A Inês - que eu trato sempre por Pedrosa... - enviou-me o seu último livro. Por amizade, claro!, mas também para se desculpar por ainda não me ter visitado, como prometido, em Cantelães. Enfim: uma lisboeta ocupadíssima:)))))))). Aí vai um naco da sua prosa:
"Como é que a gente evita que os nossos mortos morram? Não me ocorre nada a não ser a arte. Qualquer arte: a de lhes acariciar os retratos, devagar, de os guardar em gavetas escuras para que não percam a cor. A de os escrever com minúcia, para os prender à teia, ainda efémera, das palavras. A de os escrever mesmo quando já não é possível, sobretudo quando já não é possível, inscrevendo-os no corpo íntimo dos nossos sonhos, na alegria que em nós, apesar da dor, arrastada pela dor, sobra da morte deles".
70 comentários:
Qualquer arte: a de ouvir música de que eles gostavam ou trauteavam; a de andar na bicicleta onde faziam maratonas.
...como podem eles morrer?
...
...Tinha eu treze anos quando ele acamou com uma dessas doenças que não perdoam, mas que ele aceitou, consciente da sua pequenez neste mundo, consciente que aquela era a vontade de alguém mais forte que toda a força desta vida, para aquém e para além desta que temos. Durante dois anos houve momentos de dor e houve momentos de paz; nesses momentos mais felizes de paz, lá ia eu de mão dada com ele passear um pouco para aliviar a carga psicológica que ele sabia carregar e aguentar firme como uma rocha; pequeno de estatura, e magro para além da magreza da própria doença, ele dava aqueles passos com a firmeza de um homem que nada tinha a temer e tudo tinha a enfrentar; ele dava aqueles passos com a firmeza de um homem que não tem medo de nada, nem daquilo que ele já sabia ter de enfrentar um dia.
Os seus passos pequenos, mas firmes, faziam compasso com os meus, ainda pequenos também pela idade ainda de criança, mas sentia-me como que o guardião daquele homem que naqueles momentos estava à minha responsabilidade e isso dava-me uma grande felicidade por estar a seu lado; também eu tinha consciência da doença que o minava pouco a pouco, também eu tinha forças para enfrentar aquela estranha harmonia de paz que nos rodeava aos dois; uma paz diferente, um bem estar compartilhado e interligado pelas duas mãos que se davam uma na outra, como dois cúmplices conscientes do "crime" que estavam a cometer a bem da harmonia e da paz de espírito, pois era carinho o que nos rodeava e envolvia.
Mas o dia da partida (ou da chegada como ele dizia às vezes por brincadeira) estava próximo. E quando esse dia surgiu ele teve consciência desse facto e soube-o enfrentar com uma dignidade que ainda hoje respeito e sempre respeitarei.
Deitado na sua cama e eu sentado a seus pés ele me olhou: os seus lábios já muito finos, mas firmes, disseram: "Vai chamar a tua Avó". Corri pelo corredor e fui chamar a minha Avó que, como sempre (toda a sua vida), estava agarrada aos tachos no fogão de lenha; na cozinha pairava um cheirinho a sopa quente (Meu Deus, que saudades !).
-"Bó.. o vô chamou-a."Ela largou o fogão, limpou as mãos ao seu avental e dirigiu-se para o quarto onde ele estava; segui-a logo. Ela entrou no quarto e eu fiquei à porta vendo.
Naquele momento, todo ele se transformou: na sua frente estava a sua Maria de todo o sempre, a Maria que sempre o acompanhou e que lhe deu as quatro filhas que ele tanto amou, a Maria que tantas vezes ele arreliou e ela perdoou. Na ombreira da porta eu assisti: a sua face pálida ganhou cor, os seus olhos pequeninos brilharam de plena felicidade e a sua boca se abriu com um enorme sorriso ( o maior e mais bonito sorriso de felicidade que eu já vi em toda a minha vida !) e disse: " Maria, senta-te aqui."Minha Avó se sentou à cabeceira da cama e ele com o mesmo sorriso disse já numa voz mais apagada: -" Abraça-me."... Minha Avó o entrelaçou e eu vi os seus olhos pequeninos fecharem-se para todo o sempre, acompanhado com aquele sorriso lindo de felicidade !...
