Ditadoras
A minha secretária, peremptória: “A Mafalda disse para escrever sobre automóveis”.
Raio de ideia!, nunca fui crente dessa religião que exibe andores de quatro rodas e lhes discute cilindradas, sistemas de travagem, consumos médios e talento para atrair olhares femininos; considero o carro uma ferramenta, não uma paixão. (Vivo casamento afectuoso com um BMW, e no entanto espero a chuva para o lavar sem fazer bicha na bomba de Gomes da Costa.) O meu instrutor pasmava com tamanha ignorância, “você nem sequer sabe em que velocidade se arranca?” Com efeito. Passei brilhantemente o exame de condução por ele conhecer o percurso e me treinar tão bem que o faria de olhos fechados. (Se calhar, mantive-os assim..., afinal nos dois primeiros dias bati três vezes!) O meu Pai, feliz proprietário da chapa amassada – um Simca Versailles para lá da meia idade -, propôs uma estratégia de redução de danos: só arranjaríamos as amolgadelas passados seis meses sobre o início de tão trôpega carreira automobilística. Note-se que o velho chaço também tinha os seus achaques e caprichos, adorava encharcar em plena Rua de Santo António, que ao tempo se subia. Prevenido, eu tinha sempre um livro no porta-luvas para os longos minutos de espera, mas quem desesperava atrás de mim recorria ao insulto com frequência, “andas ou não?, ó, filho da... (Ora aí está, nem essa história posso contar, isto é um suplemento decente. Mas nenhum leitor acreditaria em discussão de trânsito sem vernáculo entre dois tripeiros!)
E se... Uma tarde vinha de Lisboa com os miúdos, em claro excesso de velocidade e na via da esquerda, quando um camionista fez a graça do costume – ultrapassou sem pisca. Achei que não nos safávamos, por descargo de consciência pus-me quase de pé em cima do travão. Finalmente percebi o que era isso do ABS, o carro parecia desfazer-se por baixo de nós, mas ficou a centímetros salvadores da traseira do outro. Nem tive tempo para meditar sobre os progressos ao nível da segurança automobilística. O Guilherme ordenou secamente que me pusesse a par do mastodonte, abriu a janela e cobriu-o de insultos. (Lá está, não posso repeti-los, e assim perde todo o colorido.) Por dever de solidariedade, juntei dois ou três palavrões que ele tinha esquecido e fugi, com medo de algum encontro ácido e traumático na portagem, que já não estava longe. No banco de trás, o João permanecera em silêncio. O irmão berrou-lhe o desagrado pela traição e o caçula assumiu uma postura digna perante a injustiça, exemplificando o gesto que fizera ao brutamontes (também ele indescritível, na sua magnífica rudeza...) Desisto, aparentemente só tenho histórias automobilísticas para adultos!
E depois..., não me apetece. Santa paciência, vou mesmo escrever o drama conjugal que tinha imaginado. Ele vai chegar, tresandando a álcool e perfume barato, o colarinho ruborizado. Mas não de vergonha!; de bâton. E ela acordada e à espera, o marido ensaiará explicações insultuosas para a inteligência de ambos, numa voz tão cambaleante como os seus passos. Ao perceber – no meio da bruma... - que não engana ninguém, vai tornar-se agressivo, porque a melhor defesa é o ataque. Invocará a falta de autoridade moral dela para fazer uma cena de ciúmes, atendendo ao facto de se ter atrevido a dormir com o anterior namorado, em vez de esperar por o conhecer. E a propósito de dormir propor-lhe-á uma trégua na cama, com direito a algumas habilidades que provariam o perfeito estado de conservação em que regressava a casa. Sem pronunciar palavra, ei-la porta fora e no dia seguinte a aproveitar a “sugestão” - telefonando ao outro que, por acaso assaz provável nos tempos que correm, também estará separado de mulher que azedou.
E se tentasse contentar secretária e editoras? (Irra!, tanta mulher a dirigir a minha vida.) Talvez o seu pedido e a minha novela sejam compatíveis... Já sei! Quando ele tiver terminado a sua lenga-lenga de macho virgem de pecado nocturno, ela, antes de sair em tromba e de trombas, dir-lhe-á, numa voz a abarrotar de desprezo,
- António, não te canses. P’ra mim..., vens de carrinho!
