQUILES disse...

Gande Noise

Isso é que é enfrentar desafios. Se falhares espero que expliques aqui o porquê do insucesso :):):):)

Quanto ao tema, já quase tudo foi dito. Só queria realçar a hipocrisia do mundo ocidental, que permite no seu espaço e silencia a denúncia sobre o que se passa nos outros espaços. Os protesto são quase em surdina, feitos por uma ou outra mulher lutadora, aqui e ali. Não sei bem o que se passa na cabeça dos homens. Mas sei bem que todos nós homens, bem lá no fundo, e apesar de alguns progressos, escassos, nas mentalidades, da evolução cultural e tecnológica, tememos sempre não sermos os senhores absolutos (ou exclusivos) da mulher. Racionalizamos, mas ..., .
E é por isto que o protesto ainda é, escandalosamente, em surdina.

lobices disse...

...o que é a Cultura?
...na minha opinião é o "exercício" dos hábitos ancestrais pela "imposição" das ideias e das leis dos mais antigos, ou seja:
...a cultura é o que está "escrito" nos hábitos do Ser Humano
...claro que, para nós hoje, a excisão é abominável como o é outras e tantas outras práticas que são "cultura" em muitos outros povos que não o "nosso"
...o mundo deles não é o nosso mundo e a minha cultura é diferente da tua
...apenas o conhecimento contínuo molda as culturas dos povos
...apenas o passar do tempo altera os hábitos e a evolução passa também por aí
...não concebo a excisão como não concebo muitas outras coisas, mas não concebo à luz da minha cultura
...provavelmente aquele que excisa a filha não concebe o aborto na minha cultura; provavelmente aquele que tem relações sexuais com a esposa tendo um lençol entre eles apenas com um buraco no meio (isto ainda se passa actualmente), não concebe um felatio ou os dois corpos nus entrelaçados na mais profunda procura do prazer
...a minha cultura é feita do caldo onde cresci
...a tua cultura é feita da canja onde cresceste
...a cultura do outro nem é a minha sopa, nem o meu caldo nem a tua canja
...isto não quer dizer que defendo a excisão (cruzes, canhoto...) mas apenas que a Humanidade passou, passa e terá de passar por contínuas modificações e adaptações às novas sabedorias, ás gnoses e ao tempo que surge com novas coisas
...na inquisição a tortura era inimaginável
...nas "oficinas" do Mengele as torturas eram inimagináveis
...hoje mata-se na mesma, por outras formas e outras torturas cultivam o caldo da nossa cultura; hoje é a droga, a seringa, a cadeira eléctrica, a lapidação, a excisão, a decapitação, o fuzilamento, o enforcamento, etc etc etc
...lutamos contra (e bem) os males das culturas dos outros e esquecemo-nos de lutar contra os males das nossas culturas
...daqui a 100 anos, talvez, alguém dirá o quão bárbara era a nossa cultura, hoje tida como benéfica e dignificante pela defesa dos direitos humanos
...daqui a 500 anos, alguém dirá o quanto desumano era o século 23 ou o 24
...e a evolução vai, no entanto, continuar a sua camihada, na procura constante da "resposta" que nunca iremos obter pelo simples facto que, desde sempre, a minha razão foi, é e será diferente da tua e o meu universo é aquilo que eu "tipifico" e não aquilo que tu "vês"
...a minha vontade está para além ou aquém da tua e a tua pode ser diferente da minha mas nunca ninguém teve, tem ou terá a capacidade de dizer qual delas é a correcta, a certa, a boa, a perfeita pelo simples facto que ainda somos pura e simplesmente Seres imperfeitos...
...só quando nos capacitarmos que existe apenas uma única forma de sermos perfeitos, é que poderemos alcançar a perfeição... o problema reside e residirá sempre em saber a "fórmula"
...lutar sempre pela dignificação do Ser Humano
...mas
...primeiro, definir o que é ser-se humano!...

Fora-de-Lei disse...

Se existisse Deus, os artistas que inventaram este processo castrador teriam - como castigo divino - que passar o resto da vida a comer sopa de hortaliça, nomeadamente de grelos. É por estas e por outras que eu sou um agnóstico do caraças...

AQUILES disse...

E nem de propósito. Acabei de receber de uma prima do Brasil isto:
«"Não importa se teremos tempo suficiente para ver mudadas as coisas e pessoas pelas quais lutamos, mas sim, que façamos a nossa parte de modo que tudo se transforme a seu tempo - Lidia C.Romain."»

lobices disse...

