quinta-feira, dezembro 21, 2006

Honra lhe seja!

Médico confessa ter retirado tubo de ar a Welby

Italiano pedia suspensão de tratamento que o mantinha vivo

O primeiro anúncio da morte de Piergiorgio Welby - um italiano de 60 anos, que sofria há 30 de distrofia muscular e pedia a suspensão do tratamento que o mantinha vivo - dava conta que esta havia acontecido naturalmente. Mas, pouco depois, surgiu uma confissão, a do médico Mário Riccio, que reconheceu ter retirado a Welby o tubo lhe fornecia oxigénio.
«Acedi à sua petição de morrer», revelou o médico anestesista do hospital de Crémone, numa conferência de imprensa, realizada em Roma, em que disse ainda ter administrado ao paciente medicação com a finalidade de lhe evitar uma morte dolorosa.
O caso de Welby - cuja vida dependia desde 1997 de um respirador artificial e era alimentado por uma sonda - gerou um amplo debate sobre a eutanásia em Itália que dividiu as forças políticas. O Partido Radical Italiano apoiou-o nas últimas semanas e foi o seu presidente, Marco Panella, que deu a notícia ao país através da rádio.
Welby recorreu aos tribunais para que os médicos lhe suspendessem a respiração assistida após sedação terapêutica, mas uma juíza do Tribunal Civil de Roma, Ângela Salvio, considerou que se tratava de «um direito não tutelado concretamente no ordenamento jurídico».
Em Setembro passado, o homem de 60 anos havia enviado uma vídeo-mensagem ao presidente italiano, Giorgio Napolitano, em que mostrava as suas condições e pedia o direito a decidir livremente morrer.
«A vida é como uma mulher que te deixa»
Na mensagem descodificada pelo sintetizador de voz que o permitia comunicar, Welby explicou: «Eu amo a vida. A vida é como uma mulher que ama, o vento no cabelo, o Sol na cara. A vida é também uma mulher que te deixa num dia de chuva».
E acrescenta: «Agora o meu corpo já não é meu, está à mercê de médicos, familiares e assistentes (...). Se fosse Suíço, holandês ou belga, poderia poupar-me a tudo isso. Mas sou italiano e aqui não há piedade», disse.

18 comentários:

lobices disse...

...aplaudo a morte com dignidade

CêTê disse...

Para quando um referendo sobre a Eutanásia?
Humanos os médicos e os enfermeiros que têm piedade dos seus doentes.

abraços

CêTê disse...

Eu em última hipótese associo-me à Al- Qaeda e ofereço-me para mártir. Isto se até lá aceitarem as mulheres que são uma Bomba e me oferecerem condições de excepção no paraíso- primeira condição: nada de virgens.

Não tenho culpa de ser assim. ;]]]]

Violet disse...

:( É quase inacreditável a falta de capacidade de empatia que permite a não legalização da eutanásia.
Que o acto de coragem do médico Mario Ricci sirva para abanar mentalidades.

*Merry christmas*

andorinha disse...

Boa noite.

Poder decidir com lucidez que se quer partir com dignidade e pacificado com a vida e ver esse direito negado deve ser fonte de um sofrimento acrescido.

Não conhecia este caso, mas comoveu-me até pelas palavras que o doente deixou.
Resta-me apenas salientar a atitude de enorme coragem e de respeito pelo ser humano demonstrada pelo médico.

Como diz a Violet, era bom que este acto servisse para abanar mentalidades,mas não sei, não...:(

andorinha disse...

Acabei de ver agora na SIC Notícias: o médico pode vir a ser julgado por homicídio e condenado a uma pena que se pode situar entre os dez e os quinze anos.
Pasmo!!!!! :(((((((((((((((((
E isto não é uma reacção emotiva, primária e simplista.
Eu sei perfeitamente que existem as leis e todo um quadro legal anquilosado que não contempla situações como a eutanásia.
Mas sinceramente, esta notícia causou-me imensa revolta.
Alguém tem que dar o primeiro passo para que as coisas evoluam e até por isso este médico é digno do meu maior respeito e admiração.

Welby morreu em casa, sem sofrimento, na companhia de familiares e amigos. Se esta pergunta faz algum sentido, haverá melhor forma de morrer?
Por que existem seres humanos de mentalidade tão tacanha, que só vêem leis à frente e se esquecem das pessoas?:(

Su disse...

um beijo para esse medico

uma joca marada para si...eis a diferença:)) marada e natalicia

thorazine disse...

andorinha,
ai está o que eu falei uns posts atrás! Em que casos é que devemos ultrapassr por cima da lei (que mantém a estabilidade social) para lutarmos pelo que NÓS acreditamos?