(Dar-se-ão as ditadoras por satisfeitas?)
18 comentários:
Engraçado, quando o Vacuo (é a alcunha que usa entre amigos do clube de Sado-Maso de Lisboa que frequenta, os Laranjonas Secas, por causa da potente bomba de vácuo de que é proprietário) me propôs chefiar a Casa Civil disse-lhe:
-E carros ao meu dispôr, que é que há assim mais ao meu gosto?
-Temos um BMW 740d novinho em folha...
-Bates mal Vácuo???????? Que é que eu vou fazer com duas toneladas de carro e ainda por cima diesel? Não tens nada pra cima dos 400 cavalos?
-Temos um Audi S8 que o Santana arranjou para levar as meninas a Badajoz para fazer os desmanchos...
-Tá melhor... tá melhor... e que orçamento tenho para o preparar à minha maneira?
-Orçamento? Tens motorista e combustível e revisões...
-??????????? Oh Vacuum, não támos a falar a mesma língua de certeza. o S8 é o ponto de partida, quero instalar-lhe novas condutas de admissão AC Schnitzer, quero mudar o Turbo para um Arbtz, quer dizer... o S8 é o mínimo, depois é preciso meter o carro ao meu gosto.
-E isso é coisa para custar quanto?
-Uns 100.000 euritos, que a suspensão depois tem de ser outra para aguentar a pancada do binário, e se calhar vaoms precisar de distribuição de diferencial modificada... o custume...
-Por 100.000 compro eu votos para me elegerem pró segundo mandato.
-Oh pá... não recebeste 3 milhões e tal para a campanha???? Então não te queixes. É pegar ou largar... E olha que o Maralhal é pessoal para chegarem a Belém e fazerem um desmancho daquilo tudo.
-Jamais, o Mahatma não o permitiria. Um dos sacrossantos monumentos da República.
-Pois, por falar nisso estive aqui e pensar e o Ju devia ser recompensado da trabalheira que teve em mandar todas aquelas ameaças de bomba para a campanha do Soares para depois não aparecer lá ninguém. Seteais ainda pertence ao Estado?
-Seteais??????????
-E olha que aposto que se lhe dessem a escolher era o Palácio da Pena, mas isso fica para quando precisares do nosso apoio para o Segundo Mandato. Depois digo-te a minha resposta.
Maralhenses parceiros. Encontro-me portanto actualmente em período de reflexão!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Quanto à parte final da história, em que se fala de infidelidade sinto-me frustrado por ser praticamente um plágio daquela que li no início do "Estilhaços". I want my money back, de preferência em Vinho do Porto Vintage Quinta do Noval de 1996 looooooooooooool loooooooooooooool loooooooooool loooooooooool looooooooooool loooooooooooooooooooool loooooooooooooooool looooooooooooool loooooooooooooooool
Não era bonito o marido chegar a casa ainda a cheirar à outra e encontra a amante na cama com a esposa e diversos ornamentos fálicos espalhados pela cama e pelo chão do quarto? "Que estais fazendo, mulheres do demo?" perguntaria ele. E a amante e a mulher responderiam castas em uníssono: "para sermos as duas fieis a ti e termos uma vida sexual de jeito só mesmo assim querido."
E aquela desintoxicação na Bairrada que um anónimo propôs, mais alguém alinha??? Com uma pequena (menos de 20 pessoas) orgiazita na Curia, que tal???
Mas atenção!!!!!!!!! Em relação À indemnização não sou insensível a um qq vinho (e até espumante) Reserva saído das mãos de Luís Pato ou da sua descente ; )))))))))
que coincidência ter-me lembrado deste blog quando regressava há pouco pela IC19 sem me atrever na faixa esquerda ... ele há coisas.
Boa tarde!
Se elas se dão por satisfeitas ou não, não sei. Eu cá fiquei:))))
Boa tarde.
Júlio,
Adorei! Este texto está o máximo e algumas passagens fizeram-me rir a bandeiras despregadas.:)
Primeiro as suas atribuladas andanças automobilísticas: os "olhos fechados", o bater três vezes nos dois primeiros dias ( e eu a pensar que detinha esse record...), os insultos e a "troca de galhardetes" ao volante...
