quinta-feira, janeiro 05, 2006

A propósito da lufa-lufa em que vivemos.

À flor da pele



Estacionar é hoje um sonho que releva de fé enternecedora ou ficção científica arrojada. Mas nenhum de nós deixa de vigiar o passeio pelo canto do olho, qualquer movimento de pneus ou arrumador excita coração e cabeça, “queres ver que...?, merda!, vai entrar e não sair”. Há tempos dedicava-me a esse desporto masoquista com a ajuda do ritmo da fila, digno da piedade arrogante de um caracol entrevado. De súbito, o oásis! Parei e resisti heroicamente ao resmungo dos que me seguiam, forçados a desvio de equilibristas para ultrapassarem. Não me enganavam, os seus protestos eram filhos da pura inveja! Passada a fase de insultos e dedos espetados, preparei-me para estacionar em marcha-atrás. Rezando para o conseguir à primeira!, poucos passeios no Porto se podem gabar de não ter sofrido os efeitos da minha deficiente avaliação das distâncias...
Quando iniciava a manobra, ouvi buzinadela furiosa. Receei investir alegremente contra algum pára-choques, não seria caso virgem. Relance ao retrovisor - nada. Decidi que o chinfrim me era alheio e retomei a atracação. Novo protesto, agora mais irritado, a buzina – como o comboio do western de Gary Cooper! – tocou três vezes. Explorei as redondezas e percebi: do outro lado da rua encontrava-se um carro, obviamente cobiçando o mesmo lugar, só não se antecipara por necessitar de aberta para a inversão de marcha. Ainda olhei para o chão, na esperança de ver traço contínuo que lhe negasse o direito de pernada por violação do código, mas o branco no asfalto era intermitente. Nada a fazer. Salvo assumir postura de “viste-o primeiro, mas eu já cá estou, vai-te coçar”. Em geral o super-ego não me permite essa atitude (ajudado pela minha cobardia, imagino-me agarrado pelos colarinhos e a levar uns sopapos ao som do clássico “toma lá, ó espertalhão!”).
Segui. E não é que dez metros depois brilhava outro El Dorado? Vi-o como recompensa pela minha correcção e estacionei com perícia (o que mais me convenceu da intervenção divina). Quando saía do carro, reparei que o meu concidadão já estacionara e se preparava para abandonar o dele. Achando que um bocadinho de educação não me faria mal nenhum, fui explicar que o não vira, e apenas por isso esboçara a ocupação selvagem do “seu” lugar. Atarefado com telemóvel, pasta e casaco, só deu pela minha presença quando bati no vidro com os dedos. Juro que levemente!, como reza o poema...
Saltou cá para fora como um foguete. Plantado à minha frente, disparou: “quer alguma coisa?”. O tom não enganava, a linguagem corporal muito menos - pronto para a porrada. Amaldiçoando a triste ideia de lhe dar uma explicação, que ameaçava tornar-se passaporte para uns tabefes, procurei manter a dignidade e disse-lhe ao que ia. A sua expressão transferiu-se, com armas e bagagens, do registo beligerante para o de um espanto envergonhado. Pediu-me desculpa pelos maus modos e fez-me notar que nunca se lhe tinham dirigido para tal em situações de trânsito, mas sempre com intuitos agressivos. O que, pensando melhor, até admitia ser estúpido naquele caso, pois eu deixara-lhe o lugar. Resumiu o ocorrido: “foi um reflexo”. Aperto de mão, ala.
Longe de mim branquear os perigos da raiva surda que muitos acarretam à flor da pele, apenas esperando pretexto para se tornar cega. Mas considero-a parente próxima da depressão que os jornais afirmam em vertiginosa subida no “top-ten” das doenças modernas. Por também profundamente triste, em muitos casos ela brota da sensação de que a vida escapa ao nosso controlo e ainda por cima a culpa de tal frustração morre solteira, a quem ou o quê apontar o dedo? Trata-se de uma fúria que esbraceja contra desconhecidos, um choro virado ao contrário, uma nostalgia de abraço transformada no desejo de esmurrar, um receio da solidão mascarado de asco aos outros. Vivemos depressa e mal; empilhados mas sozinhos; tudo consumindo e no entanto horrorosamente vazios. Tristeza e raiva são faces da mesma moeda, quando a segunda mergulha em nós e não na cara de alguém transforma-se na primeira.
P.S. Nada do exposto nega a existência de simples javardos. Face aos quais abdico da “compreensão psico-socio-cultural” e me limito a verificar se são maiores do que eu. Infelizmente não é difícil...


P.S. - As velharias do baú foram publicadas no JN e DN há tempos atrás, muitas delas constam de livros meus publicados. Faço o esclarecimento porque alguns de vocês me incitaram a escrever regularmente em jornais. Fi-lo durante três anos sem férias e ainda não estou disposto a reatar essa obrigação semanal que me angustia:).

P.S.1 - Longe de mim "desprezar" as viagens, tenho a certeza que o Luís diria o mesmo. Venha a estrada! Ambos falávamos de uma certa forma de viajar - sem quase olhar e nunca vendo:). En passant...

84 comentários:

lobices disse...

..."delicioso" texto que nos conta um dos mais aflitivos sintomas da depressão ou do stress que, mais tarde, irá mascarar as consequências que a agitada vida nos provoca (ou provocava, no meu caso pessoal)...:)
abraço

Maria disse...

Caro Professor
Este seu (poético) relato das batalhas diários de tantos poderia ter acontecido nos passeios de Lisboa, ou até de Évora, que tanto luta com o problema do estacionamento.
Há uns dias ouvi um colega seu falar sobre a importância de ter raiva, de explodir, quando temos razão. Mas não deixa de ser um escape, em minha opinião, por ser mais fácil chamar nomes ao copndutor do carro que nos ultrapassa do que gritar alguns impropérios ao nosso chefe incompetente e déspota, ou à nossa sogra e afins...
Há algum tempo que decidi que ía ser "boa", i.e., que não iria entrar em jogos de violência verbal ou perder tempo com azelhas encartados. Vou deixá-los andar e à mercê da tal justiça divina, a mesma que o fez encontrar um outro lugar para o seu carro. Pode tardar, mas não falha. Eles não valem as minhas cãs... Sobre estacionamnto contaram-me uma história engraçada, dentro do estacionamento de um hipermercado, em que um indivíduo, dentro de um todo-o-terreno, espera, pacientemente, que o lugar fique livre, sinalizando a sua intenção, quando un chico-esperto (nome agora tão em voga) o passa à frente e, como se não bastasse, ao saír do carro, depois de estacionar, grita para o primeiro: O mundo é dos espertos!! Entretanto, o primeiro faz marcha a trás, aponta para o mesmo lugar embate violentamente na traseira do seu renault clio(passo a publicidade) que desaparece por baixo dos bancos. E entretanto, muito calmamente sai do carro, dizendo: Não, amigo, o mundo é dos ricos. Parece uma frase pindérica, mas para esperto, esperto e meio...
Eu, por mim, vou continuar a relevar...
E obrigada, Prof., pelas suas palavras, inspiradas e inspiradoras!

Anónimo disse...

Devo confessar que se há alguma coisa que me mete medo é precisamente esta necessidade que muita gente, no trânsito e ao mínimo pretexto, sente de descarregar frustrações pessoais no primeiro "inocente" que lhe aparecer pela frente. O que me causa angústia é que nunca sabemos com quem é que nos vamos "meter", é uma incógnita, pode aparecer alguém que subitamente abre a bagageira e retira de lá uma pistola. É difícil manter a calma no trânsito, especialmente em Portugal onde, em parte como resultado dessa zanga com a vida, há um atropelo constante do Código da Estrada, que gera indignação a todos aqueles, como eu, que ainda zelam pelo seu cumprimento rigoroso)). O que não deixa de ser curioso é que no meio desta "selvajaria" na estrada, ainda se consegue estabelecer uma certa ética nos casos de prioridade no estacionamento referidos no post.

PS: Andorinha, obrigado pela dica em relação aos smileys. Daqui em diante, smileys só os certos. Já agora, espero que os que escolhi não tenham nenhum significado de zanga ou fúria)))))))))))))))

Anónimo disse...

