sexta-feira, março 16, 2007

A perplexidade. E o respeito pela decisão do Hospital.

"Foi um suicídio assistido ou eutanásia", acusou, ontem, monsenhor António Cañizares, cardeal arcebispo de Toledo e vice-presidente da Conferência Episcopal Espanhola. "Aos pacientes com doenças incuráveis ou degenerativas devem ser extremados os cuidados, acompanhá-los, estar ao seu lado com amor, ajudá-los a descobrir o sentido da dor e do sofrimento, mostrar-lhes a solicitude humana e cristã, levantar o seu ânimo, a sua fé e a sua esperança".
(Declaração sobre o facto de ter sido desligado o ventilador que há dez anos mantinha viva Inmaculada Echevarría, de 51 anos, sofrendo de distrofia muscular progressiva. Internada num hospital católico, da Ordem de S.João de Deus, que tinha autorizado o procedimento, foi transportada para um hospital público por indicação do Vaticano.)

Porque não posso decidir sobre o sentido da minha dor e do meu sofrimento? Porque não teria o direito de os considerar inúteis, se não acredito na sua vocação redentora? Porque não se aceita que alguém considere "estar vivo" diferente de "ter uma vida"? Porque se chega ao ponto de considerar essa caricatura de vida, só possível a custo dos avanços tecnológicos, como vida "natural" que deve seguir o seu curso..., até ao fim "natural"?

39 comentários:

thorazine disse...

E Será que o último papa teve um fim "natural"?

Se o vaticano pudesse até o mantinha numa tina de vidro! :(((((

andorinha disse...

Boa tarde.

Sinceramente não fico perplexa com a atitude do Vaticano. Da hierarquia da Igreja é de esperar o quê?
O Thora já no post anterior manifestou a sua estupefacção pelo facto, mas eu só me espanto...com o vosso espanto:)

Felizmente as mentalidades vão mudando e cada vez mais casos como o de Echevarría vão sendo aceites e compreendidos.

"Porque não posso decidir sobre o sentido da minha dor e do meu sofrimento? Porque não teria o direito de os considerar inúteis, se não acredito na sua vocação redentora?"
Subscrevo.

peciscas disse...

Sei de muitos católicos que se sentiram envergonhados com essa atitude do Vaticano em mandar sair da clínica uma mulher que tinha decidido morrer com dignidade.
O fundamentalismo com que este Papa se está a expressar, é algo de inquietante.Porque se vai adicionar a outros fundamentalismos, que não trazem nada de bom ao Mundo.
Vejam-se as recomendações para se ter cuidado com a música que se ouve na missa ou a contenção nas saudações,o regresso do latim, ou..., ou...!
Ou seja, em matéria de Igreja, a regressão parece ser uma palavra de ordem actual. Será que é dessa forma que a própria instituição se preserva da tal "crise de vocações" que ela própria detecta?

Fora-de-Lei disse...

peciscas 6:28 PM

"Sei de muitos católicos que se sentiram envergonhados com essa atitude do Vaticano em mandar sair da clínica uma mulher que tinha decidido morrer com dignidade."

Peço desculpa, mas essas pessoas não são católicas. Julgam-se como tal mas não o são, de facto.

Fora-de-Lei disse...

andorinha 6:01 PM

"Sinceramente não fico perplexa com a atitude do Vaticano. Da hierarquia da Igreja é de esperar o quê?"

Estás a ver... já estás como o gajo da anedota do sabonete. Já estás a aprender.

andorinha disse...

Peciscas,
A Igreja é uma instituição anquilosada, ponto.
Por isso eu disse que já não me espantam estas atitudes.
Também li essas "recomendações", essa da contenção nas saudações... devem ter medo que alguém se apaixone na Igreja:)))
Só posso levar isto na galhofa.
Tudo aponta, de facto, para um recrudescimento do conservadorismo "fundamentalista":(

andorinha disse...

Fora de lei,
Eu aprender, até aprendo:)
Agora no meio de tantas anedotas já estou perdida, essa do sabonete não estou a ver qual é.
Se for contável aqui, desembucha:)

Fora-de-Lei disse...

andorinha 6:52 PM

Como a anedota do sabonete não é "contável", fica aqui esta para compensação:

Negócios do Vaticano

A Nestlé solicitou uma reunião com o Papa no Vaticano. Após receber a benção do mesmo, o representante cochichou:

- Vossa Santidade, nós temos uma oferta. A Nestlé está disposta a doar US$50 milhões à Igreja se Vossa Santidade mudar a frase da oração Pai Nosso, de "o pão nosso de cada dia nos dai hoje" para "o café nosso de cada dia nos dai hoje".