Depois o drama conjugal e aqui tenho mesmo que salientar uma passagem.
"Invocará a falta de autoridade moral dela para fazer uma cena de ciúmes, atendendo ao facto de se ter atrevido a dormir com o anterior namorado, em vez de esperar por o conhecer."
Hilariante!!!!!!!!!!!!!!!
Como diz a Moon, se secretária e editoras se dão por satisfeitas ou não, não sei.
Eu dou-me, por agora.:)))))
Amanhã quero mais!:)
Noise,
Quanta imaginação, miúdo.:)
Mas gostei do teu final da história e adorava ver a cara do marido ao presenciar tal cena.:))))
Quanto à desintoxicação na Bairrada, estás a falar de quê?
Alguma coisa me escapou...
Boa tarde.
"Para cá vens de carrinho e para lá vais de camioneta." (Acho que é assim a expressão original, não é? Não a tenho ouvido muito, ultimamente.)
Se há momento no qual existem razões para duvidar muito seriamente se os ("certos", detesto generalizações) homens possuem cérebro at all, é sem dúvida este. Não são capazes de inventar umas desculpazinhas melhores? E pensam mesmo que as mulheres são tão parvas (ao contrário deles, seres supremamente inteligentes) que vão acreditar nestas desculpas esfarrapadas? Pouco imaginativos e megalómanos, é o mínimo que se pode dizer.
Conheço um que, confrontado com uma conta de hotel no bolso das calças, disse simplesmente que "não fazia ideia de como lá tinha ido parar, provavelmente algum colega tinha-a metido na sua algibeira por engano".
Outro, "apanhado" pela mulher a estacionar o carro, de manhã, perto do escritório, quando era suposto estar fora em serviço, disse que não era ele. O mesmo carro, a mesma rua, mas "era alguém muito parecido." A mulher (fingiu que) acreditou e viveram juntos mais trinta anos. Como todos sabemos, nem sempre o desfecho é o do texto.
Ainda não referi uma frase que também caracteriza muito bem "os certos" homens:"...atendendo ao facto de se ter atrevido a dormir com o anterior namorado, em vez de esperar por o conhecer." Pouco imaginativos, megalómanos e...como é que se chama a isto?
Quanto aos carros, vem-nos logo à ideia: o carro para caçar "gajas" (os patéticos "velhinhos" de descapotável), o carro extensão do pénis/ a "agressividade de condutor" que pode transformar o cidadão mais pacato num assassino (no outro dia, perto duma estação de gasolina em Benfica, durante uma discussão, um sujeito "normal" deu um tiro noutro. Uma amiga minha e o resto do prédio assistiram da janela.), o facto das mulheres geralmente terem mais respeito pelas regras de trânsito e serem menos agressivas, etc., etc., etc.
Bemmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm. O professor tem muita graça.(Ora aqui está um sorriso com direito a diastema e tudo!) LOOOL
"Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes"- Impressão Digital de António GedeÃO(pois entÃO)
inté! ;]
O Noise, por muitas voltas que dê, cai sempre na Curva de Gauss. Ora aí está: tanto quanto sei a fantasia sexual masculina mais recorrente- as duas mulheres amadas a entenderem-se na cama! ;p
;]
Elizabeth
Olá Prof. Julio Machado Vaz, o que seriam os homens sem as mulheres.................
Ai, ai havia tanto para dizer.
um beijinho
Elizabeth
Júlio,
Não percebo nada do que se está a passar com estas tecnologias.
Anda-me a perder os comentários???:)))
Antes do meu comentário ao Noise escrevi outro que não aparece.:(
Então eu ADOREI o texto e não ia dizer nada?!!!
Vou tentar de novo, ai, ai...
Algumas passagens fizeram-me rir a bandeiras despregadas.
Primeiro as suas atribuladas andanças automobilísticas. Os "olhos fechados", o bater três vezes nos dois primeiros dias ( e eu a pensar que detinha esse record...), os insultos e "trocas de galhardetes" ao volante...