Nos nossos sonhos, sem dúvida, conseguimos perpetuar a sua memória e damos corpo à saudade através de tantos actos que quase involuntariamente fazemos. Este texto fez-me lembrar meu pai. Hoje relembro-o sempre que reparo em algo que lhe pertenceu. Cada objecto remete-me para momentos por nós vividos na infância e adolescência. Os objectos transformaram-se em veículos de comunicação entre eu e ele. Muitas vezes dou comigo, perdida em pensamentos a relembrá-lo em diversas situações e muitas vezes sorrio. Acho que é isso que eu guardo dele o sorriso.
Nem a arte vale, quando o luto não se fez. E o luto não se faz, quando não nenhum motivo, nenhuma explicação. Claro, que a explicação para a morte é a própria vida talvez. E qualquer motivo serve.
Há 10 anos e meio, o meu querido pai, acabado de aposentar, respirando saúde, foi atropelado duas vezes pelo mesmo veículo, numa passadeira de peões - ninguém viu, ninguém nos soube explicar como foi, nem mesmo no julgamento.
Ficou o choque, a dúvida e a raiva de lutos que, assim, nunca se fazem.
Subitamente deixou de fazer parte das nossas vidas, sem aviso, nem despedida.
Só não morreu, porque vive nos nossos corações.
Não há um só dia que não pense nele, uma saudade imensa.
Saudações.
Débora
Belo texto! Está aqui bem descrita a diferença entre morte e morrer. A inevitabilidade da morte leva-nos a pensar que se morre junto com ela. Pode-se morrer em qualquer altura, mesmo muito antes da morte, pode-se ir morrendo lentamente. Assim como se pode continuar "vivo" depois da morte. A arte sempre esteve associada à ideia de imortalidade, talvez por isso seja preciosa para mantermos os nossos mortos próximos, trazendo-os para a nossa alegria.
Recebi também hoje pelo correio o último livro dela.
Ainda só o folheei mas tenho a certeza que o vou adorar, como tenho adorado todos os que escreve.
"Como é que a gente evita que os nossos mortos morram? Não me ocorre nada a não ser a arte..."
É...qualquer tipo de arte eterniza o ser humano.
Beijos
Vou ter que sair...
Boa tarde a todos. Não me ajeito a escrever "maralhal",não sei bem porquê...
Beijos
Quero também dar os parabéns ao Portocrot pela música, mas não posso deixar de lhe fazer esta pergunta, que está longe de ser uma reclamação: o que é que aconteceu às canções dos Coldplay? Procurei no canal 2, onde calculei que estivessem, mas não encontro. Não me diga que foram as "primeiras vítimas" desta reestruturação do Som do Murcon?
Goncalo,
O novo player permite, além de termos canais de musica, melhorar a qualidade do som, aumentando o bitrate das mp3. É isso que se está a fazer de momento. Os Cold Play voltarão.;)
Boa tarde Prof. Júlio e a todos os demais,
Faz pouco tempo que perdi um amigo, um segundo pai. Aqui, deixo a homenagem que lhe escrevi.
"Libertaste-te do teu corpo, faz hoje sete dias. Acredito, que só deixaste de combater todas as tuas doenças, quando achaste que havia um caminho, para cada um dos teus, encontrado. E que eles tomariam conta um dos outros, mas isso, tu já sabias. Sempre tiveste uma alma grande e por isso não te vejo num local especifico, “deixaste-te ficar em tudo. Sobrepostos na mágoa indiferente deste mundo que finge continuar, os teus movimentos, o eclipse dos teus gestos. E tudo isto é agora pouco para te conter. Agora, és o rio e as margens e a nascente; és o dia, e a tarde dentro do dia, e o sol dentro da tarde; és o mundo todo por seres a sua pele.”
Não mais te tocarei,
mas sei,
que jamais te esquecerei."