...como digo no meu Perfil, o meu livro preferido: O Perfume, agora em cinema, com Dustin Hoffmen:
...
«O Perfume: The Story of a Murderer» destronou o filme «Piratas das Caraíbas: O Baú da Morte», ao ser o filme mais visto em todo o mundo no passado fim-de-semana, segundo dados dos estúdios.
O filme de suspense alemão, do realizador Tom Tykwer, arrecadou 11,3 milhões de dólares (8,8 milhões de euros) em cinco mercados, enquanto «Piratas» obteve 7,3 milhões (5,7 milhões de euros) em 34 países. A ascensão de «O Perfume» para o primeiro lugar foi motivada em parte pelo facto de dominar 51% do mercado alemão pelo segundo fim-de-semana consecutivo.

«O Perfume» é a história fictícia de Jean-Baptiste Grenouille (Dustin Hoffman), órfão que nasceu com um olfacto apurado e que decide criar um perfume irresistível, matando mulheres bonitas e destilando o seu odor. O elenco ainda conta com Ben Whishaw e Alan Rickman.


Sapo DD Lusa

noiseformind disse...

Lobices,
Tens a certeza que leste o livro? É que o Dustin Hoffman está um cadito velho para o papel de Grenouille, não concordas? ; )))))))))) se calhar ele faz de Baldini... digo eu... digo eu...

E já que estámos a falar de cinema, cá fica o filme mais aguardado para mim até ao fim do ano logo a seguir a The Good Sheppard:

http://movies.yahoo.com/feature/borat.html

so_she_says disse...

http://www.fistulafoundation.org/index.html

Outra "maldição", ainda mais silenciosa.

thorazine disse...

Em relação ao tema, a ideia que tenho do assunto já foi dita entre linhas. É cultura. É um paradigma. "Faz-se porque tem de ser feito". Em muitas situações o ocidente também disfruta desta força invisivel do "tem de ser", talvez nem tanto vinda da religião (mas também) mas sim da cultura de massas.

Filmes...fui ver ontem "a senhora da água". Não gostei. Um estória que poderia ser contada em 15 inutos arrastou-se por hora e meia sem dar mais "sumo".

CêTê disse...

Boa tarde,
Simplesmente horrível. Relatos conhecidos com o mesmo denominador comum.
Mais do que a falta de saberes das vítimas e de quem o crime pratica (frequentemente vítmimas anteriores) a inconsciência de quem ao abrigo da desculpa (aceite inclusivé em ambiente hospitalar)de não adulterar/ ou se intrometer outras culturas permite que o crime se repita nas novas gerações. Ou estarei eu muitoi equivocada quando pareço recordar relatos de que em Lisboa e no Porto (pelo menos nestes grandes centros) se continuava a praticar?
Até quando vamos nós pensar que não devemos intervir- só porque são vizinhos, desconhecidos, marido e mulher, pai e filho,...etc? Fico indignada com essa atitude permissiva e cega encapotada de certos cidadãos!

Um excelente tema, professor para a NG que é lida por muita gente - guineense, também.

Todos nós podemos educar.

1 Abraço.

CêTê disse...

Provocação "merang"

E esses estudos sobre a satisfação sexual das mulheres portuguesas vs competência masculina carece de séria revisão científica. Já agora agora,... porque não comparar com outros estudos noutros países MAS utilizando o MESMO tipo de instrumentos (inquéritos/ entrevistas e outros que tais- não estou a falar de genitais e afins ;]]]])e tipo de amostra (bom aqui já faria algum sentido) e promover o swing para aferir o mito de quem fica melhor servido. (que se relacciona, OBVIAMENTE, com os patrões de exigência das partes envolvidas) e nós portuguesas UPA, UPA! LOL "penso eu de que";]

Unknown disse...

Bom dia maralhal.

Dr. Murcon
Até que enfim este tema!
Tanto que eu esperei por ele. Mas relatos pessoais de excisadas estou eu farta de ler :-(
Eu queria era ler uma coisita com o seu cunho :-)

Noise
Conheço uma senegalesa que por acaso foi excisada por uma "profissional" já na Europa; mais precisamente (ironia do destino) em França onde se incomodam tanto com a porcaria do uso dum véu mas não se preocupam em saber quem são estas mulheres.
Se se fossem mas era encher de moscas...
Depois apresento-te a mocita para tu a pores em órbita, não sem antes te cortar os deditos e a lingua.

Unknown disse...