Depois o drama conjugal e aqui tenho que salientar uma passagem:"Invocará a falta de autoridade moral dela para fazer uma cena de ciúmes, atendendo ao facto de se ter atrevido a dormir com o anterior namorado, em vez de esperar por o conhecer."
Hilariante!!!!!!!!!!!!!!!!
O texto está o máximo!:)
Professor, este post está a pedir que coloque aqui um texto dos meus arquivos pessoais:
O MACHO - COCTAIL A LA CARTE
Nos tempos que correm ainda há machos? O que é um macho? Para que serve, ou a quem serve? Serve-se quente ou frio? Ao som de Sinatra, do Hino Nacional, ou de música pimba? Como saber se um macho é homem e vice-versa? Que come um macho que se preze?
Estas e outras questões do género, bem necessárias ao estudo e preservação do que resta de uma espécie animal que dá pela designação de macho - latino , foram objecto de um estudo patrocinado por altos investidores da nossa indústria hoteleira que, preocupados com o que se anda por aí a servir às turistas, desenvolveram uma campanha, subsidiada por fundos comunitários, contra o macho a martelo. Como resultado desse estudo, se publica esta Carta de Machos , segundo a qual se pretende padronizar a produção nacional dos ditos, de acordo com os níveis de qualidade exigidos pela União Europeia.
O MACHO CAÇADOR
O maior dos seus atributos é a persistência, pois costuma fixar a presa, perseguindo-a por todo o lado e só se dá por satisfeito quando esta lhe cai nos braços desfeita em suspiros. Conhece-se pelo seu hábito de colecionar troféus, sendo o mais vulgar uma agenda recheada de números de telefone acompanhados de um nome feminino, que costuma exibir frequentemente aos amigos, dizendo «Deixa cá ver a quem vou telefonar hoje!», mesmo que depois acabe por ligar à mãe, a desculpar-se por se ter esquecido de pôr comida no peixe. Depois de capturada a presa, parte em nova caçada e nunca se queixa de insucesso, mesmo que algo lhe corra mal, pois a fama vale ouro, e não é raro ser esta bem maior que o proveito.
Serve-se com absinto e água tónica, bebe-se de um trago e vomita-se em seguida.
O MACHO PESCADOR
Oriundo das classes média e média - alta, é espécime que costuma frequentar sítios onde só vai gente gira e julga-se, obviamente, o mais giro de todos. Daí que não se preocupe em seleccionar a presa, limitando-se a lançar o anzol, à espera que alguma, mais desprevenida, morda a isca. Dado que todo o seu investimento se aplica a criar uma imagem exterior sedutora, pouco tempo lhe resta para observar outra coisa que não seja o próprio umbigo. Feito o contacto, prefere dar o seu número de telefone em vez de o pedir, seguro de que alguém lhe vai ligar, deixando a hipotética presa falar primeiro com o atendedor de chamadas, para se dar ares de pessoa muito ocupada e sem tempo para ninharias. Tendo conseguido o seu objectivo, esquece-se, muito simplesmente, que convidou a dita para ir passear ao Colombo no fim-de-semana seguinte.
Serve-se em shot e parte-se para outra.
(continua)
Lena b
(continuação)
Por vezes, tal como o camaleão, os indivíduos da espécie macho apresentam-se camuflados, numa gradação que varia consoante as normas de etiqueta que conseguiram assimilar durante o seu processo de aprendizagem, desde o grau zero ao mais elaborado. Resultam daí as variantes que se seguem:
O MACHO - RASCA
É o macho no seu estado mais puro. Neste grupo costuma predominar o tipo caçador mas por vezes, sem que se consiga perceber muito bem porquê, aparecem também alguns indivíduos do tipo pescador. São os que conseguem comprar algumas peças de roupa de marca e óculos de contrabando, possuem uma motorizada que faz mais barulho, fazem permanentes no cabelo e cortes à jogador de futebol e, assim equipados, julgam-se o máximo.
