segunda-feira, julho 04, 2005

As árvores morrem de pé e crescem lado a lado.

Alguém teve a gentileza de me enviar a seguinte citação de Khalil Gibran sobre o casamento: "E fiquem lado a lado, mas não próximos demais um do outro, pois os pilares do templo ficam afastados. E o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro".(O Profeta).

Estou de acordo, em qualquer tipo de relação amorosa. A nostalgia fusional de uma só Carne e um só Espírito ignora as características irrepetíveis que nos atraíram em alguém. Não nego que se pode crescer à sombra de um outro, muito menos que o possamos admirar ou sempre temer que nos abandone. Digo apenas que é bom o afecto ser - e continuar... - o resultado da articulação de duas liberdades. Sob pena da "sombra" do(a) amado(a) deixar de constituir um oásis no relativo deserto que nos rodeia e se tornar o espartilho sufocante e raquítico que um dia acarretará o azedume.

80 comentários:

eutodososdias disse...

- Vou casar!
- Contra quem?

Anónimo disse...

Prof. JMV,

Totalmente de acordo!
Crescer confundindo a sobra com protecção e no fim em tempos mais maduros o oásis torna-se inferno!

Anónimo disse...

Penso que, mesmo que admiremos muito a pessoa amada nunca devemos deixar que nos transforme no seu prolongamento, sob pena de (inconscientemente) nos tornar-mos seres completamente anulados.

Anónimo disse...

Suficientemente perto do fogo para se aquecerem, mas suficientemente longe para não se queimarem!
Sabedoria popular!

Anónimo disse...

A sensação que tenho, cada vez mais, é que o amor, tal como tudo o resto, vem com prazo de validade. O problema é que ninguém nos preparou para menos do que "...e viveram felizes para sempre". Olho em redor e dou-me conta que muito daquilo que achava pertencer ao universo dos meus pais, no que toca ao funcionamento do casal, tem muito mais a ver com pessoas do que com uma geração concreta. Isso foi inesperado e angustia-me. A inevitável degeneração do "oásis" em "espartilho sufocante e raquítico" e consequente "azedume" que me parece caracterizar, sem excepção, todos os relacionamentos que me rodeiam, roubam parte do entusiasmo que acho que deveria sentir com o início de uma nova relação. É como se o facto de saber que vai acabar comprometesse, à partida, a entrega a essa pessoa e a essa relação. Releio o que escrevo e pergunto-me se é fruto de desencanto, cinismo ou simplesmente constatação...

Pamina disse...

Boa tarde JMV e maralhal,

Também concordo. Parece-me que uma relação será mais "saudável" (c/perdão pela palavra) se ambos os parceiros tiverem a sua própria autonomia. Claro que é necessário fazer compromissos, mas quando um parceiro se anula sistematicamente em favor do outro, a consequência é exactamente o tal azedume que se expressa, muitas vezes, através de uma terrível "cobrança".
Evidentemente que isto é muito fácil de dizer, assim em teoria e de fora. Muitas pessoas vivem situações destas, com as quais se sentem profundamente insatisfeitas, sem conseguirem, por vários motivos, modificá-las.

Anónimo disse...

Obrigada professor

Julio Machado Vaz disse...

Rosebud,
Tem razão: o "viveram felizes para sempre" descreve melhor os filmes da Disney e do Fred Astaire com a Ginger Rogers do que a vida real. O que transforma a natural tristeza pelo fim de um projecto que se julgou duradouro numa catástrofe existencial de consequências imprevisíveis para futuras tentativas.

Anónimo disse...

Havia alguém que dizia que quando duas pessoas pensam exactamente da mesma maneira, uma delas não pensa!

E eu acrescento: para uma relação funcionar, mais que uma comunhão de gostos, deve haver uma partilha!

Beijo *

Anónimo disse...

Rosebud,
O entusiasmo do início de uma nova relação, aquilo a que eu chamo paixão, é algo fantástico. Renegar a vivência da paixão é comprometer a vida. Pelo menos para mim, que sou fã do 8 e do 80.

Anónimo disse...

A propósito deste texto do Prof. JMV, recordei a canção do U2, especialmente a letra que diz "We are one, but we are not the same..."

Anónimo disse...

Se vivermos uma relação em que à partida sabemos que vai ter um tempo limite (nem que seja o tempo da nossa própria vida) o "viveram felizes para sempre" pode funcionar pois podemos relativizar o "sempre". Se eu me entregar a uma relação sabendo de antemão que a paixão é efémera poderei sempre jurar: amor até à morte (da paixão)!

Pamina disse...

