domingo, março 04, 2007

A vergonha que não chega de Marte.

Maria,
Leste o post do Alquimista? Quase me apetece dizer que a palavra ódio é demasiado elaborada para aquela gente (e outra semelhante por esses estádios fora). Funcionam por reflexos condicionados que nem a morte de alguém quebra, tomam por solidariedade e rituais de grupo o que não passa de acefalia, envergonham quem pensam apoiar. E todos nós por arrastamento, por deixarmos crescer um mundo em que comentadores se referem ao fenómeno dizendo que "todo o estádio aplaude, excepto uma pequena minoria..." e passam adiante, o esférico já rola! E ao segui-lo no relvado, desviamos o olhar e ignoramos a vergonha...

35 comentários:

MJ disse...

Professor:

Tal como disse no comment que deixei no Alquimista, situações dete tipo vão "vulgarizar-se" cada vez mais. Eu que, na escola, lido diariamente com jovens, apercebo-me, horrorizada, que a falta de valores é um problema crescente...

Que tal se começássemos por "educar" os pais destes "meninos"?

Um abraço grande*

Fora-de-Lei disse...

O que vale, é que continuarão sempre a existir - em qualquer clube - pessoas como o Alquimista.

Viva o Glorioso !!!

andorinha disse...

Boa noite.

Só soube do que aconteceu pelo Alquimista, precisamente.
Não há adjectivos que cheguem para classificar a atitude da claque dos Super Dragões.

E essa de "todo o estádio aplaude, excepto uma pequena minoria..."...
Como é possível comentadores não serem isentos e assim distorcerem a realidade?:(

"O que vale, é que continuarão sempre a existir - em qualquer clube - pessoas como o Alquimista."
É isso mesmo, Fora de lei.

andorinha disse...

Mj,

A falta de valores é um problema crescente, mas não afecta só os jovens.

Eu também lido diariamente na escola com jovens e verifico com satisfação que muitos deles têm valores e se regem por eles.
Não são eles a geração rasca.

E aqui estamos a falar não propriamente de jovens dessa faixa etária, mas sim de uma cambada de energúmenos de várias idades que vão para um estádio de futebol não para apreciar o espectáculo, mas sim para darem vazão aos seus "ódios de estimação" e pelo menos por umas horas se sentirem libertos das suas vidas vazias.
São realidades diferentes e é preciso que não se confundam.

CêTê disse...

Boa noite,
Apesar de simpatizante do FCP só posso (obviamente) reprovar e lamentar que atitudes desta natureza (e similares) não justifiquem (a erradicação dos elementos da claque ou a sua completa exclusão.

abraços

MJ disse...

Andorinha:

Eu NÃO afirmei que não havia jovens com valores!
O que eu disse é que se nota que é cada vez maior o número dos que não os têm. É diferente.

"São realidades diferentes e é preciso que não se confundam"

Desculpa mas não concordo...
Se não há valores no futebol, é porque não os há noutras áreas e noutras circuntâncias também.

Esta "minoria" que agiu, "aqui", assim, agirá de forma semelhante em qualquer contexto.

Boa noite.

Um abraço

PAH, nã sei! disse...

Tenho bastante medo do futuro deste "cantinho" chamado Portugal...

Marx disse...

Vi, na TV, o comentário "jornalístico" à assobiadela. E confesso não entender a escandaleira provocada pelas invectivas da claque portista. Que tudo isto é lastimável é, para mim, evidente. Mas é, também e desgraçadamente habitual. Sucederá, seguramente, na próxima semana, num outro estádio de futebol. Com uma outra qualquer figura grada do desporto. Afinal esta é mais uma prova da alienação que grassa nas claques do futebol. Basicamente frequentada por gente que procura curtir, adrenalina, ou outra treta qualquer. Que funcionam com o instinto do mais puro buldogue. Que estão ensinados para atacar todas as camisolas que «não são nossas». Pelo simples cheiro do suor. Ora, tudo isto é devidamente fomentado por senhores responsáveis. Dos clubes, das SAD's, dos programas desportivos da TV, etc. Aliás, creio que a única diferença estará nas gravatas. Há uns que usam coleiras.

