segunda-feira, maio 02, 2005
O caso das molduras escandalizadas
Nós, as fotografias que ladeiam a ontem citada pelo Murcon, vimos por este meio alertar o maralhal para a injustiça cometida. De acordo, era o Dia da Mãe; de acordo, falar nela e não no Pai seria de um mau gosto a roçar a obscenidade. Mas..., e nós? Mostramos acaso gente menos importante? O que seria do pobre diabo sem os filhos, que não se limitaram a gostar dele em fins de semana decretados por tribunal e aparências ou férias breves para algarvio à cata de camones endinheiradas ver? A ingratidão brada aos céus! Os rapazes acompanharam-no em apartamentos minúsculos e húmidos, depois em T2 caótico, ultimamente no refúgio pouco excitante de Cantelães. Aturaram-lhe manias e melancolias, hotéis e capitéis, zangas e tangas; mundos e fundos. À custa deles permaneceu à tona. E nem uma palavra? Pois que se dane! Quando entrar pela janela da varanda uma rabanada de vento amargo, cairemos em estilhaços, recusando-lhe os braços. Puxaremos para cima um cobertor de pó, é o que não falta! E cobertas e às escuras, veremos como sobrevive só...
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57 comentários:
Professor e têm razão as outras fotos para ficarem escandalizadas ;)
Afinal, uma familia é o pai, a mãe e os filhotes. Nada mais coeso deveria existir. Não deveria ser permitido, fosse por que motivo fosse, que este triângulo fosse quebrado...aliás acho que deveria ser o único triângulo permitido.
Eu estou com elas ;)
Maite
Pois eu, adoraria cair-lhe nos braços... :)
...amigo Júlio:
...nos meus "escritos" imperam as figuras do meu avô paterno, do meu avô materno e do meu pai
...pouco "falei" das mulheres que foram as minhas do meu sangue
...pouco falo "dela" e falo muito "dele"
...porque o amei e ainda o trago no coração desde que partiu em 86
...e porque "ela" vive aqui ao meu lado neste túmulo vivo onde apenas se ouve o grito do silêncio
...por isso, restam-nos as fotos e as recordações
...porque abraços dos "mortos" tive muitos e não dos vivos
...fizeste bem em falar do Par mesmo em dia dela
abraço
tenho as molduras vazias... indecisa que ando de como lá os guardo.
São de madeira escura as minhas molduras e o vidro é sem reflexo, escuro é as vezes como os vejo, a cores como os desejo... os meus retratos não cabem ainda lá... lá não sei como os guardo.
Nem sei o que dizer. Só sei que tinha que dizer alguma coisa.Mas alguma coisa simples, que qd se lê este blog é melhor não escrever demais e pecar pr excesso...
Só queria agradecer-lhe por estes pedaços mto de bom exercício para o cérebro, quanto mais não seja, pela forma divertida e "light" com que escreve coisas sérias. Podemos ler e ler, mais e mais, que não engorda. ;o)
Mto e mto obrigada,
Marta
Até já as molduras se escandalizam! Onde iremos parar?:)
Mas sentiram-se magoadas e em parte é compreensível.
Então os rapazes fizeram tanto por si e é assim que lhes "paga"?
Nem uma referência aos catraios?
Inadmissível numa pessoa que se preza de ser grata e afectuosa.:)))
... se eles medraram bem, que medo é esse, o de que te abandonem quando mais precisares dos seus braços e abraços, hã, Julio?
JMV
Touché
Aqui sim, aqui está o cerne do sexo e do amor. No Pai.
O Pai da Mãe, O Pai dos Filhos,
O Pai dos Netos.
O Pai,
presente ou fugitivo,
instruído ou marginal,
positivo ou negativo,
que figura intrigante e desprezada,
vulnerável e maltratada,
imponente e sedutor,
a quem a Mãe se confiou
Touché
Esoen&Ester
Ó Prof.,
Desculpe lá mas, este 'post' é uma 'tanga' ou tudo isso é crise? ;)
Com toda a certeza, são todas essas vivências que referiu, que ainda o fazem mais apreciado, pelos seus filhos, enquanto pai. Depois há só o resto e que é, apenas, o que nos faz a todos rumar aqui diariamente.
