terça-feira, maio 31, 2005

A propósito de migrações.

Não tem sede de aventura
Nem quis a terra distante.
A vida o fez viajante.
Se busca terras de França
é que a sorte lhe foi dura
e um homem também se cansa.



Ficam mulheres a chorar
por aqueles que se foram.
(Ai lágrimas que se choram
não fazem qualquer mudança).
Já foram donos do mar
vão para terras de França.


Manuel Alegre, Trova do Emigrante.

48 comentários:

Anónimo disse...

...e provavelmente com eles nem funcionará a erotização da distância (:

Anónimo disse...

a distância aumenta a erotização, bruxinha, podes crer!

(louco do serviço da noite)
ihihihihihiihihiihihihiihihi

andorinha disse...

bruxinha,
Nem com eles nem provavelmente com outros. Não consigo ver a distância como erotizante.

andorinha disse...

Júlio,
Já estou a ficar baralhada. :)))
Qual a relação deste post com o anterior?
E as várias hipóteses explicativas onde estão?
Assim não vale - deixou-nos dissertar sobre o assunto e dizer todos os "disparates" possíveis e imaginários e agora ficamos assim, sem nenhuma intervenção sua? :)

Anónimo disse...

Estamos todos baralhados e confusos. E com este poema do Manuel Alegre afinal o que é que se começa por abordar logo:
erotização
sempre erotização
distância.erotização.falta de sexo.

amok_she disse...

Neste, pra já, vou deixar-me ficar no camarote a gozar o pratinho...ehheheheh

:->

Anónimo disse...

Este post vai dar que falar, vai. Eu estou com a Amok.
:->

Anónimo disse...

Não é você, Madame, que gosta de picar?
:->
Pois olhe que eu também :->

K. disse...

A minha migração não foi para França mas para Espanha. Felizmente na minha geração já há quem queira a terra distante e não apenas por que a sorte nos foi dura. Abraço, Julio Murcôn. ;)

Julio Machado Vaz disse...

Uma das hipóteses era que as populações migrantes fossem constituídas por indivíduos à partida menos estáveis sob o ponto de vista psicológico. A "oposta" preconiza que o problema reside no stress provocado pela
(in)adaptação à cultura de acolhimento e tem hoje muito mais aceitação. Alguns dos factores que podem influenciar as consequências das migrações são deliciosos. Por exemplo: a firme determinação de regressar um dia ao país de origem constitui um factor de protecção.

Anónimo disse...

Como assim factor de protecção? Explique-se melhor se fizer o favor. E folgo muito por vê-lo por estas bandas de novo.
Atenciosamente
Ana

Anónimo disse...

Isto hoje vai aquecer.Crazy Jo e Amok.Só falta a Circe e temos o trio completo.

Julio Machado Vaz disse...

Tinham menores taxas de descompensação psicológica. Como se o sonho do regresso funcionasse como âncora:)

Anónimo disse...

A poesia é a minha perdição...

Migrações passadas, presentes e futuras!
Mais uma vez recordo a exposição fotográfica de Sebastião Salgado. Impossível ficar indiferente.

E aqueles que por esperança emigraram e não, migraram, e que regressam, quantos!, - bem mais "pobres" que partiram.

"REGRESSO AO LAR

Ai, há quantos anos que eu parti chorando
deste meu saudoso, carinhoso lar!...
Foi há vinte?... Há trinta?... Nem eu sei já quando!...
Minha velha ama, que me estás fitando,
canta-me cantigas para me eu lembrar!...

Dei a volta ao mundo, dei a volta à vida...
Só achei enganos, decepções, pesar...
Oh, a ingénua alma tão desiludida!...
Minha velha ama, com a voz dorida.
canta-me cantigas de me adormentar!...

Trago de amargura o coração desfeito...
Vê que fundas mágoas no embaciado olhar!
Nunca eu saíra do meu ninho estreito!...
Minha velha ama, que me deste o peito,
canta-me cantigas para me embalar!...

Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho
pedrarias de astros, gemas de luar...
Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!...
Minha velha ama, sou um pobrezinho...
Canta-me cantigas de fazer chorar!...

Como antigamente, no regaço amado
(Venho morto, morto!...), deixa-me deitar!
Ai o teu menino como está mudado!
Minha velha ama, como está mudado!
Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...

Canta-me cantigas manso, muito manso...
tristes, muito tristes, como à noite o mar...
Canta-me cantigas para ver se alcanço
que a minha alma durma, tenha paz, descanso,
quando a morte, em breve, ma vier buscar!

Guerra Junqueiro,
Os Simples"

Anónimo disse...

Pois eu sinto-me psicologicamente muito descompensada. O melhor será partir, não?
Atenciosamente
Ana

Anónimo disse...

