Porto está a ficar deserto
2006/12/27 09:14- Jaime Gabriel de Jesus (Agência Lusa)
Em 2011 terá apenas 200 mil habitantes. Gaia e Maia ganham habitantes
O Porto terá apenas 200 mil habitantes em 2011, descendo a um nível demográfico próximo do que tinha no advento da República (183 mil residentes em 1911), segundo uma projecção do Instituto de Ciências Sociais.
A confirmar-se este cenário, o concelho cairá do terceiro para o quarto lugar do «ranking» populacional, atrás de Sintra (que terá quase 480 mil habitantes), Lisboa (471 mil) e Gaia (321 mil).
A maior população do Porto foi atingida em 1981, com 327 mil habitantes, número que desceu para 302 mil em 1991 e para 263 mil em 2001.
Já em 2005, uma contagem inter-censitária do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou que restavam no Porto 233 mil moradores, uma perda de 11,3 por cento em apenas quatro anos.
Em números absolutos, a perda populacional do Porto está abaixo da registada em Lisboa (menos 45 mil habitantes) mas é percentualmente superior à da capital (que teve menos oito por cento).
Em contraciclo, Gaia passou, no último ano, as três centenas de milhar de residentes, consolidando o estatuto de terceiro concelho português mais povoado, que já subtraíra ao vizinho da margem Norte em 2001.
Em 2005, o INE atribuiu ao concelho da margem Sul do rio Douro uma população de 304 mil habitantes, confirmando a tendência crescente evidenciada em sucessivos censos: 1981, 226 mil moradores; 1991, 249 mil; e 2001, 289 mil.
Só um bairro de Gaia, o de Vila D¿Este, freguesia de Vilar de Andorinho, tem mais habitantes do que as quatro freguesias do centro histórico do Porto.
A população de Vila d¿Este está estimada em 17 mil habitantes, mais cinco mil do que a verificada, nos Censos de 2001, nas freguesias portuenses de Sé, S. Nicolau, Vitória e Miragaia. Estas quatro freguesias da zona histórica do Porto perderam metade da população entre 1981 e 2001, passando de 28 mil para 13 mil habitantes.
No mesmo período, o conjunto citadino - que compreende mais 11 freguesias - perdeu 64 mil habitantes, o equivalente ao que o município de Gaia ganhou no mesmo hiato (63 mil).
Mas a perda demográfica do Porto não favoreceu apenas Gaia, já que sete outros concelhos periféricos ganharam, no mesmo período, um total de 90 mil residentes.
Maia foi o município da região que maior crescimento demográfico percentual registou. Entre 2001 e 2005, a população da Maia, concelho imediatamente a Norte do Porto, cresceu 10,8 por cento, somando quase 13 mil novos moradores aos 120 mil que já possuía.
47 comentários:
...anos 60 eu via o meu Porto com eléctricos em constante movimento
...nos anos 60 eu via montes de pessoas em movimento constante pelas ruas Passos Manuel, Santa Catarina, 31 de Janeiro (subir com o cheiro tremendo a gasóleo e os fumos) até à Batalha, Aliados, Clérigos, Bonjardim, Sá da Bandeira, etc etc
...a vida pulsava de gente, de cafés, de mesas de bilhar
...subir a Rua da Fábrica, Guilherme Gomes Fernandes, José Falcão
...saudades do Café Ceuta, do Embaixador
...ver as pessoas paradas no Passeio das Cardosas; as travessias de Almeida Garrett para a Estação de S. Bento
...Cordoaria, depois do almoço na Cantina do Palácio da Justiça
...movimento, vida
...saudade
...meu Porto, meu amado Porto
As relações humanas mudaram. Eu lembro-me do que o Lobices fala, embora noutros espaços, claro. Hoje não se convive na praça pública. Hoje tem-se medo da via pública. E as pessoas refugiam-se. Para outros espaços. E por várias razões, das quais as económicas pesam muito. As pessoas estão a acantonar-se. E a tentar sobreviver.
Não só as cidades se alteraram,como também os campos.
E por falar em saudades, amigo Lobices, nem imagina as saudades que eu tenho de cheiros que já só guardo na memória. Das frutas, dos aromas do entardecer de cada uma das estações, dos cheiros intensos da existência do dia a dia.