Cheer up Prof. mate. ;)
Este fim-de-semana, a RTP, em mais um zig-zag, omitiu os "Dificeis Amores". O problema é que nem toda a gente tem cabo, e a gente sente-lhe a falta
O Professor desculpará,mas...que post é este hoje??Bem sei que é 2ª feira...
Até amanhã
Pois eu "era" seco, que nem os figos, racional, austero. Não valorizava os dias, por serem disto ou aquilo, fazia por estar lá, sempre que podia ou nem sempre. Mas ela morreu, assim, de repente, sem despedidas, do coração, fulminante e eu chorei, como há 42 anos não fazia, arrependido, por não lhe mandar um beijo, e um postal, e uma flor, e outras coisas ridículas, no "dia da mãe".
Caríssimo Professor Machado Vaz, delicio-me ouvi-lo quase diária- mente, desde o primeiro dia...via-o na TV sempre que possível e agora também leio os seus escritos, para além dos seus livros.
Nas minhas molduras estão esbatidas imagens de um já lá vai, que teimo manter presente, embora não tenha problemas de lutos patológicos. Só o da minha saudade...
Bem haja pelos conhecimentos e pelos ensinamentos que transmite. Adorei!
♥♥♥♥♥
Ana_LI
Uma aluna que tem esta ternura de memória como a sua, mereceu ter este Professor:)
Prof.,
Perdoe-me a liberdade de usurpar a sua casa para transcrever um pequeno texto meu, que tive a felicidade de ver publicado há uns anos atrás, num jornal brasileiro, em homenagem ao meu falecido pai. Hoje, é em sua homenagem também.
A MAGIA DA ESCRITA
O fim do dia era sempre uma festa. Sentado num banco de madeira, espreitando por entre as ornamentações de ferro forjado da varanda, eu estava no meu posto aguardando, pacientemente, ver meu pai dobrar a esquina em direcção a casa.
O tempo, passava-o admirando os barcos que navegavam no rio, a ponte, a outra margem, os telhados dos prédios vizinhos. Fazia aviões de papel que, junto com meus sonhos, voavam indolentes, ao sabor dos ventos. Num largo sobranceiro,meu irmão mais velho jogava a bola com os colegas da escola e, a algazarra que faziam, era a minha única música de fundo.
Eventualmente. minha mãe vinha me espreitar e, com aquele sorriso cândido que iluminava toda a sua beleza, fazia-me um carinho.
De repente, meu pai, calmamente, com o jornal debaixo do braço, correspondia aos cumprimentos dos vizinhos que por ele passavam. Meu irmão, largava da bola e corria para beijá-lo e eu, na minha janela, levantava-me feliz, chamando-o:
- Pai!!!!!...
Ele olhava para cima, acenava e sorria. Desconfio mesmo que essa minha alegria espontânea lhe enchia a alma de orgulho e lhe enchia o peito de felicidade. Chegado a casa, após pendurar-me ao seu pescoço e lhe dar um beijo, já nem prestava atenção nos carinhos trocados por meus pais. Pegava no jornal e voltava para o meu posto de observação, agora de devoção, embevecido pelos negrões da primeira página, as fotos, os quadradinhos, o próprio cheiro da tinta do dia.
Dessa forma, ía juntando as letras e formando as palavras que, apenas alguns anos mais tarde, começaria a entender.
Quando me colocavam a sacramental questão:
- O que queres ser quando fores crescido, meu menino?
Eu disparava muito compenetrado:
- Eu quero ser jornalista!... E, numa demonstração dos meus dotes, rabiscava palavras hieroglíficas em papel de embrulho.