Esta vida é uma Soda! - Fócrates

amok_she disse...

não, Ana, não!...isso assim ñ vale... tens de dar aos outros a oportunidade de se mostrarem... na pequenez q os caracteriza...:->

Maite disse...

Professor, não resisti:)

"Partiste e quanto levaste
era um pedaço de pão
um braço para um guindaste
a fome do teu irmão
e a tristeza que deixaste
nas raizes do teu chão.
Partiste e quanto levaste
era apenas solidão.

E quando à estranja chegaste
chegou-te aquela opressão
de um fruto que não tem haste
de um braço que não tem mão
da noiva que tu deixaste
.....................

Quando travavas lá fora
uma luta desigual
estavas onde a alma mora
construías Portugal

E mesmo nos piores dias
e nos momentos mais sós
com trabalho produzias
o oiro de todos nós
...................."

J.C.Ary dos Santos

Amok_she, desculpe lá miúda esta pequenez...mas é só fechar os olhos, se não quiser ver :)

Anónimo disse...

Sei perfeitamente que sou amado por todos os que me podem amar e por respeito a tamanha evidência não posso deixar de ser como sou.

K. disse...

O sonho do regresso como uma âncora. É bem verdade, mesmo quando não se regressa em definitivo à pátria. As férias em Portugal, rever a família que ficou para trás, são pequenas âncoras.

Pamina disse...

Para JMV (10.32)

Obrigada pelo esclarecimento.

Não acha que a condição de exilado político também pode ser um factor propiciador de perturbações mentais?
Lembro-me de ter encontrado na Holanda jovens portugueses que tinham deixado Portugal para evitar a guerra colonial que se imaginavam perseguidos pela PIDE, num delírio paranóico-megalómano (como se a PIDE não tivesse mais nada para fazer).
Por coincidência, um destes exilados era vizinho e amigo de infância de um estudante que foi morto a tiro pela PIDE no Técnico.
Quando soube a notícia, disse-me que a PIDE "lhe andava a matar os amigos" e foi impossível de o convencer do contrário.
Passou vários dias fechado em casa com as luzes apagadas à noite, "não fossem eles aparecer".

Penso que em Inglaterra se poderá passar o mesmo com exilados originários de países com um regime político ditatorial.

Anónimo disse...

Para o Sr. Prof. Júlio Machado Vaz
:)

amok_she disse...

...bem, já q ninguém aflora a coisa...

...alguém referia por ai qq coisa sobre erotização e falta de sexo...em relação ao Trova do Emigrante!?????...minha nossa...esta gente vê falta de sexo em tudo?!:->

...mas se querem um poema algo erótico do MA- para poeta erótico prefiro o David Mourão Ferreira - aqui vai um

TEORIA DO AMOR
Amor é mais do que dizer.
Por amor no teu corpo fui além e
vi florir a rosa em todo o ser
fui anjo e bicho e todos e ninguém.

Como Bernard de Ventadour amei
uma princesa ausente em Tripoli
amada minha onde fui escravo e rei
e vi que o longe estava todo em ti,

Beatriz e Laura e todas só tu
rainha e puta no teu corpo nu
o mar de Itália a Líbia o belvedere

E quanto mais te perco mais te encontro
morrendo e renascendo e sempre pronto
para em ti me encontrar e me perder.

Obra Poética,Dom Quixote, Lisboa, 1999

andorinha disse...

Júlio,
Ainda bem que apareceu.:)
A segunda hipótese que refere, faz muito mais sentido. Muitos problemas surgirão de dificuldades de adaptação a uma cultura diferente e não pelo facto de esses indivíduos serem menos estáveis sob o ponto de vista psicológico. Aliás, penso que é necessário ter-se emocionalmente uma certa estabilidade e até uma certa dose de ousadia para arriscar uma às vezes tão drástica mudança de vida.

Não sei se será só o sonho do regresso que funcionará como âncora. Qualquer sonho (ser bem sucedido, construir uma carreira, lutar pelos seus objectivos, em suma) evitará também, quanto a mim, a descompensação psicológica.

Penso, por último, que a intervenção da Pamina é extremamente pertinente ao abordar este tema por um outro ângulo que ainda não tinha sido focado até aqui.

amok_she disse...

Anônimo disse...

Sei perfeitamente que sou amado por todos os que me podem amar e por respeito a tamanha evidência não posso deixar de ser como sou.

11:07 PM


...já ag refira a autoria,sim!?! (raios!)= http://sulturas.blogspot.com/

...qt a ti,Maite,ninguém te manda vestir as camisolas q ñ te oferecem...nem eu, nem a Ana por certo...mas tu é q sabes, claro!:->

Julio Machado Vaz disse...

Pamina,
Absolutamente de acordo.