Encontra-se nos meios rurais e nas zonas suburbanas das grandes cidades, trabalha no campo, na construção civil ou ao volante de um camião, faz ruídos quando pressente alguma mulher por perto, desde que não seja a sua, exibe uma musculação oleada a suor onde se pode ler: «Amor de Mãe» por baixo de uma sereia se grandes seios. Os exemplares mais antigos costumam exibir, na tatuagem, mensagens codificadas, como «Guiné 69 praça 25», cuja interpretação escapa ao entendimento do cidadão comum. Gosta de desportos violentos e está sempre pronto a dar provas da sua virilidade, por receio de que o confundam com o homo sensibilis, vulgo: maricas. Destas provas, constam: beber cerveja e vinho de péssima qualidade, arrotar ruidosamente, cuspir para o chão, coçar as partes íntimas em público e debitar frases de conteúdo canibalesco face a todas as mulheres que lhe passem à frente. Não há muito a dizer do seu universo de conhecimentos, pois ele é demasiado restrito.
Os exemplares mais jovens gostam de ir, aos fins-de-semana, a cavalo numa Famel-Zundap com a panela de escape rota até às discotecas ou esplanadas à beira-mar, sendo, por isso, também conhecidos como «Tarzans de Praia», à espera de encontrarem alguma garota pronta a dar umas baldas a troco de umas cervejas ou outras coisas igualmente acessíveis. Para isso, costumam tomar banho, investir num perfume de qualquer loja dos trezentos e, chegados ao local de caça, exibem os seus dotes empurrando-se uns aos outros, gritando impropérios, uivando, grunhindo, até que alguém repare na sua presença.
Os exemplares mais velhos são normalmente casados, batem na mulher, não deixam as filhas ir à escola por causa das «ordinarices» que lá poderão aprender, frequentam com grande orgulho os bares de luz vermelha ou as prostitutas de beira de estrada, consoante o pé-de-meia, e só vêem televisão quando há futebol.
Este tipo de macho - latino costuma sofrer, na maioria dos casos, de ejaculação precoce, mas não se preocupa com isso por considerar tal facto como absolutamente normal, o que só pode ser compreendido dada a total ausência de conhecimentos relativamente ao funcionamento da líbido no sexo oposto.
Serve-se com um copo de três ao som do último CD da Ágata
O MACHO PINGA-AMOR
Mais conhecido por Melga, este exemplar, embora não pertencendo ao tipo rasca, também não costuma andar camuflado, mas pensa que sim, pois esquece-se facilmente de renovar o discurso e não é raro vermo-lo a debitar as mesmas frases com presas diferentes, entrando em contradições que o desmascaram. Daí podermos concluir, sem receio de errar, que o seu QI é bastante baixo. Qual personagens de novela mexicana, costumam «apaixonar-se perdidamente» à primeira vista, com uma frequência que varia entre cinco minutos, no mínimo, a uma semana no máximo.
Julgando-se bons caçadores, alguns exemplares mais dotados costumam oferecer poemas ridículos ou flores e normalmente preferem fazer declarações embaraçosas em público, ameaçando que se matam se não conseguirem um beijo.
Se a vítima é uma velha conhecida, é usual vermo-los a utilizar um discurso do tipo: «Desde pequenino que sonho contigo» ou «Não consigo deixar de pensar em ti desde aquele verão de 1978, em que ajudaste a minha irmã a trocar-me as fraldas.». Estes exemplares costumam animar qualquer festa chata, dado o carácter hilariante do seu discurso. São normalmente inofensivos para qualquer pessoa que tenha um mínimo de bom senso e depressa se transformam, eles próprios, de caçadores em presas, caso deparem com alguma rapariga que necessite desesperadamente de casar, por estar à espera de um filho de outro que nunca mais apareceu. Em todo o caso, se não se precisar deles, o melhor é não se lhes dar corda aos devaneios, pois corre-se o risco de tê-los sempre à perna a estragar qualquer arranjinho. Não há notícia de que algum pescador tenha actuado desta forma, uma vez que tal comportamento seria totalmente contrário aos seus princípios.
Serve-se com um purgante bem forte, ao som do Iglesias, de preferência dobrado em Português do Brasil.
