quarta-feira, março 30, 2005

Lá dizia Plutarco:)

O homem escreveu que os médicos não podiam passar sem a Filosofia e os filósofos se deviam ocupar também da saúde dos corpos:). Hoje, a Medicina tem dificuldade em escapar a uma visão da saúde como um corpo que funciona, apesar da famigerada definição da OMS, que preconiza o bem-estar físico, psíquico e social, etc... Há estudos interessantes sobre as expectativas dos alunos de Medicina antes de iniciarem o curso e ao terminá-lo. No primeiro caso, explícita ou implicitamente, declaram-se motivados para curar e cuidar; no segundo já se vêem "apenas" destinados a curar, deixando o cuidar para outras profissões, como a Enfermagem, a Psicologia e o Serviço Social. O doente já se tornou um mero portador de doença... O mesmo processo de aculturação torna-os, muitas vezes, resistentes a estratégias de prevenção e promoção de saúde e ao trabalho interdisciplinar quando não dirigido pelos médicos envolvidos. Não é por acaso que a principal queixa dos doentes não se centra na competência, mas na qualidade do encontro terapêutico. A Medicina abandona a custo uma relação de ajuda paternalista, em que o "bom doente" é o que obedece e não faz perguntas. Assim, a discussão à volta da Bioética é preciosa, por colocar a questão fulcral: ao serviço de quê e quem está a Medicina, sem abdicar - obviamente! - de saberes e práticas próprios? Que palavra - e com que peso... - tem o doente a dizer sobre os objectivos e danos colaterais do seu tratamento?
Uma só palavra sobre grupos que alguns de vocês mencionaram, os desfavorecidos. Como os idosos e os seropositivos: dizemos em Sociologia Médica que nesses casos a morte social antecede a biológica (acho que já falei disto:(). Além de alguma Medicina, parte da sociedade varre-os para baixo do tapete e evita a profunda angústia que provocam se forem encarados como cidadãos de pleno direito. Com desculpas variadas: não são produtivos e belos ou simbolizam a "decadência e anarquia dos costumes".
E contudo, todos juramos a pés juntos sermos incapazes da xenofobia...

4 comentários:

Anónimo disse...

Impressionou-me o 1º comment do Tão Só um Pai, e dirijo-me a ele, na tentativa de o sossegar: amigo, num coma não sentes fome,sede, dor, matéria física.
Agora um estado vegetativo permanente, mas CONSCIENTE, implica a tua vontade e
a tua decisão, por isso não te assustes com a hipótese de "te matarem"! Entendo-te porque já saí
dum coma. Agora, ´há diferenças entre: eutanásia, distanásia e suicidio assistido, para situações
diferentes. (continua)

Anónimo disse...

Mas há uma questão no caso da Terri
que me intriga: porquê um método "libertador" tão lento, após 15 anos? Macacos me mordam se
entendo...

Maria de Fátima

Tão só, um Pai disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Tão só, um Pai disse...

Os idosos.

Aos idosos, deveria ser-lhes autorizado, concedido, o direito de se munirem de uma caçadeira caregada, durante as consultas nos Centros de Saúde e Hospitais. Pelos vistos, esta será a única forma de obterem o respeito que lhes é devido, o respeito pela sua vida que, eles e quem os ama, querem prolongada. A um idoso muito especial, das minhas relações, que já contraíu um cancro da próstata, foi negado um exame por "ser muito caro e, ele, já não ser novo". Só a tiro, ou à bomba. Quando mais precisam de carinho, paciência e mais tempo para se fazerem entender, no turbilhão das suas mentes atormentadas com o futuro, é-lhes cruelmente destruída a esperança, ondenando-se-lhes que se confinem à espera do fim. Só a tiro, ou à bomba. É difícil ser-se racional e mero espectador destes actos.