Aquiles
Eu julgo que esta prática começou a ser mais falada desde que uma ex top model natural da Somália, também ela vitima de infibulacção (chamada também de circuncisão faraônica), resolveu denunciar esta prática e assumir publicamente que ela também era tinha sido vitima dela.
E gravissima a nossa impassividade em relação ao que se passa nesses paises se bem que já não seja tanta assim pois já existem muitas mulheres no terreno a falar "porta a porta" com as "castradoras" e a convencê-las a pararem de vez com essa prática. Mas mais grave é que essa tradição passa fronteiras e muitas dessas "castradoras" continuam a fazer com que a tradição se cumpra por esse mundo fora, nomeadamente na Europa.
Grave é nesses paises não investigarem a fundo quem continua a exercer essa prática macabra.
Mas as vitimas por cá são uma meia dúzia, não é?

Unknown disse...

É por isso que por vezes me passo quando leio merdas de reivindicações sobre o direito a cada um ser livre de ter direito à sua sexualidade; sexualidade essa praticada com o prazer a que cada um tem direito.
Nunca vi nenhum grupo solidário com estas mulheres reivindicar o direito à sexualidade delas.
Caramba, elas são mutiladas.

lobices disse...

Noise:
...a notícia é que fala no Dustin Hoffman como protagonista no filme "O Perfume"
...claro que li o livro!...
:)

lobices disse...

Noise:
...claro que o Dustin faz o papel de Baldini (a notícia é que está errada)
http://www.imdb.com/title/tt0396171/

Unknown disse...

Dr. Murcon
Não me esquecendo de vocês, homens, que também são vitimas de práticas idênticas, a
Bíblia faz uma alusão à circuncisão em que Deus diz a Abraão e a seus descendentes que todos os rapazes de 8 anos devem ser circuncisados. (Gênesis 17:9-14)
Fui convidada a assistir a uma na Tunísia e é brutal. Não fotografei por uma questão de respeito para com a criança, mas no video que a minha prima fez desse local, enquanto eu assistia ao ritual, os gritos da criança são arrepiantes.

Unknown disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
thorazine disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
thorazine disse...

Yulunga,
a a única maneira se "corromper" essa cultura, é sobrepor a nossa. Já que humanos adultos são apologistas de tal método, a única maneira de mudar a visão dessas pessoas é lavagem de mentes (forçar outras pessoas de uma forma propositada a pensar de forma diferente).

Não acho que devemos ficar serenos com tal realidade, mas...questiono-me! Ás vezes penso se os ocidentais não tem um bocado a mania de "impor" a sua visão do mundo. Será ética? Não sei..nem sei se faço perceber o verdadeiro proposito da minha questão. Mas faz-me confusão..

andorinha disse...

Boa tarde.

Praticamente já tudo foi dito em relação a esta prática brutal de mutilação das mulheres.
Não poderia estar mais de acordo com a activista quando diz que "A excisão, como o cinto de castidade é o medo que o homem tem da mulher."
Esse medo é ancestral, daí que esta autêntica selvajaria venha a ser praticada há séculos e continue em pleno século XXI.
E não me venham com tretas de que é uma questão cultural, é uma questão que tem que ser combatida por todos. Como também muito bem refere a autora, a luta contra a excisão passa também por alfabetizar as mulheres.
É evidente, passando a ter mais cultura conseguirão alargar horizontes e deixar de acreditar nas patranhas que lhes contam, tem que ser feito porque sempre foi assim.

A mutilação sexual feminina tem de ser vista no contexto dos direitos humanos, pois é uma violação gravíssima desses direitos.
Não sejamos coniventes por comodismo ou por pensarmos que é algo que não nos diz respeito. Essas mulheres precisam de toda a nossa solidariedade e de algo mais.


Aquiles (11.57)
Gostei da auto-crítica:)
Concordo em absoluto.

Também muito oportuna a citação de Lidia Romain.

Cêtê (4.38)
Boa! Eu também penso de que...:)))

andorinha disse...

Thorazine (7.06)
Mudar a visão dessas pessoas não é lavagem de mentes, é tentar levá-las a perceber que essas práticas são totalmente condenáveis e atentatórias dos mais elementares direitos humanos.

A mim o que sempre me fez confusão são as pessoas que têm uma postura de total abertura e tolerância em relação a tudo.
Neste caso, como em tantos outros, tolerância zero.

thorazine disse...

Há uns anos era preciso operações especiais, tipo MKUltra, para fazer lavagens aos cidadões. Hoje é a cultura de massas. Ouvimos falar tantas vezes na europa, no ocidente, nos nossos valores, no nosso modo de ver o mundo que no fechamos nele. Por exemplo, o papa anda a tentar convencer os cristãos que o islamismo é mais maldoso que o cristianismo. E muita gente vive nessa realidade..