Evoluímos, e muito, tecnologicamente, mas perdemos algo saudável no humanismo.
Bom dia.
Meus caros Júlio e Lobices,
Consigo partilhar a vossa tristeza e consternação pelo que está a acontecer ao Porto.
Embora não sendo portuense e portanto não me sentindo tão afectada por recordações, compreendo que é triste para quem ama a cidade assistir à sua gradual desertificação.
Sinal dos tempos?:(
Aquiles tem razão - as pessoas acantonaram-se, empilhadas, em dormitórios deprimentes ou luxuosos, mas que partilham esta visão paranóide dos outros que invadiu a sociedade:(.
Aquiles,
Desculpa, quando escrevi o meu comentário ainda não tinha visto o teu, por isso só me dirigi ao Júlio e ao Lobices.
Concordo com o que dizes, a vida mudou, as relações humanas mudaram...e não necessariamente para melhor.
Já agora e a talhe de foice, também eu tenho saudades da Lisboa da minha infância e adolescência.
Muito do que existia na altura no meu bairro, não existe mais:(
Embora alfacinha, sinto muito bem o que se está a passar com a Invicta. É que em Lisboa o fenómeno da desertificação da cidade já começou há mais tempo. E lamento desapontar os tripeiros / portuenses aqui do blog mas esse é um caminho irreversível. Ou, pelo menos, assim me parece pelo rumo que vejo na minha Lisboa.
Mas as novas tecnologias - que, de facto, aproximam o que está distante e afastam o que está próximo - não têm culpa nenhuma... é tudo resultado da desorganização e falta de planeamento deste país, assim como da aculturação do nosso povo por outras formas civilizacionais de vida.
Fora de lei(12.46)
Não estás a desapontar ninguém ao dizeres isso porque já toda a gente percebeu que esse caminho é irreversível e é isso que é o mais triste.
A não ser que realmente se adoptassem novas políticas a vários níveis o que também não me parece que vá acontecer:(
Até mais logo, gente:)
BOA TARDE
EU GOSTO DE SOLIDÃO E SILÊNCIO... E DE AMDAR NAS RUAS QUASE VAZIAS...
E MEU PAI SEMPRE DIZ "MUITA GENTE JUNTA NÃO SE SALVA"...
MAS CLARO, NEM 8 NEM 80...
CIDADES DE MAIS DE 500.000 HABITANTES PARA MIM... SÃO AJUNTAMENTOS... SÃO TORRES DE BABEL...
ESTÃO FORA DA MEDIDA HUMANA...
TODOS ESTARÁMOS MELHOR EM MAIS CIDADES DE DIMENSÃO MÉDIA MAS COM CONDIÇ~ES DE ATENDEREM À VIDA, SA~UDE E TRABALHO DOS SEUS HABITANTES...
E ONDE SE PUDESSE RESPIRAR, ANDAR DEVAGAR E ESTACIONAR SEM PARQUÍMETROS, ARRUMADORES E SEGUNDAS FILAS...
Boa tarde pessoal!
Boa tarde "chefinho"!
Em relação à notícia, ao título do "post" e à tristeza manifestada pelo Lobices, sinto-me dividida...
Poucos anos vivi em Angola. A cidade que me acolheu foi o Porto. Lá vivi cerca de 14 anos. O resto da infância e toda adolescência foram passadas entre Santo Ildefonso, Fontaínhas, Santa Catarina, as paralelas Formosa e Firmeza...
O Lobices falou das pessoas na rua, eu falo de brincar na rua, sem que meus pais tivessem medo. Como era fantástico, em época de santos populares, fazer a "Cascata" à porta e, junto com o resto da criançada andar na rua a pedir "um tostãozinho para o santo" (corríamos os santos todos de enfiada! Desde Stº António até ao S. Pedro :).
No início dos 90, viemos para Gaia. Comecei o desmame lento daquela cidade. A união foi mantida pela Faculdade de Ciências (aiiii Leões, Leitaria do Paço, Cordoaria…).