Esqueci-me de dizer que gostei das metáforas do texto.
Consegui encontrar o texto completo, do qual esta citação faz parte, e que se chama em inglês "On Marriage". É muito bonito.
(library.cornell.edu/colldev/mideast/propht.htm#Marriage)

lobices disse...

...Gibran teria sido casado?
...Gibran teria sido amado?
...Gibran teria amado?
...Gibran teria sido o Carvalho ou o Cipreste?
...Gibran teria sido um pilar do Templo; haveria Templo?
...
...não sei; não sei se concorde com ele ou não; entendo que os membros do casal devam ficar aldo a lado mas não muito próximos um do outro tal qual pilares do mesmo Templo; concordo que sim...
...mas
...porque não serem eles o Altar?
...porque não serem eles a Cúpula?
...
...entendo que o carvalho e o cipreste não conseguem crescer à sombra um do outro porque cada um retira a luz ao outro...
...mas
...não poderão crescer em direcção à Luz numa procura constante em vez de se anularem com as suas próprias sombras e assim poderem crescer lado a lado numa clareira de afectos e de perfeita união como se fossem não um carvalho e um cipreste mas tão somente duas árvores necessitadas de água, de sol, de vento, de abraços fraternos da floresta!?...
...serem apenas os pilares do Templo como que apenas para o "segurarem" não será tão redutor?
...e, se crescerem à sombra um do outro, não haverá formas de serem apenas parte de um todo, da floresta e assim transpirar o vital oxigénio para quem os rodeia?
...talvez escolha mais a figura do Altar do que a figura do Pilar
...talvez prefira a Floresta do que a solidão de um Carvalho e de um Cipreste crescendo lado a lado sem outra missão que não seja crescerem sem fazerem sombra um ao outro... pode, eventualmente essa sombra personificar a pen~umbra necessária à paz de um calor excessivo que os faço "morrer" secos pela falta do sal da terra ou da água que faz reviver...
...sou a favor da Fusão
...sou a favor do Altar
...sou a favor da Floresta
...sou a favor do dar as mãos se não puder haver o abraço mas nunca serei a favor do afastar num espaço que os separe do todo
...não sei se, desta vez, concorde com o Gibran
...talvez por terem ficado lado a lado, talvez por não terem feito sombra um ao outro, a floresta tenha acabado e o altar deixado de o ser para restarem apenas as colunas erectas secas perdidas fendendo as alturas esguias sem sentido no meio do deserto da vida
...

Anónimo disse...

Prof. JMV,
Se calhar, o facto de termos sido formatados para o “viveram felizes para sempre” também contribui para a catástrofe existencial. Primeiro, porque não é suposto as relações acabarem, segundo porque ao darmos as coisas como garantidas estamos a contribuir para o fim.

Anónimo disse...

Ao rataplan

A morte é garantida. Ao viver estamos a contribuir para a morte, ou estamos simplesmente a disfrutar da vida?

RAM disse...

Nem de propósito....
Gibran? Kahlil Gibran.
Delicioso...
Casamento?
Prefiro as palavras de Almustafa ao povo de Orphalese (o personagem do referido livro):

"But if in your fear you would seek only love's peace and love's pleasure,

Then it is better for you that you cover your nakedness and pass out of love's threshing-floor,

Into the seasonless world where you shall laugh, but not all of your laughter, and weep, but not all of your tears.

Love gives naught but itself and takes naught but from itself.

Love possesses not nor would it be possessed; For love is sufficient unto love. When you love you should not say, "God is in my heart," but rather, I am in the heart of God."

And think not you can direct the course of love, if it finds you worthy, directs your course.

Love has no other desire but to fulfil itself.

But if you love and must needs have desires, let these be your desires:

- To melt and be like a running brook that sings its melody to the night.
- To know the pain of too much tenderness.
- To be wounded by your own understanding of love;
- And to bleed willingly and joyfully.
- To wake at dawn with a winged heart and give thanks for another day of loving;
- To rest at the noon hour and meditate love's ecstasy;
- To return home at eventide with gratitude;

And then to sleep with a prayer for the beloved in your heart and a song of praise upon your lips.

Uma boa tarde para todos,

Anónimo disse...

Lumena,
A morte é garantida? Ainda não tinha pensado nisso. Bolas! Tenho o dia estragado! Lol
Ao darmos a vida como garantida podemos passar ao lado dela, direitinhos em direcção à morte.

RAM disse...

Contextualizado no conjunto da obra de Gibran a citação ganha uma outra dimensão e uma outra beleza, aliás intrínseca e transversal ao livro em questão.

Um abraço a tutti,

smooth_word disse...