(continua)
Lena b
(continuação)
O MACHO - CAMALEÃO JOVEM
Normalmente do tipo caçador, este tipo de macho costuma ter quase sempre uma namorada de longa data, com quem nunca aparece nas rondas aos bares com os amigos. Nestes casos, o segredo é a base da camuflagem, pois não vá o diabo tecê-las e o noivado ficar desfeito. Tal como um perfeito camaleão, durante o dia esta espécie comporta-se de forma irrepreensível, de acordo com as normas mais tradicionais: não fuma drogas, não bebe álcool, cumpre horários e não olha para nenhuma outra mulher se a namorada estiver por perto, mas à noite com amigos de ocasião, ou em férias longe dela, entrega-se alegremente a todos os prazeres que estiverem à mão. «Curtir» é a palavra que mais aprecia nessas ocasiões e não é raro conhecer melhor a anatomia das amigas que a da própria namorada, pois gosta da ideia de casar com uma rapariga virgem, desde que isso não o obrigue a sê-lo.
Como justificação da sua vida dupla, caso alguém consiga desmascará-lo, usa o argumento de estar a morrer de tédio, mas não consegue mudar porque não gosta de fazer sofrer ninguém ou não consegue tomar decisões.
Fisicamente, há-os de todos os tipos: atlético, de longos cabelos apanhados em rabo-de-cavalo ou rapados, com barba a crescer ou em forma de pêra, rechonchudos com ar de bebé a precisar de colo, estilo freak ou beto, intelectual ou roqueiro, sendo, por isso, difícil, à primeira vista, identificá-los, pois nos primeiros contactos até disfarçam razoavelmente bem. Há, contudo, um pormenor que os trai: em caso algum estes exemplares convidam a presa para ir ouvir a sua colecção de CDs, para uma festa de aniversário, para conhecer os amigos mais chegados e, quando dão algum número te telefone, nunca é o de casa.
Serve-se com um charro e depois vai-se a uma rave para esquecer tudo.
O MACHO CAMALEÃO - ADULTO
Tal como o nome indica, é o Camaleão - Jovem na sua versão de casado.
Este macho normalmente tece os maiores elogios às qualidades domésticas da sua consorte. Costuma exibir, a partir dos trinta, um ventre proeminente a atestar os bons temperos da dita, a quem se refere, invariavelmente, com os epítetos de "santa" ou "fada do lar" e com quem vai alegremente, em fato de treino, nos passeios dominicais ao hipermercado ou ao jardim zoológico, na companhia dos petizes, cada vez mais rechonchudos e barulhentos. Cumprido esse dever conjugal, é para os amigalhaços do futebol, ou da caça, que vão a maior parte das atenções e é com estes que partilha inconfidências acerca da filha do vizinho, que "está cada vez mais boazona", ou da chefe lá do escritório "que precisa de levar umas".
Por vezes as escapadelas passam das palavras aos actos. Quando isso acontece, nem aos amigos confessam o deslize, não vá o diabo tecê-las. Há, no entanto, alguns sinais que os denunciam, quando estão em fase de "pular a cerca". O primeiro costuma ser a preocupação com a aparência: pintam o cabelo (os que ainda o têm), começam a frequentar o ginásio, voltam às calças de ganga (no caso de a dita ter a idade da filha mais velha), mudam de carro... O segundo são os afazeres intermináveis que os retêm, fora de horas, em deslocações de trabalho para parte incerta, o telemóvel sempre "sem bateria"... O terceiro, por uma grande falta de imaginação, são os ramos de flores ou os chocolates com que presenteiam a legítima, depois de umas "cambalhotas" num motel de segunda com a outra. No caso das consortes se darem ao trabalho de investigar os cabelos louros na roupa ou o perfume barato e, em prantos, descobrirem a tramóia, este tipo de macho, tem sempre o velho argumento na ponta da língua: "A culpa é tua! Depois que os putos nasceram nunca mais quiseste nada, engordaste, deixaste crescer o bigode, já não te pintas, etc, etc," esquecendo-se invariavelmente das cenas de ciúmes que fazia de cada vez que a mulher mudava de penteado ou comprava um vestido novo. Enfim...
Serve-se com uma Super-Bock e umas gambazitas fritas hiper - gordurosas, numa esplanada qualquer com vista para a via-rápida.
