sexta-feira, março 09, 2007

E depois há quem diga que o duplo-padrão acabou...

Elas sentem culpa por «roubar» tempo à família

2007/03/09 09:09

Eles não. Os estudantes-trabalhadores só «ajudam» em casa.
As estudantes-trabalhadoras sentem culpa pelo tempo que «roubam» à família ao conciliarem o emprego, o estudo e as actividades domésticas, indicam os resultados de uma investigação a apresentar hoje na Universidade do Porto.
Eva Temudo, investigadora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, disse à agência Lusa que as autoras do estudo concluíram que homens e mulheres trabalhadores-estudantes enfrentam constrangimentos idênticos por parte das faculdades e das entidades empregadoras, mas na família há diferenças acentuadas entre os dois sexos.
O estudo envolveu inquéritos às 1.080 alunas da Universidade do Porto que no ano lectivo 2005/2006 tiveram estatuto de estudante-trabalhador, universo dominado maioritariamente (52 por cento) por mulheres entre os 25 e 30 anos.
As investigadoras Mónica Oliveira e Eva Temudo concluíram que as inquiridas continuam a interiorizar o papel tradicional de companheiras, mães e dona de casa, considerando «inerentes ao seu sexo» as tarefas domésticas e familiares.
Os papéis de trabalhadora e de estudante «são sentidos pela família e por elas próprias como que usurpadores» dessa função tradicional, mas o mesmo já não acontece quando é o homem trabalhador a decidir voltar a estudar.
«Ele» tem apoio da mulher e da família
«Elas referem mesmo que um homem estudante-trabalhador terá naturalmente um maior apoio da mulher e família, podendo dedicar-se ao trabalho e aos estudos sem esse sentimento de culpa de estar a tirar tempo à família», salientam as investigadoras.
As autoras consideram que os valores interiorizados pelas mulheres resultam em «situações de grande violência simbólica», dada a «constante referência» à culpa por roubar tempo à família «e nunca ao tempo que roubam a elas próprias, e de que elas até parecem não consciencializar a falta».
Divisão de tarefas pouco equilibrada: eles «ajudam»
Os resultados do estudo apontam para uma «divisão de tarefas mulher/homem muito pouco equilibrada entre estudantes-trabalhadoras e seus companheiros», dado que, «apesar da pouca disponibilidade de tempo, é a elas que cabe a gestão da vida doméstica», enquanto eles «ajudam».
As investigadoras concluíram que «a organização actual das faculdades não está adequada às necessidades dos alunos estudantes-trabalhadores», o que constitui um paradoxo, «numa altura em que se preconiza a aprendizagem ao longo da vida e a constante actualização de conhecimentos».
As autoras defendem alterações nos horários de funcionamento de secretarias, bibliotecas, reprografias, cantinas e atendimento aos alunos, bem como a organização de estruturas de apoio, como creches, jardins-de-infância e ATL.
«Má vontade dos empregadores»
Em relação ao trabalho, as investigadoras concluíram que há «má vontade dos empregadores» na aplicação do estatuto de trabalhador-estudante, que seria ultrapassada se, por exemplo, houvesse incentivos fiscais à aceitação das pessoas que pretendem conciliar o emprego e os estudos.
Eva Temudo referiu que «os cursos que tiram nem sempre estão relacionados com a área em que trabalham», pelo que, nesses casos, os empregadores nem sequer antevêem benefícios futuros pelo facto de terem um trabalhador que está a estudar.
«A maior parte das estudantes-trabalhadoras não está interessada na progressão na carreira, mas sim na realização de um sonho ou na mudança de profissão», salientou a investigadora.

29 comentários:

addiragram disse...

Nada como a investigação para o Mostrar e Demonstrar! É preciso agora, concretizar medidas que tornem útil o que se investiga.

a disse...

Está intrínseco na sociedade e mentalidades de cada um. As mulheres estão encarregues das tarefas domésticas, os homens ajudam nos trabalhos pesados...

Laurentina disse...

a disse...
Está intrínseco na sociedade e mentalidades de cada um. As mulheres estão encarregues das tarefas domésticas, os homens ajudam nos trabalhos pesados...


