Ao Nuno Júdice
O poema acabado é uma insónia
Uma tribo de verbos uma crina
Que se estende no cheiro desta amónia
E queima em cada verso uma narina
Do poeta metido entre o desgosto
que as palavras trazem todas na algibeira.
Difícil é tapar o próprio rosto
Sem meter os dedos na fogueira
Acesa pela harpa dos sentidos
Esticados como um leque de varetas
Que tornam os poetas pervertidos
E fazem a loucura dos poetas.
Joaquim Pessoa.
31 comentários:
Prof.,
Esta foi a 'Escolha de Sofia'? ;)
Quanto ao poema inominado do J.Pessoa... Pois...Ainda as masturbações. ;))
Encontrei por acaso neste blog uma pessoa que gosta do JPessoa!!! Devemos ser tão poucos que proponho um grupo de auto-ajuda :D (Livra...!!)
Mas o que este poema de JPessoa me faz lembrar ñ é nos seus versos mas numa pequena história do Kafka sobre as parábolas que se casa na pereição com este poema. Nesse texto, Kafka diz-nos que as parábolas são metáforas dos nossos próprios medos, da nossa pequenez e não um símbolo do inantigível. Mais uma vez, meus amigos, é o Homem que confunde tudo. A nossa própria parábola somos nós mesmos. Lindo! Sou incapaz de dissertar sobre isso porque seria um melga e não tenho espaço!!!
Conhecem? O texto do Kafka nos deveria fazer pensar enquanto pessoas, que por sermos psis, temos a pretensão realizada de que conhecemos o verdade conhecida e desconhecida.
Ah, e diria como o grande Ruy Belo disse 'entre nós e mundo havia vizinhança / e tudo era possível, era só querer'.
Bonito, hem?
Diogo Lamela, aspirante a psicólogo
Ps. Desculpem ter-me infiltrado neste seu/nosso blog. Até
...agora não posso participar
...mais logo
:)
Meu caro Diogo,
Apareça quando quiser, sobretudo com Ruy Belo debaixo do braço!:). Júlio.
Caro professor:
Em grande forma! Esta noite, como sempre, vi os «Difíceis Amores». Vale a pena! Belo exercício de inteligência, de liberdade, de tolerância... Três seres maravilhosos que nos ajudam a ver mais longe, a sair desta «triste tristeza lusitana». Parabéns e desculpe o desabafo, aqui neste seu «cantinho».
E agora, já que falou de Ruy Belo, um poeminha para começar bem o dia...
Manuel Sequeira
******************
E TUDO ERA POSSÍVEL
Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de Maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer
(Ruy Belo - «Homem de Palavras»
A mim parece-me que isto já não é a masturbação. É o pós-coito. É a loucura da obra acabada. É isso.
:)
Gostei da expressão «loucura da obra acabada». Porque não chamar-lhe sublimação?
M. Seq.
E, afinal, que perversões, as dos poetas?
Há-os platónicos, outros nem tanto, outros assim assim, outros mesmo nada.
Outros, fingidos, outros sentidos, outros mais sofridos, Ah, serão, todos, prevertidos? Que diabo, ser-se pervertido ... É-se normal, ou anormal ...? seja, é-se reprimido, por isso, joga-se, atiram-se, nas palavras os nús, sentidos.
:)
"UMA PARÁBOLA
Buda exprimiu numa sutra esta parábola:
Um homem que ia a atravessar um campo, deparou com um tigre. Fugiu, com o tigre sempre a persegui-lo. Chegando junto de um precipício, agarrou-se à raiz de uma videira brava e, passando a beira do precipício, nela se suspendeu. Acima dele, o tigre cheirava-o. Tremendo, o homem olhou para baixo onde, lá no fundo, outro tigre esperava que ele caísse para o devorar. Só a videira o sustinha.
Dois ratos, um branco e outro preto, começaram, fibra a fibra a roer a raiz da videira. O homem viu um apetitoso morango perto dele. Agarrando a videira com uma das mãos, colheu o morango com a outra. Como era doce o seu sabor!"
recebi agora um mail curioso que quero partilhar convosco. Se já tiverem visto, ignorem, por favor.
Reza assim:
Poema para analisar:
"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer"
Análise de uma aluna de 16 anos da Escola C+S da Rinchoa:
Ah, Camões
Se vivesses hoje em dia
Tomavas uns anti-piréticos
Uns quantos analgésicos
E Xanax ou Prozac para a depressão
Compravas um computador
Consultavas a página do Murcon
E descobririas
Que essas dores que sentias
Esses calores que te abrasavam
Essas mudanças de humor repentinas
Esses desatinos sem nexo
Não eram feridas de amor
Mas somente falta de sexo.
É lindo, não acham?
Do "desgosto que as palavras trazem todas na algibeira" sabem já as crianças, porque passam o tempo a falar consigo mesmas aprendendo por sucessivas evocações a conquistar mantras que poderão ser usadas em qualquer altura.
Do "Difícil (que) é tapar o próprio rosto - Sem meter os dedos na fogueira" sabem os adultos (que em crianças, aprenderam as palavras numa sequência de práticas - aparentemente estúpidas no início - tornadas em breve numa mera declamação de etiquetas).