Um artigo excitante. Diria que, todos já experimentámos o lufa-lufa-da-pele que comicha e nos arremeda o juízo, apesar da esmerada educação que possamos ter recebido.
A propósito, muito já foi dito por Palahniuk no seu livro ‘Sobrevivente’ (aqui citado há dias: “ (…) ‘Sobrevivente’ é na verdade sobre o nosso sistema de educação, porque eu sinto, com freqüência, que as crianças são meio que ensinadas ou treinadas para serem as melhores engrenagens possíveis em alguma grande máquina corporativa. Elas não são realmente ensinadas de um modo que lhes dê autoconfiança para que possam começar suas próprias companhias e, assim, gerir suas próprias vidas. Elas meio que são ensinadas apenas a serem bons funcionários, a se enquadrar”.
in http://www.rabisco.com.br/40/sobrevivente.htm

Anónimo disse...

Prof JMV,

Este seu texto fez-me lembrar uma edição do "Estes difíceis amores" em que se falou da depressão. Cada vez mais estou de acordo com o que então foi dito por si. A depressão, num momento inicial, resultava da perda de alguém próximo. Hoje, ela está associada à incapacidade de preenchermos o protótipo do herói, típico da sociedade moderna. É a falha. Para mim, o que há de interessante aqui é que a depressão pode ser a consequência de uma zanga com nós proprios. Eu que sempre pensei que raiva e tristeza se excluíam e anulavam mutuamente)). Puro engano...

Maite disse...

Professor, é uma redundância dizer que os seus textos me fazem reflectir, esboçar sorrisos, e soltar mesmo gargalhadas (o que neste mundo em que vivemos é um grande sinal de alívio). Este episódio, porém, por ser tão rotineiro nas nossas vidas e contado da forma tão despretensiosa por si e com pormenores tão hilariantes, deixou-me bem disposta para o dia :)

Anónimo disse...

Equilíbrio.
Ao ler a sua narrativa ocorre-me, como já antes aconteceu quando escrevinhei sobre o assunto noutro lado, que tudo isso é uma questão de equilíbrio. Coisa que, justamente, a maioria de nós não tem. E quem não anda equilibrado tem meio caminho andado para os ansiolíticos e a sensação de que os pequenos-nada como estacionar se transformam em ameaças à existência. E também nos esquecemos de socializar.

Anónimo disse...

Já existe terapia para a "road rage". Nos states, claro :)

lobices disse...

...após a minha primeira intervenção nesta lista de comentários e após leitura dos seguintes (e, ainda, após um certo período de reflexão introspectiva), chego à conclusão que são sempre os "OUTROS" que cometem estas atrocidades; são sempre "eles" que fazem as asneiras, que guinam, que aceleram, que vociferam, etc. etc. etc...
...nunca, mas mesmo nunca, somos nós!... Nós, portamo-nos sempre bem, cumprimos sempre as regras, somos calmos e temos uma condução segundo as regras e seguindo as ditas... quando há algo de errado, o outro é que é o culpado...
...
...pois... mea culpa, mea máxima culpa... tanta asneira que eu fiz ao longo de 35 anos de condução!...
...tanta aceleração
...tanta ultrapassagem por todos os lados
...tanta pisadela de riscos contínuos, tanto desrespeito pelos peões nas suas passadeiras, tanta raiva no nó dos dedos ao segurar o volante, tanto stress, tantas reduções e variações de velocidade para obter o melhor desempenho da máquina
...enfim, tanta asneira
...não, não são só os outros que conduzem mal ou que se portam mal na estrada; eu também me portei mal (hoje não porque não tenho carro e quando conduzo esporadicamente os carros dos filhos é mais para dar o gosto ao dedo do que outra coisa...)
...não, não são só os outros que dizem impropérios e se revoltam contra os condutores de fim de semana... eu também o fiz... e sei do que falo; em 35 anos de condução eu fiz mais de 2 milhões de quilómetros e tive mais de 25 carros... por exemplo, fazer da portagem de Cascais na A5 até à portagem de Grijó na A1 em 110 minutos é de loucura...
...mas com um certo interesse na análise do tema, é que, em boa verdade, o estacionamento nunca foi um problema para mim; recordo que sempre soube, com calma, olhar o sítio certo para estacionar pela simples razão que sempre procurei nos parques de estacionamento e nunca tentei estacionar ao lado da loja onde queria comprar um maço de cigarros...
...enfim, ruminações após um almoço acabado de ingerir
...uma boa tarde num abraço fraterno

Anónimo disse...

Gostei muito do texto que reflete muito a ideia acho que muito nacional do Xico esperto do vou fazer agora que ninguem vê do refilar e armar-se em valentão mas de um modo quase anonimo !
Porque tanta raiva tanto mau feitio nas estradas e nas cidades deste pais? será porque é mais facil resmungar ai que em casa ou no trabalho onde efectivamente estão as frustações todas???
A mim parece-me que sim.
Calma seria o recomendado neste incio de ano.
Abraços e sorrisos
Ana Afonso :)

Anónimo disse...

Até pode ser que haja por aí muita depressão, mas o que há - de certeza absoluta - é muita falta de civismo e de educação ! Tivesse o 25/4 sido menos “maricas” e nada disto acontecia... (escusam de me perguntar porquê, que eu não respondo)

Raquel Vasconcelos disse...

Ponto um: O espanto!
Pensara que isto nunca sucederia:
"Comment moderation has been enabled. All comments must be approved by the blog author."

Agora fica a curiosidade com alguma preguiça de ir ver para trás... ou talvez não...

Ponto dois: a história
é a realidade dos tempos de hoje,
com um acrescento meu que é mais um desabafo...
Ainda me recordo dos tempos em que sentada no carro dos papás podia existir todo tipo de discussão mas inter-familiar...
Não aquela gritaria contra o fulano do carro ao lado que nem sequer nos ouve e que fura os ouvidos de quem está dentro do carro com a pessoa q stressa o tempo todo!

Bom Ano
(Raquel Vasconcelos /"Páginas")

Anónimo disse...

SUL
Era verão, havia o muro.
Na praça, a única evidência
eram os pombos, o ardor
da cal. De repente
o silêncio sacudiu as crinas,
correu para o mar.
Pensei: devíamos morrer assim.
Assim: explodir no ar.
Eugénio de Andrade

noiseformind disse...

Direito a ti? ; ) e tu não lhe chegaste?
Eh pá... que falta de sangue na guelra Ju, assim caem os meus mitos da adolescência, sob a pesada machadada da verdade auto-confessada pelos próprios ; ))))

Pessoalmente acho que é nesses pequenos gestos diários que se começa a organizar a resistência futura ao invasor espanhol. Uma pequena briga de bar, uma discussão que acabe em pancadaria por um lugar é apenas e só uma forma de nos prepararmos para a luta que se avizinha pelo nosso pequeno rectângulo. E como na guerra não há psis nos batalhões e tens menos de 60 anos tás tramado Boss ; )))))))) loooooool looooooooool loooooooooooool loooooooool

Sical,
Inverdade é uma palavra muito querida aos ministros e Pares avulsos do REino ; ))))))))) eu usei-a como caricatura e não como léxico próprio. Uma espécie de Contra-Informação by Noise looooooool looooooooooool looooooooooool loooooool

Em relação a estacionamentos o que me irrita mais são aquelas lojas que metem nos lugares em frente a elas usn bidões para impedir o estacionamento. E se vamos lá tirar "ai que não faça isso, ai que isso está aí a marcar o lugar, ai que eu chamo o reboque". Tenho por honra conseguir sempre estacionamento por perto de onde quero ir. E o pessoal que tenha vindo a jantas do Murcon aqui no Porto sabe de que é que eu estou a falar. Aliás!!!!!!!!!!!! No primeiro Jantar quando fimos ás caves salvei a Rosa e o PP de terrível estacionamento no Parque de Estacionamento em Gaia ; )))))))))) lembram-se??????? looooooooooooooooooooooool

A agressividade masculina é preensil, existe em resposta a uma probabilidade de agressão. Ninguém tem esse problema com uma mulher a bater-lhe no vidro. loooooooooooool isto falando para os heterossexuais. Mas realmente nos bares gay há tão pouca violência com tanta gente a roçar-se uns nos outros... parece-me uma boa solução, optarmos pela gayização maciça da população ; ))))))) poupava-se imenso em cadeias!!!!!!!!!!!! Que passariam a ser parques temáticos sexuais loooooooooool loooooooooooool loooooooooooool loooooooooooooooool looooooooooooool looooooooool

Anónimo disse...

Lobices
Concordo plenamente com o seu comentário. Há uma precipitação muito grande para sermos juízes.
Eu, sinceramente, comento para reflexão. De resto sou um "pecador" como qualquer comum dos mortais. Só que às vezes esforço-me para ser melhor,embora nem sempre. Como o professor neste post. Embora nem sempre ele aja como agiu. Nem sempre somos bons, nem os outro são sempre maus. São as circunstâncias actuais e antigas, misturadas com muita decepção e falta de empenho que, também às vezes, nos inibem de ser melhores.

