A única vez que tentei subir a Montségur, o mau tempo não o permitiu. Seria hipócrita se não admitisse que hoje, momentos houve em que desejei uma tempestade e segunda proibição por parte do zelador do castelo:). Nem em Quéribus, cuja subida é quase virgem de curvas pacificadoras, me senti assim - tão a galope no peito que nem notava o cansaço crescente das pernas. E depois, aqueles velhinhos a tresandarem a saúde e a passarem por mim...
Montségur é uma peregrinação estranha, passados breves momentos os olhos são atraídos pela paisagem esmagadora em redor. O pobre castelo - de resto não o original... - não excita curiosidade pessoal ou memória por interposta escrita, mesmo a dos cátaros na fogueira. A sua fidelidade ao cristianismo que professavam é um pretexto para homenagearmos a contínua busca dos seres humanos. As dezenas de pessoas de várias nacionalidades que suavam - e praguejavam! - Montségur acima, pareciam procurar uma espécie de Spa espiritual, um lugar que lhes abrisse os poros à expulsão da mediocridade e à entrada de uma réstia de transcendência. Já o escrevi: são peregrinos sem Igreja, a não ser os vitrais pirenaicos em redor. Num sítio daqueles, olhando em volta os sorrisos exaustos mas orgulhosos, o "agnosticismo" que mais me preocupa esvai-se - a Graça da Fé invade-me e eu acredito de novo que o nosso futuro não se esgotará na vertigem, acéfala e horizontal, do consumo.
26 comentários:
Olá de novo.
O comentário que escrevi há bocado no post de domingo aplica-se também a este, portanto desejo apenas a continuação de "a good, not too long and not too dark journey into light" and a safe return home.
Bom início de semana para todos.
Descobri isto na net sobre os cataros
"Montségur.
Cruzada Albigense
É fato estranho o conhecimento de que a Cruzada Albigense tenha punido tão cruelmente por "heresia" a comunidade cátara. Visitada por São Domingos e São Francisco de Assis, estes dois religiosos se impressionaram tanto com os métodos de evangelização dos cátaros que os empregaram através dos seus frades mendicantes, juntamente com os votos feitos pelos "parfaits": pobreza e caridade.
São Bernardo, em 1145, meio século antes da Cruzada Albigense, visitou o Languedoc com o fito de pregar para os hereges. Entretanto, a corrupção dos sacerdotes da sua igreja foi o que o horrorizou mais. São Bernardo ficou muito bem impressionado com os cátaros: "Nenhum sermão é mais cristão que o deles e sua moral é pura".
Os cátaros, apesar da sua teologia complicada, na prática, eram realistas e coerentes. Eles condenavam a procriação, mas sabiam que era necessária para a propagação da espécie. Faziam a diferença entre o "serviço do amor" e o da "propagação da carne", que estava a serviço do REX MUNDI. O CONSOLAMENTUM foi a solução encontrada. Esta espécie de "sacramento" cátaro, que incitava à castidade, era administrado aos "parfait", homens e mulheres sem família, mas não podia ser administrado à comunidade a menos que a pessoa que iria recebe-lo estivesse à beira da morte. A sexualidade era tolerada e ao que parece, os cátaros utilizavam o controle da natalidade e o aborto, segundo historiadores modernos.
Este credo foi a grande ameaça ao catolicismo, à "Igreja de Roma" no sul da França.
Os nobres o achavam atraente e o povo, além de anticlerical, estava revoltado com a corrupção dos sacerdotes representantes de Roma. Havia nobres que se tornavam "parfaits" na hora da morte e todos, conjuntamente, estavam revoltados com o sistema do dízimo exigido por Roma, tudo o que o povo colhia era tragado pelos cofres da Igreja de Roma.
Estava armada a cena para a extinção da mais alta cultura européia da Idade Média.
Nesta altura surgiu um perigoso fanático religioso, Dominic Guzman, o criador da "Ordem Dominicana" em 1216. Mais tarde, em 1233, a sua ordem criaria a nefanda "Santa Inquisição". Aceitos pela nobreza de Toulouse e Trencavel, os judeus se viram, de uma hora para a outra, perseguidos como os hereges.
Em um sítio feito à cidade de Toulouse, morre Simon de Monfort (1218). Por mais um quarto de século se estenderia esta guerra e em 1243 o arremedo de resistência da região havia cessado quase que completamente. Dentre os pontos que ainda resistiam, o mais importante foi Montségur. Sitiada durante dez meses e resistindo bravamente, capitulou em março de 1244.
Mesmo parecendo exterminado, o catarismo não morreu. Grupos isolados continuaram a exerce-lo influenciando vários outros grupos que depois chegaram ao Languedoc: valdenses, hussitas, adamitas, anabatistas e os camitas, que depois se refugiaram em Londres no início do século XVIII.
O Tesouro Cátaro
Os intelectuais modernos têm por hábito considerar os cátaros como sendo sábios, místicos ou "iniciados" detentores de segredos cósmicos. Isto fortalece o poder de uma lenda que diz respeito a um TESOURO CÁTARO. Entretanto, esta lenda parece ter foros de realidade.