O Papa responde:

- Isso é impossível. A oração é a palavra do Senhor e não pode ser mudada.

- Bem, diz o homem, nós já prevíamos sua relutância e, por isso, nós aumentamos a oferta para US$ 100 milhões. Tudo o que pedimos é que se mude a frase de pão para café.

Novamente o Papa responde:

- Isso, meu filho, é impossível. A prece é a palavra de Deus e não pode ser mudada.

Finalmente, o homem da Nestlé diz:

- Vossa Santidade, nós da Nestlé respeitamos Vossa fé, mas nós temos uma oferta final: doaremos US$ 500 milhões para a Igreja Católica, simplesmente se a frase "o pão nosso de cada dia" for mudada para "o café nosso de cada dia". Por favor, pense nisso.

E o homem retirou-se. No dia seguinte, o Papa convoca o Colégio dos Cardeais e diz:

- Tenho 2 notícias para dar: um má e a outra boa. A boa notícia é que a Igreja vai receber uma doação de US$ 500 milhões.

- E a má notícia, Santidade?, pergunta um dos cardeais.

Responde o Papa:

- Vamos rescindir o contrato com a Panrico.

Plimstar (Carlos Filipe) disse...

Boa tarde,
Pois, ora cá está um dilema ético debatido em toda a parte que se reconhece civilizada e que contemplará múltiplas e ínfimas perspectivas... Cada indivíduo com os seus argumentos, pressupostos que julga convincentes, ainda que sejam uns quiça mais válidos do que outros. E o que isso importa quando em causa está o sofrimento d alguém? Alguém que, pode até ser mesmo, capaz ou incapaz para se auto-determinar... Quem e como se definem os limites da liberdade? Onde balizaremos todos a autonomia? Como já algures li... há dias que até parecem perfeitos para morrer...

Carlos Madureira


Fórum
Agradece-se a divulgação.

Atenciosamente.
http://psicofeelings.home.sapo.pt

Fora-de-Lei disse...

Vocês são é todos uns má-línguas... Ainda não viram que o Vaticano tinha um contrato com o fabricante da máquina de ventilação...!?

joaninha disse...

Estou na mesma linha de pensamento de Peciscas e da Andorinha. É triste reconhecer que o fundamentalismo, refira-se ao que se referir, é sinónimo de desumanidade.
Viver sem vida é contra as leis da Natureza.

thorazine disse...

FDL 7.01

LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL

thorazine disse...

O papa deve ser mais: "viver sem vinho não presta"!

"Eles", com todo o devido respeito, agarraram-se à frase "o vinho é o sangue do meu corpo"; com esta inebriação toda do que é realmente ser humano, só pode! :|

andorinha disse...

Fora de lei,

Looooooooooooooooooooooool
Loooooooooooooooooooooooooooool

Ultimamente o teu sentido de humor está em alta, pá:)

fiury disse...

fdl
:)))))))
não lhes dê muitas ideias que ainda
temos sopas de pão feitas com café e levamos com outra opa.

lobices disse...

...desculpai mas de um assunto sério os comentários reagiram no sentido do anedótico
...não estou a "ralhar"
...brincar faz bem
...mas
...o post é sobre um assunto muito sério e as anedotas sobre o sabonete palmolive e o panrico e quejandos ficariam muito bem noutra altura ou noutro post dedicado ao anedotário nacional
...desculpem mas foi o que senti vontade de escrever
...este tema já foi falado aqui várias vezes e é um dos primeiros posts do Professor
...trata-se também de um dos meus primeiros textos publicado já em 2001 nos fóruns do Sapo
...sobre a Eutanásia
...já escrevi muitas vezes sobre a dignidade da vida; esquecem-se que a morte faz parte da vida e que, por tal, também TEM de haver dignidade nela
...escolher a forma de terminar os meus dias ligado a uma máquina ou desligar o tubo eu opto pelo desligar da máquina sem qualquer sombra de dúvidas
...já falei também, quando foi a discussão do Aborto que um dia seria necessário um Referendo sobre a Eutanásia; vamos a caminho, vamos
...eu votarei sim
...em que circunstâncias, em que condições, como, etc etc... isso fica para a pergunta, para a discussão
...mas
...tenho "medo" daqueles Josés Manuéis que depois aparecem por aí a dizer que somos hipócritas que defendemos a vida e somos a favor do aborto
...livrem-se os Josés Manuéis deste país ou de qualquer outro de, um dia, se verem defrontados com uma situação em causa própria; de certeza que, nessa altura, terão a "nossa" opinião
...abreijos e bom fim de semana

andorinha disse...