Tilangtang disse...

"vivemos depressa e mal; empilhados mas sozinhos"

o diagnóstico está feito. precisamos é de soluções generalistas (dado o número crescente de casos) para combater a depressão e que não passem exclusivamente pela medicação. Caso contrário vamos acabar por viver um "sonho" alicerçado em pílulas milagrosas (o que acontece com os que têm de recorrer ao sistema nacional de saúde).

Mário Santos disse...

É, de facto, fascinante como o trânsito consegue revelar o nosso lado mais agressivo. Muitas vezes que perante uma manobra menos feliz de outro condutor a minha reacção era pensar logo que o gajo (ou gaja) estava a fazer de propósito.

Desde há uns anos para cá tenho feito um esforço por me educar ao volante: não julgar os outros, facilitar sempre, na dúvida dar prioridade. Reparo que o impacto nos outros é muito positivo, que obvieamente ficam mais agradados com a minha cedência de passagem do que com uma atitude em que claramente me estou nas tintas. Imagino também que estes pequenos gestos tornam o dia dos outros mais agradável e que isso por sua vez se há-de repercutir nos que com eles convivem.

Outra coisa que tenho tentado praticar é uma condução defensiva. Com isso já evitei 2 acidentes graves e um atropelamento que, pelo peso da minha carrinha (2000kg), seria provavelmente mortal.

noiseformind disse...

Se bem que... se bem que... e eu pecador me confesso, tenho um fraquinho pelo excesso de velocidade. E não fosse ter um "nariz" que me fareja os radares e à muito a minha cartinha de condução teria passado para um cofre da DGV. Só posso em minha defesa acenar com o registo de acidentes imaculado ; ))))))))) mas por exemplo, o espectáculo de uma pessoa na VCI passar directamente da faixa da esquerda para a escapatória 3 faixas à direita da que ocupava ou as não-travagens por conversas ao telemóvel parecem-me muito mais provocadores de acidentes, sem falar no excesso de alcool. Tirando o facto de a partir dos 260 uma estrada de 3 faixas parecer uma viela da Ribeira o excesso de velocidade por si só não é pecado nenhum. É pecado quando há pessoas que vão na faixa da esquerda a 60 Km/h ou quando dois camiões vão prazenteiramente lado a lado km a fio.

Anónimo disse...

Elizabeth
Olá Prof Julio Machado Vaz
Adorei hoje o seu post. Uma delicia. Ri sozinha. Imagino a cara do outro senhor quando lhe bate no vidro...........
Por e simplesmente adorei.
Essa partinha da sua vida aqui é muito bom
Elizabeth

LR disse...

Professor: a ignorância era minha, quando falava em enquadrá-lo num qualquer mega sítio jornalístico! Juro que não me lembrava (ou não sabia...) que já tinha mantido colunas periódicas na imprensa escrita.
Então, pelos vistos, não está pelos ajustes!!!
Ora... e eu que tanto gostava de sonhar em "tropeçar" numa crónica regular da sua autoria na ÚNICA ou na PÚBLICA! Um contributo bem mais consistente do que alguns outros que temos agora de gramar nesses mesmos sítios!
Sim, crónicas suas ao gosto de algumas deste blog (mas nada de miscelânias tutti fruti a responder a leitores fantasma...como alguns quase colegas seus faziam na Xis!!!)

E agora, vou desferir uma provocação (e testar os seus gostos):
- Então e se o convidassem para escrever na MÁXIMA? Não aceitava?
A melhor revista de mulheres mais lida pelos homens portugueses?!
Ficaria em honrosa companhia (há por lá alguns carismáticos cronistas masculinos, infelizmente bem melhores que algumas colunistas femininas...)

Não o seduzia esse tipo de público?!

LR disse...

Uma revista automóvel francesa fez há tempos um levantamento sobre a conduta dos automobilistas na cidade e na estrada, e do estudo subsequente resultou uma conclusão inesquecível.

-Sabem qual o bom condutor padrão? O que alia prudência e cumprimento das regras de trânsito a eficiência e desenvoltura na condução?

-As mulheres!!!
E mais precisamente: as mulheres acima dos 30 anos, mães de família.

Lá se vão os preconceitos pelo cano abaixo!!!

smooth_word disse...

Caro Professor, o seu texto é delicioso. Senti-me a observá-lo na labuta para estacionar. :). Sou daquelas pessoas que perde a calma poucas vezes, mas confesso que quando me acontece, um dos meus ditos “alvos” são os outros condutores, quer tenham culpa quer não. Passo a explicar: refilo e mando vir com eles mas sem que eles se apercebam (o que me dá vantagem) e como vou normalmente sozinha, liberta-me para expressar vários nomes feios que se acumulam por situações diversas ao longo dos dias e depoletada por aquela situação. Claro que eu sou a única pessoa que se apercebe de todo este frenesi. Mas chegando ao fim da viagem e analisando a questão, por vezes “absolvo” o outro condutor (que nem sequer se chegou a sentir “culpado”, de certeza!) ou na melhor das hipóteses peço uma espécie de desculpa interior pelo “desabafo” que me fez infligir no outro.
Antes de terminar e visto estar a intervir pela primeira vez este ano, desejos de um bom ano cheio de energias positivas a si e a todos.

smooth_word disse...

Caro Professor, o seu texto é delicioso. Senti-me a observá-lo na labuta para estacionar. :). Sou daquelas pessoas que perde a calma poucas vezes, mas confesso que quando me acontece, um dos meus ditos “alvos” são os outros condutores, quer tenham culpa quer não. Passo a explicar: refilo e mando vir com eles mas sem que eles se apercebam (o que me dá vantagem) e como vou normalmente sozinha, liberta-me para expressar vários nomes feios que se acumulam por situações diversas, ao longo de dias e despoletado por aquela situação. Claro que eu sou a única pessoa que se apercebe de todo este frenesi. Mas chegando ao fim da viagem e analisando a questão, por vezes “absolvo” o outro condutor (que nem sequer se chegou a sentir “culpado”, de certeza!) ou na melhor das hipóteses peço uma espécie de desculpa interior pelo “desabafo” que me fez infligir no outro.
Antes de terminar e visto estar a intervir pela primeira vez, aqui este ano, desejos de um bom ano cheio de energias positivas a si e a todos.

Anónimo disse...

Bem, professor, o que eu me diverti a lê.lo!;]]]]]]]]]]
(isto hoje foi café cooooooom natas e canela!) O sentido de humor pode-nos levar às lágrimas em qualquer situação. Venho reler (não sei se é assim que se escreve- ;]])

Anónimo disse...

A cena fez-me recordar uma passagem de,Desmond Morris, "O Macaco nu", sobre a a noção variavel de territoriedade que desenvolvemos em função das necessidades e interesses. Depois veio à memória a delícia que era pôr em alvoroço a capoeira dos meus avós distribuíndo de forma estudada guloseimas aviárias que em quase tudo se assemelha ao nosso comportamento quando o "petisco" é bom e rareia! ;]]]]]

andorinha disse...

Boa tarde.

Por acaso lembro-me de ter lido esta crónica no JN. Já na altura achei "piada" à reacção do outro fulano já preparado para a "guerra"que segundo ele se avizinhava.:)
Sinal dos tempos em que andamos todos com os nervos à flor da pele.
Concordo com o que disseram o Sical e o Lobices - nem só os outros são infactores.
Eu, por exemplo, tenho que admitir que não sou nenhuma condutora exemplar, confesso que ao volante "fervo em pouca água".
Já prometi a mim mesma tentar corrigir esta lacuna na minha personalidade :), mas não é fácil.
Então quando tenho pressa faço uma quantidade enorme de "asneiras": todas as que o Lobices referiu e se calhar, mais algumas.:)
Não infiram daqui que sou uma condutora sem qualquer civismo. Nada disso!!!:) Mas reconheço e admito que tenho muito a melhorar neste sentido.

Gonçalo,

Sempre às ordens.:)))
Também me lembro desse episódio do "Estes difíceis amores" que referes. Até me lembro que a expressão utilizada foi que hoje em dia a depressão é muito mais narcísica do que relacional.
Quando nos zangamos connosco, quando não atingimos os objectivos que nos propusémos, aí ela espreita...

Noise (2.28)
Gayização maciça da população?
Só tu para te lembrares de uma dessas. Loooooooool

Olhar disse...