Antes de debruçarmos sobre este mistério, avaliaremos um enigma ainda mais intrigante: Jean De Joinville, escrevendo sobre a sua amizade com Luiz IX durante o século XII diz - "O rei (Luiz IX) contou-me uma vez, que vários homens albigenses haviam pedido ao conde de Monfort para ir e olhar o corpo de Nosso Senhor, que havia se tornado carne e sangue nas mãos do seu sacerdote."
Monfort sentiu-se ofendido (ou temeroso?) e preferiu fincar pé junto à doutrina da sua igreja, entretanto, liberou os seus homens para observar o "milagre". Restou apenas o mistério: o que poderia ser o "corpo de Nosso Senhor?" Não há menções ao fato de que alguém, mesmo liberado pelo conde, tenha respondido a esta questão com o seu testemunho. Segunda pergunta: Seria este o Tesouro Cátaro?
Há precedentes para estas dúvidas serem respondidas com afirmativas, uma vez que corria a notícia, naquela época, de que os cátaros possuíam um fabuloso tesouro místico, muito mais importante do que a riqueza material. No cerco de Montségur, isto é fato, se tem a notícia de que dois fugitivos, dois "parfaits", desceram o monte na calada da noite, arriscando as suas vidas para salvarem um precioso tesouro. Foram bem sucedidos!
Presumia-se que este fabuloso tesouro estava escondido em Montségur e depois de salvo nunca mais se ouviu comentários a seu respeito. O fato é que pelo menos vinte, dos que vigiavam Montségur e que pertenciam à milícia invasora, tornaram-se "parfaits", devido à impressão neles provocada por algo que presenciaram num festival organizado pelos cátaros, numa trégua que lhes foi concedida devido ao seu fornecimento de reféns , para que pudessem comemorar um certo dia 14 de março."
Deveras interessante. Além de ser uma íman a nível profissional, a nível espiritual parece ser, para o Professor, a eterna busca da essência... Uma religião baseada num Homem que nos cativa, mas cujos ministros nos desiludem. "Qui çá" não estará aí a chave da questão?...
Ainda criamos a irmandade “murcon's cátaros” ihihihihih
Um abraço e continuação da caminhada da fé. Se vier convencido, não terá muita dificuldade a convencer alguns de nós, desiludidos com os ministros de Roma… ) (eheheh a palavra”ministros” por si só é terrível…)
MJ
"...a Graça da Fé invade-me e eu acredito de novo que o nosso futuro não se esgotará na vertigem, acéfala e horizontal, do consumo..."
...
...permita-se fazer minhas essas suas palavras
...e, (mais ou menos) como diz a Pamina, a very good journey into light... :))
abraço
Boa tarde.
Gostava de ser assim optimista e sentir essa fé e esperança no futuro, mas não consigo:(
Pessoalmente não acredito em Spas espirituais.
Tal como disse a Pamina no outro post, também eu gostava de ter um lugar onde sentisse essa exaltação espiritual.
Não há nenhum local que me faça sentir em comunhão com o transcendente.
"...a Graça da Fé invade-me e eu acredito de novo que o nosso futuro não se esgotará na vertigem acéfala e horizontal, do consumo."
Gostaria de um dia poder dizer o mesmo, sinceramente.
Entretanto desejo-lhe a continuação de uma boa peregrinação pelos caminhos mais recônditos da alma.:)
Lusco_fusco,
Essa ideia da irmandade "murcon's cátaros" está engraçada:)
"Se vier convencido, não terá muita dificuldade a convencer alguns de nós..."
Achas??? Então vou ver se me consigo deixar convencer:) ou lá fico excluída da irmandade.
"E depois, aqueles velhinhos a tresandarem a saúde e a passarem por mim..." Não os inveje professor- são corpos sem pecados e almas de sacrifícios. ;]
Mas o que lhe deu agora para andar a fazer? Já estou a ver esta malta toda a virar monárquicos, a desenhar uma bandeira e a arranjar-lhe (mais um ?) brasão.
O professor é o nosso Bryan! LOL
"Pessoalmente não acredito em Spas espirituais.
Tal como disse a Pamina no outro post, também eu gostava de ter um lugar onde sentisse essa exaltação espiritual.
Não há nenhum local que me faça sentir em comunhão com o transcendente."
Andorinha, não me digas que não sentes vertigens quando bordas os céus perseguida ou perseguidora ou ao lado de outra ave? ;]
Deixas, sou eu a "bicar-te"
Cêtê,
Podes "bicar-me à vontade.:)
Vertigens espirituais não sinto, que posso eu fazer???:(
Das outras tenho, tudo o que seja mais alto que um quinto andar já arrasa comigo:)))
"...a Graça da Fé invade-me e eu acredito de novo que o nosso futuro não se esgotará na vertigem, acéfala e horizontal, do consumo..."
...
Eu também acredito.
E quando cheguei a Carcassone.. perante a imponência do lugar, senti-me abafada pela história e impotente perante o egoísmo e as vaidades humanas que invadiram aquelas muralhas!!
Lys,
Bruxinha, como sempre:)
Bjs.