Actualmente, a viver/trabalhar em Gaia há outros 14 anos, dou por mim a ter saudades do que era quando para cá vim. Aquilo que eram pinhais fantásticos ainda com riachos, agora está transformada numa mistura de cimento, betão e alcatrão. Pelo meio os centros comerciais…
Posso ainda considerar-me das sortudas que consegue, das janelas, ver o Cabedelo, a Foz do Douro… Mas, épocas como as de Natal que enchem os centros comerciais, que passaram a ser o local de encontro e reunião de famílias (até ao fim-de-semana!!), fazem-me suspirar pela calma que existia quando vim para cá.
Por isso me sinto dividida. Entre a tristeza de ver o Porto cada vez mais vazio e triste, e Gaia cada vez mais cheia e triste…
A vontade de voltar para o Porto é cada vez maior.
LOBICES E PAH
NO TEMPO A QUE SE REFEREM... NESTE CASO PARTICULAR AO PORTO, CREIO QUE HAVIA "MAIS GENTE" MAS NÃO "GENTE A MAIS". HÁ UMA NUANCE...
MAS O QUE COM CERTEZA NÃO HAVIA ERA TANTOS CARROS - NÃO SOU SANTA, TAMBÉM ME ACUSO - E PRINCIPALMENTE TANTA FALTA DE TEMPO....
AFINAL AS "NOVAS FACILIDADES QUE FAZEM GANHAR TEMPO E VIDA" QUE ESTÃO EM PROMOÇÃO NOS HIPERS, DADO O DESREGRAMENTO DA SUA MULTIPLICIDADE, SUBMETEM-NOS A UMA AVALANCHE CONSUMISTA QUE MAIS NÃO DAZ DO QUE ROUBAR-NOS O TEMPO... PARA ESTARMOS CONNOSCO E OS OUTROS.
AFINAL AQUI EM LISBOA ESTAMOS APINHADOS DE GENTE... MAS ONDE FICARAM OS TEMPOS DO ENCONTRO FAMILIAR, DE AMIZADE OU DE VIZINHANÇA... COMO DIZ A PAH, POR OUTRAS PALAVRAS???
OLHA PAH... O PORTO ESTÁ A FICAR COM POUCA GENTE... QAULQUER DIA MUDAMO-NOS PARA LÁ AS DUAS !!!
DEPOIS APROVEITÁVAMOS E ÍAMOS VISITAR O LOBICES... EU AINDA NÃO O VI "AO VIVO" ALIÃS COMO A TI !
;)))
AQUILES
TAMBÉM PENSOU O MESMO QUE EU... E MUITO BELAMENTE O SOUBE EXPRESSAR.
UM ABRAÇO
:)
AUTOCORRIJO "MAIS NÃO FAZ" (3:21PM)
Aquiles,
Também eu tenho saudade desses cheiros....esta sinosite mata-me! ;))
Só conheço o Porto, o verdadeiro, desde que comecei a estudar por essas bandas (há cerca de 4 anos). Mas os meus ancestrais vaguearam muitos anos por essas ruelas...meu bisavô e o meu avô são (ou eram) da rua das Flores, e a minha avó da rua escura (vendeu por lá casacos como ninguém!)! Tenho saudades de nunca ter passeado por lá, pela mão eles..
Para os meus netos só tenho o conhecimento (diga-se empírico) das ruelas, dos atalhos pelos pinhais da Madalena e Valadares! O mito do Castro, da Bicha-Moura... :)))
PAH
Como era fantástico, em época de santos populares, fazer a "Cascata" à porta e, junto com o resto da criançada andar na rua a pedir "um tostãozinho para o santo" (corríamos os santos todos de enfiada! Desde Stº António até ao S. Pedro :).
ENTÃO OLHA... E FAZENDO UMA PONTE LISBOA-PORTO... E NA VOZ DE MARIA CLARA... AQUI FICA UM CHEIRINHO À LISBOA DESSES TEMPOS...
A CASA DE SANTO ANTÓNIO
COM VOTOS DE UM RESTO DE BOA TARDE PARA TODOS.
http://www.angelfire.com/planet/aspasia7/17_ACASADESANTOANTONIO.mp3
3:50 PM
O fogo do anjo está a dar pouco calor! ;)
EXACTAMENTE THORA... ALÉM DE O USERNAME SER CASESENSITIVE, A ANJO DE FOGO NÃO PERMITE LIGAÇÕES DIRECTAS.... ;)))
TEM DE SER COPY PASTADO ISTO NA BARRA DE ENDEREÇOS
http://www.angelfire.com/planet/aspasia7/17_ACASADESANTOANTONIO.mp3
DESTA, SE NÃO DER... VOU PEDIR PR´Ó SÃO JOÃOZINHO!!!