Boa tarde Prof. Júlio e bloguistas

Gosto muito de Khalil Gibran e do livro "O Profeta". Espero que lhe tenham passado todo o poema, pois é digno de ser lido e principalmente ser finalizado com a citação que referiu. É um dos meus poemas predilectos desse livro, e se quiser terei todo o prazer em transcrevê-lo. Se não for muita ousadia...
Um bem haja a todos

Anónimo disse...

rataplan,

Eu não disse que a vida é garantida, mas sim a morte.
De qualquer das formas a ironia é de mau gosto para alguém que simplesmente ganhou coragem para partilhar ideias e pensamentos (certos ou errados). Fim de réplica.

Anónimo disse...

rataplan,

Eu não disse que a vida é garantida, mas sim a morte.
De qualquer das formas a ironia é de mau gosto para alguém que simplesmente ganhou coragem para partilhar ideias e pensamentos (certos ou errados). Fim de réplica.

Julio Machado Vaz disse...

Rataplan,
É verdade. Por sermos formatados no amor romântico temos tendência a pensar "se acabou não podia ser amor e sobretudo o amor". É falso e perigoso para o futuro.

Jessie disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

"...Es ist schön manchmal das Herz ein bißchen zu öffnen und etwas Schmerz reinkommen lassen.
...Das zeigt nur, dass du noch am Leben bist.
...Es passiert nur, weil wir brauchen zu wollen und auch gewollt zu werden, wenn die Liebe da ist oder gegangen ist.
...Ich möchte dir schreiben und dich wissen lassen wie du selbst bist.
...Aber mit der Zeit habe ich darüber nachgedacht, ein Stift gefunden, schrieb auf dem Papier aber du warst gegangen.
...Es ist bewölkt und ich fühle mich faul, genau wie du am anderen Tag und so bin ich bis später im Bett geblieben nur am nachdenken was ich fühle nocheinmal..."

...

Jessie disse...

Boa tarde!

(Que bom enviar um comentario sabendo que o Prof. esta online...)
Antes de mais, parabens ao Gonçalo bela referencia a U2 e 'One': Ambos fantasticos! (Para mim, e muitos milhares mais, em concerto no proximo dia 13)

Bonita a citaçao mas o que e proximo demais? Acho que os dois pilares se vao aproximando com o tempo, fortalecendo a 'estrutura'... Concordo com a preservaçao da identidade dentro do casal, isso sim...

Beijinhos,
Ladybug

Cristina disse...

o casamento perfeito tem mais de caminhar na mesma direcção do que um para o outro, quando isso acontece há tendência a tropeçar.
um abraço

Anónimo disse...

Lumena,
Não é ironia, é apenas brincar com algo de que se tem pavor: A MORTE.

andorinha disse...

Olá Júlio e maralhal,

Claro que também concordo. Uma relação só faz sentido se ambos os parceiros mantiverem a sua autonomia e a sua individualidade e se não se anularem em função do outro.
Relações desequilibradas ruirão mais facilmente ou serão mantidas à custa do sofrimento de uma das partes.
Quando as relações se transformam num "espartilho sufocante e raquítico" isso será o prenúncio do fim.
Como já referi uma vez, asfixiar numa relação deve ser terrível.

O texto completo é lindíssimo, assim como vários outros de "O profeta". Uma das minhas estagiárias teve a amabilidade de me oferecer o livro, que tem sido para mim uma agradável surpresa, porque não conhecia este autor. Está repleto de metáforas lindíssimas.

Victor delta (3.50)
Gostei, em poucas palavras é dito o essencial.

Júlio(4.11)

Tanto pessimismo.:)
Nem sempre será forçosamente assim.
"Catástrofe existencial de consequências imprevisíveis para futuras tentativas" parece-me forte demais.
Depois de feito o luto poder-se-á seguir em frente talvez duma forma mais forte e com expectativas mais ajustadas, sabendo-se de antemão que nada é eterno ( só enquanto dura).

Anónimo disse...

Lunema,

Desculpa! Chamei-te Lumena.

Anónimo disse...

Jessie,
Obrigado!

Para muitos, amar é confundir-se com o outro, nós dois somos um só, quantas vezes não se ouve dizer isto. Este ideal da fusão é muito perigoso, porque gera uma espécie de "depósito" da própria identidade no outro, em alguns casos porque é o preço a pagar, noutros, bem mais preocupantes, porque não se concebe o amor e a vida de outra forma. Ora, o amor é justamente a união de diferenças e o respeito por elas e, mais do que isso, a sua própria valorização.

andorinha disse...

Júlio (5.28)
Totalmente de acordo.:)

andorinha disse...

gonçalo (6.01)

É isso que penso também.
Se alguém só concebe a sua existência através do outro, se esse outro partir, resta-lhe o quê?