Um bem haja a todos
Portocroft,
Obrigado pelo esclarecimento!
na minha morte
a minha avó morreu num lar. digo avó. devia dizer mais mãe. sempre a conheci. pelo menos desde que me lembro sempre a conheci. era velha quando morreu. num lar. e juro que esse foi um dos momentos que mais rasto deixou na minha vida. não porque ela tivesse morrido. era velha. transparente. queria morrer. porque antes não. dizia que estranho é ser velho menina o corpo aqui nestas vergas e a cabeça que anda para aí. antes de ser transparente. e ter saído das vergas. depois quis ir embora. não foi isso que me fez triste.
quando a gente é velho ou está muito doente querem esconder-nos. para que nós os outros não nos lembremos disso mesmo. ser velho. estar doente. e então inventamos razões. como as que levam os nossos filhos para os braços de estranhos. quando nascem e temos que ir trabalhar. assim mesmo sem mama. assim mesmo sem o nosso cheiro. não. eu digo não. e juro que a morte foi um dos momentos que mais rasto deixou na minha vida. porque o lugar que ocupamos deveria ser a casa. dentro. e os outros deviamos ser nós. não outros. nós.
a minha avó morreu num lar. numa cama qualquer. embrulhada num lençol que não era o dela. numa casa fora de nós. e isso é triste. muito.
um dia li um texto do lobo antunes numa revista. chamava-se um pé a baloiçar fora do lençol. era no hospital. o pé era de uma criança que morrera. e ia nos braços de um enfermeiro. embrulhada no lençol. o pé baloiçava. de fora. o que sobra de nós. um pé. um nome. às vezes nem isso. o lobo antunes rasgava-se em palavras que diziam da perplexidade daquele pé. de fora. e do lençol. que não o embrulhava. a morte pode ser esse escândalo. a baloiçar. à nossa frente. mas a vida também.
se não soubermos qual é a nossa casa. onde pertencemos. quem nos embrulhará.
a minha avó morreu velha. o corpo já não a assistia. as fezes escapavam-se. e o cheiro. não era o cheiro da minha avó. essa cheirava a casa. aos bolinhos de leite do domingo. aos pastéis de aproveitamentos. ao café de mistura coado pelo saco. negro de tanto uso. a secar na torneira do gás ao pé do fogão. a cozinha. esse era o cheiro da minha avó. ou a silêncios. e a uns olhares muito muito longos.
mas a minha avó morreu num lar. e eu aí não a conhecia. nem ela. dizia quando é que vamos para casa. como uma criança. de velho a menino sempre a ouvi dizer, porque a avó falava muito assim. em ditados. e dizia toma quando se espantava. queria ir para casa. claro. e eu não a podia levar. era só neta. não era filha. mas devia ser. porque digo avó. mas devia dizer mãe.
quando ela morreu eu fui encontrá-la a dormir. parecia estar apenas adormecida. e chamei-a. mas só quando estava sozinha. não queria que ninguém me ouvisse, eu sabia que ela tinha morrido. mas já tinha sido antes. quando ficou transparente e não quis mais comer. e já não dizia que estranho é menina ser velho o corpo aqui nestas vergas e a cabeça por ai. eu fui ver a paula rego a serralves e vi a minha avó. naqueles quadros que dizem misericórdia. avassaladoras imagens da decadência do corpo. e da perplexidade dos outros. e dos gestos deles que encerram essa perplexidade. são sobre velhos. e eu vi a minha avó. ali. já não nas vergas.
velhos a cagar. alguns. velhos a terem que ser postos a cagar. porque é que suportamos as crianças nesses gestos e são tão insuportáveis os gestos que temos que repetir com os velhos ? a primeira vez que eu mudei uma fralda à minha avó fui vomitar. e senti-me mal. por ter vomitado. era a avó. a que sempre eu conheci. pelo menos desde que me lembro. mas violar a intimidade de um corpo assim custa. ter que aceitar que esse corpo já não pertence à vontade daquela cabeça custa.
e depois o cheiro. quando mineralizamos para a morte o cheiro não é doce como o das crianças. é um cheiro a terra. um cheiro a terra onde a matéria está em putrefacção. assim mesmo. mas era meu também esse cheiro. por isso vomitei. de susto.