Assim como nós achamos que estamos certos em relação a muitos assuntos, mas não sei até que ponto temos direito de impor. No caso deste tópico é difícil, porque trata-se de uma "opressão consentida", que passa de geração em geração. A única coisa passivel de se fazer é fornecer informação, nunca nos intrometermos no que "não é nosso". Acho eu...não sei..

thorazine disse...

Andorinha,
não sou tolerante neste caso. Mas quando uma acção é consentida [por exemplo, as mulheres vítimas de excisão serem a favor desta prática] que se poderá fazer?

Não sei..por mim também acabava tal prática. Mas até que ponto, por eu pensar que as pessoas não devem fazer X ou Y tenho de impor a minha visão?

Até que ponto temos poder de proibir os indios de espetarem ferros enormes na carne (e de o fazerem com os seus filhos), de os proibir de saltar de construções de mais de 40 metros para a terra firme, de tomarem poções mágicas narcóticas? Só porque achamos que nós estamos certos..

Não tou a dizer o que é certo ou errado. Só me faz confusão..e não tenho resposta..

thorazine disse...

Tenho medo de não estar a passar bem o meu ponto de vista.

Imagina outra civilização que ao deparar-se com a civilização ocidental quer extinguir males tão grande como a TV ou o automovel. Porque apesar de tirarmos coisas boas destes instrumentos tem muitos contras. A "bondade" no seu acto qté poderia ser verdadeira...mas será que nós iriamos querer que mudasse de forma "imposta" a nossa realidade só para o nosso bem?

Eu sei que neste caso as crianças sofrem muito, as mulheres sofrem muito. Não gosto também de "compactuar" com tais atrocidades. Mas...surgiu-me esta questão, se o ocidente não acha que está correcto em demasia..

http://www.youtube.com/watch?v=4i5Z-sAqsZM (encontrei este video e resolvi partilhar)

thorazine disse...

*querer

Pamina disse...

Boa noite.

Concordo com o ponto de vista da Andorinha (7.17) e gostava de destacar estas palavras dela, pois penso o mesmo:

"...Como também muito bem refere a autora, a luta contra a excisão passa também por alfabetizar as mulheres.
É evidente, passando a ter mais cultura conseguirão alargar horizontes e deixar de acreditar nas patranhas que lhes contam..."

"...A mutilação sexual feminina tem de ser vista no contexto dos direitos humanos, pois é uma violação gravíssima desses direitos..."

Quanto à questão "E se elas próprias querem?" penso que é falaciosa. Querem-no conscientemente ou devido à doutrinação a que foram sujeitas? Se for dito a uma criança desde a mais tenra idade que, por ex., aos 8 anos tem que cortar um dedo da mão, porque a tradição manda fazer assim senão sucede uma coisa terrível, e no seu círculo social todos o façam, de modo que não seja possível comprovar se é possível existir com 10 dedos a partir dessa idade, sem que suceda a tal coisa terrível, com certeza que ele vai querer cortá-lo, até vai insistir para que o façam, não se vão esquecer.

Gostava de salientar também o ponto focado pela Yulunga. É verdade que os media e, consequentemente, a opinião pública despertam sempre que alguém famoso assume em público que determinado problema também o afecta. Sucedeu com o Rock Hudson e a SIDA e neste caso da excisão com a Waris Dirie. É o nome da top model da Etiópia, autora de vários livros, inclusive uma autobiografia premiada na Alemanha.

Só gostava ainda de mencionar, a bem da justiça, que, ao contrário desse pai residente na Suécia mencionado no fim do texto, há africanos do sexo masculino que naturalmente não concordam com esta prática e que tentam contrariá-la, como aquele outro pai, sobre o qual foi transmitida uma reportagem, julgo que no Telejornal, que conseguiu salvar uma das filhas, mesmo um ou dois dias antes desse ritual se realizar, e trazê-la para Portugal. Não ficou muito bem explicado porquê, mas infelizmente não conseguiu impedir a mutilação da outra filha.
Julgo que este empenho masculino só nos pode encher de satisfação e de esperança.

andorinha disse...

Thorazine,
Eu até entendo o teu ponto de vista, penso.
Mas a televisão e o carro são coisas, aqui estamos a falar de pessoas. Pessoas que por ignorância, medo ou simplesmente por tradição se submetem a estas práticas.
Achas que se fossem livres de escolher, elas se sujeitariam a todo este sofrimento?
As mulheres não são tidas nem achadas nessas práticas, são apenas vítimas de uma situação sobre a qual não têm nenhum controle. Há, portanto, todo o direito e o dever de intervir, esperando que essas mulheres ganhem consciência de que não têm que suportar este crime.
Com isto não pretendo dizer que a cultura do mundo ocidental deve prevalecer sobre as outras culturas, nada disso. Respeito-as a todas, a "minha" não é melhor só porque nasci aqui.
Mas esse argumento não deve servir de desculpa para nos levar à inacção.
É a minha opinião.

lobices disse...