Migmaia disse...

Boa noite,


Na minha adolescência fiz parte da 1ª claque organizada do FCP, os Dragões Azuis. Não chegávamos para encher uma camioneta (no início), e éramos maioritariamente jovens de vários extractos sociais. Procurávamos passar bons momentos à sombra dos êxitos do clube. Mantínhamos relações com as claques de outros clubes, promovendo essencialmente o "cunbíbio".
Actualmente, e pelo pouco que sei das claques, o fenómeno profissionalizou-se. Os seus elementos, na grande maioria sem a escolaridade básica, dedicam-se a tempo inteiro à causa. Que pouco tem a ver com o futebol. Sem querer entrar em detalhes, até pelo melindre do tema, mas todos sabemos que os responsáveis das claques se encontram associados a actividades duvidosas.
Há duas semanas atrás, morreu um polícia em Itália, em consequência de distúrbios ocorridos num jogo de futebol. Foram suspensos todos os jogos e interditados os estádios que não ofereciam segurança. Identificaram os causadores dos tumultos, mas já foi tarde para o polícia.
Noutros Países mais evoluídos, acredito que existam medidas de carácter preventivo, que permitiam manter controlados estes grupos, contribuindo para a redução da criminalidade que lhes é inerente.
Em Portugal, vamos esperar que o fenómeno alastre e se verifique alguma tragédia. É o fado…

maria estrela disse...

Falando em valores dos jovens ou na falta deles gostaria de referir apenas um aspecto: na escola onde trabalho deparo-me com situações deveras problemáticas(iguais às da maior parte das escolas do país). Quando reúno com os pais (se consigo que venham à escola)mudo logo de opinião em relação aos miúdos. Alguns passam logo a heróis, porque com pais daqueles...
O que é que aconteceu à geração de pais que tem agora os filhos na escola?
Valores??? Atestados médicos (falsos) para justificar faltas de filhos quando andam na escola todo o dia ou nas imediações...
Estragam o equipamento? Não faz mal é do Estado...; Falta de respeito às Auxiliares de Acção Educativa? Elas estão lá é para limpar...
Inventem-se de facto novos pais...e resolvemos de uma penada 80% dos problemas com que nos debatemos nas nossas escolas.

A Menina da Lua disse...

Boa noite

Acabo de chegar dum filme onde uma professora já com uma certa idade e experiência dizia ao observar uma cerca de recreio que dantes os alunos escondiam cigarros e revistas pornográficos, hoje escondem droga e armas brancas, facas, canivetes etc.

É preocupante, os valores estão um pouco distantes desta nossa sociedade onde cada vez mais engrossa o sentimento de insatisfação, vazio e até duma certa desorientação....

Este caso é bem exemplo disso; a cegueira da claque torna-os palhaços dum ritual vazio e profundamente desumanizado...

Mas a vida tem espaço para a esperança e há sempre quem lute e esteja mesmo em contra corrente a favor do seu proprio sentido de alma que no fundo é o mesmo de todos nós...

andorinha disse...

Mj (8.22)

"São realidades diferentes e é preciso que não se confundam"

Continuo a afirmar o mesmo. Aqui trata-se de claques organizadas, é um fenómeno muito particular do futebol.

"Esta "minoria" que agiu, "aqui", assim, agirá de forma semelhante em qualquer contexto."

Não necessariamente. Agem assim porque sentem a força do grupo e pensam que ao "humilharem" o rival se estão a engrandecer a eles.
Mentes ocas que se sentem felizes ao fazerem disparates e provocarem desacatos.

Os meus alunos, e de certeza os teus também, vão ao futebol e não fazem estas cenas, por isso eu digo que são realidades diferentes.
Não são os miúdos sempre os maus da fita.

