Catalunha dá mais um passo rumo à sua autogovernação
Bernat Armangue/AP
Pascual Maragall, presidente do Partido Socialista da Catalunha, aplaude a aprovação do novo Estatuto
Vítor Pinto Basto
A pós sete horas de debate, os deputados espanhóis aprovaram, ontem, um documento inédito ao aceitarem pela primeira vez que uma Comunidade Autónoma espanhola seja considerada "uma nação". Os nacionalistas catalães dão assim mais um passo rumo à autogovernação.
O novo Estatuto da Catalunha foi aprovado por maioria absoluta, com os votos de 189 dos 345 deputados. Por razões diametralmente opostas, votaram contra (154 votos) os independentistas da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e o Partido Popular (PP); a eles juntou-se o deputado basco da EA.
Os independentistas catalães queriam mais competências, mais autogoverno e dizem que votaram contra porque o documento, segundo o seu porta-voz, Joan Puigcercos, "não consagra a Catalunha como uma nação, apesar daquela palavra aparecer escrita no estatuto.
Os populares, pelo contrário, queriam conceder menos autogoverno autonómico. O seu líder, Mariano Rajoy, diz que, com a aprovação daquele texto, começou para a Espanha o início de uma nova fase da sua vida institucional "O início do fim do Estado espanhol".
O texto deverá ser, agora, levado ao Senado espanhol, onde poderá ser alterado antes de ser adoptado definitivamente pelos deputados. Depois, será votado, em referendo, pelo povo catalão.
O novo Estatuto, com 223 artigos, significa um avanço significativo no autogoverno da Catalunha, sobretudo se tivermos em conta o teor do documento anterior, datado de 1979, estava a Espanha, morto o ditador Franco, a dar os primeiros passos da democracia e a dividir o país em comunidades autónomas, cada uma com o seu Estatuto. Agora, Zapatero tem pela frente um conjunto de propostas de alteração desses estatutos e o seu futuro político depende, segundo os analistas, da maneira como vai gerir esse complexo dossiê. Complexidade que se acentuará quando for discutido o do País Basco, onde os nacionalistas exigem ter direito à autodeterminação.
Na Catalunha, o presidente do Governo espanhol envolveu-se pessoalmente nas difíceis negociações e conseguiu reduzir substancialmente as reivindicações dos nacionalistas num documento que foi aprovado, por 90% dos deputados catalães, no passado mês de Setembro (novamente o PP votou contra).
No Parlamento espanhol, José Luíz Zapatero contou com o apoio dos nacionalistas democratas-cristãos da Convergência i União (CiU). O partido de Artur Mas foi batido nas eleições regionais de 2003 pelos socialistas e pelos independentistas da ERC mas, ontem, voltou a traçar os destinos da Catalunha ao ajudar a aprovar um documento que não agradará a uma parte substancial da população catalã, que quer mais autogoverno para gerir a sua riqueza. Riqueza que Zapatero quer ver distribuída, com "espírito de solidariedade" por outras comunidades espanholas. Como manda a Constituição espanhola.
26 comentários:
E o sofrido País Basco lá chegará também...!
"...e em vez de ficarem unidos, dividiram-se em mil partidos, no fundo todos queriam ser ditadores..."
Jorge Palma
Para quem acha que o mal do mundo são as fronteiras, ver começar a nascer mais uma não parece trazer nada de bom. Por outro lado toda a gente devia ter direito ao seu cantinho...
O eterno dilema da propriedade comum...
Estou sempre amb os catalães. Perco-me por Barcelona. E o El Bulli do Adrià, em Roses? É uma ida ao paraíso. Aliás a Catalunha e o País Basco têm a melhor cozinha de Espanha {lamento, mas aquelas moules galegas dizem-me pouco}. Porque será?
.....a ver vamos como diria o cego, nem sempre as autonomias/idependências, correspondem na prática aos dircursos de quem as pretende..... e já agora Olivença, ou então poderíamos ser todos espanhois, ou sei lá, não fosse o D. Afonso Henriques ter batido na mãe.....