E OLHEM... ACHO QUE VOU AREJAR A CUCA (A MINHA CANÁRIA)... VOU PENDURAR-LHE A GAIOLA AÍ NUMA ÁRVORE DE JARDIM, COMO FAZEM OS CHINESES !!!!
;)))))
aspásia,
solta masé a passara! Coitadinha.. ;)
PRECISAMENTE...
A CUCA DIZ QUE JÁ NÃO SÃO HORAS DE EU A IR PENDURAR AÍ NALGUMA CAMELEIRA A APANHAR ESTE VENTO HÚMIDO, QUE AINDA FICA MAS É AFÓNICA...
E QUE EU ME DEITE MAIS CEDO EM VEZ DE ANDAR A PASSARINHAR PELA NET ATÉ DESORAS PARA MELEVANTAR MAIS CEDO DE MANHÃ E IR PENDURÁ-LA NO JARDIM BOTÂNICO A HORAS DECENTES...
MAS NÃO QUER SER SOLTA, QUE TEM UMA GAIOLA ALMOFADADA POR DENTRO COM BONS ESTOFOS ENVOLVENTES, AR CONDICIONADO, LEITOR DE CD, GPS, INTERNET MÓVEL E DE GRADES PRETAS METALIZADAS POR FORA...
É ALI QUE SE SENTE INSPIRADA PARA AS SUAS CANÇÕES, A MINHA QUERIDA CUCA!!!
a passara????
E Ó THORA...
COMPREENDO ESTARES PIOR DA TUA MALEITA... COM O QUE TE FARTASTE DE TOCAR OS SINOS ÀQUELE FRIO PARA A MISSA DO GALO, NÃO ADMIRA, Ó PEQUENO!!!
;))
E AGORA TENHO DE ARRUMAR O MEU QUARTO QUE ESTÁ à ESPERA DISSO HÁ 3 SEMANAS...
A ROUPARIA ESTÁ TODA ESPALHADA POR AQUI E POR ALI... PARECE OS BASTIDORES DE UM TEATRO DURANTE UMA REPRESENTAÇÃO DE "SONHO DE UMA NOITE DE INVERNO"...
;))))
EM ESPECIAL PARA O SÓ - VOCÊ É O MAL ACOMPANHADO... OU OUTRO?
EIS A LETRA DA PÁSSARA!!
Eduardo Dusek - Ave Lyrics
Ave!Que em minha casa deixasteA faceEm todos os
espelhosTuas asasManchadasE voaste entre as
cortinasTe aninhaste entre os lençóisPássara!Que em meu corpo pousasteO rostoTodo
em sorrisosPassageiraVeloz em minha vidaE
brincaste na janelaTão livrePássara!Passarás novamente!E lá fora és o vento distante de
mim!Pássara!Passarás novamente!E lá fora és o
vento distante de mim!
NÁO TENHO TEMPO PARA REFORMATAR ISTO...
ATÉ LOGUINHO A TODOS QUE ISTO NÁO É PARA SER FULL-TIME...
...Thora:
...o mito do Crasto...da Bicha Moura
Boss,
De Espanha nem bom vento nem bom casamento, mas olha o que li hoje no Periódico:
"Según Geli, "nos haremos daño" si este tema empieza a ser tratado de forma "partidista", es "llevado al extremo" y es "motivo de lucha política contra quien gobierna". A juicio de la consellera, existe una "aceptación mayoritaria" acerca de la despenalización de la eutanasia por parte de la sociedad general, un extremo que, según ha dicho, se refleja en las encuestas.
A finales del pasado mes de septiembre, el Comitè Consultiu de Bioètica de Catalunya (CCBC) emitió un informe en el que apostó por la despenalización de la eutanasia para enfermos terminales que dejen por escrito esta voluntad."