quando eu li aquele texto do lobo antunes perguntei-me que lugar é o nosso. que lugar ocupamos mesmo. onde pertencemos. quem nos embrulha e carrega ao colo quando morremos. ou estamos tristes. a minha avó pertencia a casa. era a casa. porque nos amava com aquele amor tão parcial que faz as pessoas cegas. aos defeitos dos outros. era tão grande a cegueira dela que diziam que estragou o meu irmão mais novo. não acredito que o amor estrague alguém. é mais a ausência dele que o faz. a minha avó amava aquele neto. e isso não pode estragar ninguém. é casa.
eu quis vestir a minha avó quando ela morreu. não uma outra qualquer pessoa. ainda. e mais. eu que a embrulhasse nessas roupas com que iria ocupar o lugar que lhe pertence. assim mesmo o último. casa.
quando morreu eu disse ficámos orfãos. é. um pé a baloiçar. sobra um pé a baloiçar. porque será que só pensamos em nós quando nos morre alguém. é um sentimento de orfandade galopante. uma casa vazia. silenciosa dentro de nós.
que estranho é menina ser velho o corpo nestas vergas e a cabeça por aí.
ó inês pedrosa, via júlio, e se em nós não sobra alegria nenhuma depois da morte deles? só saudade, só saudade... diz lá.
( leio-te sempre com cuidado júlio. e deleito-me com a tua memorabilia discográfica. tens um amigo bem fixe, esse portocroft, de colheita apurada...:)
Portocroft,
O som está fantástico!
OBRIGAAAAAAAAAAADA
Blimunda,
Se não houver alegria, que haja pelo menos vida que não seja vegetativa. Vivos-mortos não conseguiremos honrar-lhes a memória.
A escolha musical é da inteira responsabilidade do Portocroft, embora desconfie que ele topa à légua os meus gostos:).
«Meu elogio será dedicado à própria mente. A mente é o homem e o conhecimento é a mente; um homem é apenas aquilo que ele sabe. (...) Não são os prazeres das afeições maiores do que os prazeres dos sentidos, e não são os prazeres do intelecto maiores do que os prazeres das afeições? Não se trata, apenas, de um verdadeiro e natural prazer do qual não há saciedade? Não é só esse conhecimento que livra a mente de todas as perturbações?» Francis Bacon
Don't stand at my grave and cry;
I am not there, I did not die!...
Mas a vida vegetativa, tão surda, tão cega, tão muda e de tão desfeante e humilhante, tão crua e tão nua é isso ... A VIDA NUA.
A vida nua sem poder nem glória, a que exige mais da imaginação e da com+paixão - afinal a única que exige compaixão.
vivos-mortos. vida vegetativa. claro. o que quero expressar é exactamente isso. há que honrar os mortos em vida. ( já agora, dizias há uns posts atrás, nem sei bem quantos, do teu medo dessa vegetativa vida. para mim é o Pesadelo, também. e acho que pensar em alguém que amo assim também constitui um pesadelo. assim como pensar em alguém que amo fora da Casa, entendes?)
Não podia estar mais de acordo com o Prof. JMV. Penso que o título "Fiéis Depositários" não tem apenas o sentido de guardar a memória, está lá também a ideia de estar à altura dela e de a enobrecer se possível.
"Contamos com a imortalidade e esquecemo-nos de contar com a morte"
Milan Kundera - A Imortalidade
Todos nós, temos o desejo, mesmo que secreto, de permanecermos imortais.
Ena, ena! Tantos achismos e quaisquer-coisismos...
Falar de modo sério sobre a morte?
Não gosto!
Será sinal de falta de maturidade? Pois que seja.
Até amanhã maralhal
Boa tarde Júlio e maralhal.
Como é que se evita que os nossos mortos morram?
Se continuarem a viver na nossa memória e no nosso coração.
Blimunda (6.38)
Não tenho palavras para exprimir o qeu senti ao ler-te. Belíssimo e comovente texto!
"Há que honrar os mortos em vida" Também penso assim.
Quanto ao medo duma vida vegetativa penso que é comum a muitos de nós.É, sem dúvida, o meu maior pesadelo.
"A imortalidade de que fala Goethe, não tem, é claro, nada a ver com a fé na imortalidade da alma. Trata-se duma outra imortalidade, profana, para os que permanecem depois da morte na memória da posteridade"Milan Kundera - in a Imortalidade, pág.52
As pequenas e as grandes imortalidades.