...exacto, Thora!...
...foi isso que eu disse ali em cima sobre o que é a "cultura"
...claro que estamos contra tais "atrocidades" mas apenas e só porque estamso aqui deste lado; SE fossemos um deles claro que concordaríamos e, às tantas, diríamos que furar as orelhas é diabólico; diríamos que circuncidar o homem é horrível, diríamos que colocar piercings nos mamilos é doidice, etc etc
...a cultura é o que é para cada um
...não sei qual delas é a melhor; claro que prezo a minha cultura mas apenas e só porque cresci nesse banho de cultura, nesse caldo onde ferveu o meu crescer
...se tivesse nascido indio talvez, como dizes, estaria a espetar paus no nariz do meu filho, etc...
...também penso que não sei até que ponto A tem o direito de impôr a sua cultura ao B and vice-versa
...também penso que não sei até que ponto tenho razão e se devo impôr a minha razão ao meu vizinho
...pode até perguntar-se até que ponto o ocidente se julga no direito de impôr a democracia nos países com outro sistema político
...quando vivi na ditadura de salazar e depois na de caetano, lutei para me libertar dela mas não sabia o que era viver em democracia e, felizmente, ninguém ma impôs... ela nasceu naturalmente com o envolvimento cívico de cada um de nós e aos poucos fomos aceitando a nova cultura democrática
...ir ao iraque matar civis para impôr a democracia, será correcto?
...pergunto, apenas... não tenho respostas; mas talvez haja outra forma de conquistar as coisas sem ser pela força
...na verdade, não dar o peixe ao que tem fome mas sim dar-lhe a cana e ensiná-lo a pescar
...mas
...até neste clássico exemplo, teríamos de respeitar a possibilidade de o sujeito não gostar de peixe........

Maite disse...

Professor

Um post arrepiante!

Mesmo tendo respeito pelas diversas culturas, há práticas desumanas, com que ninguém pode concordar, sendo uma, esta.
E a Educação e Formação dos indivíduos são as palavras chaves para que não se perpetuem estas atrocidades.

Boa tarde :)

andorinha disse...

Isto é tudo muito bonito porque estamos todos confortavelmente instalados em frente ao pc a dissertar sobre umas práticas "esquisitas" que se passam lá longe.

Lobices,
Claro que falamos assim porque estamos deste lado, lógico. Mas isto é uma prática de tal modo aberrante e subalternizante em relação às mulheres que não se tomar posição por pretensamente não termos o direito de "invadir" outras culturas,não abona muito a nosso favor.
Viramos a cara ao lado e fingimos que não sabemos de nada?
Essas mulheres terão que continuar a ser submetidas a algo tão degradante e atentatório da sua dignidade enquanto mulheres?
Claro que colocar piercings nos mamilos, na vagina ou sei lá onde, é uma completa estupidez mas ninguém é obrigado a fazê-lo, e isso faz toda a diferença.
Invadir o Iraque para impor a democracia será correcto?
É evidente que não, nem aquilo é uma democracia, é um campo de batalha infernal e mesmo que fosse, ninguém tem o direito de invadir outro país para lhe impor seja que regime for, mesmo que esse país viva sob uma ditadura.
Aí sim, estaríamos a impor os nossos mui importantes valores ocidentais desprezando todos os outros.
São temas que estão em patamares diferentes e ao pretendermos analisá-los da mesma forma, estamos a cometer um erro.
Volto a dizer, isto é, apenas, a minha opinião.

AQUILES disse...

A cultura é uma coisa complicada.
E a relação entre culturas ainda mais. Não tem padrão. Vive ao sabor das correntes e dos interesses de cada época. Não se pode julgar o passado, só entendê-lo.
Para mim o pior de tudo é a exploração que uns povos, e não civilizações, fazem de outros. Dou-vos o exemplo do chocolate e do cacau. Há uns anos dizia o Presidente do Gana que com 200 kg de cacau importava um Land Rover dez anos antes da entrevista. E que na altura da entrevista já precisava de 1 tonelada de cacau para um Land Rover. Ou seja, o simples gesto, numa parte do globo, de dar uma barra de chocolate a uma criança é o equivalente ao que o pai de várias crianças noutra parte do globo recebe por mês de trabalho para produzir esse chocolate.
Cultura, civilização, direitos humanos, etnias, religiões, etc, são formas de clasificar associações de seres humanos. Uns estão contidos, outros não.