Lobices,
Dizes que não estás a "ralhar" e não tens razões para isso:)
Não se brincou com o tema da eutanásia, que é sério, como dizes e que já por diversas vezes aqui foi debatido sempre com seriedade, penso eu.
Aliás, nesse aspecto, tenho a mesma posição que tu, como já por várias vezes aqui referi. Todos temos direito a uma vida e a uma morte com dignidade.

Brincou-se foi com a posição da hierarquia da Igreja, que, para mim, faz parte do anedotário internacional:)
Aliás, as posições mais recentes da Igreja eu só as posso levar na galhofa, como disse já no meu post das 6.48.
Portanto, desta vez não tens razão, Quim:)

Vegana da Serra disse...

Não existe nada de natural em respirar por um tubo.

Finalmente,Immaculada está em paz.

alquimista disse...

Boa noite:

Sobre este tema e para quem ainda não viu, sugiro "MAR ADENTRO" de Alejandro Amenabar.Existe em DVD.

J disse...

Caro Lobices
«...tenho "medo" daqueles Josés Manuéis que depois aparecem por aí a dizer que somos hipócritas que defendemos a vida e somos a favor do aborto
...livrem-se os Josés Manuéis deste país ou de qualquer outro de, um dia, se verem defrontados com uma situação em causa própria; de certeza que, nessa altura, terão a "nossa" opinião»
Não sou hipócrita não senhor, continuo a favor da vida. Quanto a uma situação em causa própria, olhe lá o sr. Também toma banho com o famoso sabonete?
Gostaria de sublinhar o pensamento do conselho Nacional de Ética para as ciências da vida, que por acaso também pensa como eu, e esta hein.
O Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, tomando por base no essencial o Relatório que o precede, é de Parecer:
que não há nenhum argumento ético, social, moral, jurídico ou da deontologia das profissões de saúde que justifique em tese vir a tornar possível por lei a morte intencional de doente (mesmo que não declarado ou assumido como tal) por qualquer pessoa designadamente por decisão médica, ainda que a título de "a pedido" e/ou de "compaixão";
que, por isso, não há nenhum argumento que justifique, pelo respeito devido à pessoa humana e à vida, os actos de eutanásia;
que é ética a interrupção de tratamentos desproporcionados e ineficazes, mais ainda quando causam incómodo e sofrimento ao doente, pelo que essa interrupção, ainda que vá encurtar o tempo de vida, não pode ser considerada eutanásia;
que é ética a aplicação de medicamentos destinados a aliviar a dor do paciente, ainda que possa ter, como efeito secundário, redução de tempo previsível de vida, atitude essa que não pode também ser considerada eutanásia;
que a aceitação da eutanásia pela sociedade civil, e pela lei, levaria à quebra da confiança que o doente tem no médico e nas equipas de saúde e poderia levar a uma liberalização incontrolável de "licença para matar" e à barbárie;

cumprimentos

StressEscola disse...

Discute-se imenso sobre direitos, liberdades e garantias, muito se diz sobre qualidade de vida, muito se afirma sempre sobre o “caminho da liberdade”, mas no fim, as ditas liberdades têm limites, não aqueles que cada um de nós no nosso pleno direito pretendemos ter, e sem que possamos estar a interferir na dos outros, mas sim porque a dos outros imensas vezes se sobrepõem às nossas.

Direito à vida, e porque não direito à morte, porque não direito a morrer com qualidade para no fim, e em nome dessa mesma qualidade, dentro dela viver?

Com os meus alunos de licenciatura de psicologia, várias têm sido as discussões sobre Eutanásia, Suicidio assistido e direitos, mas se em vocábulos nem sempre estamos de acordo, há algo em que não conseguimos divergir, normalmente a Cidade do Vaticano” está errada, vejam o caso de Galileu, entre outros.