Faz agora dez anos que faleceu o meu pai. Poucos dias após o meu aniversário. Para mim é imortal. Porque viverá, enquanto eu viver.
Já as outras, as grandes imortalidades, apenas sobrevivem, na memória colectiva, através dessa teia, nada efémera (discordo da Inês nisto) das palavras escritas.
Óh professor então sempre tem um blog? Devo dizer-lhe que era seu fiel ouvinte quando ia para o trabalho logo pela manhã do seu programa na antena 1 que infelizmente já era.Desafio-o a vir até à serra da estrela, não de carro, não a pé muito menos de avião, mas sim através do meu blog. Despeço-me como o António se despedia diariamente no tal programa: "UM ABRAÇO PROFESSOR"...
Luis, já te tinha avisado.
Achavas que estava a brincar?
... e ainda que pareça que já os perdemos de vez, porque as lembranças podem ser como grãos de areia a esvairem-se de mãos furadas pelo tempo, há sempre um momento, um cheiro ou um sonho que vem para nos mostrar que, em nós (não para nós) nunca morrerão.
Porque não quero voltar a utilizar as minhas próprias palavras, deixo-vos a beleza das de outrém:
"às vezes perdemos tudo
e aquilo que era estreito
e que habitava os dias
torna-se imenso
cresce desmedidamente no ventre das memórias
e quando já não cabe lá dentro
rebenta o que cuidadosamente muralhámos
e inunda a planície em que pastam os nossos medos
no rebanho então tresmalhado do nosso passado
nesse momento dói tanto estar vivo
[...]
às vezes perdemos tudo
e aqueles que amámos à volta da mesa
a quem amarrámos as nossas mãos e jurámos amar para sempre
ficam tão longe
tão longe
e nessa altura desenterramos mesmo o que nunca chegámos a enterrar
mergulhamos sofregamente as mãos numa terra em ruínas
que outrora eram muralhas inabaláveis
[...]
José Rui Teixeira, Quando o Verão Acabar, Quasi"
Bou trabalhar....
Boa noite JMV e maralhal,
Gosto muito da Inês Pedrosa e tenho pena que ela seja, por vezes, subestimada e incluída no rol de um grupo de escritoras de "romances de cordel-New Look" cujos nomes não vou mencionar, mas que são sobejamente conhecidos. Ainda não há muito tempo tive uma discussão com alguns amigos sobre este assunto. "A Inês Pedrosa não tem nada a ver", disse-lhes eu, mas acho que não ficaram completamente convencidos. Parece que nem todos sabem apreciar a diferença, o que é pena.
Para além de gostar dela como escritora, agradam-me também as posições que ela tem tomado em público (por ex., as suas recentes declarações no programa da RTP2 "A revolta dos pastéis de nata", dedicado ao racismo).
Lobices(4.59) e Blimunda(6.38):
Os vossos textos comoveram-me. Enquanto os lia veio-me à ideia que, de certo modo, o post de hoje está intimamente ligado ao de ontem, pois, enquanto permanecermos no coração dos filhos, netos e bisnetos (para quem tenha a sorte de os ter) de quem cuidámos e que amámos, continuaremos a viver mesmo após a nossa partida. Como diz o título deste post, eles serão os fiéis depositários.
Portocroft(7.41):
Concordo com a sua apreciação sobre a diferença entre os dois tipos de imortalidade. I get your point.
Ram(8.55):
Como só vai ler depois do regresso trabalho, não lhe desejo bom dito cujo, mas boa noite. Deixei-lhe uma mensagem no post anterior.
Caro Portocroft,
lamento mas hoje devo estar com graves problemas ao nível do processamento da informação!
Não compreendi o facto de ter mencionado hoje á tarde a Lena d'Água, quando falamos do "Som do Murcon"...
Será que me falhou alguma preciosa melodia e não percorri todas as músicas disponíveis? :(
Cláudia,
Tente de novo. Como estava a fazer "uploads" consecutivos para as listas, é capaz de ter perdido alguma coisa.;)
Mas, estou certo que agora, irá gostar de ouvir a faixa 2 do canal 5. Eu gosto e muito.;)
Pode parecer ainda mais mórbido que o texto que está na base destes posts, mas a pior memória que se pode ter de quem morre pode ser - nalguns casos - a terrível imagem de uma eutanásia que foi, de todo, impossível.