(continua)
Lena b
(continuação)
O MACHO - TURBO
É a versão pós-moderna do dandy romântico. Encontra-se habitualmente nos meios mais badalados do jet-set, acompanhado de louras espampanantes que dão pelos nomes de Xixinha, Tátá, Mimi, Lili, Chuchu e aí por diante. Pertence ao grupo dos profissionais de sucesso, com um pé na política e conta bancária no estrangeiro. A sua credibilidade como conquistador encontra-se , normalmente, associada ao número de aparições públicas e de reportagens indiscretas na imprensa cor-de-rosa. Como bons machos que se prezem, encaram cada uma dessas aparições como uma verdadeira vernissage. Uma vez que toda a gente sabe que, nessas ocasiões, não é conveniente repetir o fato, os ditos mudam de fato e de loura. Como são gente de bem, casam e descasam num ápice, qual estrelas de cinema em maré de neura. As ditas ficam contentes com a choruda mesada que hão-de receber e eles poderão candidatar-se a mais um cargo para a pagar. Daqui não vai mal nenhum ao mundo pois fica tudo em família, ou não fossem todos filhos de boas famílias.
Hoje em dia, é mais comum encontrar-se, neste meio, os machos do tipo pescador, pois é aqui que o peixe mais abunda e se atira em cardume mal vê despontar uma isca fresquinha acabada de chegar, quase imberbe, às lides sociais da mais alta estirpe.
Como equipamentos mais usuais de pesca, costumam estes espécimes usar fatos italianos, apartamentos em Miraflores ou na Lapa (condomínio fechado, piscina, sauna, etc,etc.), iates, cartões de crédito Gold, um bom par de raquetes de ténis ou apetrechos de golf q.b. e advogados à medida das necessidades. Convém salientar que estes espécimes recusam qualquer camuflagem que não seja assinada por um estilista de haute couture e confeccionada com materiais nobres, daí que se assumam mais como leopardos do que como camaleões. Trata-se de um exemplar de macho-latino para paladares refinados, que é conveniente deixar marinar em champanhe francês antes de ser servido.
Serve-se com whisky de 12 anos no mínimo. Na altura do repasto, é conveniente usar aquele vestido em lamé preto e o colar de brilhantes da avó, assumir um ar blasé de quem já viu tudo, e pronunciar, a cada cinco segundos, um «sei lá» anasalado acompanhado de um meneio de mão.
O CAVALHEIRO
À primeira vista não parece, mas é também macho - latino e dos mais bem sucedidos caçadores, embora por cá esteja em vias de extinção por preferir frequentar ambientes mais requintados no estrangeiro. Trata-se de um exemplar cuja escolarização foi feita num colégio inglês, daí apresentar-se como um perfeito liberal nas conversas em público, profundo conhecedor do universo e das necessidades femininas, complacente no que diz respeito às frivolidades mais inúteis e até encorajador das mesmas, pois é da opinião de que se deve manter a presa ocupada com as coisas mais comezinhas, para que ela não mate a cabecinha a pensar em coisas sérias. Apresenta-se, normalmente com um visual clássico, insiste sempre em pagar a conta do restaurante, nunca se senta antes dela, abre-lhe a porta do carro para ela entrar ou sair, não vá partir as unhas no exercício, oferece flores, bombons ou perfumes caros, chamando-a de «querida» e prometendo viagens inesquecíveis a locais exóticos para «um dia destes», sem que alguma vez se dirija a uma agência para as marcar.
Habitualmente culto, conhece de cor todas as versões do D. Juan, e interpreta-as magistralmente, discorrendo, por vezes, sobre os escândalos alheios com uma moralidade de fazer corar um franciscano, sendo habitualmente neste pormenor que se trai, quando depara com uma vítima inteligente, capaz de perceber a contradição. Uma vez conquistada a presa, inicia logo outra caçada, qual personagem de Hemingway em pleno safari. Se a conta bancária o permite, chega a manter vários relacionamentos em simultâneo.
Deste tipo, existem por cá exemplares casados ou viúvos, quase todos de meia idade, daí que sejam também muito conhecidos como grandes consumidores de Viagra. Os exemplares casados contam, por vezes, com a conivência passiva de suas consortes que, sentindo-se libertas das obrigações íntimas, fazem de conta que não reparam no perfume estranho que eles trazem da rua ou na marca de bâton no colarinho, desde que eles continuem a transportá-las ao cabeleireiro ou aos chás com as amigas.