Lembrando Ramón Sampedro, no seu livro “Cartas desde o Inferno” (sim, o título é este, a tradução para português foi mal feita, e chamou-lhe cartas do inferno), ser cabeça viva em corpo morto, ou seja, retirar a existência à corporalidade, anular a qualidade em detrimento de existir por somente estar presente, sera qualidade?

Desculpem a intromissão neste espaço que é vosso, mas enquanto leitor assíduo, não resisti em deixar este desabafo.

João Paulo Pereira

JFR disse...

Lobices (8:19)

"...escolher a forma de terminar os meus dias ligado a uma máquina ou desligar o tubo eu opto pelo desligar da máquina sem qualquer sombra de dúvidas"

Estou de acordo e gostaria de poder fazer o mesmo, se um dia estivesse nessa situação. Posso é não conseguir desligar a máquina ou arrancar o tubo! Aí a questão complica-se. Vou precisar de ajuda. E a minha liberdade de querer acabar, pode colidir com a liberdade de alguém de não querer contribuir para isso.

Neste caso, em concreto,(apesar da oposição do filho!) existiu felizmente uma coordenação de vontades, ainda mais justificada e facilitada, por se ter, simplesmente, eliminado as condições não-naturais que a mantinham viva. Ou seja, as autoridades várias (civis, médicas e éticas) consideraram não se tratar de eutanásia. O que, a acontecer, dificultaria o respeito pela vontade de Inmaculada.

"...já falei também, quando foi a discussão do Aborto que um dia seria necessário um Referendo sobre a Eutanásia"

Para quê? É preferível que quem tem condições políticas altere a lei naquilo que entender. É uma forma mais séria de tratar os portugueses. É que tal como ontem aqui referi e publiquei em

http://abaixa-voz.blogspot.com/2007/03/vergonha.html

o referendo sobre o aborto foi uma farsa e uma vergonha. Que não quero mais.

Bom fim de semana para si.

Pamina disse...

Boa noite.

É assim, quando a rigidez de certos princípios se sobrepõe à humanidade.

Uma informação: na Alemanha, está (ou vai ser muito brevemente) discutida no Parlamento uma poposta para legalizar e regulamentar a eutanásia naquele país. No último domingo houve um debate televisivo sobre o assunto na ARD, no programa da Sabine Christiansen.
Quem perceba alemão, como a Andorinha, poderá ver este link: http://www.sabinechristiansen.de/102/index.html

Fora-de-Lei disse...

Acho que os algarvios vão todos querer solicitar a eutanásia quando souberem que o actual governo anda a publicitar essa região turística com a palavra "Allgarve"... ;-)

(sorry lobices por mais esta abordagem anedódica à questão da eutanásia)

A Menina da Lua disse...

Boa noite

Independentemente de se defender ou não a eutanásia (para a qual eu ainda tenho algumas dúvidas) a questão que me parece aqui mais chocante é ter-se obrigado a sujeitar alguem que estava perante a iminência da morte e não se ter respeitado a sua situação de completa vulnerabilidade e tê-la obrigado a sair do local onde estava...
Respeitar o princípio da vida humana tambem implica exactamente isso: respeito por alguem que perante a morte só lhe resta apenas e somente esse respeito de ser uma vida humana...

lobices disse...