Meu pai, por vezes, segurando minha mão minúscula, fazia a caneta bailar e, como por magia, as letras apareciam diante dos meus olhos, manchando indelevelmente a alvura da página-palco desse bailado denominado: Escrita.
Quando anos mais tarde, sentei-me pela primeira vez nos bancos da escola, ants mesmo de ter aprendido a arte de dar um pontapé na bola ou de montar uma bicicleta, eu já sabia ler e escrever de forma rudimentar. E, mais importante que isso, esse bichinho das letras, dos jornais, dos livros, já germinava em mim desde sempre.
(Em memória de meu pai que me ensinou as primeiras letras e incutiu em mim, o gosto pela leitura)
Poeta:)
Linda a «Magia da Escrita»...
Corrigenda:
Onde se lê:
Ele olhava para cima, acenava e sorria. Desconfio mesmo que essa minha alegria espontânea lhe enchia a alma de orgulho e lhe enchia o peito de felicidade.
leia-se:
Ele olhava para cima, acenava e sorria. Desconfio mesmo que essa minha alegria espontânea lhe enchia a alma de orgulho e lhe inchava o peito de felicidade.
Boa noite a todos.
ISto das molduras tem muito que se lhe diga...
O servidor tem 3 níveis de prioridade e vai mudando livremente as fotos nos ecrans pendurados pelas paredes. Quadros, fotos, até desenhos. Procura-os na net ou importa-os da "my pictures". Estranhamente, tem a mania de colocar a foto do meu pai antes ou depois de um quadro de um pintor flamengo, o que sempre me deixou intrigado pois o algoritmo, juram todos os programadores, é aleatório. Mas não deixo de reparar que a seguir a um desenho de Paula Rego vem quase sempre um quadro de Silva Resende. E pelo meio fotos de conhecidos, mais ou menos presentes, mais ou menos sorridentes, fotos que vão desde a qualidade ausente de um relógio camara da Casio a uma máquina digital Canon com 16 Mega Pixel... e assim se vão passando as molduras.
Quando ao Boss(TM) ; )))))))))
Ao ler a CNN hoje patrão, deparei com uma notícia que me deixou absorto por muito tempo. andámos nós aqui a falar de liberdade para vivermos a nossa vidinha e um tipo faz uma coisa destas...
ANDERSON, Indiana (AP) -- A man who took up bicycling after bypass surgery gave him a second chance at life died of a heart attack the day after completing a 2,400-mile, cross-country trip.
Broc Bebout, a 57-year-old retired engineer, died Thursday on the van drive back to his home in Anderson, about 25 miles northeast of Indianapolis, one day after completing the bicycle ride from Carlsbad, California, to Brunswick, Georgia.
http://edition.cnn.com/2005/HEALTH/conditions/05/02/last.ride.ap/index.html
Resto da notícia
Fiquei estupefacto. Não impedindo o exercício físico o bypass supostamente limita-o. E este tipo... Meu Deus... uma viagem destas... e chega ao fim... e morre no dia a seguir... para q?... para provar o q? Não sei, e a própria esposa sempre se questionou. Penso naquele momento fundador do Renascimento, em que Paollo de la sera subiu a um monte para disfrutar apenas da vista a partir dele. Hoje este dispôr do tempo que temos vai mais longe, estámos muito mais desvinculados de formatos sociais (ai como tenho a certeza que usarias aqui a palavra "chavetas" Éme(TM) ) e portanto além de subir o monte podemos atirar-nos dele cá abaixo ;)))) é um pensamento assustador mas altamente responsabilizador também ; )
Peter
Lys,
Obrigado. Já tem uns anos mas, achei apropriado para o papá JMV. ;)
Até amanhã. Resto de boa noite para si.
Portocroft, o teu pai, esteja num dos muitos céus que possam existir ou no relicário dos teus neurónios, certamente que rejubilou pelo menos um pouco com tão apurado poema ; )))))))))))))
Abraço amigo
Peter
Pela 8ª vez recebi este malfadado questionário... e desta vez resolvi passar a "batata quente" aqui para o nosso Deus Toto-poderoso (vulgo Éme(TM)). É a vida... cada um tem o que merece... as minhas respostas estão na caixa de comentários do último post do
NOISEFORMIND
Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro querias ser?