Serve-se com Tequilla e observa-se o efeito. Convém ter à mão um telefone para chamar o 112 em caso de paragem cardíaca.
O MACHO - APRENDIZ
Este espécime costuma rondar os outros machos, para os quais olha com veneração absoluta, à espera de aprender algo que lhe convenha, com que poderá impressionar as coleguinhas da escola, no caso de a frequentar. Como ainda não conseguiu encontrar o seu tipo, vai ensaiando um pouco de tudo, desde a versão rasca até à camaleão- jovem, mas é de tal modo inseguro que só consegue fazê-lo quando a concentração de álcool no sangue lhe permite aproximar-se da presa sem que as pernas lhe tremam ou a voz lhe saia aos solavancos. Identifica-se facilmente pelas borbulhas ou pela barba ainda mal despontada, pelo discurso atabalhoado, ora arrogante, ora submisso e pela frequência com que se deixa enredar nos delírios mais disparatados.
É também frequente vermo-lo a debitar discursos anti-machistas aprendidos em casa, com a mãe (se esta for das "modernas"), ou na escola, com as professoras, a par de outras tiradas anti-xenófobas, anti-racistas, anti-sprays, anti-tudo o que não seja fixe, pois aspiram ao estatuto de rapazes modernos e de mente arejada, no caso das caçadas darem para o torto e terem de aprender a ser homens a sério, em vez de machos, (o que seria um grande desperdício).
A indefinição que caracteriza estes espécimes projecta-se também no objecto das suas investidas, ou seja, não é raro que eles confundam tanto o terreno em que pisam como se confundam em relação à presa que desejam, desperdiçando, assim, munições em alvos que não têm a mínima hipótese de caçar, daí que, de vez em quando, apanhem pancada de outros machos mais velhos, ou de algumas presas sem paciência para «putos».
Não se serve a ninguém e espera-se que amadureça.
Elaborada esta Carta, os organizadores do estudo referido na introdução fazem votos para que ela contribua, de facto, para melhorar a qualidade da oferta nacional deste tipo de produtos, para bem do nosso turismo e recuperação da imagem da nossa terra aos olhos dos nossos parceiros comunitários. Qualquer falsificação será, doravante, punida com severas multas.
CNDMLG
( Comité Nacional de Defesa do Macho Latino Genuíno )
Lena b ;););););)
Looooooooooooooooooooool
Depois de tantos comentários, eu só acrescento esta gargalhada de boa disposição ao texto do Professor. Magnífico :)
passo a trascrever um texto que recebi para que compreenda que se deve ouvir sempre as opiniões femeninas:
SOMOS PERFEITAS!!!
Não ficamos carecas...
Temos um dia internacional...
Sentar de pernas fechadas não dói...
Sempre sabemos que o filho é nosso...
Temos prioridade em botes salva-vidas...
Não pagamos a conta. No máximo rachamos...
A programação da TV é 90% voltada para nós...
Somos os primeiros reféns a serem libertados...
A idade não atrapalha nosso desempenho sexual...
Podemos ir para o trabalho de bermudas e sandálias...
Se somos traídas, somos vítimas; se traímos, eles são cornos...
Podemos dormir com uma amiga sem sermos chamadas de lésbicas...
Somos capazes de prestar atenção em várias coisas ao mesmo tempo...
Mulher de embaixador é embaixatriz; marido de embaixadora ñ é nada...
Não nos desesperamos em frente a um campo de futebol com 1 bola e 22
mulheres...
Somos monogâmicas (embora precisemos testar vários homens para achar um que
valha a pena)...
Mulher de presidente é Primeira-Dama; marido de presidenta é um zero à
esquerda, mesmo que ele seja de direita...
Nosso cérebro dá conta do mesmo serviço, mesmo com 4 biliões de neurónios
menos, ou seja, nossos neurónios são mais eficientes.
Se resolvemos exercer profissões predominantemente masculinas, somos
pioneiras', mas se um homem resolve exercer uma profissão tipicamente
feminina, é bicha...
E por último: Fazemos tudo o que um homem faz, e de .SALTO ALTO!
SOMOS UM SHOW!!!!!!!
:):):)
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