RAM disse...

Der lieber (ou será Lobices)?
Either way... não interessa...,

Não sei se a mensagem subliminar foi para mim.
Aqui segue a tradução.
Abraço e beijos a tutti

"Mas se, receosos, procurardes só a paz do amor e o prazer do amor,
Então é melhor que oculteis a vossa nudez e saiais do amor,
Para o mundo sem sentido onde rireis, mas não com todo o vosso riso, e
chorareis mas não com todas as vossas lágrimas.

O amor só se dá a si e não tira nada senão de si.

O amor não possui nem é possuído;
Pois o amor basta-se a si próprio.

Quando amardes não deveis dizer "Deus está no meu coração", mas antes
"Eu estou no coração de Deus".

E não penseis que podeis alterar o rumo do amor, pois o amor, se vos achar
dignos, dirigirá o seu curso.

O amor não tem outro desejo que o de se cumprir a si próprio.

Mas se amardes e tiverdes desejos, que sejam esses os vossos desejos:

- Fundir-se e ser como um regato que corre e canta a sua melodia para a noite.
- Para conhecer a dor de tanta ternura.
- Ser ferido pela vossa própria compreensão do amor;
- E sangrar com vontade e alegremente.
- Despertar de madrugada com um coração alado e dar graças por mais um dia
de amor;
- Repousar ao fim da tarde e meditar sobre o êxtase do amor;
- Regressar a casa à noite com gratidão;

E depois adormecer com uma prece para os amados do vosso coração e um
cântico de louvor nos vossos lábios.

Anónimo disse...

Andorinha,

Aí está um factor importante: As expectativas.
Será possível não ter extectativas?
Viver somente o presente?

. disse...

É realmente isso professor, o romantismo injectou a nossa cultura com um conjunto poderosíssimo de noções que formataram, antes de mais, a expectativa que temos em relação ao amor e à pessoa com quem esperamos vivê-lo. Creio que uma das grandes angústias que vivemos hoje em dia provém justamente do hiato que encontramos entre essa noção romântica do amor e a experiência real que temos dele. Pesa constantemente sobre nós o peso desse amor ideal que não vemos concretizado no dia a dia da nossa relação. A frustração é inevitável porque a ideia de amor com que fomos bombardeados a vida toda - feita de "para sempre", "pessoa certa", "alma gémea", ... - não se cola com a realidade, diversidade e ambiguidade das nossas emoções.

andorinha disse...

rataplan,
Viver o presente com expectativas.
Não concebo uma vida sem elas. Isso seria vida?

Anónimo disse...

Andorinha (6.08)

Normalmente resta o vazio, mas por vezes a locura é a defesa mais à mão de uma realidade muito dura.

É difícil não ter expectativas, é quase como não haver futuro, o importante é controlá-las.

Anónimo disse...

Andorinha(6.08),
De acordo contigo e o Gonçalo.

Quantas mulheres de 50 e tal 60 anos não ficam destroçadas com uma separação e sem saber que fazer das suas vidas, pois durante décadas anularam por completo a sua identidade (os seus gostos, os seus sonhos) e definiram-se apenas enquanto esposas de alguém?

A propósito, nunca gostei da maneira anglo-saxónica de tratar uma mulher casada, ou seja, "Mrs." que pode ser seguido não só do apelido como do nome próprio do marido. Claro que isto é apenas um formalismo, mas denota essa mentalidade. Depois de casar a mulher perderia completamente a sua identidade própria.

Pamina disse...

Andorinha e Gonçalo,

Desculpem. Fui eu que fiz o comentário anterior, mas esqueci-me de pôr o nome.

Anónimo disse...

E na amizade, haverá expectativas?

RAM disse...

O lado negro da força está hoje presente neste blog. :))))

Bem sei que o Grande Chefe Indio ficou feliz com o re-encontro do Gilmour e Waters, mas em alternativa ao "Dark Side of the Moon" proponh "Wish You Were Here"
:)))))))))

Anónimo disse...

Olá malta! Que poema e fio de conversa fabuloso!

Acho que o problema maior do "felizes para sempre" é que sempre nos inculcaram que seria "felizes para sempre sem nenhuma dificuldade ou se houvesse se resolvia facilmente". Eu acredito mais num "felizes para sempre, mas com um trabalho do caraças".

Acho que não fácil passar para a vida o "uma só carne". Durante muito tempo isso significou "a carne que o homem decidiu". Ora esta "uma só carne" tem de ser construída por duas liberdades, sem se anularem uma à outra. Penso que passa por um trabalho dos dois para construir o nós e tentar remover aquilo que é acessório e que pode ser descartado. Aprendi ao longo da minha vida de casado que há muita coisa que parece fundamental e que afinal até é acessório.