Caros P&P (Professor e PortoCroft):
Parabéns pelo novo Player!
... mas ainda me "soube a pouco"...
... ainda falta o Grande Sérgio...
Um abraço.
Portocroft,
parece que ainda não é hoje que vou poder apreciar a já mencionada melodia.
Pelos vistos os "uploads" estão reticentes em chegar ao meu PC... :(((
De qualquer modo, agradeço a disponibilidade e fico a aguardar ansiosamente as sonoridades que estão prestes a chegar!
Pamina,
Idem (ver post anterior). ;)
Cláudia,
Pois...tente mais tarde.;) Acho que vai gostar das novas sonoridades e das que, já não sendo novas para os restantes, sê-lo-ão certamente para si.;)
nd,
O Grande Sérgio e o grande Rui... estão todos previstos.;)
Porque há memórias post-mortem:
Frio...
Pantominas estáticas de mimo
Em corpo frio e rígido, desprovido
Do sangue que dá vida, agora imóvel
Em livores discretamente dispersos pela matéria
Que enformou o teu Ser.
Longo sono decretado por Morfeu,
Que tentou despojar-me de ti.
Intento, todavia, negado por
Rede intrincada de memórias
Vivas e para sempre presentes na minha mente
Onde percorro a intemporal teia
Longa e diligentemente executada por Aracne
E re-vivo cada um dos momentos
Que te confirmaram como um Homem aos meus olhos,
Anuindo a permanência de quem foste
Na plenitude das conformações que
Compreendem a dimensão incorpórea do Ser.
Rui Amaral Mendes
Yawn!
PortoCroft
Discos pedidos?rs
Já agora: Zeca Afonso; Vitorino; Fausto; Sting ; R.E.M.;Lighthouse Family ; Evanescence ; Enya ;U2 ; Andrea Bocelli...
Pode ser?:$
Beijos e boa noite
Chinezzinha,
Gostos muito ecléticos :))))))))
Ram
Quanto a música gosto de tudo um pouco, consoante o meu estado de espírito.
Só não suporto a chamada "música pimba".
Beijos
Estou envergonhada por não ter feito nenhum comentário à bela prosa de Inês Pedrosa. Foi involuntário. Impulsiva, ocorreu-me logo a inusitada morte de meu pai e a raiva contida (não morreu, foi morto)ditou-me as primeiras palavras.
No entanto, creio que a doce Inês me perdoaria, com a sua tranquila ternura.
Li todos os seus livros (à excepção do último) e considero-a uma mulher notável.
Perdão, portanto.
Débora
Gosto mais eclético que este não há: Manuel de Almeida, Aguaviva e Pink Floyd !
Circe,
Mesmo sem meiguice:) respondo-te.
Entendo, rapariga.
E agora vou dormir, que já te disse que não sou como tu...:)))
Ola a todos!
E a primeira vez que comento aqui depois de, confesso, varias cuskices (pouco) esporadicas... ;) E gosto deste espaço aberto!
Algumas achas para a fogueira (a estas horas da noite sabia mesmo bem...)
-um dia, um professor meu, que fala sempre em metaforas, descreveu tres tipos de pessoas que temos "ca dentro": as que amamos (em sentido lato), as de quem gostamos... e um terceiro tipo, aquelas de quem ja gostamos muito, que nos fizeram descobrir muitas coisas bonitas, mas que, por qualquer razao, nos desiludiram (ou nos nos des-iludimos com elas...), mas que apesar (ou por causa) de tudo, continuam la...ele chamou-lhe "o cemiterio dos poetas". Sao pessoas que nao morreram fisicamente, mas que "morreram" para nos, para as nossas ilusoes ou para os nossos sonhos...
Ja nem e "como fazer para que estes nossos mortos morram", mas quase um como fazer para que estes "mortos" nao nos assombrem....
Boa noite!