Já alguma vez ficaste apanhadinho(a) por uma personagem de ficção?
Qual o último livro que compraste?
Que livro estás a ler?
Que livros (cinco) levarias para uma ilha deserta?
A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
Bom dia maralhal iluminado.
Molduras... e fotos na carteira...
Eu acho que o meu pai nunca trocou a foto que trazia na carteira.
Sabia-lhe bem recordar-me naquela fase querida e suportável.
...um dia feliz para todos!...
...sem molduras
...em aberto
Repararam que o Lobices anda muito triste? Acho que precisa do apoio desta equipa para lhe darmos um bocadinho de mimo, não acham? Ele merece.
Um abraço da Lys ao Quim:)
Lys,
Temos que lhe arranjar uma loba para ele fazer Lobices. ;))))))
Oi Maralhal,
Não ando com fotos na carteira, nem tenho molduras dos falecidos (e muito amados) penduradas pela casa, não consigo... Não que a dor seja maior, não que sinta a reprovação dos seus olhares pelos meus actos mais ou menos correctos. Mas prefiro mantê-los na lembrança e nos sonhos, pois sonho variadíssimas vezes com as pessoas que já partiram e pelas quais tinha tanto amor e carrego tanta saudade no peito que prefiro isso mesmo, a saudade de uma imagem que às vezes se torna difusa, à presença inerte de uma foto...
E dos vivos prefiro o abraço apertado ao sorriso estático da foto!
Et bien, molduras só mesmo as cópias a cores do Van Gogh e do Klimt, umas fotos mais engraçadas daqui ou dali ou algumas tentativas de pintura..... p'ros amigos se rirem!
(grande texto PortoCroft!)
Professor, obrigada por ser tão natural e vizinho!
Abraço
Katz,
Tive medo de que, ao cortar uns parágrafos, perdesse todo o sentido. ;))))))))))
Obrigado. ;)
...to lys at 11.39 AM:
...são os dias cinzentos que me fazem assim...
...dá uma saltada ao meu blog e "lê" o meu post de hoje (ele faz parte de uma trilogia sobre a loucura)...
:)*
Hó gentes O Dia do Pai é quando?
Devo ter percebido mal li o post como uma ode aos filhos e n ao Pai, mas ...
E se todo o maralhar entende k é ao Pai ...então espere sentadito e pode ser que os seus filhos lhe dêm uma almofada do benfica para abafar essas crises existenciais ... o bom, óptimo, excelente, ideal mesmo era darem-lhe imensas almofadas ao longo do ano à medida que se fossem, e se fosse o Prof, estragando esquecendo-se, assim, da do Dia do Pai.
Mantenhas
To Quim: É verdade que a falta de Sol traz melancolia. O nosso Noise é que sabe tudo de serotonina...
(Logo à noite já vou ver o seu blog. Prometo!)
Mas não faça caso de quem disse que escreve muito! Escreva, escreva, escreva! Se acharem muito que não leiam, não é?
Grande abraço:)
To Luís: Concordo... Mas aí vc é Mestre. Confio no seu bom senso para que a ajuda resulte:)
Andorinha querida, por onde voa?
BJS.
Lys,
E ele precisa? Porque pensa que acabaram os galináceos no grande Porto? ;)))))
hummm .... acho que o Júlio sente para com eles uma dívida de gratidão (a dele) mal saldada ... com um misto de ansiedade e receio de ser relegado para o esquecimento pois, se Pai é Pai, Mãe é mesmo Mãe, e contra isso ...
Bom dia a todos! (ALE)
Lys,
Vou voando por aí...:)
Com as aulas é complicado chegar aqui antes desta hora.:(
Mas nunca me esqueço do maralhal.
E como dizes, também acho que o Lobices anda um bocado tristonho e a precisar do nosso apoio.