Talvez uma imagem que me agradasse mais fosse a dos troncos a crescerem lado a lado, mas com as copas a entrelaçarem-se. Há uma parte que fica comum, mas também há uma parte em ambas as copas que fica de fora. Há sempre algo em nós que só nós próprios e Deus conhecemos e uma que só Deus conhece :)

Pamina disse...

Olá Mário (6.59),

Como disse, gostei da metáfora da árvore, mas a sua imagem é porventura ainda mais bela. Unidos na sua individualidade. Muito bonito.

Anónimo disse...

Não rosebud,
nem sempre JMV
os regimes caóticos do entusiasmo amoroso podem ser renováveis como os ciclos da autoregulação biológica. Não estremecer a cada confronto, não sucumbir a cada provocação, nada explicar, não se defender e aguardar a chegada de revoadas de criatividade - isso ajuda, isso pode resgatar a ânsia de deitar fogo á reserva do lobo como está a acontecer agora em Mafra.
E a criatividade treina-se, suscita-se, inventa-se em cada decepção. E não será ela a chave do tal ponto G - ou teremos todos(as) de investir na musculação e no contorcionismo institucional?

Anónimo disse...

Como li, ainda vai pouco tempo num artigo do DN, "a liberdade mata a liberdade". Falo assim, por oposição ao tema presente que poderia apelidar de "identidade mata identidade". È verdade que sim, que a afirmação da individualidade, da autonomia, das características próprias são, mais que o nosso B.I., o nosso passaporte e o nosso garante da existência. Mas... o pior, é que hoje, pelo menos nos meios mais cosmopolitas e relativamente a pessoas ditas mais informadas, se vive não o momento, mas... ao momento! Parea pura satisfação de interesses que nem sequer são estratégicos... mas de puro prazer, seja este puro e duro, seja este (prazer) até, mais duradouro; tenha carácter honesto ou seja simplesmente um embuste. E, no meio de toda esta experienciação furiosa, como se pode ficar senão, estilhaçado? :)

Tão só, um Pai disse...

Este post e os comentários posteriores levantam-me algumas interrogações, no que respeita à formatação.

Não acho que deva ser erradicada ou diminuída a ideia do amor e da relação duradoura, que até pode ser para sempre. Certo, haverá que temperá-la com a dúvida e possibilidade real de o seu prazo poder ser, quer inferior, quer superior ao do inicialmente desejado.


Mas, o que dizer quanto á formatação para o fim do amor entre casais com filhos e a desagregação de famílias? E a formatação para o sentimento de perda e da dôr? e do afastamento?

Alguém está disposto a entregar-se numa paixão (sim, porque as pessoas também se apaixonam) com um prazo de validade de um ano?

Alguém está disposto a entrar numa relação que não seja, do ponto de vista afectivo, suficientemente intenso, como plataforma para constituir uma família?

Alguém de entre os que lêm este arrazoado, está disposto a fazê-lo, sabendo de antemão que, no sétimo ano da relação, se irá separar dos filhos, com todas as complexidades daí inerentes?

Por favor, formate-se para a doce ilusão de que o amor pode, mesmo, ser eterno, apesar de, um dia, sabermos que não o é. Ou a descrença será total.

Anónimo disse...

Os filhos das relações terminadas já não levam consigo a tal formatação côr-de-rosa. Terá também, o amor romântico um prazo de validade?

PS: Murcons vermelhos, temos o Dr. Spock a jogar connosco!

Anónimo disse...

Acredite se quiser o Sr. "Pai, tão só": sim. As pessoas fazem-no. Casam-se porque sim, descasam-se porque há apenas qualquer coisa que "complica", apaixonam-se porque "a cabeça" assim mandata, desapaixonam-se porque se perdeu o entusiasmo e a vida lá fora espera... e querem "descabrestar de vez" para começarem tudo outra vez.... Felizmente, os filhos não assistem a isto tudo, com uma mãe e um pai em casa :)

RAM disse...