Thora
A excisão feminina, embora cultural é uma mutilação de um ser humano. Há muitas manifestações de cultura,em várias culturas, que têm sido combatidas, por não estarem de acordo com a dignidade da vida humana. Cito a pena de morte, as mutilações por sentenças penais, algumas deformações impostas por questões estéticas, a exploração sexual de menores ou mesmo de maiores, casamentos impostos, etc..
Isto de se combater algumas práticas não tem nada a ver com o respeito por culturas, mas tudo com a evolução do entendimento da dignidade da vida humana.

AQUILES disse...

E por estarem contidos ou não.
Acabei de ver um anúncio sobre passear por Portugal onde se manda ir a um site que é algo como www.escapadinhas.pt se não erro. Logo que não tem acesso à internet não está contido. Depois o atista treinador diz que Portugal é o melhor sítio para receber uma família. E vejo que vão a entrar,senão erro, na estalagem da Flor da Rosa, no Crato. Que é muito cara. Logo mais de metade dos que têm acesso à internet estão excluídos. E tudo na mesma cultura.

noiseformind disse...

Aquiles e restante malta envolvida na questão sistémica relacionada com elementos culturais. Não vou sair do tema da conversa e vou parar os meus olhos sobre uma atrocidade que é cometida genitalmente sobre 38% dos rapazes americanos!


Neste, um dos meus tascos favoritos para discutir bioética:

http://bioethicsdiscussion.blogspot.com/2006/07/male-circumcision-should-it-now-be.html

muito se falou sobre a coisa. E a coisa parece trazer qq coisa como 7% de protecção contra doenças (e isto em termos genéricos de exposição) e tira mais de 60% da sensibilidade da pila do gajo em 100% das quecas que der ao longo da vida. Uma forma inteligente de tirar prazer ao homem em termos sexuais e portanto "domá-lo" nos seus apetites ou concentrando de forma ainda mais patológica o seu móbil no orgasmo. No entanto parece que hoje em dia os homens querem mesmo sentir prazer. Há 50 anos era algo de imperativo! Hoje é algo que não deve ser usado como prática corrente, nas palavras da própria AMA em 1999. Portanto, penso que aqui está a haver um processo progressivo associado ao homem. Como o poder do homem é dominante sobre os poderes são mais as iniciativas nos países desenvolvidos contra esta prática que CONTA A MUTILAÇÃO FEMININA. O que nos levava para os papéis de género mas nem vou para aí, o comentário tem de ser pequeno pq tenho umas coisitas pendentes para fazer hoje. Portanto, num país muçulmano, misógino até À medula, uma prática sobre as mulheres não pode ser avaliada como se fosse numa Finlância ou numa Suécia.

E tenho dito de minha justiça.

noiseformind disse...

Aquiles e Yulunga,
Venha essa morada e até meto uma câmara na ponta da língua e dos dedos para gravar o momento.

Lobices,
Temos de ter cuidado nestas afirmações etárias senão vem por aí abaixo a Andorinha a bradar que o Hoffman fazia muito bem o papel de protagonista e que somos torpes representantes de uma qualquer espúria campanha de ageism ; ))))))))))

Julio Machado Vaz disse...

Gente,
Dentro de portas não pode haver cedências. No seio das outras culturas, penso que a melhor solução é a educação e o apoio às organizações locais, qualquer tentativa de imposição vinda de fora "a seco" está condenada ao fracasso, é dos livros de antropologia.

andorinha disse...

Miúdo, estás a retroceder aos teus maus velhos tempos??? :)))
Tinhas que me meter ao barulho, né?
Mas pronto, sabes que a ti perdoo-te tudo. Looooooooooooool

AQUILES disse...

Esta noite apetecia-me andar por aqui a deambular sobre a dignidade da vida humana, e não só.
Só que o comentário ia ser grande, o que resultaria em não ser lido.
Mas é no incremento da dignificação da vida que está a via para se terminar com atentados à vida (parciais e totais) que flagelam civilizações e todas as culturas.Reparem nos atentados que foram feitos à dignidade da vida, só em Portugal. Convivemos com essas situações, serenos e alheados, porque é cómodo. No fundo, por demissão, todos somos culpados.
E esta luta pela dignificação da vida não é uma imposição, mas sim uma necessidade de educação e de instrução.

thorazine disse...

aquiles,
venha daí esse comentário! :)))

Eu falei "deste lado", tal qual como todos nós. É verdade que é uma mutilação do corpo humano, para mim dentro do nosso território tais práticas devem ser punidas. Agora, a questão é até que ponto nos devemos intrometer (e com isto não quer dizer que não devemos, só definir o limite).