Engraçado como um mesmo orgão (Comissão de Bioética) serve na Catalunha como uma pedra de toque dentro da sociedade e em Portugal como um dique para a mesma. Traduzindo no fundo no fundo as realidades tão diferentes dos dois países. Em Portugal vive-se numa situação em que mentes envelhecidas e enquistadas de apresentam como desfavoráveis a qualquer mudança, tão no limite que já estão da sua capacidade de aceitação de novas realidades. E na Catalunha procura-se resolver num contexto evoutivo completamente diferente as questões fracturantes. Mas isto é só um exemplo "a quente" pq o li hoje. Outros se lhe poderiam seguir.
Em relação ao teu último post,
É um fenómeno típico de países de terceiro mundo, onde governos fracos e autarquias corruptas se juntam (muitas vezes de costas viradas) para um enquistar urbanístico. Por um lado rejeita-se a construção vertical e por outro não se castiga com meios legais a mera especulação urbanística. Dou como exemplo épico desta situação S. Roque da Lameira e Campanhã. Lá resolveu-se lidar com as péssimas condições dos serviços municipais com a pura rendição. Ninguém deita abaixo? Ninguém compra? Pronto, então deixa-se ficar na mesma. Sem plano nenhum de integração, de desenvolvimento, népia. Ou seja, os donos que herdam as casas (e que entretanto já vivem fora da cidade pq os preços de restaurar a casa paterna seriam elevadíssimos ou então pq é uma pequeníssima fracção de um prédio enorme, como acontece ali à volta da Antiga Biblioteca Municipal e praticamente porta-sim porta-sim na freguesia do Bonfim) depois ficam à espera de um comprador. Como esses compradores não aparecem ou se aparecem fazem-no isolados, procurando adquirir uma pequena fracção e portanto são pessoas de poucos rendimentos é óbvio que o mecanismo está em funcionamento para o Porto se tornar um deserto.
Mas repara que a própria zona da Foz teve recentemente um impulso de população, quando a aquisição de vários hectares ali à volta da Pasteleira permitiu construir aquele conjunto de torres por trás da Católica (aliás, a própria Câmara Municipal pela-se toda por n poder expulsar a malta da Pasteleira, de Lordelo do Ouro, do Bairro do Aleixo e ali por trás de Serralves, etc... etc...) contribuindo ainda mais para uma política de hostilização de habitantes. Uma geração da minha idade desses habitantes de bairros sociais, densamente povoados, tem a certeza de que não conseguirá ficar com as casas (dados as rendas irem disparar) e portanto fixa-se fora. Olha, um bom exemplo de crescimento exponencial de população mesmo na fronteira como Porto é a zona de Matosinhos Sul. E não é verdade que tenham sido apenas fábicas conserveiras envolvidas. Mais de 400 fogos particulares foram eliminados no processo. Imagina a população e a vida que aquelas torres não vão trazer ao Centro de Matosinhos. Mas isto sou eu a falar claro...
Lembro-me de há alguns anos o Doutor Júlio Machado Vaz ter dito, premonitoriamente, algo parecido com isto: “O nosso famoso nevoeiro passou-se de armas e bagagens da pele do rio para dentro das cabeças, e a humidade aspira a mais do que fazer ranger as articulações”.
O nevoeiro e a humidade poderão ser, realmente, razões para a desertificação do Porto, mas há, com certeza, outras ainda menos saudáveis.
Uma tem a ver com o decréscimo da importância económica da região verificada nos últimos anos devido ao desinvestimento público por parte do poder central e à deslocalização (como agora se diz) das sedes das grandes empresas para a capital com a consequente fuga dos agentes económicos e das cabeças mais ambiciosas. O nível económico das famílias tende, por isso, a baixar, pelo que procuram a periferia para se instalarem, onde a habitação é mais barata, criando depois os movimentos pendulares de entrada e saída da cidade com os engarrafamentos que se conhecem e a inerente perda de qualidade de vida.
Temos depois o comércio que se instalou nas grandes superfícies que cercam estrategicamente a cidade nos seus principais acessos e que provocam a morte lenta do comércio tradicional e o abandono dos seus proprietários do centro da cidade.
As Universidades, ao serem retiradas da baixa, levaram consigo milhares de estudantes que eram importantes não só para o comércio como para a vida cultural e para a movimentação não só diurna como nocturna do burgo.
