sexta-feira, março 17, 2006

Dizia-se que fora vencida...

Luta à tuberculose tem de regressar às origens
Política de combate à doença no país falhou. Comissão defende mais unidades específicas para acompanhar doentes




O acompanhamento feito em Portugal aos tuberculosos falhou. Esta é a conclusão da comissão encarregue de elaborar o Programa Nacional de Luta Contra a Tuberculose, que defende a criação de mais estruturas vocacionadas só para o tratamento da doença. "Um espécie de descendentes dos antigos SLAT (Serviços de Luta Anti-Tuberculose) que foram fechados por erro político", defende Agostinho Marques, membro da comissão e director do serviço de Pneumologia do Hospital de S. João, no Porto.

O estudo, que será apresentado ao Governo perto do Verão, defende que estas estruturas deveriam ter duas valências. Por um lado, o diagnóstico em fase muito precoce "por forma a que, entre as primeiras queixas e as segundas, não se ande a contagiar pessoas", acrescenta o especialista. Por outro lado, a obrigação de levar o tratamento de cada doente até ao fim. "Este poderá até ser feito em casa".

Pelo meio, fica o rastreio, ou seja, "a partir do momento em que se diagnostica esta doença, é preciso saber se mais alguém na família, ou no ambiente que o doente frequenta, está infectado", alerta o médico.

Agostinho Marques avança ainda que o estudo propõe que as equipas de enfermagem nestas unidades sejam em número suficiente. "É preciso saber onde anda cada doente e, se falta ao tratamento, a razão por que faltou", justifica. O documento não esquece o internamento destes doentes nos hospitais e avisa que é urgente que se definam espaços próprios para que o contágio não se espalhe pelos outros pacientes. "Não esqueçamos que esta é uma doença altamente contagiosa", relembra.

Mas antes de mais, a comissão propõe legislação para enquadrar a tuberculose e definir regras "muito concretas de método e tratamento", diz.

As propostas a fazer ao Governo pretendem inverter uma tendência que demonstra que a tuberculose em Portugal tem vindo a diminuir menos do que no resto da Europa. Apesar do número de casos, a nível nacional, decrescer todos os anos, "não tem decrescido como deveria", garante o director do serviço de Pneumologia do S.João, acrescentando que "as últimas estatísticas da Direcção Geral de Saúde revelam que Portugal tem o triplo de casos relativamente à Europa dos 15.

Aliada fiel da pobreza

Recorde-se que esta estatística demonstrava que, em Portugal, por cada 100 mil habitantes, há 34 a sofrer de tuberculoses. Numa população de 10 milhões, temos 3500 tuberculoses. Os distritos mais atingidos pela doença são o Porto, Lisboa e Setúbal, estando a cidade invicta na liderança. Dentro deste distrito é a própria cidade do Porto, na área oriental, que alberga o maior número de casos. "Repare, é um fenómeno que vai a todas as camadas sociais, mas preferencialmente às zonas mais pobres e esse é o caso de Campanhã, Bonfim, Paranhos", explica.

Destaque-se ainda que a sessão de amanhã, na Fundação Cupertino de Miranda, no Porto, do XIII Congresso de Pneumologia, será dedicada à tuberculose.


JN

18 comentários:

Anónimo disse...

Diga-me Professor, que tipo de pessoas neste país é que são submetidas a dois "Exames psicológicos" [efectuados no Magalhães Lemos]??

É uma pergunta a sério.

Maite disse...

Lembro-me de quando era miúda existir um sanatório na Guarda, o Sanatório Sousa Martins que entretanto fechou em 1974. Hoje é o hospital da cidade. Mas penso que se fosse reaberto para o fim para que foi construido, seria um dos locais ideais para estes doentes.

Bom dia, Professor

Anónimo disse...

Recorde-se que esta estatística demonstrava que, em Portugal, por cada 100 mil habitantes, há 34 a sofrer de tuberculose.

Eu estabeleci outro modelo matemático para base da minha própria estatística: de cada vez que aumentar a venda de carros de topo de gama, aumenta - por certo - a tuberculose.

E gritemos todos: "Viva o neo-liberalismo!"

Anónimo disse...

E que dizer da extinção dos sanatórios da estância sanatorial do Caramulo, criada pelo Dr. Jerónimo Lacerda, que na sua fase final via chegar doentes em estado já muito grave não conseguindo obter autorização para internamento do organismo competente. As ambulâncias voltavam para trás e muitos doentes morriam nelas com hemoptises.

AL

maloud disse...

A pobreza, a falta de higiene e salubridade nas casas e no local de trabalho, a sempre presente iliteracia e a falta de sensibilidade da classe médica, para lidar com tudo isto, têm como resultado este fenómeno. Mais um que nos honra.

andorinha disse...

Boa tarde.
"Portugal tem o triplo de casos relativamente à Europa dos 15."
Nestes casos estamos sempre no pelotão da frente e tão cedo não saimos de lá.
Que raio de país este!:(

Anónimo disse...