Marx,
"E confesso não entender a escandaleira provocada pelas invectivas da claque portista. Que tudo isto é lastimável é, para mim, evidente. Mas é, também e desgraçadamente habitual."

Lamentável, claro que sim.
Habitual também vai sendo, mas por isso não entendes a escandaleira???
Não sentir indignação pelo que se passou, é quase o mesmo que pactuar com os arruaceiros.

Com o resto do teu comentário estou de acordo.

P.S. Ainda não ouvi nenhum responsável do FCP pedir desculpas e dizer que lamentava o sucedido.
Afinal a falta de valores é só dos jovens, ou eles têm bem com quem aprender?:(

alquimista disse...

Caro Professor JMV:

A "promoção" do assunto a post deste seu mediático blog (o que desde já agradeço)foi o melhor contributo para a discussão do mesmo e para a tomada de consciência de uma epidemia que, infelizmente, atinge quase todos os bichos da selva futebolística e não só animal que ontem esteve em causa. Assim todos, mas mesmo todos saibam, na altura própria, denunciá-la e contê-la.

Já vi muitos falsos moralismos, muitas virgens inocentes, muita hipocrisia, quando se trata de denunciar o que se passa na casa dos outros e assobiar para o lado quando o mesmo se passa em nossas casas.
O passado e o presente desportivo desta terra está cheia de exemplos desses. Eu tenho-os bem presentes.

Mas no desporto, mais que em qualquer outra actividade, a clubite não deixa pensar frio.

Não existe solução fácil. Nem nunca existirá. Compete-nos a nós, educadores, lutar por ela. Em casa, na escola, no recinto desportivo...

Não interessa qual o escalão etário, não interessa se alguns têm ainda esses valores, porque a realidade é una. Não há pedaços de realidade.

E ela, neste momento, sem pessimismos, não se recomenda.

Obrigado pelas vossas visitas e, em especial, à proverbial generosidade do professor JMV (e já agora à sua não menos identitária BONOMIA, lembra-se?)

Um abraço para si professor e a todos vós.

Isabel Victor disse...

A propósito ...

Coloco a seguinte questão à atenta comunidade Murcónica

Pergunto, será que ainda vamos ter um " ? "

(perdoai-lhes senhor por invocarem o ilustre nome de MUSEU vão !) , dito museu, dedicado ao ditador Salazar , na sua santa terrinha, antes de termos um grande MUSEU português dedicado à resistência e aos negros anos do fascismo, que tantas vidas eclipsou ? Teremos que nos questionar ... quando o conceito de museu é usado para branquear a memória e atraiçoar a história ! Não lhe chamem MUSEU, chamem-lhe mausoléu, epitáfio à falta de lucidez. Monumento à pequenez ...

Eclipsámo-nos de vez ?!

_________________________________________________________


A esta inquietação CN responde ASSIM com magistral argumentação ! Dê o seu contributo para o museu que nos faz falta em »»»»»» Esse grande filho da Pátria


Posted by isabel victor

ASPÁSIA disse...

AI PORTUGAL
ESTÁS MESMO MAL
ASSIM NÃO VALE...
IRRA!(CIONAL)
ECLIPSE TOTAL

Klatuu o embuçado disse...

Mas de Marte acabaram de chegar dois batalhões da República Socialista da Albânia... :)

Cumprimentos.

Ti disse...

Sinceramente eu sou puto demais para ter uma opinião válida sobre o Sr. Salazar, parece-me que não é pior do que o D. Afonso Henriques, que pode ser considerado um ditador sanguinário, mas mesmo assim é considerado um dos grandes portugueses.
A mim parece-me que o tal museu é um sinal de maturidade, apesar das manifestações em torno do mesmo não serem um grande indício.

Mário Rui Santos disse...

dá a mão em vez de apontares o dedo

Ti disse...

Na minha opinião há que fortalecer a personalidade individual.

A maior parte destas pessoas só tem estes comportamentos por estar em grupo e por não ter "força" suficiente para se impôr. Depois deixam de existir como individuos e fazem as maiores barbaridades "em nome do grupo".