O Centro Histórico viveu na década de noventa uma contradição surpreendente que foi o facto de ser classificado mundialmente ao mesmo tempo que se verificava um significativo abandono e degradação do seu edificado. A revitalização económica e cultural desse Centro, entretanto encetada, poucos resultado deu porque os seus residentes não se sentiam identificados não só com a nova arquitectura habitacional como com os novos serviços aí instalados, pelo que a degradação voltou, afastando potenciais casais jovens em início de vida. Aliás, de 1991 a 2001 as freguesias do Centro Histórico perderam mais 22% da população que as do resto da cidade, quando se pretendia precisamente o contrário.
Ainda se pode falar da rede de transportes que teve de ser sucessivamente ajustada às aberrações construtivas permitidas pelas sucessivas revisões do PDM e que tem levado as pessoas, igualmente, a refugiarem-se na periferia.
Reconheço que esta será uma pequena parcela do diagnóstico e que as soluções não são assim tão difíceis de encontrar, as decisões é que o são pois vão mexer com muitos interesses e hábitos instalados, mas eu, como nascido e crescido neste granítico burgo, dói-me vê-lo assim. É que, para além de Património da Humanidade que foi considerado, era também para cada um de nós um Património DE Humanidade, e agora nem uma nem outra coisa.
Obrigado pelo alerta Doutor. Benfiquista mas PORTUENSE acima de tudo.
THORA
Eu falava a sério dos cheiros. Se tens menos de 40 anos, não fazes a minima ideia daquilo que eu falava.
Ainda no outro dia li um artigo das américas em que se "queixavam" que Manhattan está a perder população para os bairros limítrofres. Pelos vistos calha a todos.
Apesar de ser portuense, morar no Porto e amar esta cidade não vejo mal nisso. Já dizia o velhinho Lavoisier: "... tudo se transforma".
Claro que haver parques gratuitos e lojas abertas depois das 20h também ajudaria bastante... mas isso já é outra conversa... :)
cumprimentos murcónicos
As cidades lembram, por vezes, algumas colónias de bactérias: crescem na periferia e no centro estão: mortas!
É mais fácil fazer novo de que reconstituir ou preservar o que de bonito existe.
E o Professor a contribuir...:(
Se a memória não me atraiçoa, não era Vocelência:) que em tempos pedia à Maria que voltasse prometendo um condomínio qualquer lá para os lados de Gondomar?!
Olhe que sim!...
Assim não vale queixar-se...!:)))))
Aquiles,
infelizmente sou catraio demais para saber do que estavas a falar! Mas já devias saber que sou um pateta e que estava a brincar.. ;))
Lobices,
fui à procura na net sobre a nossa querida "bicha"! :))
"Lenda da Bicha Moura
Como já foi dito, esta lenda que terá tido origem na ocupação mulçumana, é conhecida de todos os valadarenses situando-a estes por vezes no lugar do Crasto. Em tempos muito recusados um dia um mouro pediu àgua a uma mulher da região, o que lhe foi recusado. Então o mouro ameaçou transformá-la em "bicha" ficando com o nome de "bicha moura". Daí em diante a mulher passou a não ter descanso andando errante. Escondia-se atrás de um grande penedo que existia junto à estrada e dormia em algumas "covas" que também por lá se encontravam.
Durante a noite descia às casas e ouviam-na cantar. Ninguém se atrevia a passar no monte com medo de ser morto ou comido.
Um dia, um caçador mais valente aventurou-se e passou no monte disparando muitos tiros nesse lugar. Durante muitas noites seguidas os gemidos foram constantes até que desapareceram. Daí em diante nunca mais se ouviu a Bicha Moura cantar."
http://pwp.netcabo.pt/risquinhas/projecto/projecto.htm
Agora, o que aconteceu à pedra que diziam ser a sua casa (,e que muitas vezes fui, com os amigos, investigar..)?
"Porque era um povo simples, acreditava em tudo, desde almas penadas até boatos de todas as sortes e calibre. Pelos anos 50, ocorreu verdadeiro fenómeno de crendice quando muitas pessoas começaram a acorrer, em romaria, a determinado pinheiral de Valadares. Havia surgido o boato de que aí aparecia, junto a enorme penedo, certa moura encantada, apelidada, por alguns brincalhões, por bicha-moura.