C'um caneco! mas no nosso próprio carro podemos sempre passada a revoada, aumentar o som e seguir viagem..., ninguém falou de mais abaixo..., gostava de vos lembrar as cenas dramáticas nas filas das caixas de supermercado com os miúditos a assistir ou mesmo personagens principais..., das esperas sem fim nas repartições e institutos..., dos enlatados nacionais em transportes públicos onde que a discussão estala como por encanto e faz explodir a tampa a várias panelas de pressão enlatadas..., ou serei só eu que por lá ando...????!!!!, meninos garanto! é bem pior..., são fardos e fardos de gente entristecida que se arrasta carregando cada um o seu, às vezes cedíssimo outras tardíssimo, muitas das quais, vê-se-lhes no olhar..., por dá cá aquela palha..., que se calhar maior parte desta gente de rastilho muito curto, nem sequer para comer bem tem...

andorinha disse...

Júlio,
Continuando a digerir o texto, li com mais atenção esta frase:
"Tristeza e raiva são duas faces da mesma moeda, quando a segunda mergulha em nós e não na cara de alguém transforma-se na primeira."
Como assim???
Tristeza e raiva podem coexistir, mas não acho que sejam inseparáveis como as faces da moeda.
Então não existe raiva sem tristeza e vice-versa?!
E a raiva mal direccionada transforma-se forçosamente em tristeza? Não acho; acho que continua a ser raiva, quando muito de nós próprios.

Anónimo disse...

JMV
Óptimo post. Espelha muito bem a vivência dos dias modernos. Da civilização encafuada em prateleiras verticais. Eu sou insistente nisto porque nasci em Lisboa e vivi em várias vilas. Diria que sou um urbano rural. Nunca vivi fechado num apartamento. Joguei à bola (sem futuro milionário) na rua. Brinquei a todas as actividades usuais naquele tempo sem gradeamentos nem limites territoriais. Fui atropelado aos 6 anos a atravessar a rua. Sujei-me na rua imensas vezes e a minha mãe não entrou em pânico com os germes, porque ainda não havia paranóias assépticas. Éramos crianças livres em ditadura. Hoje vejo crianças presas em democracia. Emparedadas, sem sol, sem luz, sem amor, sem civismo. Mas têm tudo. Têm jogos com violência, pais com violência activa ou silenciosa, vizinhos violentos, carros violentos, transportes urbanos violentos, ausência violenta de livros, sobretudo desenraizados. Pais ainda rurais espartilhados num urbanismo a que se não adaptam que não são capazes de lhes transmitir o vínculo da cultura ancestral. Mantêm o mito da aldeia onde já não estão e detestam a cidade aonde os precipitaram. Os filhos estão onde não querem e os pais sobrevivem sem alternativa. A televisão é o aglutinador e formador familiar. Vivem todos entre pontos rituais: uma escola errada, um emprego depressivo, um hipermercado sedativo, e um centro comercial estruturante de carácter e com lazer de brinde. Entre estes pontos semeiam o caos. Todos recusam amar porque se calhar nunca foram motivados. Até estranham atitudes mais civilizadas, como seja uma simples explicação cívica. A agressividade tornou-se o mote de sobrevivência na selva urbana. Nem sequer há mecanismos de entrelaçar as pessoas, como no mundo rural, de forma a desbastar as tensões. Eu vivo nos Açores, ainda um paraíso. Mas está a terminar, também. Até já o centro comercial chegou. O mimetismo está-se a instalar e os sintomas já se exibem.
Porque é que ninguém dá passagem ao outro em zonas estreitas? E porquê o ar de vitória (pirrica) quando passam primeiro? Heróis do volante. Para alguns é o único espaço das suas vidas onde se podem impor. Com agressividade.

Anónimo disse...

Noise

De V. Exª grato pela resposta.
Continuai contra informação noisiana que é bastante salutar e cativante neste espaço de "combloguistas" heterógeneos.

Anónimo disse...

Eu presumo que o Noise não fez a apologia do excesso de velocidade nem a sua pedagogia. Confessou o seu pecado.

Anónimo disse...

Pois é. A boa educação nota-se nas coisas mais confusas e que pouca gente se lembra.
Tais como assim.
-Ò migo à problema??
-Sou despachado proque sou esperto!
Assim e assim.
Mas isso não se consegue explicar.

Anónimo disse...

prof. Murcao:
Os trogloditas tomaram conta das cidades...Temos de fugir para os campos...

Anónimo disse...

Andorinha

A raiva alguma vez pode estar associada a uma exuberante alegria?
Ou sempre a uma tristeza decepcionante ou decepcionada?

Anónimo disse...

Angie,
3:34 PM

Talvez essa prudência seja excessiva ou provavelmente há desenvoltura a mais))))))))))))))

Só assim se pode explicar que as mulheres raramente sofram acidentes de viação...em contrapartida são elas normalmente que os provocam, o que não deixa de ser uma posição bastante mais segura)).

Anónimo disse...

FAD

Os trogloditas não são "nós"?
Não fazemos também parte dessa nova manifestação do caos?
Não contribuímos para a agressividade e falta de civismo?
Não somos maus cidadãos, nem que seja pela demissão?

Essa do povo ser aquela
"gentinha" lá, e nós aqui "sábios" e "senhores" é teoria que não me fascina.
Todos somos burros e todos somos espertos. Depende das circunstÂncias. Não acredito em superioridades nem em predestinados. Todos nós podemos vir a ser outra coisa, depende da circunstância. Todo o ser humano pode ir do óptimo ao péssimo. O inverso também é possível, mas mais dificil e doloroso. E ninguém é perfeito.

LR disse...

Quem não gosta de conduzir depressa?!
E então quando os carros têm garra, nem se dá positivamente por ela, a verdade é essa.
Por isso é que a venda dos "travões" de velocidade ou lá como é que isso se chama está a subir em flecha: se não for isso, o pé nem sai do sítio, mas o bicho tem vida própria...

Mas estou como a Paula, é óbvio que o excesso de velocidade É UM PROBLEMA.
(Aliás, como a baixa velocidade, que tb. é, sobretudo nas autoestradas).
Se não fosse por outros motivos,simplesmente porque a velocidade excessiva é um "factor de risco" muito considerável.
E já basta isso para aceitar que se devem moderar os ímpetos de Michelle Mouton!
É como fumar, comer com excesso de sal, beber demais...Isso não mata, não, mas põe-nos logo no topo da lista para um avêcêzito...é tiro e queda!
Mais uma vez é uma questão cultural: e em Portugal ainda interiorizámos muito pouco o que são comportamentos preventivos ou defensivos. Achamos mesmo que é uma espécie de cobardia!

Anónimo disse...

oooopppppsssss
ia o gonçalo tão simpaticamente comentando, quando lhe escapou este pressuposto:
'em contrapartida são elas normalmente que os (acidentes) provocam, o que não deixa de ser uma posição bastante mais segura'

annnhhh? :):)
gonçalo, se não odiasse estatísticas (em blogs) pedir-lhe-ia para nos mostrar dados seguros sobre a sua afirmação, mas fiquemo-nos por um : 'e esta hein?'

Anónimo disse...

O stress que hoje se faz sentir no nosso dia-a-dia já é, há muito tempo, sentido por outros povos europeus. Em qualquer cidade alemã, por exemplo, pode conduzir-se (ou estacionar-se) um carro de forma civilizada. Portanto, o tipo de atitude - tão bem narrada pelo nosso anfitrião - tem muito mais a ver com a falta de civismo / educação do que com qualquer outra razão de cariz psico-social. E também não tem nada a ver com o facto de sermos latinos. Isso é uma desculpa para muita coisa...

Isto é tal e qual como os bêbedos: porque será que há gajos que com os copos só querem é brincadeira e há outros que só querem é andar à porrada ? E não me venham dizer que o mesmo gajo que, com os copos só quer andar à porrada, até é um gajo baril quando está normal... Digamos que, quando ele está normal, consegue é fingir muito bem que até é um gajo bacano, mas - bem lá no fundo - é uma grande merda de homem. Que eu saiba, o stress não tem as propriedades desinibidoras do alcool. Quer para o bem, quer para o mal.

É também como aqueles colegas de trabalho que, mal se vêem "apertados" pelo chefe, começam logo a "limpar-se" com o colega do lado. Isto é resultado do stress do momento ? Não... eles são é uns bons filhos da puta !

Anónimo disse...

Não é mtas vezes o carro, e o modo como o/a dono/a o conduz, apenas a continuação da sua maneira de ser, e por vezes não funcionará com um "tubo de escape" á realidade q vive??!!

LR disse...

gonçalo (6.41)
Discordo em absoluto!