Andorinha podes não ser convencida mas ser amiga cooperante :)))))
è mais uma forcinha pela causa :p
Beijoka
Lusco_fusco,
Amiga cooperante serei de certeza:)))
Beijinhos.
Racismo Boss, a palavvra que me ocorre é racismo. Mais: consumófobia. Então não sabes que ao estares aí tb estás a consumir? Estás a consumir um bem cultural pelo qual pagaste (e a bom preço, presumo). Então que racismo é esse para com os irmãos que preferem o novo Porsche GT3? Ou um novo casaco de vison? Ou comprar um quadro de Modigliani, como fez ontem um nosso irmão por 23 milhões de euros? Não vejo diferença nenhuma, desde que o usufruto seja balsâmico para os sentidos. Esta coisa de uns consumidores acharem que são melhores que outros tem de acabar. Qualquer dia começa-se a criticar a malta do secundário não saber ler nem escrever ; )))))))))))))))))))
lys,
Não esquecer a pesquisa vitivinícola e gastrómica, também elas de vital importância para conhecer a cultura cátara. Imagino o Boss com uma malguinha (que eu sei que as há aí) de vinho na mão a dizer: "com pinga desta admira-me que os cristãos tenham conseguido vencer os cátaros" looooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooool
Bom dia a todos!
Professor mas que grande passeata:)
Existem lugares especiais de comtemplação sim...e nem sempre têm de ter caracter histórico ou religioso; A natureza por vezes surpreende-nos pela sua estravagância, causando-nos emoções sublimes que nos levam à contemplação.
Contudo há muito de subjectividade nisto tudo; uns são cativados ou sensibilizados por umas razões e outros por outras mas existe sempre em cada um de nós a possibilidade de isso acontecer.
É vulgar dizer-se que determinados locais "perturbam" como se uma "carga mítica" funciasse. Neste momento estou-me a lembrar de Stonhedge em Inglaterra que é uma construção magalítica de alinhamento em forma de círculo, que apesar de ser ancestral foi construida segundo uma simbologia que lhe permitiu ser local de comtemplação de enorme atração e procura. Aqui, e mesmo levando já essa ideia preconcebida, me deixei igualmente tocar pela mística :)
Menina da Lua
E por cá temos o Cromelech dos Almendros, em Évora...
Bjinhos
Entretanto O Prof. e a Ana Mesquita foram mimetizados no Portugalex de 15 de Junho, mas parece-me que os confundiram com o Eduardo Sá e a Isabel Stilwell dos "Dias do Avesso"...
Prof., continuação de boa peregrinação e já vi que sempre nos lembra nessas meditações. Bem precisamos todos de lugares de paz e silêncio como lenitivos deste Purgatório quotidiano.
Até breve
Beijnhos
Como lá em cima o copo retemperador não nos espera, permita-me a sugestão de na auto-estrada Entre-Deux-Mers, sair em Ferrals-les-Corbières e seguir até Fontjoncouse. O Michelin Rouge e o Gault&Millault dizem porquê, e eu confirmo.
Aspásia
Julgo que tambem conheço:)
"Bem precisamos todos de lugares de paz e silêncio como lenitivos deste Purgatório quotidiano."
Isso é verdade...é tão verdade que mesmo sem purgatorios ou até infernos os lugares de paz fazem sempre todo mas todo o sentido; levam-nos ao encontro da nossa própria serenidade...
Beijinhos para si tambem
Boa tarde.
Aspásia e ameninadalua,
"Bem precisamos todos de lugares de paz e silêncio..."
Sem dúvida, nesta correria e frenesim do quotidiano, esses lugares são um bálsamo retemperador; respiramos paz e tranquilidade e sentimo-nos melhor connosco e com os outros.
Até mais logo, gente:)
Já que falaram em Stonhedge, não esqueçam que há um cromeleque ao pé de Évora, o dos Almendres, entre outros e que pode ser visto aqui: http://portugal.montranet.com/portugal/almendres/index.htm
Aspásia,
por acaso o "portugalex" saiu um bocado ao lado. Nem o texto nem os "maneirismos expressivos" parecem criticar seja o que for. A única semelhança são talvez as gargalhadas com que se iniciam logo os programas.. :))))
Neste site podem ver este e todos os monumentos portugueses. Divirtam-se
http://360portugal.com/
:)
MJ
lusco_fusco
muito boas escolhas gastronómicas a norte: victor e d. roberto.
Fiury
:))) No norte come-se bem :)))
Tb conheces!!!
No norte tudo é bom ;-) Até o ar puro para abrir o apetite...
Conheço a sensação...
Vai-se subindo; o pensamento também; e o coração ao alto, e ambos lado a lado...
E quase parece que em baixo fica o passado; e o horizonte se eleva acima de nós; e o futuro que esperamos pode ser melhor.
E "regressar" doi ;-)
Bem-haja! :-)
sim lusco_fusco, conheço.
no d. roberto delicio-me com as sopas, a caça e o pudim de castanhas:)))) para não falar das compotas e dos licores...no victor,a caminho do gerês, olhe, nem sei, venha o diabo e escolha:)))
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