...existem 2 coisas sobre as quais não temos qualquer poder, nem o da escolha:
...não temos poder sobre o nosso nascimento nem sobre a nossa morte
...tudo o resto, durante esses 2 momentos, é uma catadupa de escolhas, de opções, de cultura, de estatuto, de raça, de religião, de sexo, de diferenças de opinião, de ética, de ideologia, etc um sem número de condicionantes que nos levam ao longo do nosso percurso a situações que, de uma forma ou de outra, podemos minimamente, pelo menos, controlar escolhendo
...porém
...se por via das circunstâncias específicas do nascimento, eu não tenho qualquer tipo de opção, pois não sou tido nem achado sobre se quero nascer ou não, penso que na minha morte, se ela não for repentina, se ela for "anunciada", eu tenho o poder de escolha, eu tenho o poder de escolher como "quero" ou "devo" morrer
...assim
...numa situação idêntica à aqui focada, onde se coloca o problema da eutanásia, existem 2 situações: ou eu próprio tenho capacidade de provocar a minha morte (e aí será sempre suiicídio) ou então eu tenho de pedir que me "matem" e aí será sempre eutanásia!...
...existe eutanásia quando alguém provoca a morte de outrém a pedido deste
...éticas e outras coisas à parte, a eutanásia já se pratica, já existe e vai começar, cada vez mais e ser praticada
...em que limites ela o vai ser, isso terá de ser da capacidade do legislador e, posteriormente, do rolar das leis, dos regulamentos, etc (isto no sentido de se "despenalizar" tal como no aborto)
...daí que entendo, posso não ter poder sobre o momento e as circunstâncias da minha morte MAS se, numa situação terminal, eu tiver esse poder de opção, podem crer que optarei pelo desligar da máquina
...se
...fisicamente não o puder fazer e tiver de "pedir" a alguém que o faça por mim, deverá haver a tal possibilidade legal que permita que tal seja feito: seria, dessa forma, uma espécie de suicídio assistido...
...e aqui
...a Igreja nunca teve a coragem de o dizer, de dizer que Jesus se suicidou
...Jesus cometeu suicidio ao permitir a "encenação" da Sua morte e ressureição
...SE
...Jesus sabia que ia ser traido; se sabia que Pedro o iria negar; se sabia que nem o Pai o livrava daquele cálice; se Jesus era Deus porque se permitiu a Ele mesmo ser morto? Sabendo que daí a 3 dias iria ressuscitar?
...Jesus Filho de Deus Pai cometeu um simples e pragmático suicídio
...isto, à luz da minha fé nada e criada à luz da religião católica apostólica romana, permite-me olhar e aceitar que, afinal, o suicidio não é "pecado" e que tal facto pode ser cometido com a ajuda de outros; Jesus não se matou a Ele mesmo, permitiu que outros o matassem: logo, houve um acto de eutanásia (o tal suicídio assistido)
...é esta a minha opinião
...talvez filosófica demais
...mas tenho direito a ela
...e uso esse direito e não discuto o direito dos outros terem outras opiniões mas tenho o direito de as discutir, de as rebater, etc.
...por isso, o dia virá em que alguém que hoje diz que é a favor da vida se irá confrontar com o direito à morte... digna!...

andorinha disse...

Bom dia.

João Paulo Pereira(10.56)
Por esta vez estás desculpado, mas não voltes a fazer isso. Tem algum cabimento intrometeres-te nas conversas dos outros?:)))))))))

JFR,
Concordo contigo. Livrem-me de mais referendos:)

Pamina,
Consegui aceder ao link.
Danke schön:)

P.S. Dois "vícios" que já não dispenso quando acordo: tomar café e vir até este cantinho:)

Posto isto, até mais logo, malta.

LR disse...

Sou em princípio contra a eutanásia.
Como jurista, importa-me o lado exemplar, e depois prático, da função das normas.Porque não são umas regras quaisquer, descartáveis consoante os casos e as conveniências.
É como o aborto: aceita-se o princípio e ver-se-á até onde isso nos leva.
Mas esta... é uma "vexata queastio", ok.
....
Mas na eutanásia há muita coisa a considerar, porventura diferentemente.
Só que as guidelines da prática médica costumam chegar para isso. Ou não? É que se não chegam... qualquer dia(como digo muitas vezes), teremos de ver consagrado na Constituição o "direito à morte", lado a lado com o direito fundamental à vida.

E ainda a propósito, venham os TESTAMENTOS VITAIS. Precisam-se.

Quanto à redução das saudações na igreja, concordo em absoluto. Aquilo é um martírio...E uma algazarra pegada.
Só se for mesmo para expiação :):)
Sempre detestei, por muito que aceite o seu fundo simbólico.
Cheira a IURD que tresanda.
E na Europa o gospel não pega (embora seja lindíssimo no seu contexto próprio).

Marx disse...

Estes dias que precedem a entrada, mesmo que só formal, da Primavera, parece trazerem no ar outros polens. Os de novos referendos. Curiosamente, "o" da Eutanásia anuncia-se mais próximo do que "o" da Adopção de Crianças por Casais Homossexuais. Fico pra ver...

Entretanto, achei muito interessante o último comentário/ensimesmamento do Lobices.

RAM disse...