Não sei a que geração pertence, (cheira-me a que uma posterior à minha...) mas na minha geração as mulheres, de uma forma geral, conduzem desde muito cedo.
E se é verdade que existe o "cromo" da mulher-empata, tenho para mim que ele ou encaixa a uma geração de mulheres que começou a conduzir tarde e a contragosto (e ainda andam muitas por aí) - aquelas que nem guiam na estrada porque isso é privilégio do marido... - ou encaixa no cromo que não é privativo das mulheres, mas das pessoas encartadas em geral, que é o das pessoas que não nasceram para conduzir máquinas, homens ou mulheres. Cromo este que será eterno!
- E, de resto, que superioridade existe nisso? Em guiar bem ou não? Nenhuma.

Não, não concordo nada com essa das mulheres não sofrerem mas provocarem acidentes!
A não ser que se deva à condução xico-espertista de alguns homens que gostam de se fiar na virgem e dar uma de PODER em plena estrada. Aí está bem: merecem sofrê-los!!!

Penso até que este é um capítulo interessantíssimo para detectar a sobrevivência do machismo nas relações. Desde o paizinho que não passa(va) o sacrossanto carro para as mãos das filhas, nem se dá ao trabalho de lhe ensinar o que ensina aos filhos varões, até à luta pela supremacia dentro do carro e nas estradas!
Eu, e de certeza muitas mulheres, temos algumas histórias engraçadíssimas para contar nesta matéria!!! Episódios de pura e gratuita competição que, perante o nosso espanto, concluímos ficarem a dever-se a mero combate sexista. E olhe que não estou e exagerar: é a pura verdade!

(Esta é mais para rir, mas serve para lhe dar razão quanto à efectiva existência de algumas mulheres-empata e simultaneamente ao facto de que a boa condução não é nenhum atributo de personalidade em que valha a pena fundarmos o nosso amor próprio:
- a minha santa mãe, que é o protótipo da mulher-empata
(perita a subir passeios; raspar com o guarda lamas a cada investida pela cidade; parar sorridente a dar uma prioridade à esquerda porque conhece o condutor; andar sempre estrategicamente pelo eixo da via para preparar qualquer mudança de opinião no incerto e errático percurso; parar de pedra e cal mal o sinal vira amarelo porque vai ficar vermelho; meter mudanças ao ritmo da conversa: 3ª e 4ª para os bons momentos e 1ª e 2ª para as discussões...; interrogar-se ainda hoje sobre o estranho caso da forma de conduzir nas rotundas; e encostar profunda e genuinamente desgostosa ao passeio quando ouve as malcriadices algo justificáveis com que os outros condutores a insultam)
...a minha santa mãe, dizia eu, livra-se quase sempre das muitas multas a que se habilita, ao ser mandada parar pela autoridade! E sabe porquê? Perante as invectivas mais ou menos arrogantes dos polícias desfecha-lhes automaticamente "-Tem razão, senhor agente, absolutamente toda a razão! Eu devia era estar em casa a fazer tricot, não tenho mesmo nenhum jeito para isto, mas o que é que quer? Tenho que dar boleia as netos..." E lá começa o caderninho das multas a fechar-se, com o senhor agente meio aturdido a dizer:- "bom, minha senhora, pois é, por esta passa, mas tenha lá muito cuidado que isto não está para pessoas da sua idade..."
Mas o estratagema já resultava quando ela era viçosa, porque eu na altura assistia em directo!
Vantagens de ser mulher-empata, ou como tirar partido do estigma da menoridade na condução!!!

Su disse...

eu vivo depressa e mal... e mta vez sou uma vera javarda
tenho dito, agora, processem-me :))))))
jocas maradas

Anónimo disse...

O que é afinal a verdadeira qualidade de vida?

Respeitar os ritmos internos sem desconforto, digo eu!
Ouvem o chamamento da chuva, lá fora? Eu tenho de ignorá-lo pois há deveres a cumprir (ok, com prazer também mas tenho de os fazer) Logo: não tenho qualidade de vida como desejaria, certo? CEEEEEEEERRRRRTO;P

Vão para a caminha, se puderem! Boa Noite ;*

andorinha disse...

Sical (6.02)
O melhor comentário do dia, quiçá da semana.:)
Excelente a forma como descreves as tuas vivências em criança e a forma como elas vivem hoje em dia.
Todo ele espelha muito bem também a vivência dos dias modernos.
E tem frases poderosas, das quais destaco, apenas a título de exemplo - "Éramos crianças livres em ditadura. Hoje vejo crianças presas em democracia"

Sical(6.36)
"A raiva alguma vez pode estar associada a uma exuberante alegria?"
Onde disse eu semelhante disparate???:)
Disse apenas que não me parece que raiva e tristeza tenham forçosamente que coexistir; existe raiva sem tristeza e tristeza sem raiva.

Gonçalo (6.41)
"...em contrapartida são elas normalmente que os provocam, o que não deixa de ser uma posição bastante mais segura."
Embora já a Paula e Zante se tenham referido a essa falsidade:),
eu também não a poderia deixar passar em claro, claro.:))

Pamina disse...

Boa noite.

Obrigada por este momento bem- humorado. Embora foque problemas muito sérios, fartei-me de rir com este texto delicioso.
Arranjar um lugar para estacionar o carro tornou-se realmente numa das coisas mais stressantes do quotidiano de todos nós. Nem nas cidades pequenas, como as Caldas, se escapa a esta tortura. Neste aspecto, o homem moderno do 1º mundo é vítima da própria abundância, pois, de facto há simplesmente carros a mais para os lugares disponíveis. Como a maior parte das pessoas já não pode viver sem carro (eu também não abdico do meu, pois claro), quais serão as possíveis soluções? No caso das grandes cidades, acho que só mesmo um sistema do tipo "Park and Ride" poderá melhorar a situação em larga escala, mas para isso os transportes públicos dentro dessas cidades terão que funcionar muito bem e é preciso haver uma mudança de mentalidades (no fundo, como o Noise, todos queremos parar o nosso carrinho à porta do sítio aonde vamos). Nas cidades pequenas, acho que mais parques subterrâneos poderão minorar o problema (pois, não são de graça, mas poupam muitas dores de cabeça).
Quanto à reacção do outro condutor, lembrei-me da peça "A excepção e a regra" de Brecht. Acho que é bastante conhecida, mas para quem nunca viu/leu, é a história de um patrão e de um criado que atravessam um deserto, ficando em dificuldades e com falta de água. O criado, abusado e maltratado pelo patrão, muito generosamente, aproxima-se dele, com o seu cantil na mão, para lhe oferecer a última gota da sua própria água, mas o patrão mata-o, supondo que o cantil era uma pedra e que o criado o ia agredir. A viúva leva o patrão a tribunal, mas o juiz iliba-o, pois considera que ele tinha razões para acreditar que ia ser atacado. Devido ao modo como ele tratava o criado, seria mais "natural" que este o quisesse matar do que o fosse ajudar.
Se o condutor tivesse agredido o Prof. JMV (lagarto, lagarto, lagarto), antes dele se ter podido explicar, provavelmente defender-se-ia duma maneira semelhante.
Pode ser perigoso ser-se generoso ou bem-educado, quando isso é uma excepção.
Na peça do Brecht, há evidentemente um complexo de culpa do patrão, pois não lhe passou pela cabeça que o criado o quisesse ajudar, porque sabia que, devido à sua prepotência, não merecia essa ajuda. E nós, em situações como esta, esperamos reacções agressivas, porque, no fundo, não nos achamos merecedores de ser tratados com civismo, ou simplesmente porque isso é o mais habitual?

P.S. para o Sical: Obrigada pelas suas palavras e pela sugestão, no post anterior. A Rep.Checa/Praga é um dos destinos nos quais estava a pensar ontem.:)

Anónimo disse...

Caro Professor,

A propósito de lufa-lufa e de memórias: ainda se lembra de um outro Luís, o Armando, da sua infância? Ele fala-me muito de si!

Abraço e, espero ter espevitado a sua curiosidade.

PS (salvo seja!): o apelido do circunstante é L.B.

Anónimo disse...

Caras Zante, Angie, Paula e Andorinha,

Calma!!! O que pretendi dizer é que tenho a ideia de que as mulheres provocam mais acidentes do que sofrem:)). É apenas uma percepção pessoal, não apoiada em estatísticas ou estudos sobre segurança ou sinistralidade rodoviária.

A verdade é que raramente ouço notícias de despistes de condutoras por excesso de velocidade.

As vossas respostas, especialmente a da Angie - a quem aproveito para informar que tenho 32 anos... - fizeram-me pensar em algumas questões interessantes:

1. Dou o braço a torcer que a condução para o homem pode ser um factor de afirmação da sua masculinidade, especialmente para aqueles que não conseguem separar o masculino da masculinidade)).