Por exemplo, imagino uma tribo de canibais. Não que matasse para comer, mas que comessem depois de morto. Para nós, ocidentais, isso faria enorme confusão pois conservamos a ligação do corpo à pessoa, mas um biologo, um médico legal ou qualquer outra pessoa pode confirmar que a carne humana pouco difere da carne animal. Nós, ocidentais, é que temos a "fantasia" que no corpo há algo mais. Um discurso um pouco macabro, eu sei..mas entre nós e a galinha que comemos ao jantar pouca diferença faz. :))))

Não é por nós termos estas "fantasias" que devemos assumi-las como realidade. Por exemplo, no "nosso" mundo desenvolveu-se uma espécie de movimento "pró-vida", em que viver é bom, viver é optimo...até à maxima de viver é obrigatório. Só porque ao longo dos anos se ter generalizado que viver é sempre benigno há pessoas hoje em dia contra a eutanásia. Só por elas terem este modo de vida tão intrínseco já não aceitam outras realidades, outras situações de vida.

Não tou a dizer que não se deve fazer nada, só a questionar até onde se deve de ir. Até onde temos o direito de acharmos que estamos certos e que consciêntemente devemos mudar esta ou aquelas cultura?

É verdade que há ser humanos que sofrem naquela cultura. E nesta? Não sofrem? Devido ao nosso modo de vida não há seres humanos postos de parte? Havia tanta percentagem de pessoas rejeitadas antes da industrialização? Não sei..Mas não acho que nós estejamos certos. Simplesmente simpatizamos com este modo de vida.

Por exemplo, é verdade o que a pamina disse, é tudo cultura. O miúdo ia-se sentir rejeitado se não cortasse o dedo. Analogamente, numa outra tribo, outro miúdo iria ficar triste de não saltar duma construção de 30 metros no seu "ritual de passagem". É duro, visto do ocidente, ver um corpo humano a cair tantos metros e a bater na terra seca...mas ninguém está a sentir o "extase" do ganapo, nem sabe especificamente que impacto irá ter aquela experiência na formação do caracter do rapaz, talvez muito necessário na tribo.

Em relação à excisão, é verdade, nem sou capaz de defender, estás mesmo muito longe da minha realidade. Mas questiono na mesma...se há mulheres adultas a defender a causa. É cultura, como disse (muito bem) o lobices. Até que ponto devemos interferir? O que é ser-se humano? Será que realmente existe tal definição? Podemos partilhar ideias do nosso modo de vida..e talvez s´ficarmos por ai..

(se apanharem algum erro peço desculpa,...)

thorazine disse...

Bem, um parte. Veja esta foto deste Henschel & Sohn na trindade. -> http://www.1000imagens.com/foto.asp?idautor=1001&idfoto=80&t=1&g=&p=

Brutal. Se tiverem oportunidade vejam o portfolio desse auto, tem reliquias!! Principalmente nas "repescagens". ;))

Moon disse...

Bom dia!

Medo...

Espartilhadas, é o que as mulheres sempre foram! Física e psicológicamente. E as que corajosamente optaram pela diferença 'pagaram'(e pagam!) bem caro.
É certo que já se evoluiu muito mas também é certo que falta ainda muito caminho a percorrer.
Não sei se os homens terão esse "medo" das mulheres. Mas normalmente tem-se 'medo' do que não se conhece. E a verdade é que desde sempre a maioria dos homens não compreende as mulheres.
Desde os primórdios que o homem tenta compreender e controlar os fenómenos da natureza. E, sem dúvida, que a mulher é um fenómeno da natureza! A própria capacidade de a mulher carregar em si vida é motivo de 'ciúme' para alguns homens. Não é a toa que a ciência está a investir na possibilidade de num futuro (próximo?) o homem poder ter a mesma capacidade de "dar à luz" uma criança. Quererá o homem o controlo absoluto sobre tudo?

lobices disse...

...às 12.39 AM, o Profe disse tudo, ou seja, "concordante" com a minha "tese" sobre a cultura e sobre a "tese" também "defendida" pelo Thora:
...cito:
...
Gente,
Dentro de portas não pode haver cedências. No seio das outras culturas, penso que a melhor solução é a educação e o apoio às organizações locais, qualquer tentativa de imposição vinda de fora "a seco" está condenada ao fracasso, é dos livros de antropologia.