Eu ainda sou do tempo... (não só da Pasta Medicinal Couto mas) de ser ter de fazer a "prova tuberculina". Perco a imunidade com muita facilidade e estando em contacto com muita gente manifestei o interesse / preocupação em a fazer. Não imaginam a confusão que foi! É por essas e por outras que a expressão "antigamente é que era!" ganha consistência. Funcionários públicos e estudantes eram gratuitamente sujeitos à dspestagem. Que não fosse em todo o pais com a mesma frequência ou abrangência, seria compreensível agora em àreas onde há maior números de casos e de casos que deixaram de ser controlados?!!!!!
Má gestão.

Julio Machado Vaz disse...

leviandade,
Lamento, mas não faço a mínima ideia:(.

Anónimo disse...

Obrigada professor,
Por ter respondido e pela sinceridade.

Pois eu tambem não sei mas gostava de saber a que tipo de psicóticos são prescritos estes exames pela ciência. Pela lei já sei, é a do "pera aí que sei bem como te vou chatear".

Anónimo disse...

A pobreza está, normalmente associada à pobreza. Nas décadas de 50 e 60 havia uma luta tenaz contra a tuberculose em Portugal (Havia até dispensários específicos para esta doença).
Mas o mérito à mediocridade associado ao brilhante modelo matemático da fora-da-lei transformou a luta anterior numa inutilidade actual. (Os dispensários fecharam).
Portugal é um país acabado. Andamos aqui a debater é o seu funeral. (Desculpa Andorinha, mas sou mesmo nacional pessimista).
Não vislumbro, de forma alguma, melhoras nessas e noutras estatísticas. Os vencedores são os patos bravos, os carros de luxo, os corruptores e os corruptos, enfim todos os que tiram vantagem do empobrecimento dos outros.
Para se vencer a Tuberculose havia que vencer as batalhas da instrução, da educação, do civismo, da justiça, etc. Havia que …. . A tuberculose é uma doença sócio-económica.

maloud disse...

Cêtê,
Os funcionários públicos julgo que ainda fazem.
Os estudantes de hotelaria também.

Quanto ao "mau feitio" o Espectro foi uma lição. Só brinco, enquanto me dá prazer. Depois seria masoquismo em espiral.

Anónimo disse...

Maloud
Estás enganada, quanto aos primeiros. Esses exames acabaram antes de 1994 para os funcionários públicos. Só se, funcionários publicos agora, forem ministros, deputados e afins. Não me admirava nada, aos excedentes que dizem existir...lol
Quanto aos estudantes de hotelaria, não sei.

andorinha disse...

O sical,
Desculpas porquê?:)
Já sabes que partilho o teu pessimismo e daí que concorde totalmente com o teu comentário.

LR disse...

Há dez anos atrás, mais coisa, menos coisa, fui responsável por uma estrutura onde se ministravam acções de iniciação ou aprofundamento profissional em determinada área técnica do Estado. Candidatavam-se centenas de pessoas de todo o país, seleccionavam-se 100 ou 120, e estas eram depois chamadas e ali ficavam durante 3-4 dias na semana, concentradas numa única sede física a nível nacional, durante um período de largos meses.
Inspirada nalguma cultura (osmótica) de promoção dos comportamentos preventivos (e porque já então ouvia recorrentemente falar na re-emergência de certas doenças tidas como “enterradas”) pareceu-me avisado fixar, entre outros requisitos formais de entrada (obviamente de diferente natureza) a prévia triagem do “BCG” – como se dizia impropriamente na gíria local –, integrados na ex-SLAT.
E lá vinha o resultado da bateria toda dos testes, doesse a quem doesse.
Na altura, fi-lo por minha iniciativa e convicção, sabendo que era “coisa” caída em desuso e condenada a não ser entendida por uma comunidade profissional não médica (incluindo eu, claro).
Choveram críticas de todo o lado (ou não fosse isto Portugal) considerando um puro excesso de zelo… coisa bafienta que não lembrava ao Menino Jesus! Por cá obedece-se mal à lei, quanto mais à administração...
Para reforçar mais as minhas razões, e já em plena fase de aplicação da medida, fiz 1 telefonema para o responsável da SLAT, que nem conhecia, de resto. Descansadíssima: fizera muito bem; tomara a decisão que todas as entidades que recebiam pessoas naquelas condições, com diversidade geográfica, deveriam tomar, para sua própria defesa, qualquer que fosse o seu status.
As críticas e as piadinhas continuaram volta e meia. Até terem aparecido dois casos no ano seguinte (pessoas do sul – mas do sul-sul-sul, vejamos, senhores do Norte! -seleccionadas nas provas e depois afastadas).
Ninguém mais piou naquele serviço...
A maior parte das vezes, nada veio a acontecer, de facto, mas uma ou outra, sucedeu mesmo. E isso quando soubémos dos casos...
A prevenção é assim: e o seu inimigo nº 1 são os membros da "Liga de S-. Tomé": ver para crer...Quando vêem, já é tarde...