Pois amigos, agora ao som do Köln
Concert já estou mais a jeito - A
Blimunda arrasou-me, mas já passou;
por outro lado o MM já nos falou das molduras, mas vem aí o fim-de-semana e eu quero dedicar este poema a todas as Inês:
Quando estiveres velha e grisalha e cheia de sono
E sentires a cabeça a cair diante da lareira
Levanta-te e traz este livro para o teu colo e lê-o devagarinho,
sonhando com o suave olhar
Que tinham os teus olhos e as tuas sombras sem fim;
Tantos amaram os teus momentos de graça e felicidade
E amaram a tua beleza com amor falso ou verdadeiro;
Mas só um amou em ti a alma peregrina
E amou as mágoas do teu rosto enquanto mudava;
E debruçando-te sobre o brilho da lenha a arder,
Lembra-te, em voz baixa,
de como o Amor fugiu
E passeou alto sobre as montanhas
Escondendo o rosto entre uma
multidão
de
estrelas.
W.B. Yeats, 1892
Os resultados dos exames do 9º ano agora afixados, não sendo surpresa, representam o fracasso de uma classe profissional: a dos professores!
Ou será que alguém acredita que 70% dos alunos que tiveram negativa a matemática são retardados, preguiçosos, odeiam matemática porque sim, não têm aptidões ou capacidades,etc?
Enquanto os professores não se convecerem que os maus resultados dos seus alunos são, antes de tudo, um fracasso pessoal seu enquanto profissionais da educação, dificilmente esta situação mudará!
Anônimo disse...
2:33 AM
Porque será que alguns alunos são excelentes a Matemática?
Têm eles professores diferentes dos outros?
Serão eles génios?
Pense nisso, em vez de escrever posts infelizes...
A morte leva-nos tudo, e eu já me esqueci de tanto. Como gostava de lhe poder fugir.
Vem, este texto, num momento em que, aos 29 anos, dou os primeiros passos na vida sem a minha avó. Deixou-me há quinze dias, depois de uma vida toda comigo. Ainda estou anestesiada e não percebo muito bem como vai ser. Ainda consciencializo muito o pretérito imperfeito quando penso e falo dela. Ainda estou anestesiada pela dor, embora consciente da realidade quando bate à porta aquele arrependimento doloroso por tanta coisa... Como vai ser agora? Não sei...
Anónimo das 12:42 AM,
Sim. Sou Benfica.;)
(O Manuel de Almeida? Não quereria dizer Carlos do Carmo?)
Na hora de pôr a mesa
na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viuva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.
José Luís Peixoto
Depois de lêr alguns comentários percebi que a seleção músical é do Portocroft....Parabêns!!! É MUITO boa!!!
Mas e as Imagens? duas fotos Professor? porque?
A última é o máximo, tem a ver com seu lado mais sério, aquele ar ponderado que lhe conhecemos antes de proferir uma daquelas suas afirmações que parecem tão simples mas que afinal são brilhantes!Agora a da Ponte.... por amor dos deuses... não está no seu melhor... já pensou optar só por uma?
PortoCroft 9:01 AM
Não. Queria mesmo dizer o Manuel de Almeida ! O fado é como se dizia antigamente dos homens: são bons é "feios e a cheirar a cavalo", hehehehehe.
Agora a sério... até gosto do Carlos do Carmo mas, para mim, o fado na voz de Manuel de Almeida tem uma carga verdadeiramente alfacinha.
Ah e já agora: Viva o Glorioso !!!
anónimo,
Para que conste. Nada tenho contra o Manuel de Almeida. Foi meu vizinho em Lisboa, durante largos anos, e amigo do meu pai, a vida toda. Nunca foi, como fadista, dos meus favoritos.;)
PortoCroft 10:15 AM
Gostos são gostos. E, como tal, só têm é que ser respeitados. Mais nada !
(Mark Knofler / Dire Straits)
Anónimo das 9:01,
"feios e a cheirar a cavalo"
Não necessariamente. A geração do Manuel de Almeida< que foi a do meu pai, era até conhecida pela geração dos "pipis" (aqui a palavra tinha outra carga:)) ou dos "Janotas". Porque andavam sempre bem vestidos, fato e gravata, cabelo penteado com brilhantina...;)
Desse Fado Castiço eu gosto. O Fado cantado nas tabernas e carvoarias, entre copos de 3.;)
Sofia, é isso.