Andorinha disse...
Se alguém só concebe a sua existência através do outro, se esse outro partir, resta-lhe o quê?
...............................
Anonimo disse...
Quantas mulheres de 50 e tal 60 anos não ficam destroçadas com uma separação e sem saber que fazer das suas vidas, pois durante décadas anularam por completo a sua identidade (os seus gostos, os seus sonhos) e definiram-se apenas enquanto esposas de alguém?
6.35

Rataplan, Lunema, Rosebud, Pamina....
Caríssim@s,

Não percebo este colocar em causa "do amor para toda a vida", ou do Amor Romântico se preferirem.
Anulação?
Mas porventura a anulação de uma pessoa só ocorre no casamento? Reformulo: TERÁ O RELACIONAMENTO ENTRE DUAS PESSOAS - porquê reduzi-lo ao casamento - de significar anulação de alguma das partes?
Quantas pessoas não conheceremos que se ANULARAM NÃO NOS CONJUGES MAS NOS FILHOS, até descobrirem, quando estes partiram, que nada mais restava... nem do amor em que foram gerados, nem das identidade de quem os gerou?
Deveremos pir isso questionar a beleza da paternidade e/ou da maternidade?

No me revejo de todo no conceito de relações com prazo de validade determinado à partida; desagrada-me entrega questionada à priori.

O amor não é uma estrada de sentido único.

Dizia Gibran:
"Mas se, receosos, procurardes só a paz do amor e o prazer do amor,
Então é melhor que oculteis a vossa nudez e saiais do amor,
Para o mundo sem sentido onde rireis, mas não com todo o vosso riso, e
chorareis mas não com todas as vossas lágrimas."

Amar é rir com todo o riso. E chorar com todas as lágrimas.

Se antes ninguém estava preparado para chorar, quer parecer-me, pelo que tenho lido aqui, que passamos da "infalibilidade do matrimónio" para a "infalibilidade da falibilidade".

Concordo com e&e:
"os regimes caóticos do entusiasmo amoroso podem ser renováveis..."
Dá trabalho? Dá!
Mas que raio... será que no mundo do fast-living também o amor tem que vir embalado em doses prontas a consumir ou de fácil confecção e de digestão rápida?

Desculpem, eu ainda prefiro comida caseira. :)))))

É melhor ficar por aqui senão não me calo...

RAM disse...

TSup,

Subscrevo!

RAM disse...

Vamos substituir "infalibilidade do matrimónio" por "infalibilidade do amor"

andorinha disse...

TsuP (7.43
Totalmente em desacordo

Quando as pessoas se entregam a uma paixão não sabem o prazo de validade. Se pudessem saber, não tinha piada nenhuma!

Prazo de validade de um ano?!
E se fôr um mês? Onde está o problema????
Foi bom enquanto durou, então.....

O único pressuposto de uma relação é a construção de uma família???

Nada se pode saber de antemão
quando falamos de relações humanas.
E por isso vai-se abdicar de viver e arriscar?

A formatação na ilusão de que o amor é eterno é que é fonte de grandes desilusões.
As pessoas têm que ser realistas e realismo não é sinónimo de descrença.

Jessie disse...

Nao se cale ram, porque o que diz (escreve) e bonito... ;-)
'Amar e rir com todo o riso. E chorar com todas as lagrimas'... Muito bonito!!! Eu tambem acredito no amor assim... chamem-me uma tola romantica, nao me importo! :-)

Beijinhos,
Coccinelle

P.S. Afinal o Prof. nao estava online... :-(

lobices disse...

...to ram at 8:01 PM:
...cito:
Amar é rir com todo o riso. E chorar com todas as lágrimas.
...
...absolutamente de acordo!...
...
...the problem is that
todos querem rir
ninguém quer chorar

...
...é preciso conceber, aprender e apreender que amar é também sofrer
...e, só quando o Homem entender que a dor faz parte integrante do amor é que vai saber, finalmente, amar!...

Anónimo disse...

Caro Ram,

Penso que não está em causa, os relacionamentos com prazo de validade como consequência da anulação de um dos parceiros. Para mim, a anulação de um perante outro ou em função do outro, tem mais haver com o exercício do poder. Outra coisa distinta, é olhar para o amor como algo para toda a vida. Devemos manter a noção que, nem sempre ou quase nunca, assim é. Mas também, não deixo que isso me afecte ao ponto de condicionar a entrega e a vivência da paixão e do amor.

PortoCroft disse...

Caro Prof. m8,

E os cavalos também se abatem.;)

As Time Goes By
"music and words by Herman Hupfeld"


[This day and age we're living in
Gives cause for apprehension
With speed and new invention
And things like fourth dimension.
Yet we get a trifle weary
With Mr. Einstein's theory.
So we must get down to earth at times
Relax relieve the tension

And no matter what the progress
Or what may yet be proved
The simple facts of life are such
They cannot be removed.]

You must remember this
A kiss is just a kiss, a sigh is just a sigh.
The fundamental things apply
As time goes by.

And when two lovers woo
They still say, "I love you."
On that you can rely
No matter what the future brings
As time goes by.