2. Para a mulher, a condução parece ser mais uma necessidade, uma enorme utilidade. Será assim?

3. A nossa educação pode influenciar a diferença entre géneros neste assunto, porque os meninos são habituados a brincar com carrinhos em pistas ou fora delas, comboios, etc...enquanto que as meninas, para desenvolverem o instinto maternal, cedo começam a tratar das bonecas. Este pode ser o início de tudo o resto.

E pronto, aqui ficam algumas considerações nada machistas, que se pretendem apenas tão científicas quanto possível)))))))

Julio Machado Vaz disse...

Andorinha,
Tem razão, a minha frase parece indicar uma "colagem" obrigatória. Não é verdade, claro. Mas muitas vezes, por exemplo, observamos depressões cujo mecanismo psicodinâmico é a agressividade virada contra o próprio. Não por acaso, é frequente que o primeiro sinal de melhoria seja voltá-la contra o terapeuta. Já imaginou? Ficarmos satisfeitos por alguém começar a peguilhar connosco:))))).

Ana Elias disse...

Júlio,

Estou em crer que o dito sr. não lhe saltou à tromba porque o reconheceu, como pessoa mediática que é...

Tem de ter algumas vantagens em ser mediático, não é?

Quanto ao texto, divertido, bem escrito, interessante, mas demasiado longo. E só o li até ao fim exactamente porque é uma pessoa mediática que gosto de ouvir falar na rádio todos os dias de manhã, e na tv às vezes... a quem o sentido de humor e a inteligência conferem uma certa pinta...
No entanto, e apesar de alguma admiração até nutro por si, choca-me que o mediatismo faça com que exista um link ao seu blog em quase todos os blogs que conheço. Aparecem os links aos blogs dos amigos e... o murcon. Já nem o Gato Fedorento é "linkado" com tanta frequência... e por isso jurei a mim mesma: Lá na minha honrosa, mas modesta casinha, não haverá link ao murcon, enquanto não encontrar aqui um link ao lótus azul. E pronto, já disse...
Não, ainda não disse tudo afinal... faltou-me dizer que por vezes esta cena de engraxar pessoas mediáticas com comentários tipo: falou muito bem, escreveu muito bem e etecetera e tal, me faz lembrar aquela teoria dos professores do liceu que não podiam dar uma nega a um aluno que tivesse sempre 20 valores, porque não tinham como justificar a nota em Concelho Directivo, mesmo que a justificação fosse só que o "marrão" daquela vez não estudára a ponta dum corno.
E agora é que disse mesmo tudo. Tudinho.
E este comentário gigante é para ficar a condizer com o tamanho do seu post, já que eu sou igualmente uma naba a estacionar o carro.

Beijinhos Júlio

mtc disse...

Depois de um dia de muitíssima lufa-lufa :( só umas palavrinhas para dizer que adorei esta história tão bem escrita, divertida e com tanto sentido de humor.

Em resposta à Gatonima:
Eu tirei a carta em Angra do Heroísmo:)))
Que saudades desse "viver no campo".
Guio aqui como se guiasse lá...sem stress ...e quando alguém fica "furioso" comigo... aceno pura e simplesmente com um sorriso:)
That's just the way I am

Nighty night:)

Vera_Effigies disse...

Boa noite!
Este post além de muito bem escrito expressa uma triste realidade. Não é recente vem a tornar-se uma constante. Li e, como sempre, saltei no tempo.
Quando a minha filha andava no 10º ou 11º ano, aconteceu algo de parecido.Depois de Largar a minha filha no Liceu. Rumei ao trabalho. Contra o costume em hora de ponta, seguia o meu caminho, quando dum estacionamento sai apressado um carro. Só tive tempo de buzinar. Sem sucesso o alerta, e vendo que estava a uns escassos centímetros, buzinei de novo.. Foi uma fracção de segundos que me deixou assustada. Parou. Gesticulou, como que eu tivesse feito uma grande asneira. Fiquei "piurça" e fui falando sozinha "Palermoide! Faz asneiras, eu evito o acidente ainda me levanta a mão....!". Segui caminho e sinto umas travagens esquisitas na traseira do meu carro, olho pelo retrovisor e vejo o carro que saía do estacionamento bem colado ao meu. Movimentei a cabeça numa pergunta ele levantou a mão como que a dizer (Vais levar)... O susto tinha passado e aquele comportamento fez-me rir (Quando fico nervosa só rio). Brinquei com o homem já perto do semáforo, apontei na minha direcção como quem diz " A mim?!" e fiz o gesto de soprar no polegar e com a outra mão levantei a camisola desse braço... :o). Olhei tinha o vermelho contra mim. Tive de parar. O outro carro parou atrás olhei o retrovisor... O "gorila" saía lá de dentro a deitar fumo pela benta, larga a porta aberta e dirige-se ao meu carro. Fiquei atónita a olhar para o homem, presa com o cinto naquela posição desconfortável a pensar "Vou ficar com a fachada num bolo!". O homem falava e eu mal ouvia o que dizia, tomei fôlego e já recomposta, sem tirar o cinto, baixei o vidro e pus a cabeça meio de fora... Olhei-o dos pés á cabeça, parei os olhos nos dele e perguntei "O senhor está bem?!". Ele parou de falar, baixou-se e olhou-me de cima abaixo, notei que queria um buraco onde se enfiar. Eu disse-lhe “ SE isso tudo é por causa das buzinadelas, desculpe lá, mas devia agradecer” Enquanto eu falava ele desculpava-se com atropelo e gaguejo "Desculpe minha senhora. Desculpe!". Só respondi "Está desculpado, mas não faça isso sempre. Se aparecesse um estoirado no meu lugar isto ia ser feioso..." Ele concordou, tornou a desculpar-se e foi-se. Já tinha passado o semáforo verde, lá tive de esperar de novo que abrisse para seguir caminho. Dias depois estou no meu trabalho deparo com o homem na minha frente, parecia mais pequeno, muito mais franzino vergado de vergonha. Ele queria desculpar-se, reconheceu-me e não queria que ficasse a pensar mal dele. Deu uma desculpa que até hoje não digeri. Pareci-lhe um homem com quem ele tem umas contas a ajustar que tb tem um carro como o meu, até aqui ainda engulo. Mas que esse homem tinha entrado na casa dele e tinha batido na mãe que se encontra acamada. Pode até ser verdade, mas ainda hoje penso na desculpa dramática. Sempre que me vê, coitado, parece que foi lavado na máquina em programa errado :o)
Pois é Professor, ninguém está livre duma corrente de ar!!!!!
Um abraço!

blogico disse...

Depois de ter participado em vários episódios deste tipo, e de ter chegado a uma altura em que os meus amigos me deixaram de me chamar "pachorrento" para passarem a tratar-me por "nervosinho", tive a felicidade de descobrir que os locais a que preciso deslocar-me durante o dia são (mais ou menos) bem servidos por linhas do (ainda novo) metro do porto. Agora o carro só anda à noite. Santos dias tenho passado... e já me voltaram a chamar "pachorrento" :)

cumprimentos a todos

Anónimo disse...

Caras Zante, Angie, Paula e Andorinha,

Calma!!! O que pretendi dizer é que tenho a ideia de que as mulheres provocam mais acidentes do que sofrem:)). É apenas uma percepção pessoal, não apoiada em estatísticas ou estudos sobre segurança ou sinistralidade rodoviária.

A verdade é que raramente ouço notícias de despistes de condutoras por excesso de velocidade.

As vossas respostas, especialmente a da Angie - a quem aproveito para informar que tenho 32 anos... - fizeram-me pensar em algumas questões interessantes:

1. Dou o braço a torcer que a condução para o homem pode ser um factor de afirmação da sua masculinidade, especialmente para aqueles que não conseguem separar o masculino da masculinidade)).

2. Para a mulher, a condução parece ser mais uma necessidade, uma enorme utilidade. Será assim?

3. A nossa educação pode influenciar a diferença entre géneros neste assunto, porque os meninos são habituados a brincar com carrinhos em pistas ou fora delas, comboios, etc...enquanto que as meninas, para desenvolverem o instinto maternal, cedo começam a tratar das bonecas. Este pode ser o início de tudo o resto.

E pronto, aqui ficam algumas considerações nada machistas, que se pretendem apenas tão científicas quanto possível)))))))

Julio Machado Vaz disse...

Goldenboy,
Então não lembro? Éramos amicíssimos! Se não estou em erro ele vivia na Rua da Alegria, mas já não garanto. Caramba, diga-lhe que me dê uma apitadela:))))).