'...enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.'
Nunca ficamos isolados pela morte.
nacodemiúdaqqcoisa
Ena, ena! Tantos malabarismos...
PortoCroft 10:48 AM
É giro ter trazido "à baila" a geração dos pipis / janotas... é que eu conheci muito bem o estilo.
Ao outro não lhe chamam nem pipi nem janota, chamam-lhe "o charmoso". Eu chamar-lhe-ia antes dengoso...! (porque será que eu embirro tanto com o homem do "Lisboa menina e moça", d'"Os putos", etc ???)
Anónimo das 12:29,
O Carlos do Carmo foi, de forma mais sóbria que a Amália talvez, dos primeiros fadistas a exportar o fado. Quanto mais não fosse por isso, já mereceria o nosso respeito.
Mas, além disso, é inquestionavelmente um dos maiores intérpretes de fado e fado-canção. É um senhor, e também por isso, ajudou a criar uma outra imagem do fadista, que regra geral era visto como um boémio.
Mas, isto nem significa que eu goste de tudo o que ele tem cantado ao longo dos anos, ou sequer que perfilhe as suas ideologias. Mas, o mérito e o valor, dá-se e reconhece-se a quem o tem.;)
Mein number!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Essa Inês Pedrosa cheira-me a esturro... já por se chamar Inês...
PortoCroft 3:18 PM
Nada me move contra Carlos do Carmo, incluindo o ponto de vista ideológico.
Dentro de certo tipo de fado, até gosto de o ouvir cantar. O que mais "embirro" nele é a sua pose... nada mais.
Em contrapartida, o que mais admirava em Manuel de Almeida não era apenas o tipo de fado (mais vadio, menos finório) e a sua voz, mas - acima de tudo - a sua simplicidade.
PS: julgo saber que o PortoCroft vive em Londres. Pergunto: ainda se ouve o fado nalgumas das "tascas" da zona de Vauxhall / Kennington / Oval / Stockwell / Brixton. Por exemplo, no Nazaré (?) em Brixton Road ?
Anónimo das 5:20 PM,
Não lhe saberia responder. Raramente frequento Vauxhall / Kennington / Oval / Stockwell / Brixton. Só muito esporadicamente.
Aliás, só por obrigação viveria por aí. Sentir-me-ía num "Ghetto". E a esmagadora maioria dos meus amigos, colegas e contactos profissionais são britânicos.;)
PortoCroft 9:58 AM
Percebo-o perfeitamente !
Há meia-dúzia de anos voltei a Londres e achei toda aquela zona de Stockwell "lusitaneamente deprimida". Mas atenção a uma coisa: os portuguesinhos "executivos" que saem todos dias do metro em Liverpool St. têm um ar tanto ou mais deprimido.
Nos tempos em que por aí vivi (o 25/4 libertou-me do "smog"), o meu "ghetto" era mais para leste (não gosto do sentido sociológico da palavra "eastend"): white chapel, isle of dogs, new cross, etc, etc.
Tempos em que eu, um alfacinha de gema, aprendi com os "londrinos de gema" a ser um verdadeiro "cockny rebel"... ;-))
Mas, segundo julgo saber, agora até é fino à brava viver na zona de isle of dogs... Eu continuo a preferir Alfama !!!
Anonymous 3:30 PM
Just in case...
Espero não ferir quaisquer susceptibilidades com estas minhas palavras. Conforme nada me move contra Carlos do Carmo, também nada me moverá contra si caso o portcroft seja daqueles que saem todos os dias em Liverpool Street, bebem - ao fim da tarde - uma pint of lagger junto a St. Paul's Cathedral e vivem muito "yuppiemente" na zona de Isle of Dogs.
Não ligue às minhas palavras de rough guy / esastender adoptado que se habituou a beber guiness com os irish, independentemente they were pro IRA or not... ;-))
Ainda não percebi se os comentários deste blog se referem aos respectivos post´s ou para deixar recados ao Porto Croft...
Vocês sabem da existência de salas de chat?!
Raquel
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