Fora-de-Lei disse...

Ti 9:35 AM

Afinal temos um imaturo a falar de maturidade. Madurezas...

lobices disse...

...subscrevo o comentário de marx das 08.42 am

Marx disse...

Andorinha,

Creio que a conclusão sobre a pretensa falta de «indignação» no meu comentário será precipitada. Efectivamente, não pretendi ficar-me pelo pontual desabafo sobre a má-educação, incivilidade, falta de cidadania, ou de fair-play, dos membros desta claque. Que entendo serem idênticas a todas as outras. Nem fazer análises sociológicas ou de tipo sócio-económico, centradas nas origens, os rituais, dos seus membros, para concluir pelas culpas de pais e eventualmente avós. Isto sem querer por em causa, naturalmente, a genuinidade destas análises. Só que quis ir um pouco mais além. Ao que, na minha perspectiva, serão as origens mais profundas destes acontecimentos. As quais resistem a quaisquer indignações pontuais, geralmente "sanadas" com pedidos de desculpas. Noutros casos, até, com pontuais suspensões das claques ou dos apoios que estas recebem dos clubes. O que decerto concordará não evitará que, numa próxima jornada, sejamos convocados para nova manifestação de indignação. Desta vez sobre o desrespeito dos membros da claque B face à memória do craque Y.

Referi não entender, efectivamente, a escandaleira, porque este fenómeno existe há muito, à vista de todos e não apenas nos estádios. Quando senhores "analistas" discutem na televisão ou nos jornais, usando a mesmíssima cegueira clubística desta gente. Quando dirigentes desportivos chamados pela justiça se protegem na multidão dos seus holligans. Quando respeitáveis accionistas empresariais de SAD’s escrutinam e fecham sem reservas o exercício das suas actividades. Etc. Ora, na minha perspectiva, a raiz deste fenómeno estará aqui. Porventura, mais do que nas bancadas dos estádios. E mesmo que alguém «peça desculpa», como sugere no seu P.S., não garantirá que isso não volte a acontecer. Pois só ocorreria se as mentalidades do futebol se alterassem. Que não apenas as das claques.

ASPÁSIA disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ASPÁSIA disse...

TI

"A maior parte destas pessoas só tem estes comportamentos"

MEU AMIGO, VOCÊ PODERÁ SER IMATURO EM TUDO, MAS POR ESTA FRASE NÃO O É EM PORTUGUÊS (LÍNGUA PORTUGUESA).

DEVE SER UMA DAS RARAS PESSOAS HOJE EM DIA QUE SABEM - (aqui eu fiz a concordância com "raras pessoas que"...) - FAZER A CONCORDÂNCIA DO VERBO COM O SUJEITO, OU SEJA, ESTANDO O SUJEITO NO SINGULAR, O VERBO TAMBÉM ESTÁ.

É PRECISO FALAR MUITO, LÁ ISSO É... MAS FAZÊ-LO EM BOM PORTUGUÊS É O QUE NOS COMPETE EM PRIMEIRO LUGAR QUALQUER QUE SEJA A NOSSA OPINIÃO.

QUANTO AO CONTEÚDO DO SEU POST, EU RESPEITO A RELIGIÃO DE CADA UM, DESDE QUE FAÇAM O MESMO COMIGO, QUE ALIÁS NÃO TENHO NENHUMA. SENHORAS DE FÁTIMA HÁ MUITAS, E SÓ LÁ VAI QUEM QUER...

CONTINUE A ESCREVER NESSE BOM PORTUGUÊS QUE MESMO QUE DIGA ALGUMA ASNEIRA, SÓ POR ISSO VALE A PENA!

:)

ASPÁSIA disse...

E PARA AJUDAR A SAIR DO ECLIPSE TOTAL...

PORQUE NÃO TENTAR SEGUIR O SOL?

PELO MENOS, TENTAR...