Tretas ...digo eu .Quais trabalhos domésticos , quais trabalhos pesados...tudo deverá ser feito por todos independentemente do sexo ... repito , isto digo eu !!!
Bom fim de semana e beijão grande

a disse...

eu n disse que achava bem... é apenas o que acontece. Ainda que lá em casa, muitas vezes, por as mulheres existirem em maioria, somos nós que tb fazemos o trabalho pesado. Mas a verdade é que a minha mãe me chateia muito mais a mim do que ao meu irmão, no que diz respeito às tarefas domésticas.

Fora-de-Lei disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Fora-de-Lei disse...

Sinceramente, estou-me maribando se são as raparigas ou se são os rapazes que - a nível familiar - pagam uma factura maior pelo facto de serem trabalhadores-estudantes. O que me preocupa verdadeiramente é que continue a haver tão «má vontade dos empregadores na aplicação do estatuto de trabalhador-estudante» e que «os empregadores nem sequer antevejam benefícios futuros pelo facto de terem ao seu serviço um trabalhador que está a estudar».

Este tipo de empregadores (designação politicamente correcta mas que nada tem a ver com a maioria dos patrões deste país) é aquele que - mal sabe que um trabalhador seu anda a estudar - fica logo a pensar que “... qualquer dia lá vou ter que levar com este artista a pedir-me um aumento de salário.”

Infelizmente, parece que continua a ser válido o velho ditado que dizia que com putas e patrões não deve haver contemplações... ;-)

Fora-de-Lei disse...

a 12:41 PM

Mas isso é porque tu és uma desmazelada... ;-)

thorazine disse...

Aliás, esta questão dá espaço para discriminação (ou "ções")! lol

A minha mãe às deixa escapar o desejo que ela tinha em ter filhas...em vez de dois marmanjos que não mexem o cu para nada, que se sentam no sofá com os pés em cima da mesa e deixam garrafas de cerveja vazias pela casa fora.. ;)))

lobices disse...

...divisão de tarefas?????
...
...deixem-me contar-vos um caso, por sinal, o meu:
...por volta dos finais dos anos 70, por razões de ordem profissional da mãe dos meus filhos, eu fiquei só com eles (um rapaz e uma rapariga - 7, 8 anos idades) durante cerca de 2 anos
...nesse período de tempo eu fui pai, mãe, dono de casa e trabalhador por conta de outrém
...levantar de manhã, preparar o pequeno almoço, vesti-los, levá-los às escolas, ir para o emprego, vir fazer o almoço, dar-lhes de comer, levá-los de novo, ir trabalhar de novo, vir para casa, fazer o jantar, dar-lhes de comer, dar-lhes banho, deitá-los, etc
...nos "intervalos" lavar a louça, lavar a roupa, passar a ferro, limpar a casa, e tudo o mais que vai aparecendo sem contarmos
...não houve tempo para descanso
...deitar tarde, cansado e voltar a levantar cedo para fazer tudo de novo
...sei, pois, dar o valor à Mulher que para além de Trabalhadora, é Mãe e Dona de Casa
...não somos, na verdade, o sexo forte
...é por isso e por muitas outras coisas que, como sabéis, admiro e "venero" a Mulher
...se todos passassem um pouco o que eu passei, esses que se dizem o sexo forte, saberiam dar o devido valor a quem o merece: a Mulher!...

andorinha disse...

Boa noite.

Um dos últimos bastiões do machismo que precisa de ser derrubado.
Só me sentirei feliz:), quando o padrão for ouvir-se dizer que as mulheres ajudam nas lides domésticas.
Poucos homens conheço que façam alguma coisa em casa:(

Quim, tu és a excepção que confirma a regra:)

maria estrela disse...

Para além da mudança de mentalidades as questões pragmáticas também necessitam de alterações.
Por exemplo, ao nível do ensino secundário os novos cursos (módulos capitalizáveis) funcionam das 19 às 23 horas e 45 minutos, todos os dias.
Não há ser humano que aguente um dia de trabalho e este horário.
Os patrões não flexibilizam horários.
Os trabalhadores/alunos chegam à escola directamente dos seus locais de trabalho, comendo qualquer coisa nos bares das escolas.
Por exemplo na escola onde sou professora (e tudo o mais)servia-se sopa no bar à noite para confortar os alunos. Agora não. O Ministério da Educação diz que é proibido...
Estes alunos são uns heróis, assíduos e interessados.
Um ânimo para os professores porque de facto querem aprender.