Boa tarde.
Boas notícias para os catalães, sem dúvida. Se existem "nações" dentro de uma nação estas devem ser reconhecidas.
Quanto às vozes agoirentas que apontam isso como"O início do fim do estado espanhol" elas existem sempre. Há partidos que são avessos a qualquer tipo de mudança.
HERÓIS DO MAR NOBRE POVO...DOS TEUS EGRÉGIOS AVÓS...
É nestas alturas que agradeço encarecidamente aos nossos antepassados terem dado à nação portuguesa um território próprio.
Somos 1 aut~entica pátria (ou 1 mátria...)
A ponto de sermos o país com as fronteiras mais antigas da Europa.
Não que seja partidária do "small is beautiful".
Mas o que é verdade é que se a Espanha é um país notável em muitos aspectos - realmente uma espécie de Alemanha do sul -, assenta a sua unidade em cima de um vulcão (por agora quieto).
Não há economia que lhes valha no dia em que esse equilíbrio desparecer...
Espero que não venha a acontecer nunca, mas História é 1 caixa de surpresas, ns suas proverbiais repetições.
Eis um perigo que não corremos: o de nos desagregarmos!
(às vezes apetecia-me desenterrar o Unamuno para lhe dizer isto na cara...)
Como sempre, não somos lá muito orgulhosos nem dos nossos legados nem das nossas características. Mas esta é definitivamente uma delas!
LOOOOOOOOL
(não sei se comente o conteúdo político da notícia, se fale só da comidinha espanhola ?)
Vou-me remeter ao silêncio profuuuuuuuuuundo
Tenham um bom fim de tarde.
As forças centrifugas são o grande problema da Espanha. Há uma regra que a cada nação, uma mesma lingua e uma mesma religião. Mas o mundo está evoluindo. Os impérios vão tombando, sempre minados por dentro. A energia sucessora do petróleo é que vai determinar se as opções de agora vão ser apostas certas.
Mas isto são contas de outro rosário.
Quanto a Olivença. Porque será que eles quereriam voltar para Portugal? Parece que querem todos sair daqui. Ontem ouvi uma jovem que veio forçada lá do Canadá com os pais e o irmão. Elucidativo o que ela disse. Uns querem separar-se de Espanha, outros já quase que vão pedir a esmola de lá serem integrados.
Nós fechamos maternidades e escolas, exportamos doutorados e outros especializados, etc, etc.
Me perdõem, mas o Barça vai ganhar ao Benfica. Porque é lógico.
Aquiles,
Concordo com tudo o que afirmas, mas estragaste tudo com a frase final.:)
Ainda bem que no futebol não há lógica.
.
Combinando o post de hoje com o de ontem...
Acho muito bem que as nações catalã e basca sejam tão autónomas quanto possível. Estou até convencido que um dia a sua tão desejada independência chegará. Até porque para estes dois povos é igualmante válido o ditado que diz que "de Castela, nem bom vento, nem bom casamento"...
Mas a mim, português, preocupa-me muito mais que as PORTUGUESAS de Elvas sejam obrigadas a ter os seus filhos em Espanha (Badajoz). Porque razão nos vêm acenar com leis da paridade - música para os ouvidos da(o)s palermas - quando nem se dignam respeitar as mulheres / mães desta cidade alentejana ?
Desde que queira, uma mulher catalã tem os seus filhos na Catalunha. Desde que queira, uma mulher basca tem os seus filhos no País Basco. Uma mulher de Elvas é convidada a ter os seus filhos fora do seu (nosso) país. Que nojo !!!
Andorinha
Não tenho nada contra o Benfica. O meu mais velho é um adepto a 101%. E percebo o choque. Como sabes não gosto de atingir ninguém. Mas o que eu queria pôr em evidência é que o Barça é um clube de uma grande cidade, numa grande região e num grande país (sem ser extenso por aí além); o Benfica é de Lisboa, pode ter milhões de adeptos, mas está em Portugal, no Portugal de hoje, país sem esperança.