(PROF., DESCULPE, ASSASSINEI O MACCA...)

fiury disse...

isto remonta ao coliseu de roma!

ASPÁSIA disse...

FIURY

COMO SE VÊ PORTUGAL ESTÁ NA MESMA HÁ 2000 ANOS...

MATARAM VIRIATO, FOI ESSE O MAL...

:(

fiury disse...

aspásia
também não vamos ser tão drásticos.portugal somos todos nós. mas estas manifestações de cólera colectiva no desporto são aterradoras. instigadas pelos "modelos" complicam-se.

fiury disse...

e tais comportamentos devem ser exemplarmente, radicalmente e proporcionalmente penalizados.

thorazine disse...

"Gracchus: Fear and wonder, a powerful combination.
Gaius: You really think people are going to be seduced by that?
Gracchus: I think he knows what Rome is. Rome is the mob. Conjure magic for them and they'll be distracted. Take away their freedom and still they'll roar. The beating heart of Rome is not the marble of the senate, it's the sand of the coliseum. He'll bring them death - and they will love him for it."

Do filme "Gladiator". ;))

Penso que este tipo de cultura futebolística (que não nasceu agora) deve-se em parte à mensagem que é passada pelos clubes e pelos próprios jogadoresd do que é um jogo. Desde a atitude dentro do campo a fora do campo. Mesmo que muita gente saiba competir de forma saudável outros tantos levam este amor irracional que é o futebol ao extremo.

O povo responde sempre como sabe, como lhe foi ensinado.! ;((

Fora-de-Lei disse...

thorazine 2:46 PM

Olha que, salvo poucas e nada honrosas excepções, os jogadores ainda são do melhor que o futebol tem. O pior são - isso sim - os dirigentes. E determinadas claques são aquilo que são em virtude de se acharem super-protegidas por certo tipo de dirigentes...

Se numa prova da UEFA ou da FIFA se ouvissem insultos racistas num qualquer estádio, o clube em causa seria fortemente penalizado. Aqui foi a memória de um jogador que foi insultada. E o que vão fazer a Liga e/ou a Federação ? Nada. É este o país que temos !!!

PS: não falo assim por isto ter acontecido com os Super-Dragões. Se fosse com os No Name Boys diria exactamente o mesmo.

andorinha disse...

Boa noite.

Marx (11.33)

A minha conclusão poderá ter sido precipitada,admito, mas fiquei com a sensação pelo que escreveste que pelo facto de infelizmente esses acontecimentos se irem tornando banais, já nem valeria a pena indignarmo-nos.
Claro que a nossa indignação não resolve nada, mas temos direito a ela.
E no dia em que deixarmos de nos indignar, então aí batemos no fundo.

Já ontem concordei com o teu comentário e concordo hoje novamente.
Reconheço que tudo o que dizes é verdade. Gosto muito de futebol, também vejo alguns programas desportivos e apercebo-me que muitas vezes os jornalistas e/ou comentaristas em vez de tentarem fazer uma análise serena e lúcida, pelo contrário, acirram os ânimos já de si exaltados do adepto comum.
Têm muitas culpas no cartório.
Em relação aos dirigentes desportivos, SADs e por aí fora...idem, idem, aspas, aspas.

Fora de lei(7.08)
Concordo também contigo.
Quanto a uma eventual penalização por parte da Liga nem tinha pensado nisso.
Se o clube tivesse o campo interditado ou fosse obrigado a realizar uns quantos jogos à porta fechada, talvez as coisas mudassem
Seria a única forma, talvez, de os clubes tentarem controlar esses energúmenos.
Mas como referes, estamos em Portugal e está tudo dito:(

LR disse...

Completamente fora de propósito, não resisto a deixar aqui umas "penadas" do MIGUEL ESTEVES CARDOSO que suspeito vão assentar no Murcon como uma luva...
- O homem desta vez... tem razão ou não tem?
Digo eu, que também sou deste Norte de que ele fala...
................................
«Primeiro, as verdades.
O Norte é mais Português que Portugal.
As minhotas são as raparigas mais bonitas do País.
O Minho é a nossa província mais estragada e continua a ser a mais bela.
As festas da Nossa Senhora da Agonia são as maiores e mais impressionantes
que já se viram.