Distinta da eutanásia é a decisão de renunciar ao chamado « excesso terapêutico », ou seja, a certas intervenções médicas já inadequadas à situação real do doente, porque não proporcionadas aos resultados que se poderiam esperar ou ainda porque demasiado gravosas para ele e para a sua família. Nestas situações, quando a morte se anuncia iminente e inevitável, pode-se em consciência « renunciar a tratamentos que dariam somente um prolongamento precário e penoso da vida, sem, contudo, interromper os cuidados normais devidos ao doente em casos semelhantes ». Há, sem dúvida, a obrigação moral de se tratar e procurar curar-se, mas essa obrigação há-de medir-se segundo as situações concretas, isto é, impõe-se avaliar se os meios terapêuticos à disposição são objectivamente proporcionados às perspectivas de melhoramento. A renúncia a meios extraordinários ou desproporcionados não equivale ao suicídio ou à eutanásia; exprime, antes, a aceitação da condição humana defronte à morte.

Unknown disse...

No caso não foi, provavelmente, eutanásia, mas sim distanásia. A questão da sua admissibilidade é, sem dúvida, polémica, mas tem de entrar definitivamente no nosso quotidiano, para que possamos criar uma pressão legislativa. É dificil aceitar que, por exemplo, nos casos de pessoas lúcidas que procuram a eutanásia, as mesmas possam agir se puderem usar as mãos e uma ida à famácia e estejam condenadas a um perpétuo sofrimento se não puderem pôr, sem auxílio, em prática as suas decisões.

JFR disse...

lobices (10:30)

"...existe eutanásia quando alguém provoca a morte de outrém a pedido deste"

Isto dito assim é perigoso! Como admito que a sua intenção foi, apenas, uma simplificação de escrita, acrescento o que é imprescindível para enquadrar o substantivo eutanásia:... para antecipar a morte de doentes incuráveise assim lhes abreviar o sofrimento.

"...éticas e outras coisas à parte, a eutanásia já se pratica, já existe e vai começar, cada vez mais e ser praticada"

E, com essas coisas à parte - ética, quadro legislativo - será o melhor caminho para uma sociedade que se diz de direito e quer ser de justiça?

E insisto. Este caso não configura eutanásia. Se o fosse, só clandestinamente teria sido resolvido.

lobices disse...

...Prezado JFR
...não possuo qualquer grau académico nem sou especialista em algum ramo do saber; fui um simples contabilista, gestor de negócios e um hábil condutor de veículos automóveis
...dedico-me á escrita desde os 16 anos e os últimos 7 na internet
...por isso, o que quer que eu diga ou escrevo mais não é do que apenas e só fruto da minha experiência de vida vivida já lá vão mais de 60... de vida rica em movimento, vida, alegrias e tristezas... de tudo, um pouco
...e...de nada me arrependo
...por isso, quando escrevo ao correr da pena (sempre, neste caso ao correr das teclas), escrevo o que me sai do coração, do meu íntimo, do meu ser, do meu sabor dos variados saberes
...admito poder estar errado
...mas
...no caso vertente (e em outros idênticos - caso exemplar poderá ser dado pelo filme Mar Adentro) eu vejo a "eutanásia" como uma forma de conceder uma morte digna já que pugnei sempre por ter e dar a mim mesmo uma vida com dignidade
...quero, pois, ter uma morte com dignidade e, para mim, um estado vegetativo ligado à máquina apenas e só por razões éticas, morais, religiosas ou o que quer que seja, é algo quer me indigna
...em nome do "quê" se mantém um ser humano "vivo" só porque TEM de ser, em sofrimento, sem qualidade de viva, dependente e (aqui, quase que tenho a certeza) consciente da sua situação, desesperado talvez por desejar mil vezes a morte do que se encontrar naquele estado, my God... livra-me desse tormento
...matar-me-ei se o puder fazer
...pedirei que me matem (e é neste caso que "lutarei" pela despenalização dos assistentes do acto suicida do peticionário
...mais,
...pode o doente terminal não ter capacidade de o pedir; que crueldade mais cruel poderá existir do que a falta de poder de comunicação?
...esteja há 5 dias sem beber; tenha água à sua beira e não conseguindo beber nem conseguindo pedir para lhe darem de beber, tente imaginar a dor
...agora imagine que tem consciência de tudo e não tem poder de movimento nem de comunicar o seu desejo
...imagina maior crueldade?
...é a isso que eu chamo de dignidade na morte já que esta faz parte da vida...
...
...escrevo sobre o caso na generalidade e não especificamente sobre o caso da Imaculada ou de outro qualquer
...
...mais:
...em tempos antigos chegou-se a usar em muitos casos de condenados à morte, o chamado golpe de misericórdia... não será a Eutanásia uma forma de acto de misericórdia?