Também eu lhe deixo aqui um abraço.
Portocroft,
Grande texto, realmente.
Cada dia que passa estás melhor.
Mas que não te inche muito o ego, está bem, senão não te faço mais elogios.:)
Portocroft,
Estás sempre a implcar com o Lobices e ele não te liga nenhuma, já reparaste?
Porque será?
Onde se lê implcar, leia-se implicar, como é óbvio.
A culpa é do teclado, já lá dizia o Portocroft.:)
Andorinha,
Hoje estou 'cranky'. Só tenho feito miséria por aí. ;)
Tu é que serias a pessoa ideal para dares um apoio moral ao lobices. Até estás perto... (Pronto Lys, cumpri o que me pediu e, com o máximo de rigor e bom senso) ;)
Obrigado por teres gostado do texto.
Andorinha,
Não posso responder com propriedade. O homem já está na fossa. ;)
...eheheh
...a falta dos galináceos aqui no Porto é culpa minha?
...eheheh
...tá bem, prontus atão... hoje tou em modus faciente niente
...ó Luis, as lobitas onde estão?
:):):)
Lobices,
Não faço ideia. A minha especialidade são as piriquitas. ;)
Portocroft,
Eu a pessoa ideal para dar apoio ao Lobices?
Eu sei lá se ele gosta de andorinhas...
...andorinhas?
...olha no que o PortoCroft me meteu: primeiro diz que eu estou a precisar de uma loba; depois diz que já não há galináceos no Porto, agora "amanda-me" prás andorinhas!... tá bem tá...
...mas fica descansado, ó Luís...eu deixo-te as piriquitas LOL
:)
Lobices,
Não nos esclareceste - preferes lobas, galináceos, andorinhas, em que ficamos afinal?:)
Andorinha,
Experimenta arrastar-lha a asa para veres se não acabas em andorinha de cabidela. ;)
Lobices,
Acho sensato. Imagino que já não terias pedalada para elas. ;)
Portocroft,
Não respondo a provocações.:))))))
E que sabes tu da pedalada do Lobices?
Não queres é concorrência, não é?
Nada disso, Andorinha.;)
As uvas que ele come...para mim estão verdes. ;)
a parte da solidão é-m particularmente cara!como será isso possivel tendo 21 anos?
...permitam-me partilhar convosco a minha "moldura" mais bonita:
...
"...Tinha eu treze anos quando ele acamou com uma dessas doenças que não perdoam, mas que ele aceitou, consciente da sua pequenez neste mundo, consciente que aquela era a vontade de alguém mais forte que toda a força desta vida, para aquém e para além desta que temos. Durante dois anos houve momentos de dor e houve momentos de paz; nesses momentos mais felizes de paz, lá ia eu de mão dada com ele passear um pouco para aliviar a carga psicológica que ele sabia carregar e aguentar firme como uma rocha; pequeno de estatura, e magro para além da magreza da própria doença, ele dava aqueles passos com a firmeza de um homem que nada tinha a temer e tudo tinha a enfrentar; ele dava aqueles passos com a firmeza de um homem que não tem medo de nada, nem daquilo que ele já sabia ter de enfrentar um dia.
Os seus passos pequenos, mas firmes, faziam compasso com os meus, ainda pequenos também pela idade ainda de criança, mas sentia-me como que o guardião daquele homem que naqueles momentos estava à minha responsabilidade e isso dava-me uma grande felicidade por estar a seu lado; também eu tinha consciência da doença que o minava pouco a pouco, também eu tinha forças para enfrentar aquela estranha harmonia de paz que nos rodeava aos dois; uma paz diferente, um bem estar compartilhado e interligado pelas duas mãos que se davam uma na outra, como dois cúmplices conscientes do "crime" que estavam a cometer a bem da harmonia e da paz de espírito, pois era carinho o que nos rodeava e envolvia.