CêTê disse...

maria estrela, anime-se parece que a sopinha vai voltar... mas desta x servida por voluntários aos professores! ;P

O respeito mútuo passa exactamente pela "troca" de papéis. Quando o que os outros fazem nos parece de menor importância e feito com a maior falicidade nada como um estágio a exercer essas mesmas funções.

Lobices, vão chover "contratações". LOL


bfds

andorinha disse...

Recebi há pouco por e-mail e vem mesmo a propósito:)

Primeira noite de um casal recém-casado.

Quando vão para a cama, diz ela:
- "Amor, ainda não te disse mas... eu sou muito inexperiente, não sei fazer nada de nada!"
- "Não te preocupes, querida, eu explico-te; tiras a roupa, deitas-te na cama com as pernas abertas, e eu trato do resto."

E ela, muito meiguinha:

- "Não, amorzinho... f.... eu sei...!!! O que eu não sei é lavar, passar a ferro, cozinhar..."

Aqui está a mulher da segunda metade do século XXI:))))))

AQUILES disse...

Há algo a acrescentar ao post. Não é só a má vontade do empregador. Ainda pior é a animosidade dos colegas, mais dolorosa e mesmo mais agressiva e traiçoeira.

Fora-de-Lei disse...

andorinha 7:41 PM

"Poucos homens conheço que façam alguma coisa em casa."

E porque será que todos os casais que eu conheço em que era o homem que "alinhava que nem um herói" estão todos divorciados ?!

Fora-de-Lei disse...

AQUILES 10:22 PM

Ora nem mais. Tudo resultado do mesmo "caldo cultural"...

andorinha disse...

Fora de lei (10.25)

Sei lá, não tenho resposta para tudo:)))

Aquiles (10.22)
Sem dúvida! Tal como diz o FDL, tudo resultado do mesmo "caldo cultural"...

AQUILES disse...

Caldo cultural? E que tal uma olhadela o meu post de hoje?

Fora-de-Lei disse...

AQUILES 10:47 PM

Caldo cultural, fio condutor, etc, etc.

qrestina disse...

Dois pontos fundamentais:

- Não existem, na minha opinião, incentivos concretos à conciliação entre o emprego quotidiano e a formação contínua. Seja do lado do empregador que, caso beneficie com a formação do empregado (estou a deixar de fora situações que a pessoa decide estudar uma ciência por gosto mas que não acrescenta valor à sua carreira de forma visível), teria todos os motivos para facilitar/incentivar a sua formação. E, como já foi dito, muitas vezes parece que é a empresa que nos faz um favor em permitir que saiamos um pouco mais cedo para as aulas... Já para não falar dos comentários invejosos só porque se tirou o dia para ir fazer um exame. Quando é definido por lei e já acessível a TODOS os que estudem.

Para além disso, o próprio Estado não incentiva a formação. Senão vejamos: num agregado familiar composto por dois individuos adultos que estejam a estudar o plafond de reembolso de IRS de despesas com educação é o mesmo comparando com indíviduos solteiros. Ou seja, se formos casados recebemos metade do reembolso comparativamente a sermos soleiros. Onde está o incentivo ao casamento, à natalidade e, simultaneamente, à formação?!

- Relativamente às diferenças entre homens e mulheres relacionadas com tarefas domésticas. Minhas senhoras, a culpa continua a ser nossa! Seja porque assumimos o cargo de abelha-mestra lá em casa, seja porque educamos os nossos filhos homens de forma diferente. Os homens são tão ou mais capazes de gerirem uma casa de forma conveniente. Só é preciso que sejamos firmes connosco próprias, estabelendo e respeitando as fronteiras entre o que cada um faz.

Digo-vos que sou casada há 9 meses, ambos trabalhamos a tempo inteiro mais do que 8 horas diárias e ambos estamos a tirar um mestrado. Se não fosse o apoio mútuo e a divisão de tarefas, acredito que teríamos entrado, para além dos conflitos internos, em guerra aberta. :)

Parabéns, Professor, pelo excelente blog!