Anónimo disse...

errata a Maria:
E aqueles que por "esperança" emigraram e regressaram, quantos!, - bem mais "pobres" que partiram.

amok_she disse...

...constatar evidências - evidentes! - é coisa q nc me deu pica, mas enfim...vou lendo...:->

Anónimo disse...

Certa Fulana amava-se tanto a si mesma e com tanto sucesso que não tinha qualquer rival!

Anónimo disse...

Acabo de falar com a ex. namorada e constato que a distância aumenta a erotização.

Não fosse ela de lisboa e me faça lembrar certas terras.

(louco do serviço da madrugada)
eheheheheheeheheehehehehehe

Tão só, um Pai disse...

No caso dos refugiados (incluindo os nossos, os das ex-colónias), existirão descompensações que nunca serão preenchidas ou ultrapassadas. A perda, no tempo e no espaço, de referências cruciais da vida, das suas raízes.

Anónimo disse...

Ena, ca ganda confusão.
Ele é o pai da Amok, ele é o louco de serviço, ele é a Ana, chiça, o que pa qui vai.
Continuem que isto vai bem.
Ó Doutor nunca pensei que este país estivesse tão mal mentalmente falando. Tá pior porra

Anónimo disse...

Por falar em distâncias e erotização;
Conheço um caso de um casal que sob o mesmo tecto iam para divisões diferentes para terem relações sexuais pelo telefone!
E naquele tempo nem sequer haviam os 3G nem MMS.

lobices disse...

...BOM DIA à tutti...
...com tanta teorização sobre a erotização da imigração ou emigração, o melhor é eu migrar (o que quer dizer migrar?...) daqui e ir dar a minha habitual voltinha às pernas...
...o Black já está ali a olhar para mim
...bolas, que hoje está um calor do caraças...
...quase que me apetece picar-vos mas não tenho estaleca... não sei nada desses assuntos a que vos dais o trabalho de congeminar
...até mais logo
...e...portem-se mal
abreijos

PortoCroft disse...

Caro Prof. m8,

Eu nem queria comentar para não meter a foice em seara alheia mas, porque não nasci nesta terra, embora dela já seja cidadão e, embora a sua resposta em comentário permita inferir que o resultado do estudo se aplica a todos os emigrantes e etnias, porque deslocado, tenho que lhe recordar (porque nem sequer me permito pensar que ignore) este estudo do Departamento de Psiquiatria do Saint Ann's Hospital, em Londres. Por ser mais abrangente e, sobretudo pelas conclusões que permitem inferir que as causas das psicoses e esquizofrenia não são inatas do emigrante mas antes consequência das pressões sociais e xenófobas do país de acolhimento. Ou seja, ontem nem andei muito longe da verdade. Concorda?;)

Conclusions: Raised incidences of schizophrenia were not specific to the African Caribbeans, which suggests that the current focus on schizophrenia in this population is misleading. Members of all ethnic minority groups were more likely to develop a psychosis but not necessarily schizophrenia. The personal and social pressures of belonging to any ethnic minority group in Britain are important determinants in the excess of psychotic disorders found.


University Department of Psychiatry, Royal Free Hospital School of Medicine, London NW3 2QG Department of Psychiatry, St Ann's Hospital, London N15 3TH Correspondence to: Dr King.


Incidence of psychotic illness in London: comparison of ethnic groups
by M King, E Coker, G Leavey, A Hoare, E Johnson-Sabine

Anónimo disse...

Prof.
acertou numa das cantigas do Adriano C. O. que ainda hoje sei quase toda de cor - letra e música

... parte mas fica presente
em tudo o que não se diz (ou em tudo o que não colheu?) ...

falta-me aqui qualquer coisa para encontrar o fio à meada

lobices disse...

Não tem sede de aventura
...mas partiram à aventura
Nem quis a terra distante.
...porque distante ela era
A vida o fez viajante.
...a viajar se fez à vida
Se busca terras de França
...em busca de terras novas
é que a sorte lhe foi dura
...na dureza que perdura
e um homem também se cansa.
...no sonho que não alcança
...
Ficam mulheres a chorar
...ficaram elas no canto
por aqueles que se foram.
...em derrame de leve pranto
(Ai lágrimas que se choram
...mas em cujas águas moram
não fazem qualquer mudança).
...e festejam quando choram
Já foram donos do mar
...sabedores do remo e vela
vão para terras de França.
...alegam apenas a esperança
...
...que me perdoe o Manuel Alegre e o amigo Profe por ter feito desta forma, um superfluo jogo de letras em tema de migração de gentes e olhares que nos tempos em que vivi não soube o que era nem tão pouco o entendi...
...soubera depois laborado em erro das razões então avocadas
...que lamentos enormes levaram em razões de procura de lutas ainda não travadas
...que de perdidos na imensidão das vidas mais não foram do que o que fizeram
...em nome de um Povo cercado de tudo o que não lhe deram
...fique-se pasmo da história que outrora nos contavam
...que foram heróis e tudo o mais pelas dores que passavam
...deles restam os netos hoje senhores duma europa vasta
...que não precisando de votações fazem parte de nova casta...
...
...foi apenas um desabafo
...

andorinha disse...