Acho que valeu a pena “sacrificar” os candidatos pelos casos que vieram a ser detectados (4, 5, 6, 10, 20 ?, nunca saberei ao certo, foram centenas de pessoas, ao todo, que fizeram os testes e não cuidei de fazer levantamento, bastou-me aplicar a regra).
Essas pessoas saberiam de resto o que tinham, se não fosse o concurso? Se calhar não tinham sabido tão cedo.
E se se soubessem e ninguém lhe tivesse “barrado” a entrada, até à cura? Quantos teriam contagiado?

Fico tranquila por saber que eu, no meu diletantismo, tive razão. O responsável da SLAT (ou sucedâneo), no seu conselho "confirmador", também. E que a minha osmose inspiradora afinal não funcionou mal.
O pior disto tudo, claro, é o mau da fita de sempre: a burocracia.

Anónimo disse...

Caros amigos do sr. Doutor:
Como o vosso estimado Dr. não se presta aqui a consultas vou alertar-vos eu, pois então. Que ele tenha pudor...
Ainda é sobre aquele que é Sousa mas não da minha estirpe: os senhores tenham cuidado com as contas e com a saúde. É que o vício provoca nevrites e artrites e desenvolvimento muscular assimétrio dos "braçais". E isto será também válido para quem utiliza a internet para o mesmo fim. Se virem um colega a teclar muito bem com a mão esquerda não sendo ele canhoto... é provável que só goste daqueles sites badalhocos que às vezes aki aparecem. Mas pronto. Há gostos para tudo. "Aturar" (pronto - amar)uma ou mais mulheres de carne e osso (às vezes com mais adiposidade e outras coisas que tais à mistura) não é para qualquer um.

Abraço ó patrãozinho de uma figa.

maloud disse...

Relescriadodoestado,
Como as minhas filhas fizeram estágio em 2001/02, como professoras numa escola secundária, e lhes foi exigida a tal "prova tuberculina", julgava que todos os funcionários públicos também fossem abrangidos.
Quanto ao caso particular das escolas de hotelaria, sei, porque o mais novo frequenta. E aqui também é exigida a vacina da hepatite B.

LR disse...

Maloud:
Acho que sim, que para um qualquer 1º provimento, ou situação equivalente, o rastreio é obrigatório ainda.
Tal como no ingresso na Universidade (tenho 1 filho que fez isso em 2005, tal como eu fiz em 75 qd entrei na fac.)
Aliás, o que é comum no Estado é que os usos e costumes se arrastem décadas, e não que mudem...
Portanto, todo o procedimento deve lá estar ainda como há 20 anos ou 30.
Ainda bem.

Mas o problema não é esse, O problema é que NUNCA MAIS SE PEDE UM RASTREIO QUE SEJA nas múltiplas situações que se apresentam depois, durante as movimentações na vida profissional: como se um diagnóstico fosse válido até ao fim da vida.
O caso que relatei surge exactamente num contexto desses: uns teriam "entrado" há pouco tempo; outros, há 5, 10 ou 15 anos. E as pessoas vinham dos mais variados locais geográficos.

(Quando se "entra" na FP tb se faz 1 exame psiquiátrico divinal e hilariante nas DGS para atestar a nossa sanidade mental! Perguntam-nos o nome, a idade, se o namorado está bom e a avó ainda vive e depois boa tarde até à próxima - que não existe -, para dar entrada ao seguinte da fila de espera: que é grande e há que sair às 4...)

Aliás, o Estado-patrão (ou seja, o estado que emprega os seus "servidores") é o pior de todos: com uma mão, legisla para os outros; com a outra, faz o contrário do que prega. Na sua própria casa.
Em matéria de prevenção digo muitas vezes que a situação é quase escandalosa: e está à mercê da discricionariedade de quem dirige. Uns, são sensíveis. Outros, não são e ninguém os alerta. Resultado: passam-se 10, 20, 30 anos, e mais, na função pública sem que se que seja obrigado a fazer qualqier espécie de exames periódicos, quer direccionados para o estado de "sáude " em geral, quer para eventuais patologias profissionais (que de certeza encontrariam, por inocentes que fossem).
Até ao dia em que algum trabalhador de Estado se lembre de processar o "patrão" por incumprimento das normas sobre prevenção laboral (e isso é mais que possível): pagava para ver na 1ª fila.
Porque é que os sindicatos não se ocupam destas coisas, e não perdem tempo com outras, às vezes tão inúteis? Pois eu acho que era em causas como estas (sem esquecer algumas velhas causas que ainda continuam a ser importantes, mas só algumas...)que deveriam centrar as suas energias!
A questão é que os sindicatos são tão conservadores quanto os patrões, apenas com sinal contrário.

maloud disse...

Angie,
Os sindicatos se revolvessem o país todo, público e grandes empresas privadas, ficariam atónitos, com a falta de higiene e segurança no trabalho. Ou talvez não. São capazes de saber e fechar os olhos, até aparecer um cadáver que arraste as TVs. Afinal, todos precisam de visibilidade.