Foi o suficiente para nascer o culto do sítio. Claro que a moura nunca apareceu, mas a crença era imensa. Quem não gostava da romaria, que lhe estragava a vida por causa dos muitos mirones ali atraídos, era o proprietário do terreno, que via o mato para a cama do gado constante mente pisado e estragado pela multidão. Em breve começaram a aparecer patrulhas da GNR para dispersar os "romeiros", mas, logo que os guardas debandavam, a afluência aumentava, com muitos mais basbaques procurando o fenómeno. A bicha-moura.
Perante a inoperância das autoridades, o dono do pinhal, sem paciência e de cabeça perdida, pôs uma carga de dinamite na base do calhau, pulverizando-o. Pelos vistos, matou a bicha tão bem que o povoléu deixou de aparecer, desamparando-lhe o sítio. Lá se foi a crença, e da moura nem a alma se aproveitou. Foi remédio santo."
http://jn.sapo.pt/2005/10/06/grande_porto/crencas_e_falta_causas.html
Olá Boa noite
As cidades transformam-se naturalmente; nada é estático e as cidades tambem não o são...mas a regressão populacional duma cidade é algo que em tertmos demográficos é deveras complicado e quase "contra natura"
As transformações acontecem por varias razões mas os motivos económicos, são por vezes determinantes e um deles é sem dúvida a especulação imobiliária.
Concordo tambem que os custos dos imóveis nas cidades aumentaram substancionalmente e dum modo a se tornarem incomportáveis para a media do nível de vida das populações urbanas que se vêm assim obrigadas a ir para as periferias...
Não conheço bem a realidade do Porto mas não deve fugir muito à regra deste contexto e de outros ligados à oferta de mercado de trabalho que fez deslocar provavelmente população para outras povoações...
Mas seja como for, a realidade quase nostalgica que alguns de vós aqui apontaram , já não tem retorno; culturalmente as coisas mudaram " a tradição já não é o que era..." :)
Actualmente as pessoas aspiram a privicidade e por isso se fecham em casa. Os espaços urbanos alargaram-se e os contactos de vizinhança são esporádicos. Mas com tudo isto e muito mais que isto, não quer dizer que não se tenham criado alternativas de comunicação entre as pessoas.
Os hábitos mudaram e penso que determinam um pouco as novas realidades urbanas que tem actualmente aspectos negativos mas por vezes conseguem superar em muito alguns dos antigos.
Vista por fora, curiosamente, considerava a cidade do Porto há 20 ou 30 anos, uma cidade escura e triste e actualmente quando a visito, acho-a uma cidade com muito mais luz e com recantos "lindos de morrer"...:)
Boa noite,
Devo dizer antes de mais que sou novo nestes caminhos, não só neste como noutros espaços cibernáuticos. Utilizador da "máquina" a nível profissional e pouco tempo mais sobra para navegar. Ao Murcon cheguei por admirar o Autor desde as suas primeiras experiências televisivas, e por ter lido no verão passado O Tempo dos Espelhos, aliás confesso que foi a única obra que li. Mas que ficará para sempre presente, pelo menos enquanto as minhas faculdades assim me permitirem. Foram vários os "links" que me marcaram no livro. A História é muito bonita, e são vários os detalhes marcantes e que permitem rever pontos comuns nas experiências vividas. Tenho 36 anos, por isso os tempos foram outros, mas foi com nostalgia que li e me revi na "generation gap", as várias patologias aboradadas, desde a urologia ao sistema nervoso central, coincidiam também com uma experiência que acabava de iniciar.A coincidência dos lugares, e esse foi o propósito para este post. (confesso que já é o 2º que escrevo, pois o 1º foi-se quando o tentava publicar...).Ouvi a notícia no noticiário das 13, penso que da Rádio Nova, e foi pretexto para conversa com um Amigo durante o almoço. Após a ter lido em detalhe no Murcon, resolvi partilhar o meu testemunho, pois sou "vítima" deste fenómeno. Nascido e criado na Sé e Bonfim (respectivamente), estou a residir na Maia à cerca de 7 anos. Até aos 18, vivi na Rª dos Abraços onde ainda reside a minha Mãe. Fica a 2 quarteirões da Rª Anselmo Braamcamp, onde tive explicações com a Dª Adélia (das últimas casas tipo burguês, quem desce a Rª do lado esquerdo. Tive também vários Amigos que aí moravam, mais de 1/2 dúzia seguramente. Da mesma facha etária, e nem um se mantêm por lá. Apesar de quase todos ainda manterem raízes. Em comum, das razões para a expulsão em massa, enumerava pela seguinte ordem de factores: económico/familiares e profissionais. Estes por sua vez poderia fácil/ detalhar, mas com toda a franqueza, tenho dúvidas se vou conseguir publicar, e em caso positivo, se poderia suscitar algum interesse. A mim desperta-me muito, e foi chocante constatar o fenómeno sucedido em tão pouco tempo nas 4 freguesias da zona histórica, em que a população ficou reduzida a metade. Só por epidemias ou outras catástrofes de ordem natural, ou então por guerras, é que encontro paralelo para justificar tamanha desertificação. A hora vai adiantada, apesar de estar de férias, e estou curioso quanto ao sucesso da operação que se segue...