Se houvesse como fugir a esse estigma humano de colocar etiquetas, onde "as palavras são protótipos ou antepassados dos conceitos", seria através da poesia.
...não trago Ruy Belo debaixo do braço...
...trago Ruy belo no coração...
...
...um poema dele:
...
Uma forma de me despedir
...
Há o mar há a mulher
quer um quer outro me chegam em acessíveis baías
abertas talvez no adro amplo das tardes dos domingos
Oiço chamar mas não de uma forma qualquer
chamar mas de uma certa maneira
talvez um apelo ou uma presença ou um sofrimento
Ora eu que no fundo
apesar das muitas palavras vindas nas muitas páginas dos dicionários
bem vistas as coisas disponho somente de duas palavras
desde a primeira manhã do mundo
para nomear só duas coisas
apenas preciso de as atribuir
Não sei se gosto mais do mar
se gosto mais da mulher
Sei que gosto do mar sei que gosto da mulher
e quando digo o mar a mulher
não digo mar ou mulher só por dizer
Ao dizer o mar a mulher
há penso eu um certo tom na minha voz sinto um certo travo na boca
que mostram que mais do que palavras usadas para falar
dizer como eu digo a mulher o mar
mar mulher assim ditos
são uma maneira talvez de gostar
e a consciência de que se gosta
e um prazer em o dizer
um gosto afinal em gostar
Enfim o mar a mulher
pode num dos casos ser a/mar a mulher
mera forma talvez de uniformizar o artigo
definido do singular
Há ondas no mar
o mar rebenta em ondas espraiadas nos compridos cabelos da mulher
que ela faz ondular melhor de tarde em tarde
no mês de setembro nas marés vivas
O melhor da mulher talvez o olhar
é para mim o mar da mulher
e à mulher que um só dia encontro na vida
de passagem um simples momento num sítio qualquer
talvez a muitos quilómetros do mar
mas mulher que não mais consigo esquecer
mesmo imerso na dor ou submerso em cuidados
a essa mulher qualquer
eu chamo mulher do mar
Nos fins de setembro quando eu partir
de uma cidade seja ela qual for
quando eu pressentir que alguém morre
que alguma coisa fica para sempre nos dias
e ou nuns olhos ou numa água
num pouco de água ou em muita água
onda do mar lágrima ou brilho do olhar
eu recear seriamente vir-me a submergir
direi alto ou baixo conforme puder
com a boca toda ou já a custar-me a engolir
as palavras mar ou mulher
com certo vagar e cada vez mais devagar
mulher mar
depois quase já só a pensar
o mar a mulher
Não sei mas será
talvez mais que outra coisa qualquer
uma forma de me despedir
Ruy Belo
In “Toda a Terra”
...
Bem, eu sei que este post vai ser muito concorrido, afinal apela apenas aos recursos dos participantes (fazer copy e depois paste) mas acho que mais vale colocar uma coisa minha, sendo pior ao menos sei o motivo pq foi escrita e que sentido faz colocá-la aqui ;))))))))))
O texto parou,
O curso já não se mexe,
Estremeço eu, onde estou?
Amanhã o escrito passa a lido,
No congresso exposto, logo esquecido,
Onde está o poema que me prometeram, musas calhadas em outras rimas?
De que me vale ter bateria no dito, se o cérebro cansado não dá à mão andamento,
Fico-me por ter este poema,
prisioneiro deste pensamento.
Peter Maia
17/05/2005 14:41
Um dia quis ser poeta porque achei que era mais fácil falar dos medos não falando deles, ou denunciar não denunciando, ou chorar não chorando, enfim, fazer tudo do uma maneira menos crua, menos despida, com palavrs mais escolhidas e rimas simples. Um dia os meus versos deixaram de rimar, e as linhas outrora curtas tornavam-se longas, cada vez mais longas até se tornarem textos. Concluí que não tinha "jeito", que as musas ou o que quer que fosse não me sopravam ao ouvido. Hoje limito-me a masturbar-me com as palavras dos outros a quem as musas, pelos vistos, ainda sopram e nos papéis de quem as palavras parecem fazer todo o sentido!
... divagações...
Não sei por que raio não apareceu o meu nome no post anterior...
"Difícil é tapar o próprio rosto
Sem meter os dedos na fogueira"
Difícil, difícil, é não seguir os impulsos que a sociedade refreia...
Olá, Morcões!
chego do trekking pelos Picos da
Europa,aguento 2 h. a ler os posts + comments e fico tranquila.
a) Não houve derramamento de sangue
b) Ninguém sentiu a minha falta
c) O Mundo continua redondo e a girar
d) Chiça, tive saudades vossas
e) Giro, o primeiro poema (coerente) do Peter
Um abraço, Circe ainda longe de casa :)))))
Ts.
Doidos.
Bom dia Amigos! Poesia, bela poesia!
Boa tarde, Júlio e maralhal!