Julio Machado Vaz disse...

Lótus azul,
Não me parece, acho mesmo que tive sorte:). Quanto ao "estatuto mediático", devo dizer que tenho tido sorte, as pessoas em geral trataram-me bem. Claro que também houve maus bocados, mas quem os não tem? Obrigado pela opinião franca sobre o texto. Quanto aos "murcónicos"..., ponha-se no meu lugar - também pensaria que não me engraxam. Em primeiro lugar, discordamos com alguma frequência. Depois, que ganhariam com isso? E mais importante - gosto de acreditar que nos une já um certo "afecto blogosférico" incompatível com a hipocrisia. Mas eu sou parte interessadíssima:)))).

Julio Machado Vaz disse...

Maralhal,
E agora os blues de Scorsese na 2!

Vera_Effigies disse...

Errata onde está escrito "piurça" devia ser "piursa".
:)

A Menina da Lua disse...

Muito divertido este seu post de hoje:))

Considero igualmente que os comportamentos das pessoas perante a condução traduzem muito daquilo que é a sua educação cívica mas principalmente muito da sua personalidade...o que muitas vezes não corresponde de maneira nenhuma a nível social ou académico.

O meio turbulento, o stress, os ritmos desajustados,que nos enquadram no nosso dia a dia "cega-nos"...muitas vezes nos vimos a comportar na condução com atitudes que não são nossas...tanto proactivamente como em reacção aos outros.

Esta questão parece-me fazer parte do conjunto daquilo que se sente como sendo "os sinais do tempo"...Ainda hoje de manhã estive a ouvir um programa na rádio na Antena 2 em que punha em contraponto a sonoridade por exemplo da sinfonia armónica duma cantata espiritual medieval ou mesmo barroca com a sonoridade de muitos ambientes nocturnos actuais ou mesmo ditos de alto consumo musical. A distância é abismal... e não é só pelo som em si mas principalmente por tudo aquilo que cada um deles significa...Hoje existem sinais que nos indicam claramente o afastamento que existe entre o mundo que nos enquadra e a nossa própria dimensão humana...

andorinha disse...

Júlio,
Só agora li a sua resposta. Isto de ser professora e ter que preparar aulas, tem muito que se lhe diga.:(

E depois? A recuperação do doente não é o vosso objectivo? Então, só têm é que ficar satisfeitos por eles peguilharem convosco.:)))))

andorinha disse...

Lótus azul,
Se as pessoas falam e escrevem bem, não se vai dizer isso só porque são mediáticas?
E isso não tem nada a ver com graxa, que mania que as pessoas têm.

Lusco_fusco,
Não podes dizer que o post está bem escrito.:))))))))))))))))

Júlio,
"E mais importante - gosto de acreditar que nos une já um certo "afecto blogosférico" incompatível com a hipocrisia."
E não é que acertou???:)))

A Menina da Lua disse...

Oh Professor

"Afecto blogosférico"????
Isso não terá a ver com um termo da Bola e do seu Glorioso?
Serão os afectos que estão no esférico?:)))))))))

Mas gostei de o ouvir a dizer isso...porque da parte que me cabe, sinto sim afecto não só por si mas tambem pelos participantes que já conheço e não só..tambem por pelos outros que se deixam adivinhar...

Anónimo disse...

Conto-vos o que presenciou um amigo meu em Vigo há 4 anos.
Estava o condutor do grande Mercedes esperando que o carro abandonasse o estacionemento e, de forma consientemente intrometida, vem o jovem condutor de outro carro mais pequeno e vai de ocupar o lugar. Mais que cinquentão, o condutor do Mercedes tenta explicar verbalmente ao Jovem que as coisas não são assim. Pois sim... "Este mundo es de los listos!...". Vale, vale...
Impassível mas decidido, volta para dentro do seu pesado Mercedes, liga o motor, duas aceleradelas, engrena marcha-à-ré, larga a embraiagem e, com a dura esquina traseira "desfaz" uma das metades da outra "lata", apenas arranhando levemente o seu próprio farolim.
"Eres loco, eres loco"
Continuando impassível, sai do carro: "No. Dices tu que este mundo es de los listos, pues vamos a hacer los papeles del seguro, que yo assumo lo que hago. Rapido tengo mas que hacer."

Anónimo disse...

Andorinha,

E que mania que a menina tem de se armar em defensora do Profe!
Não acha que ele soube responder à Lótus Azul? :)

Vera_Effigies disse...

Andorinha
Nem sei já como classificar o que tanto prazer me dá ler. Hoje saiu essa e até acho que saiu mal, mas já saiu, não tenho como agarrar :o) E o prof não censurou e devia, porque o que eu escrevi não é novidade para ninguém e devia ser dito duma forma mais poética.

Anónimo disse...

Andorinha

Minha Cara
Eu não disse que tinha dito. Eu perguntei. Também tive e tenho dúvidas.

Prof

E que tal fazer-se um jantar murcónico um dia em Praga? Com aquele jazz vadio e sadio.

Anónimo disse...

Pois...
Por essas e outras é que eu continuo à espera, quem sabe, de ganhar uns cobres valentes no Euromilhões para comprar um daqueles carros já com um "Ambrósio" incorporado... Mas para isso, convém jogar, não é? Bem me parecia...
Eu sou exactamente um daqueles "cromos" sem jeito para lidar com máquinas, de que falou a Angie e só não entrei para nenhuma estatística, porque de todas as vezes que fui buscar os papéis para começar a tirar a carta, desisti sempre antes de começar (tal é a vontade de me meter nessa espécie de campo de "guerra civil" que são as estradas portuguesas). Continuo a achar que será muito mais fácil, para mim, fazer um doutoramento do que conduzir um carro. Por isso, em cenas como a que Professor tão bem descreveu, tive sempre o prazer de nunca participar, pelo menos como actora (já como testemunha...ufff...). Mas uma vez, quando um dos habituais "Fângios" (não é da minha geração, mas alguém me ensinou o nome) ultrapassou um outro que tinha parado na passadeira para eu passar, experimentei nos músculos e em cada nervo o sentido literal da expressão "ficar pregado ao chão". Apeteceu-me esmurrar o carro, mas só consegui arregalar os olhos e balbuciar um "bolas!". O tipo abrandou e atirou-me um "desculpe!"... Aí não há civismo que aguente! Respondi-lhe mesmo o que mais me apeteceu: "Vá passear!".
E continuo sem vontade nenhuma de tirar a carta...

Professor, não acha que a violência dos automobilistas portugueses só encontra paralelo, por cá, no que se pode observar entre a assistência num jogo de futebol? Entre automobilistas stressados ou trogloditas e adeptos fanáticos igualmente trogloditas, não há diferença nenhuma..... ou há?

Sical:
Adorei estas comparações: "Éramos crianças livres em ditadura. Hoje vejo crianças presas em democracia. Emparedadas, sem sol, sem luz, sem amor, sem civismo. Mas têm tudo. "
Mas também convém não generalizar, como faz aqui: "Vivem todos entre pontos rituais: uma escola errada, um emprego depressivo, um hipermercado sedativo, e um centro comercial estruturante de carácter e com lazer de brinde."

Eu nunca dei aulas no tempo da ditadura (era criança), mas dou agora. E é com grande preocupação que vejo como os pais cada vez mais tentam ocupar o tempo dos filhos para eles não os aborrecerem, como os depositam na escola, exigindo, cada vez mais, que sejam os professores a entretê-los e, quando estes os tentam educar, fazem queixas e abaixo-assinados, porque não têm nada que dizer certas verdades aos/às meninos(as)...
Que fazer, por exemplo, com um encarregado de educação que, durante todo o ano lectivo, não põe os pés na escola e depois vai a casa do professor, no final do ano, oferecer um suborno para que a nota seja alterada em recurso?

E já nem pergunto o que fazer com os Ministros da Educação que temos tido, pois isso daria pano para muitas mangas....

Do que precisamos mesmo é de mais umas dez gerações (e estou a ser optimista) para que Portugal possa ser, de facto, um país civilizado...

Lena b

Julio Machado Vaz disse...

Papeldeparede,
No futebol há um "álibi" adicional para a agressividade - o grupo.

Julio Machado Vaz disse...

Sical,
Aquele jazz na ponte...

Julio Machado Vaz disse...

ameninadalua,
Acho que vocês está a ficar pronta para assinar uma proposta de sócia:))))).

Julio Machado Vaz disse...

ameninadalua,
A questão da música é interessante. Sem qualquer intuito de enunciar "verdades", não deixa de ser curioso que alguma da música actual é "pseudo-socializante". A pista de dança está cheia de gente, e no entanto cada um curte a música - e ainda bem! -, mas numa espécie de casulo sonoro.