Bom dia Júlio, TsuP, Lobices e Portocroft.
Por onde andará o resto do maralhal?!
Estarão à espera de novo post?:)
Até mais logo.

Julio Machado Vaz disse...

Portocroft,
Parece bruxo:)

PortoCroft disse...

Caro Prof. m8,

Bruxo nada. Eu nem acredito em bruxas mas que as há, há!... ;)

Anónimo disse...

“Há uma sobreposição mimética entre o Fado e a Esquerda” – Quitéria Barbuda“Há uma sobreposição mimética entre o Fado e a Esquerda” – Quitéria Barbuda

www.riapa.pt.to

Anónimo disse...

onde é que anda o louco de serviço?

Anónimo disse...

Trova do emigrante

Parte de noite e não olha
Os campos que vai deixar
Todo por dentro a abanar
Como a terra em Agadir
Folha a folha se desfolha
Seu coração ao partir

Não tem sede de aventura
Nem quis a terra distante
A vida o fez viajante
Se busca terras de França
É que a sorte lhe foi dura
E um homem também se cansa

As rugas que o suor cava
Não são rugas são enganos
São perdas lágrimas e danos
De suor por conta alheia
Não compensa nunca paga
Quanto suor se semeia

Em vida vive-se a morte
Se o trabalho não dá fruto
Morre-se em cada minuto
Se o fruto nunca se alcança
Porque lhe foi dura a sorte
Vai para terras de França

Não julguem que vai contente
Leva nos olhos o verde
Dos campos onde se perde
Gente que tudo lhe deu
Parte mas fica presente
Em tudo o que não colheu

Verde campo verde e triste
Em ti ceifou e hoje foi-se
Em ti ceifou mas a foice
Ceifava somente esperança
Nem sempre um homem resiste
Vai para terras de frança

Vai-se um homem vai com ele
A marca de uma raiz
Vai com ele a cicatriz
De um lugar que está vazio
Leva gravada na pele
Um aldeia um campo um rio

Ficam mulheres a chorar
Por aqueles que se foram
Ai lágrimas que se choram
Não fazem qualquer mudança
Já foram donos do mar
Vão para terras de França.

(Manuel Alegre)

Isabel Da Rocha disse...

Lisboa, fazes-me falta todos os dias! Se ao menos também eu te fizesse falta...

Anónimo disse...

Caro professor:

Coincidência ou não quando publicou este post na segunda-feira deu entrada numa das enfermarias do CHCF (onde estagio) um doente com diagnóstico duplo, esquizofrenia.

Como tinha sido transferido da unidade de perturbações aditivas ainda não sabia a história pessoal. Hoje numa primeira “entrevista de avaliação clínica” tive oportunidade de saber que o doente vivia desde 15anos em França, para onde os pais emigraram quando este entrou para escola primária tendo nessa altura ficado com a ama.

O internamento não se deveu, neste caso, ao “reflectir preconceitos morais, raciais e políticos e levar à interpretação de reacções e crenças culturais como sinais de “loucura” ou “maldade””, mas sim porque se encontrava a seis meses a dormir na praça da liberdade quando foi abordado por um técnico de rua do programa porto feliz.

Mais não posso avançar, até porque a minha especialidade não é a medicina.
Só referi este facto porque achei mesmo curiosa a coincidência temporal.

Sem mais me despeço,
mermaid

P.S: continuo a surpreender-me e a gostar muito do que leio por aqui :)

Anónimo disse...

boa noite.
estava eu a ver o Dificeis Amores , o tal da irritação, perguntando-me pela 59ªvez, porque é que estes programas nunca foram editados em dvd?...quando o ouvi falar no blog!
fiquei contentíssima,procurei e cá estou para lhe fazer a pergunta.adorava poder um dia mostrá-los à minha filha.
tenho a mm profissão (não a mm especialidade) e sempre lhe admirei a clareza com que fala dos assuntos e a forma educativa com que o faz.
obrigada pelos bons momentos.
voltarei mais vezes, para ler tudo com mais calma, mas hoje não queria deixar passar.
um abraço
riquita

Roberto Iza Valdés disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Hey, you have a great blog here! I'm definitely going to bookmark you!

I have a adult friend finder
site/blog. It pretty much covers adult friend finder
related stuff.

Come and check it out if you get time :-)