Era tão só isto que eu queria expressar.
E apesar de não me mover emocionalmente por equipas (irrita-me o ambiente do dirigismo e outros paralelismos), chorei em 66 quando a Coreia marcou o 3º.
Ainda gosto muito daquela equipa, desde o Américo do FCP até ao Eusébio do FLB.
Se a maioria dos catalães deseja a autogovernação, acho que isso deve ser respeitado. Assim se aplicará a democracia, que muitas vezes é mais uma figura de retórica do que uma regra política a ser passada à prática.
Quanto ao futebol, até acho um jogo bonito, mas não sou apaixonada; acho que está demasiado endeusado; considero-me simpatizante e solidarizo-me com o Benfica, mas espero que no fim ganhe o que mais o tiver merecido, como em qualquer jogo.
Bom fim de semana para todos, com saúde e boa disposição para gozarem os vossos hobbies...:-))
Aquiles
Dada a tua evolução niqueira pensei na seguinte teoria "darwinista" para a mesma:
Sical --> (anagrama) --> acils --> (infixação) --> achiles --> (aportuguesamento) --> Aquiles
Espero estar correcta...;)
Aspásia
Sical foi um acaso. Mas como tive de fazer um registo de blog para aceder aqui na tertúlia, já fui elaborando uma linha de rumo. No meu blog exçlico o porquê do NICK e também o editorial do blog. Achei piada à tua dedução para a minha evolução niqueira.
A tua visita lá ao blog é sempre bem vinda e estimada. E o meu blog não faz concorÊncia. Tenho sempre de dizer isto por causa do JMV. Ele agora anda de mau humor lá com o Sousa.
Aquiles,
Acredito que não tenhas nada contra o Benfica. Percebi que fizeste essa afirmação na sequência lógica de todo o teu comentário.
Mas continuo a dizer, o futebol não tem lógica, portanto poderá haver alguma esperança.:)
Andorinha
Logo hoje, em que lá no meu post, só divaguei sobre a ausência de esperança.
Mas, emotivamente, eu quero que o Benfica ganhe, bem como qualquer equipa que jogue com clube estrangeiro.
Paradoxalmente, há-de chegar o dia em que em Portugal se discutirá (ou será exigirá) a integração da província lusa no Estado Espanhol.
Já lá dizia Lavoisier: "Na natureza nada se perde, tudo se transforma"
Cato Fora-da-Lei,
Você não entendeu o verdadeiro alcance da medida referente à remodelação dos serviços de obstetrícia na zona raiana.
Na realidade trata-se de uma medida expansionista do território luso continental.
Veja bem: nos bilhetes de identidades desses cachopos passará a constar: Nacionalidade: Portuguesa. Naturalidade: Badajoz.
Quer melhor?
Mas a medida é ainda mais maquiavélica pois o objectivo último é o reconhecimento de Olivença como território lusitano.
Nacionalidade: Portuguesa. Naturalidade: Olivença.
Você não percebe os meandros complexos dos pensamentos geo-estratégicos e das políticas que daí advêm.
Ram
Boa dedução da geoestratégia.
Aguarda-se as novas acções dos Amigos de Olivença.
E já agora, ouvindo a TSF, de manhã num programa aberto à opinião pública, não são poucas as opiniões no sentido da integração.
Desinteressante,
Fui lá. Aquela ideia para a reconquista é maquiavélica:).
RAM 12:14 PM
"Caro Fora-de-Lei, você não percebe os meandros complexos dos pensamentos geo-estratégicos e das políticas que daí advêm."
Já cá não está quem falou. Aprender até morrer... :-)
Nós só tivemos 1640, porque Espanha estava mais preocupada em não deixar fugir a Catalunha do que em preservar-nos debaixo da sua alçada. Quem faz muita questão em ser português deve estar grato à Catalunha. Eu não estou grata, mas gosto de passar lá, volta meia volta, uns dias.
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