Concordo com o chouriço - é o pós-coito. É a loucura da obra acabada.
to Circe,
a) Aparentemente não.
b) Isso não sabes...
c) É a mais pura verdade
d) Ainda bem...
e) Sou da mesma opinião
Um beijinho e bom regresso.:)
"À l'autonne de sa vie, Nicolai a perdu toutes ses illusions et partage avec Katia les mêmes ténèbres et les mêmes silences, sans pouvoir lui tendre la main..."
Anton Tchekhov
Crazyjo, pá, obrigado pelo reparo. Mas é como digo: recebi aquilo por mail e não sei a origem. Não consigo chegar a essa data que indicas, uma vez que não vejo onde é que aquilo tem os arquivos.
Mas o seu a seu dono: se é do www.eroticidades.blogspot.com, então foi uma coisa bem inventada pelo(s) autor(es) (ou autoras) desse belogue.
Sem qualquer intenção maliciosa.
EXCLUSIVO
O Incunábolo – Português com o Cagueiro em Chamas
“Limpei o cu a um livro do Cunhal e queimei-o todo. Agora exijo uma indemnização e uma reforma antecipada igual à dos políticos” – Cidadão Incunábolo.
“A maioria dos diversos tipos de papel utilizados nos livros depois do 25 de Abril de 1974 é muito ácido” – Quitéria Barbuda in “Os Negócios da Revolução”, Revista “Espírito”, 2005.
Mais Informações sobre a Associação dos Incunábolos Portugueses (A.I.P.) em
www.riapa.pt.to
Professor
Li este poema várias vezes e não consegui, em nenhuma delas, estabelecer qualquer empatia com ele (o que é raro). Apenas me parece um "amontoado" de palavras para encher a folha (do poeta)... mas é claro esta é a minha humilde opinião.
...to Maité at 7.43 pm:
...
...Isso pode acontecer a qualquer um de nós; não sentir empatia com o que quer que seja
...mas há que atentar num pormenor: não podemos julgar a obra de um prédio por causa de uma porta mal fechada
...talvez se procurares a obra completa de Joaquim Pessoa possas, eventualmente, mudar de opinião
...:) abraço
Ó caralho! Ó caralho!
Quem abateu estas aves?
Quem é que sabe? quem é
que inventou a pasmaceira?
Que puta de bebedeira
é esta que em nós se vem
já desde o ventre da mãe
e que tem a nossa idade?
Ó caralho! Ó caralho!
Isto de a gente sorrir
com os dentes cariados
esta coisa de gritar
sem ter nada na goela
faz-nos abrir a janela.
Faz doer a solidão.
Faz das tripas coração.
Ó caralho! Ó caralho!
Porque não vem o diabo
dizer que somos um povo
de heróicos analfabetos?
Na cama fazemos netos
porque os filhos não são nossos
são produtos do acaso
desde o sangue até aos ossos.
Ó caralho! Ó caralho!
Um homem mede-se aos palmos
se não há outra medida
e põe-se o dedo na ferida
se o dedo lá for preciso.
Não temos que ter juízo
o que é urgente é ser louco
quer se seja muito ou pouco.
Ó caralho! Ó caralho!
Porque é que os poemas dizem
o que os poetas não querem?
Porque é que as palavras ferem
como facas aguçadas
cravadas por toda a parte?
Porque é que se diz que a arte
é para certas camadas?
Ó caralho! Ó caralho!
Estes fatos por medida
que vestimos ao domingo
tiram-nos dias de vida
fazem guardar-nos segredos
e tornam-nos tão cruéis
que para comprar anéis
vendemos os próprios dedos.
Ó caralho! Ó caralho!
Falta mudar tanta coisa.
Falta mudar isto tudo!
Ser-se cego surdo e mudo
entre gente sem cabeça
não é desgraça completa.
É como ser-se poeta
sem que a poesia aconteça.
Ó caralho! Ó caralho!
Nunca ninguém diz o nome
do silêncio que nos mata
e andamos mortos de fome
(mesmo os que trazem gravata)
com um nó junto à garganta.
O mal é que a gente canta
quando nos põem a pata.
Ó caralho! Ó caralho!
O melhor era fingir
que não é nada connosco.
O melhor era dizer
que nunca mais há remédio
para a sífilis. Para o tédio.
Para o ócio e a pobreza.
Era melhor. Concerteza.
Ó caralho! Ó caralho!
Tudo são contas antigas.
Tudo são palavras velhas.
Faz-se um telhado sem telhas
para que chova lá dentro
e afogam-se os moribundos
dentro do guarda-vestidos
entre vaias e gemidos.
Ó caralho! Ó caralho!
Há gente que não faz nada
nem sequer coçar as pernas.
Há gente que não se importa
de viver feita aos bocados
com uma alma tão morta
que os mortos berram à porta
dos vivos que estão calados.
Ó caralho! Ó caralho!
Já é tempo de aprender
quanto custa a vida inteira
a comer e a beber
e a viver dessa maneira.
Já é tempo de dizer
que a fome tem outro nome.
Que viver já é ter fome.
Ó caralho! Ó caralho!
Ó caralho!
Poema temperamental, Joaquim Pessoa
Só para dizer que continuo por aqui. A acompanhar as suas palavras em silencio.
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