Mas o dia da partida (ou da chegada como ele dizia às vezes por brincadeira) estava próximo. E quando esse dia surgiu ele teve consciência desse facto e soube-o enfrentar com uma dignidade que ainda hoje respeito e sempre respeitarei.
Deitado na sua cama e eu sentado a seus pés ele me olhou: os seus lábios já muito finos, mas firmes, disseram: "Vai chamar a tua Avó". Corri pelo corredor e fui chamar a minha Avó que, como sempre (toda a sua vida), estava agarrada aos tachos no fogão de lenha; na cozinha pairava um cheirinho a sopa quente (Meu Deus, que saudades !).
-"Bó.. o vô chamou-a."Ela largou o fogão, limpou as mãos ao seu avental e dirigiu-se para o quarto onde ele estava; segui-a logo. Ela entrou no quarto e eu fiquei à porta vendo.
Naquele momento, todo ele se transformou: na sua frente estava a sua Maria de todo o sempre, a Maria que sempre o acompanhou e que lhe deu as quatro filhas que ele tanto amou, a Maria que tantas vezes ele arreliou e ela perdoou. Na ombreira da porta eu assisti: a sua face pálida ganhou cor, os seus olhos pequeninos brilharam de plena felicidade e a sua boca se abriu com um enorme sorriso ( o maior e mais bonito sorriso de felicidade que eu já vi em toda a minha vida !) e disse: " Maria, senta-te aqui."Minha Avó se sentou à cabeceira da cama e ele com o mesmo sorriso disse já numa voz mais apagada: -" Abraça-me."... Minha Avó o entrelaçou e eu vi os seus olhos pequeninos fecharem-se para todo o sempre, acompanhado com aquele sorriso lindo de felicidade !..."
Não há blogue suficientemente extenso para colocar todas as personagens que ao longo da nossa vida vão engrossando a categoria das "fotografias potencialmente escandalizáveis"... mas no fundo elas sabem bem isso, o nosso olhar denuncia-o.
Fique bem.
E porque hoje deu-me para oferecer um poema aos amigos da blogosfera...
Dr., a si trago-lho de bandeja.
Dia a dia a agonia dos meus dias:
Era um romance tremendo,
Dilacerado de piedade e de ironias.
Todas as noites escrevia nele
Quando voltava lá de baixo, lá do mundo,
Enquanto, na parede, um Cristo imbele
Caía moribundo.
Um brandão quase verde dava luz...
Parecia que alguém ía morrer.
E eu, realmente, em frente da agonia de Jesus,
Agonizava há horas e horas, a escrever,
Tudo que a gente sente, ou pensa, e não confessa,
Tudo que só na escuridão a gente sonha,
E escrevia, com suor frio na cabeça,
E lágrimas no rosto incendiado de vergonha!
Assim eu descobrira o meio de exercer,
Continuando entre vós sem me desmascarar,
Todas as faculdades do meu ser:
Infâmias e virtudes que não ouso revelar...
Tinha um diário aonde ía escrevendo,
Dia a dia a agonia dos meus dias:
Era um romance tremendo,
Dilacerado de piedade e de ironias.
Todas as noites escrevia nele.
E não, não sei quem o escreveu mas gosto dele e espero que o Dr. Murcon também goste.
As palavras de que valem quando os silêncios nos falam?
E há tanto sorriso mudo
que vence o tempo
E nos diz tudo
Woelfin
Da Woelfin especialmente para o Júlio e o Lobices
Éme,
M de Murcon,
M de Mestre:
"O caso das molduras HOMENAGEADAS"
é de perto o seu + belo "post" até
à data,
e de longe o - "light" de todos os
tempos...
Assina
Uma moldura esvoaçante
...o Lobices agradece (na sua quota parte) as palavras da Woelfin
scissorhands:
Creio que a parte da solidão é a que mais toca à maior parte das pessoas. Eu também estou na casa dos vinte, e a solidão é o que mais me assusta. De resto, escrever ou ler blogs é também, para muita gente, uma forma de a contornar.
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