Saudações Murcónicas e biba o P(u)orto! Sem querer ferir susceptibilidades...
Desculpem a insistência e intromissão, mas trata-se de uma vitória pessoal: Consegui publicar !!!... confesso que sem perceber bem como, mas a preseverança foi determinante. Do not give up!
Caro Migmaia
Parabéns pela sua persistência e determinação.
O amigo ainda é jovem, mas verá, quando chegar à minha idade, que essas qualidades são essenciais a tudo na vida!
Depois de um tão grande esforço que envidou no sentido da sua primeira publicação neste site, não duvido que esteja exausto, pelo que lhe desejo uma
Boa noite.
PS - seu lema é o meu também...
Never give up !!!
Always give down !!!
Caro Professor,
Gostei dos seus desejos para 2007 proferidos na Antena 1.
Saibamos nós disfrutar a vida, com os momentos que ela nos oferece.
Momentos bons tambem para si e para os seus para 2007.
São as estratégias que determinam os resultados.
A estratégia do Porto foi a de levar o centro da cidade para os C.Comerciais.
Quem é que quer viver numa cidade decrépita?
Ora, ora...
- Quem é que disse que quantidade é qualidade?
Os habitantes fugiram para as periferias? E lá como viverão? Como sardinhas em lata, quais livros amontoados em "estantes", como dizia Alçada Baptista?
A má fotografia não me parece a do exportador, mas a de quem importou os novos munícipes...
Eu tenho o olhar do "estrangeiro", do visitante ocasional, admito. Mas o Porto é sempre lindo, e o seu encanto vem disso mesmo: um misto de bulício q.b. e tranqulidade, mundo novo e mundo velho lado a lado em harmonia, como se a história fluisse sem dramas nem contradições.
Isto é o que a cidade me transmite, mas admito: eu sou de fora...
Ah, já me esquecia!
Professor: um bom ano para si, com um menu segundo a trilogia habitual: saúde, serenidade e sempre muitos, muitos afectos, sejam eles escaldantes ou temperados, superficiais ou subterrâneos...
Já não junto aos meus votos o seu regresso à TV nacional, uma vez que arranjou um canal privado de comunicação, para bem de todos nós.
Espero que floresça em 2007: já sabe que vê-lo faz muita falta e lhe devolve a equidistância.
Apenas para acrescentar uma outra justificação, estranhamente esquecida na discussão post-post do Prof. Machado Vaz. Segundo a AECCOP, em Portugal gastou-se em 2005 cerca de 7% do bolo sectorial em reabilitação & conservação urbanas. O resto, já se sabe, foi para novas construções. Na União Europeia haverá casos de países que gastaram 45% em R&C. Ora estes dados parecem-me bem mais "justificativos" da deserção que tudo o resto.
Lembrei-me agora que em Lisboa, aos poucos, e ligeiramente, o Bairro Alto e a Encosta do Castelo estão a renovar-se com boa recuperação. Quande se vai ao Castelo de S. Jorge pode-se ver algumas boas recuperações. Imagino quando o mesmo se conseguir começar a fazer na zona da Ribeira, haverá mudanças na habitabilidade do Porto.
Claro que em Lisboa e no Porto há pessoas que habitam nessas zonas degradadas e que as recuperações não contam com elas. E com os tempos que correm a situação delas só tende a piorar. E as de outros tendem a piorar mais para longe dos centros. Hoje no Público li algo sobre terrenos doados ao Salgueiros.Pode não parecer, mas está tudo ligado, encadeado.
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