Viana do Castelo é uma cidade clara. Não esconde nada. Não há uma Viana
secreta. Não há outra Viana do lado de lá. Em Viana do Castelo está tudo à
vista. A luz mostra tudo o que há para ver. É uma cidade verde-branca.
Verde- rio e verde-mar, mas branca. Em Agosto até o verde mais escuro, que
se vê nas árvores antigas do Monte de Santa Luzia, parece tornar-se branco
ao olhar. Até o granito das casas.

Mais verdades.

No Norte a comida é melhor.

O vinho é melhor. (NOTA 1)

só se for o Porto...de resto nada há que se assemelhe aos vinhos do sul... digo eu...

O serviço é melhor.

Os preços são mais baixos.

Não é difícil entrar ao calhas numa taberna, comer muito bem e pagar uma
ninharia.

Estas são as verdades do Norte de Portugal.

Mas há uma verdade maior.

É que só o Norte existe. O Sul não existe.

As partes mais bonitas de Portugal, o Alentejo, os Açores, a Madeira,
Lisboa, et caetera, existem sozinhas. O Sul é solto. Não se junta.

Não se diz que se é do Sul como se diz que se é do Norte.

No Norte dizem-se e orgulham-se de se dizer nortenhos. Quem é que se
identifica como sulista?

No Norte, as pessoas falam mais no Norte do que todos os portugueses juntos
falam de Portugal inteiro.

Os nortenhos não falam do Norte como se o Norte fosse um segundo país.

Não haja enganos.

Não falam do Norte para separá-lo de Portugal.

Falam do Norte apenas para separá-lo do resto de Portugal.

Para um nortenho, há o Norte e há o Resto. É a soma de um e de outro que
constitui Portugal.

Mas o Norte é onde Portugal começa.

Depois do Norte, Portugal limita-se a continuar, a correr por ali abaixo.

Deus nos livre, mas se se perdesse o resto do país e só ficasse o Norte,
Portugal continuaria a existir. Como país inteiro. Pátria mesmo, por muito
pequenina. No Norte.

Em contrapartida, sem o Norte, Portugal seria uma mera região da Europa.
Mais ou menos peninsular, ou insular.

É esta a verdade.

Lisboa é bonita e estranha mas é apenas uma cidade. O Alentejo é especial
mas ibérico, a Madeira é encantadora mas inglesa e os Açores são um caso à
parte. Em qualquer caso, os lisboetas não falam nem no Centro nem no Sul -
falam em Lisboa. Os alentejanos nem sequer falam do Algarve - falam do
Alentejo. As ilhas falam em si mesmas e naquela entidade incompreensível a
que chamam, qual hipermercado de mil misturadas, Continente.

No Norte, Portugal tira de si a sua ideia e ganha corpo. Está muito
estragado, mas é um estragado português, semi-arrependido, como quem não
quer a coisa.

O Norte cheira a dinheiro e a alecrim.

O asseio não é asséptico - cheira a cunhas, a conhecimentos e a arranjinho.
Tem esse defeito e essa verdade.

Em contrapartida, a conservação fantástica de (algum) Alentejo é mpecável,
porque os alentejanos são mais frios e conservadores (menos portugueses)
nessas coisas.

O Norte é feminino.

O Minho é uma menina. Tem a doçura agreste, a timidez insolente da mulher
portuguesa. Como um brinco doirado que luz numa orelha pequenina, o Norte dá
nas vistas sem se dar por isso.

As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis,
daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se
sozinhos.

Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas. Olham de
frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão
confiança. Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas,
graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas
pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade. Acho-as
verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram
quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma
panela, quando se lhes falta ao respeito. Gosto das pequeninas, com o cabelo

puxado atrás das orelhas, e das velhas, de carrapito perfeito, que têm os
olhos endurecidos de quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos
brincos, dos sapatos, das saias. Gosto das burguesas, vestidas à maneira, de

braço enlaçado nos homens. Fazem-me todas medo, na maneira calada como
conduzem as cerimónias e os maridos, mas gosto delas.

São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem. As mulheres do Norte
deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer. Em
Viana, durante as festas, são as senhoras em toda a parte. Numa procissão,
numa barraca de feira, numa taberna, são elas que decidem silenciosamente.

Trabalham três vezes mais que os homens e não lhes dão importância especial.

Só descomposturas, e mimos, e carinhos.

O Norte é a nossa verdade.

Ao princípio irritava-me que todos os nortenhos tivessem tanto orgulho no
Norte, porque me parecia que o orgulho era aleatório. Gostavam do Norte só
porque eram do Norte. Assim também eu. Ansiava por encontrar um nortenho que
preferisse Coimbra ou o Algarve, da maneira que eu, lisboeta, prefiro o
Norte. Afinal, Portugal é um caso muito sério e compete a cada português
escolher, de cabeça fria e coração quente, os seus pedaços e pormenores.
Depois percebi.

Os nortenhos, antes de nascer, já escolheram. Já nascem escolhidos. Não
escolhem a terra onde nascem, seja Ponte de Lima ou Amarante, e apesar de as
defenderem acerrimamente, põem acima dessas terras a terra maior que é o

"O Norte".

Defendem o "Norte" em Portugal como os Portugueses haviam de defender
Portugal no mundo. Este sacrifício colectivo, em que cada um adia a sua
pertença particular - o nome da sua terrinha - para poder pertencer a uma
terra maior, é comovente.

No Porto, dizem que as pessoas de Viana são melhores do que as do Porto. Em
Viana, dizem que as festas de Viana não são tão autênticas como as de Ponte
de Lima. Em Ponte de Lima dizem que a vila de Amarante ainda é mais bonita.
O Norte não tem nome próprio. Se o tem não o diz. Quem sabe se é mais Minho
ou Trás-os- Montes, se é litoral ou interior, português ou galego? Parece
vago. Mas não é. Basta olhar para aquelas caras e para aquelas casas, para
as árvores, para os muros, ouvir aquelas vozes, sentir aquelas mãos em cima
de nós, com a terra a tremer de tanto tambor e o céu em fogo, para
adivinhar.

O nome do Norte é Portugal. Portugal, como nome de terra, como nome de nós
todos, é um nome do Norte. Não é só o nome do Porto. É a maneira que têm e
dizer "Portugal" e "Portugueses". No Norte dizem-no a toda a hora, com a
maior das naturalidades. Sem complexos e sem patrioteirismos.

Como se fosse só um nome.

Como "Norte".

Como se fosse assim que chamassem uns pelos outros.

Porque é que não é assim que nos chamamos todos? »


...................................
NOTA 1
(só se for o Porto...de resto nada há que se assemelhe aos vinhos do sul... digo eu... embora concorde que não são tão originais)

João Soares disse...

Estimado Professor
Preparei um dossier no Bioterra http://bioterra.blogspot.com Educação pelo Desenvolvimento, Ambiente, Paz e Não Violência
que pretendo o mais extenso possível, como que um MANIFESTO comum, alertando os leitores do meu blogue que existem imensas possibilidades para a Paz e Cooperação Ambiental e quantas associações disponiveis a nivel local,regional e global que estão empenhadas neste espírito.
Caso não conste outras figuras mundiais ou projectos escolares interessantes, por favor me comuniquem.
Agradeço a maior divulgação deste dossier.E compareçam na manif.

Um abraço e Paz
Joao Soare

Marx disse...

Andorinha,

«E no dia em que deixarmos de nos indignar, então aí batemos no fundo.» Concordo em absoluto. Tal como com a necessidade dessa indignação ser bem direccionada. Sob risco da inocuidade dos seus efeitos.