Moonlight and love songs
Never out of date.
Hearts full of passion
Jealousy and hate.
Woman needs man
And man must have his mate
That no one can deny.

It's still the same old story
A fight for love and glory
A case of do or die.
The world will always welcome lovers
As time goes by.

Oh yes, the world will always welcome lovers
As time goes by.

Tenho dito.;)

andorinha disse...

rataplan (6.44)
Claro que na amizade também há expectativas.
Em qualquer relação humana as há.

Jessie disse...

PortoCroft,

... and we'll always have Paris... ;-)

Beijinhos,
MarienKafer

PortoCroft disse...

Jessie,

Exactly. That's the point.;)

Anónimo disse...

Porque é culpa, se alguma coisa é culpa,
não multiplicar a liberdade de um ser amado
de toda a liberdade que em nós possamos achar.
Onde amamos, temos apenas isto:
deixar-nos uns aos outros; porque prender-nos
é-nos fácil e não é preciso aprendê-lo.

(Rainer Maria Rilke)

Pamina disse...

Ram(8.01),

O que eu disse foi que numa relação não deveria haver uma SISTEMÁTICA anulação de um dos parceiros e que não se deverá construir uma vida APENAS em função do outro parceiro (seja esse outro o "marido" ou a "mulher"). Também disse que é necessário fazer compromissos.

Gostei da frase "Amar é rir com todo o riso. E chorar com todas as lágrimas." Isto não invalida a opinião que expressei.

Anónimo disse...

'Só te pedi, ao longo dos anos que passámos juntos, uma única coisa:que me dissesses sempre a verdade.Podias ir e vir quando e como te apetecia, correr atrás de quem quisesses, roubar-me dinheiro, afastar-me dos meus amigos, fazer cenas no meu trabalho, chamar-me todos os nomes. Não gostava, mas aceitava tudo, desde que não me mentisses...'

Miguel Esteves Cardoso,O Amor é Fodido

Anónimo disse...

"Digo apenas que é bom o afecto ser - e continuar... - o resultado da articulação de duas liberdades."
O que sufoca, por vezes, não é a sombra do outro mas do pomar ou floresta envolventes, comotalmostrengoqueestánofimdomarenanoitedebreuseergueavoar.

Anónimo disse...

«E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»

Anónimo disse...

e continua-se a dizer disparates.....tantos senhor......perdoai-lhes, que nao sabem o que dizem.....

Anónimo disse...

masdelesseráoreinodos céus.....

Anónimo disse...

eovaidosoarderásónaschamasdoseu orgulho....

Squeezy disse...

Ainda estou longe de me casar.. mas pelo que conheço do casamento, não posso deixar de concordar com essa citação

Anónimo disse...

reconheçoalguémquecostumaviraquichamarburrosaosoutroscomumgrandebruá.
seráobruásabichãodascomichõesedainvejadomestreserá?

Anónimo disse...

Era uma vez um homem inteligente, sensível e dedicado. Isto pensava a mulher com quem tinha casado. Esse homem e essa mulher, viveram como casal durante muitos e muitos anos, com o normal relacionamento que é usual entre casais: umas vezes melhor, outras vezes menos bem, e no fim tudo se resolve. Isto pensava a mulher com quem o homem casou.
O tempo passou, a idade avançou, e a mulher, com quem o homem casou, dormia na sua cama de casal, e o homem tinha-se mudado para outro quarto. O pretexto era banal: com a idade a mulher passou a ressonar, verdade nua e crua, tal qual como ele o fazia havia muitos anos sem que ela o deixásse ressonando sozinho.
Aqui baralha-se a questão "E fiquem lado a lado, mas não próximos demais um do outro". Estaria Khalil Gibran a pensar neste exemplo? Aprovaria e aconselharia a atitude do homem que durante o dia chamava a sua mulher de "princesa" e à noite a abandonava aos seus sonhos solitários e às suas lágrimas?
Como ela chorava pelos cantos sentindo-se abandonada, simplesmente porque ressonava, e pensando, que seria de si se outra coisa pior viesse, uma doença grave, uma incapacidade, seria que o homem que a chamava de princesa durante o dia não a abandonaria definitivamente, porque incomodáva muito mais? Seria simplesmente abandonada como coisa sem préstimo?
E como dizia, como ela chorava pelos cantos, deixou de pensar nele como o homem inteligente, sensível e dedicado, muito menos delicado. Muito menos que um era carvalho e o outro cipreste e muito menos que sustentavam um templo.
Ficou com imensa vontade de fazer ruir o templo, já que o afastamento dos pilares era muito grande. Teria razão? Ou estaria a ser muito exigente e sensível não concedendo a liberdade que o seu homem precisava: a de dormir tranquilo?
E aqui fica a história de um casamento com muitos e muitos anos, em que não foram felizes para sempre.
Não sei que fim dar à história.
Bee

Chinezzinha disse...