Esse médico vai perder a licença e provavelmente vai ser julgado por homicídio voluntário!

andorinha disse...

Thora,
Devemos lutar SEMPRE por aquilo em que acreditamos, senão andamos aqui a fazer o quê?
É evidente que o que dizes faz sentido, mas há casos, e este para mim é um deles, em que alguém tem que começar a ultrapassar a lei; talvez isso seja o primeiro passo para a mudança.
E não sei se virá a ser condenado, as opiniões em Itália estão muito divididas...veremos.

Vi-o a ser entrevistado e pareceu-me uma pessoa extremamente humana e sensível, nada que me espante depois da atitude que ele tomou, da maior solidariedade e respeito para com outro ser humano.
Para mim, ele é um homem com H, ainda para mais tendo ele perfeita noção do que arriscava ao tomar a decisão que tomou.

thorazine disse...

Tens razão! ;))
Reformulando:Será que força com que acreditamos faz com que as barreiras que temos pela frente se dissolvam?

andorinha disse...

Fazes cada pergunta difícil, miúdo:)
Gostava de te responder que sim, mas a resposta é não, não basta acreditarmos para que as barreiras, sejam elas quais forem, se dissolvam.
Para além de acreditar, é preciso AGIR e PERSISTIR, pois mudar mentalidades é muito complicado.
Mas desistir fazem-no os fracos, ou não será?

A propósito deste assunto, lembrei-me da enorme quantidade de vezes que leio nos jornais casos de negligência/incompetência médica que resultam na perda de vidas humanas. Refiro-me a Portugal.
Pouquíssimos desses casos chegam a tribunal e os que chegam são na sua esmagadora maioria decididos a favor dos médicos; nunca nada fica provado e todos fizeram o melhor que puderam.
A estes sim, é que devia ser retirada a carteira profissional, deviam ser proibídos de voltar a exercer medicina e eventualmente condenados por homicídio involuntário.
E isto porque há casos de incompetência gritantes.
Mas como não têm consciência, continuam a exercer como se não fosse nada com eles. Ao fim e ao cabo todos os dias morre gente nos hospitais, mais um ou menos um que diferença faz?
Afinal a justiça está onde?:(

Acredita que estou a escrever ainda debaixo duma enorme revolta. Estas coisas "mexem" muito comigo, mesmo.

P.S. Não tenho nada contra os médicos, tenho tudo contra os maus profissionais.

Pamina disse...

Boa noite.

Andorinha,
Não para trocar galhardetes, mas porque concordo contigo, agora sou eu que digo que subscrevo estes teus comentários. Também admiro muito quem é capaz de um acto de coragem como este. "Zivilcourage", como dizem os alemães, é uma noção muito esquecida, nestes tempos de grande individualismo.
Quanto ao processo, talvez vão para uma solução de "tipo português" e o arquivem, o que é sempre uma boa saída para os hipócritas: "não se muda a lei, mas não se condena". A propósito do quê eu já ouvi isto?

CêTê disse...

Ele pode sempre alegar que calcou o tubo sem querer!;]

Ou colocar a culpa na empregada da limpeza.;]

CêTê disse...

É preciso não esquecer que muitos dos erros médicos o são de toda uma equipa onde a cega confiança mútua e/ou excessiva sectorização de responsabilbidades conduz erros em cadeia. E muitas vezes é o que menos responsabilidade prática teve no caso é que vira cabeça de cartaz. Quando se fala de erros médicos devo confessar que tenho alguma "pena" daqueles cujo "erro" pode custar um vida. E todos nós, mesmo aqueles que levam a profissão a 200%, erramos. Foi (antes das médias) o que me fez desgostar da profissão. Distraída como sou amputaria senpre a perna errada.

PAH, nã sei! disse...

Ainda existe "gente" de bem... Pena não serem aqueles que têm, nas mãos, o rumo das nações...

lobices disse...

...lembro-me sempre do filme Mar Adentro

CD disse...

Desculpem eu dizer isto, mas infelizmente tive um caso parecido com uma amiga minha. Ninguém tinha a certeza se ela queria ou não viver, uns achavam que ele sofria demais e outros não.
Que é que deve pensar disso?

espertinha disse...

Deve custar muito ouvir aquelas palavras que alguém que, com lucidez, pede para se lhe pôr fim ao sofrimento. Por isso, não condeno o médico, e até percebo a decisão dele. Mesmo assim, ele fez algo que é proibido por lei, e deve estar preparado para responder por isso.