...

JFR disse...

lobices

Leio, sempre, os seus comentários com particular atenção. Há muito me habituei a "ler em si" um homem sensível. Culto. Sabedor. Com o saber que muitos graus académicos não fornecem. Vivendo um sofrimento que, ao de leve, transpareceu aquando de um possível jantar do Murcon a que não pode comparecer. Respeito-o, ainda mais, por isso. É que, há vivências determinantes de uma visão diferente do simples facto de "estar vivo". Determinantes de um maior radicalismo. Natural. E, por me parecer, que quem escreve como o meu companheiro murcónico é alguém de boa fé, humano, moralmente sério - mesmo quando estamos em plano divergente e estamos em alguns - que procuro ajudar-me a construir a sua ideia, comentando os seus textos.

Com estima, JFR

Fora-de-Lei disse...

Embora todas as opiniões aqui expressas tenham de mim igual atenção e consideração, acho que me merece especial referência a opinião - tecnicamente esclarecedora - que foi formulada pelo RAM (4:22 PM).

Desta opinião realço a seguinte frase: "A renúncia a meios extraordinários ou desproporcionados não equivale ao suicídio ou à eutanásia; exprime, antes, a aceitação da condição humana defronte à morte."

Se no jogo do contraditório, esta opinião avalizada fosse proferida - por exemplo - em tribunal, muito provavelmente o juíz chegaria à conclusão que o caso de Imaculada Echevarría não poderia nunca ser considerado como eutanásia.

Se calhar, só mesmo para Igreja Católica é que este caso "foi um suicídio assistido ou eutanásia"...

Henrique Dória disse...

O dogma e o preconceito ultrapassam toda a racionalidade.Não percebeu esse monsenhor que a senhora não tinha vida.Era uma máquina.
Quem lhe tirara a vida fora o "Senhor" e quem lha mantinha artificialmente era a máquina. Porque é que o monsenhor não consegue descortinar que o "pecado" está em ir contra os insondáveis desígnios do "Senhor", que lhe trouxe a morte?
Um abraço, professor.

Ti disse...

Bom dia.
Tentem pôr-se nos sapatos de alguém que acha que a morte deve ser sempre evitada, por quaisquer meios. Assim, facilmente se compreende que para uma pessoa assim, é impossível que ajude alguém a morrer; provavelmente o que faria seria tentar convencer a outra pessoa (que deseja a eutanásia) a não ir por esse caminho.
A opção da igreja não me parece nada fundamentalista; é apenas uma opção "política" a ser seguida por quem quiser!
O facto de a paciente ser transferida para outro hospital, para aí lhe ser possibilitada a hipótese de eutanásia parece-me uma opção muito equilibrada e conciliadora.
Acho que devemos garantir o direito à eutanásia a quem queira, tal como também devemos garantir os direitos a quem queira nada ter a haver com a mesma!

Ti disse...

Já agora para os registos.
Sou a favor da eutanásia, quando manifestada a vontade pelo próprio.
Quando o próprio não se pode manifestar, sou totalmente contra.

Blogger de Saúde disse...

“Eu queria uma fim perfeito, por isso, sentei-me para escrever o livro com um fim, antes de haver lugar para um fim. Agora aprendi a tarefa dura que implica fazer rimar os poemas e algumas histórias não têm início, meio e fim. Tal como na minha vida, este livro tem ambiguidades.
Tal como na minha vida, este livro é sobre o não conhecer, Ter de mudar, fazer o momento e tirar o melhor dele, sem saber o que vai acontecer a seguir” (Noella Devolder McGray, in Questões psicossociais e da qualidade de vida” )
Vale a pena ler este Livro! Todos pensamos no nascimento, no entanto ninguém perde energias para pensar, na morte... Fala-se tanto de Qualidade, pelo que a qualidade de uma morte calma, serena, sem dor, não pode ser descurada!