PAH, nã sei! disse...

Lobices,

é o meu segundo herói :)

Revi(vi), nas suas palavras, o dia a dia do meu pai (no inicio dos 80). Com a minha mãe a trabalhar das 8h às 22h, foi o meu pai que cuidou de mim e do meu irmão, para além de todas as tarefas da casa.

Desde cedo vi "o homem da casa" de avental e a tratar da lide doméstica :) Desde cedo o acompanhei, ajudei e, passei a achar normal essa situação.

Actualmente, vejo o meu irmão com uma organização e divisão de tarefas tal que, se existir algo que a minha cunhada não se queixará concerteza é de ser ela a fazer tudo.

Enfim... Andorinha,
um dia espero que se ouça não que a mulher ajuda, mas que o casal se ajuda....


Já agora, não esqueçamos os casais homossexuais ... Esta vertente já não se pode esquecer.

A Menina da Lua disse...

Bom dia

Minhas caras murcónicas não sejemos mazinhas. Todas sabemos que fomos educadas para sermos mais competentes nas capacidades domésticas e que por isso fazemos o dobro com metade do esforço que deles.:)

Mais ainda, muitas vezes resistimos e dificultamos o seu acesso (deles) à liderança das tarefas domésticas porque sentimo-nos em concorrência e em invasão de domínios pelo que os sujeitamos a "ferozes" críticas que os inibem e afastam cautelosamente....:)

Com isto e longe de mim pensar tal coisa, não invalida que numa vida em comum se não partilhe tarefas e responsabilidades sem com isto termos de ser rígidos na distribuição e igualdade delas (tarefas)...

Conheço homens que adoram e cozinham muito bem assim como conheço mulheres que preferem não fazer nada relacionado com isso.

Partilhar impõe saber gerir a dois o que é essencial e também quais as preferências, motivações e competências de cada um.

Fora-de-Lei disse...

PAH, nã sei! 11:59 AM

Mas estás à espera de quê: nos casais gays é o gajo que tem o retrospício feito num oito que trata das lides domésticas. Como em tudo na vida, os maricas são todos iguais, mas há uns que são mais maricas que os outros... ;-)

PAH, nã sei! disse...

FDL,

sempre o mesmo homem!!

:)

fiury disse...

para quem perdeu, vale a pena ver o video de ontem, dia 9, que ainda não es´tá on-line. maria joão rodrigues fecha com chave de ouro

http://www.dois.tv/programas/camaraclara/

qrestina disse...

Menina da Lua,

permita-me a correcção. O meu namorado nunca demorou o dobro do tempo com nenhuma tarefa doméstica. Se disser o triplo, talvez se aproxime! :D

Partilho da sua opinião quando diz que é fundamental encontrar o equilíbrio entre dever e preferências.

E não pretendo ser mazinha... Eu própria estive numa luta constante para não meter o bedelho, para esperar o triplo do tempo.

Mas... Se eles nunca começarem a fazer o trabalho doméstico e a sentir as dificuldades, por preguiça, nunca ganharão a tal agilidade feminina.

A Menina da Lua disse...

qristina

Permita-me igualmente a correcção:)

"Se eles nunca começarem a fazer o trabalho doméstico e a sentir as dificuldades, por preguiça, nunca ganharão a tal agilidade feminina."

Eu vou um pouco mais longe, não só devem começar a fazer, como devem ser ensinados logo de pequeninos pelas suas ma ma's:)) só assim podem ficar verdadeiramente competitivos connosco:)

fiury disse...

http://www.dois.tv/programas/camaraclara/

já on-line video,dia 9. vale a pena ver.

mp disse...

realmenter é dificil ser mãe dona de casa trabalhjadora e estudante , principalmente se o mestrado que frequentei me obrigava a ir a coimbra após 7 hoaras de trasbalho 3 veszes por semana , eu tive que desistir nem tanto pela entidade peateronal mas pela minha filha que já adormecia deitada no chaõ ao pé do computador , onde eu estava diáriamente a fazer pesquisa e trabalhos pela noite dentro , é tudo mais fácil quando se é novo e com menos encargos , ou talvez o defeito seja meu que não resisti até ao fim, tenho pena aprendi imensas coisas novas , adoro estudar .