...
...claro que estamos todos contra a prática da excisão
...claro que estamos todos contra a prática de qualquer crime contra a humanidade, etc etc etc
...estamos todos contra aquilo que nos é DIFERENTE, contra tudo aquilo que não entendemos à base dos nossos conhecimentos
...durante anos a anos o Sol girava à volta da Terra e ai daquele que dissesse o contrário, até um dia se aceitou o culto da Terra a girar à volta do Sol
...etc, etc
...luta-se contra o que não entendemos e houve época em que a Cristandade se lançou na matança dos infiéis fazendo as Cruzadas e hoje não entendemos as cruzadas que outros fazem contra nós, para eles somos os infiéis, etc etc
...luta-se contra o aborto ou a favor do aborto, etc etc
...luta-se apenas contra o que não conseguimos entender à luz da nossa cultura
...assim fomos ensinados e também nos ensinaram a comer de faca e garfo, mas que mal é que tem o chinês ou lá quem é, comer com os pauzinhos?...
...comer com as mãos: prazer sublime!... Mas não o podemos fazer em público porque faz parte das regras que nos impuseram e faz parte da cultura, etc, etc
...claro que estamos todos contra as injustiças
...mas
...o que é uma injustiça para mim, pode ser a justiça para outrém
...quando alguém ganha, outro perde
...o equilíbrio do Universo está na existência do Bem e do Mal, ambos fazem parte do Mundo
...e hoje o que é para nós um determinado Mal pode ser o bem numa outra cultura, num outro hábito, num outro local do planeta
...claro que é horrivel excisar a mulher (Andorinha: eu estou contra isso, absolutamente!...), mas apenas tenho de entender que o que acontece na casa do vizinho não me diz respeito e
...se
...ouvir uma discussão em casa do vizinho não vou impôr a razão a um deles ou discutir com eles; talvez vá tentar saber o que se passou e, se calhar, tentar fazer ver que talvez o caminho da discussão não tivesse sido bem elaborado; talvez vá dar a minha opinião mas não posso gritar contra o que eles gritaram, contra o que eles entenderam ser a sua própria razão
...o hábito do que quer que seja, vai-se moldando e transformando
...nem sei se temos o direito de "aculturar" os outros à imagem da nossa cultura porque não tenho o direito de pensar que eu sou melhor que o outro!...
...em vez de condenarmos tais práticas (que consideramos execráveis) deveríamos, talvez, ensinar qual é a "nossa" prática e depois deixar que os outros decidam se a nossa é melhor que a deles
...obrigar alguém a gostar de mim é algo que nunca conseguirei; os outros é que têm o direito de gostar ou não de mim!...

lobices disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
lobices disse...
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lobices disse...

...como dizia Fernando Savater no outro dia na Dois:
...não podemos obrigar o jovem a gostar de ler; temos de fazer com que ele aprenda a gostar de ler!...

...como também disse que era errado começar a obrigar o jovem a ler os Lusíadas ou no caso dos Espanhóis o Cervantes; como cativar o gosto pela leitura com coisas tão pesadas?
...talvez fosse melhor começar pelos livros do Harry Potter, por exemplo
...

thorazine disse...

"...não podemos obrigar o jovem a gostar de ler; temos de fazer com que ele aprenda a gostar de ler!... "

Também tive oportunidade de escutar essa conversa...e concordei.. :)

Klatuu o embuçado disse...

Nem mais!! Agora explique tudo isto aos «grandes antropólogos e sociólogos de esquerda»... que acham que essa prática desumana, machista e pesadelaica... é identidade cultural merecedora de respeito!!

Klatuu o embuçado disse...

P. S. Já não posso ouvir mais o canário francófono! :)

Lord of Erewhon disse...

Fale também disto (blog de uma amiga): http://instantesclarissa2006.blogspot.com/2006/07/instantes-lx.html

CêTê disse...

Professor, relativamente ao conteúdo do seu comentário quem sou eu para duvidar. Contudo como o acto um crime e horroroso acho que em território deveria ser denunciado e punidos que os pratica sim. Alguma vez iriamos permitir que apedrejassem mulheres até à morte por suposto adultério, ou que se cortassem mãos por suspeita de furto alegando que são práticas culturais diferentes a respeitar e não intervir? O Medo também educa e mais: mais do que o Medo de se ser punido por praticar por exemplo a excisão seria a possibilidade de quem é induzido a praticá-lo alegar esse mesmo medo para o não fazer. É a minha opinião. Acho que o confronto recriminatório faz falta sim... porque a mudança desejada é demasiado lenta e provoca muitas vítímas.

Já pareço aquele pessoal que não anda na escola a falar de como se devem dar aulas, mas "prontos" ;]]]]]

(Andorinha- tenho-me sentido "amaparada" na tua concordância. ;p )


Bom fim de semana para todos

andorinha disse...

Lobices (11.30)
Totalmente de acordo.

Cêtê,
:)))
Bom fds.