Anónimo disse...

Muito bom dia,

Acredite que as palavras que se seguem estiveram bastante tempo em ruminação até que me decidi a escrevê-las...porquê? Precisamente porque existem amiúde ideias pré-concebidas, e devidamente ilustradas no post da Lótus-azul: sempre que alguém elogia actos ou palavras de pessoas que têm alguma exposição mediática leva logo com o belo do rótulo "graxista", "lambe botas", ou algo pior... apesar disso, achei que não devia deixar de postar.

Correndo o risco de ser punida verbal e qui ça fisicamente, compartilho com vocês um facto de que me apercebi à dias: a lista dos Favoritos, onde está incluído o Murcon, está por ordem não sei bem de quê mas alfabética não é, está no quarto lugar... ora o que me apercebi foi que estou sempre ansiosa por passar em revista os anteriores para chegar à vossa companhia:))

E pronto, se estiverem com disposição para me aturar, prometo voltar mais vezes,

Escusado será dizer que as ideias e histórias contadas pelo Professor me fazem sorrir, reflectir, sonhar,

Obrigada Júlio,
K

Manolo Heredia disse...

Também concordo que a forma como se dança nas discotecas é do tipo "cada um para si". Os nossos ancestrais (leia-se pais e avós) eram muito mais eficientes nesse tipo de socialização.
Havendo contacto físico a percepção do outro transmite muito mais informação. Estou-me a lembrar dos bailes na Sociedade Recreativa do Grémio da Lavoura, anos 60, ao som dos Sheike ou do Conjunto de João Paulo. Meninas na 1ª fila, com as mãezinhas na fila seguinte: - A menina dança, ou já tem par? Ou na Sociedade Recreativa de Odeceixe: - A menina dança ou já está desafiada?
Depois, nos 10 minutos seguintes (música a metro), era um frenesim a acertar o passo, cada um medindo o outro - a cor dos olhos, o perfume -, sob o olhar atento do "fiscal de linha".
Grandes paixões se urdiam aí!

Anónimo disse...

O vosso cérebro será capaz de decodificar a mensagem. Com algum esforço, no início, mas depois tornando-se progressivamente mais fácil...

M473M471C0 (53N54C1ON4L): 4S V3235 3U 4C0RD0 M310 M473M471C0. D31X0 70D4 4 4857R4Ç40 N47UR4L D3 L4D0 3 P0NH0-M3 4 P3N54R 3M NUM3R05. C0M0 53 F0553 UM4 P35504 5UP3R R4C10N4L. 540 5373 D1570, N0V3 D4QU1L0... QU1N23 PR45 0NZ3... 7R323N705 6R4M45 D3 PR35UNT0... M45 L060 C410 N4 R34L 3 C0M3Ç0 4 F423R V3R505 D3 4M0R C0M R1M4 0U 4T3 53M R1M4 N3NHUM4

A Menina da Lua disse...

Professor

Eu até que por mim não me importava de ser sócia do seu Glorioso:)) o problema é que seria uma sócia muito pouco afeccionada; praticamente só sei entender o que se "passa" quando é golo!...no entanto já consegui assistir ao vivo a competições da nossa Selecção durante o Mundial e até que gostei mas claro que pela festa e pela alegria!!...

A Menina da Lua disse...

"o casulo sonoro" em que cada um está na pista de dança... por vezes até é facilitador; já não é necessário ser-se convidada para dançar, como antigamente, todos podem dançar quando e como quiserem...digamos que é democrático:)))
A questão para mim põe-se mais ao nível não só da qualidade mas essencialmente da "suportabilidade" auditível da música nesses ambientes...o resto haja alegria e festa que eu adoro....

Anónimo disse...

Papeldeparede

Não é minha intenção generalizar. Mas estamos lá todos. De uma maneira ou de outra. Até pela demissão. A educação dos jovens dá para muita conversa aqui. Mas temos uma realidade, que é a dos jovens viverem um dia inteiro sem os pais. Actividdades. Para os que podem pagar. Os outros ... . E para os que tem actividades há que contar que têm horários, muitas vezes tornam-se enfadonhas e massacrantes. Porque são obrigação. Os pais descansam, porque cumpriram com os canones, mas o jovem ..... .
Isto é muito complexo.

Anónimo disse...

Papeldeparede.

Permita-me ainda o seguinte: no antigamente havia uma ditadura, mas a rua era democrática. Só tinhamos a obrigação da escola, para os que estudavam, pois muitos trabalhavam a partir dos 10 anos. Passavam de meninos/meninas a adultos sem terem tempo de ser adolescentes. Mas os outros ainda podiam gerir os seus tempos e as suas actividades de acordo com as suas vontades e disponibildades dos restantes, e muito independente das "classes" sociais. Sobretudo nas vilas pequenas tanto andava na rua o filho do juiz como o do sapateiro, rico e pobre, parvo e esperto. O único problema era quem ia para a baliza. Aí o dono da bola exercicia a sua autoridade para se esquivar. Havia quem jogasse descalço. E também havia os que se descalçavam para não diferença na qualidade de jogo. Claro que depois, em adultos, nunca mais jogaram à bola juntos. Depois foi o que se viu. Chegámos a onde estamos. E não estamos bem.

Anónimo disse...

Matemático (sensacional). as vezes acordo muito matematico. Deixo toda a distracção natutal de lado e ponho-me a pensar em numeros. Como se fosse uma pessoa super racional. São sete dias disto, nove daquilo ... Quinze pars onze ... trezentos gramas de presunto ... mas logo caio na real e começo a fazer versos de amor com rima ou até sem rima nenhuma.


Este é fácil porque é de leitura directa.

Anónimo disse...

Papeldeparede

Desculpe, mas havia antes deste meu comentário das 12:38 um anterior, que por qualquer problema falhou.
Nele dizia que não faço generalizações, pois incluo-me a a todos nos problemas. Ninguém está de fora. Todos somos culpados, nem que seja pela demissão civica, ou qualquer outra demissão.

Correcção ao meu post das 12:38, em que a frase correcta é:
E também havia os que se descalçavam para não HAVER diferença na qualidade de jogo

Anónimo disse...

Confesso que gosto imenso de o ler e que gostaria de ter tempo para participar nas discussões. Se me deixassem, reformava-me já e ficava por aqui. Infelizmente nessa altura, suponho que já não haja blogues. Teremos todos uns chips na cabeça e comunicaremos telepaticamente uns com os outros
Um abraço :-)

andorinha disse...

Boa tarde.
Chega uma pessoa aqui depois da lufa-lufa diária e depara-se com sugestões de jantares murcónicos em Praga!!!:)
Primeiro a almoçarada na Mindinha, agora Praga e aquele jazz na ponte...
Isto está bonito, está!:)))))))

Sical (11.20)
Estou novamente de acordo.:)
Os pais "depositam" os filhos na escola e muitas vezes demitem-se das suas responsabilidades enquanto educadores. Isto já foi referido pela Lena b e é um facto.
E depois há as actividades de ocupação dos tempos livres. Essas actividades acabam por se tornar elas próprias rotineiras. Com tanta ocupação:), que tempo têm os miúdos efectivamente para usufruir sem horários?
Os pais descansam pois já cumpriram a sua parte e os putos começam uma vida de correria diária mais cedo do que o desejável.

Vera_Effigies disse...

Boa tarde!
O jantar da Mindinha está de pé Andorinha :)
O Prof. JMV deu a ideia da primavera e não é mal pensado. A paisagem torna-se mais colorida e os perfumes mais activos.
Para responder ao Prof.JMV
Naqueles comentários onde ficou assente o almoço e o passeio, o Prof referiu qualquer coisa sobre o carro vassoura, mas não se preocupe não será passeio corrido. Para se saborear a paisagem tem de ser pausadamente :o)
Esses benditos "castigos" aplico-os apenas a mim. Faço-o sempre sózinha ;-)
MJ

andorinha disse...

Lusco_fusco,
Eu sei que está.:)
E também acho que a primavera é a melhor altura.
Quanto aos "castigos" ficam por tua conta...

Anónimo disse...

Sical:
Está percebido. Afinal acabámos por dizer mais ou menos o mesmo (de forma menos inspirada eu, por causa da hora...) e ainda acrescentou a questão das crianças que trabalhavam (de que eu me lembrei depois, mas já tinha o computador desligado e estava demasiado ensonada para voltar atrás). ;)
Sobre a educação dos jovens, esperemos por um post do professor que venha a propósito... ou talvez não...

Lena b