Totalmente de acordo com as suas palavras JMV.
Sinto esse espartilho sufocante desde que casei.

Beijos

Luis Gaspar disse...

E também há a possibilidade de estarem todos errados e haver, de facto, esse amor romântico de alma gémea, eterno, etc. E também há a possibilidade de eu estar a ser apenas arrogante.

Anónimo disse...

Atrevo-me a transcrever o poema "O Casamento", depois de Ram transcrever "O Amor". Faço-o em especial para Ram, Pamina e para o Prof. e para quem mais apreciar este poeta/Profeta:

"O CASAMENTO

ALMITRA falou de novo e disse:
- Mestre, que pensais do casamento?

Ele respondeu, dizendo:

- Nasceste juntos,
juntos ficareis para sempre.

Ficareis juntos
quando as asas brancas da morte
dispersarem os vossos dias.

Sim. Ficareis juntos
até na silenciosa memória de Deus.

Mas que haje espaço na vossa comunhão;
e que os ventos do céu
dancem no meio de vós.

Amai-vos um ao outro,
mas não façais do amor um empecilho:
seja antes um mar vivo
entre as prais das vossas almas.

Enchei cada um o copo do outro,
mas não bebais por um só copo.

Partilhai o pão;
mas não comais do mesmo bocado.

Cantai e dançai juntos, sede alegres;
mas permaneça cada um sozinho,
como estão sozinhas as cordas do alaúde
enquanto nelas vibra a mesma harmonia.

Dai os vossos corações;
mas não a guardar um ao outro.

Porque só a mão da Vida
pode conter os vossos corações.

Mantende-vos juntos,
mas nunca demasiado próximos:
porque os pilares do templo
elevam-se, distanciados,
e o carvalho e o ciprestre
não crescem à sombra um do outro."

Esta apologia da liberdade individual numa relação feita por Khalil Gibran, é notável, considerando que nasceu em 1813 no Líbano (embora tenha vivido muito tempo em Nova Iorque).
Nessa época o divórcio não era frequente (já seria possível?), mas, já que "tinham" que viver juntos, importante era o amor e a partilha, mantendo a individualidade.

Muito bonito!

Saudações
Débora

RAM disse...

Obrigado anonymous (who ever you may be).
Gosto imenso do Gibran, já li o livro, mas prefiro a versão original em inglês.
Fique bem.
:)))

Tão só, um Pai disse...

Andorinha das 8:08,

"Quando as pessoas se entregam a uma paixão não sabem o prazo de validade. Se pudessem saber, não tinha piada nenhuma!"

Justamente, justamente. É isso o que quero dizer. Ou seja, o amor não seria possível se, alguma vez, fosse para terminar.

JoanicaPuff! disse...

"...Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo..."
Jorge Palma

Anónimo disse...

Há que manter a individualidade de cada um dentro da unidade do casal !

Um dia o 'outro' pode-nos faltar, deixar. Na pior e mais trágica das hipóteses, porque deixa também a terra, a vida.
Então aí, não podemos contar mais com a sua companhia, com a sua voz, a sua amizade, com a sua presença...E, nessa altura, o que fica?! Ficam apenas recordações, que por sinal fazem parte do passado; e Nós próprios... E quando falo de nós próprios, falo do nosso eu, da nossa identidade, da nossa essência, da nossa própria pessoa. Então, nesse preciso momento, quem nos vale somos só e somente nós, e quanto muito toda as vidas com que nos fomos cruzando no nosso próprio caminho...
Por isso, não nos esqueçamos nunca de nós, do nosso espaço, da nossa própria companhia, da nossa vida, amigos, familía...enfim, de tudo o que nos der realmente prazer...sem ser necessária a presença do outro, sem ser necessária a sua sombra ao nosso lado.
Não nos limitemos, não nos aniquilemos, não nos deixemos absorver...viemos ao mundo sós e sós partiremos.
"Que seja eterno enquanto dure" - Vinicius de Moraes

Titá disse...

Nem imagina como me identifiquei com este texto. Tenho tentado, ao longo de 15 anos de casada, alimentar essa filosofia de vida a dois. Sim, a dois, lado a lado, mas sem um fazer sombra ao outro, respeitando sempre o espaço e os limites do outro. Só assim, poderemos continuar apaixonados, caso contrário fundimo-nos e os opostos que nos atrairam, deixariam de existir.
Cumprimentos,
Tita

Roberto Iza Valdés disse...
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