A um mês do referendo Marina Costa Lobo marinacosta.lobo@gmail.comPolitóloga
A um mês do referendo, o jornal Público divulgou na sexta-feira uma sondagem realizada pela Intercam- pus sobre o referendo ao aborto: 62% afirmam que vão votar com toda a certeza, enquanto 38% já assumem algumas reservas quanto à possibilidade de ir votar. A ser este o resultado, estariam por isso largamente assegurados os necessários 50% para que o referendo fosse vinculativo. A sondagem revela ainda que o sim ganharia por uma larga margem: 67% respondem que votariam sim, contra apenas 33% que votariam não à despenalização da IVG.Esta sondagem obviamente agradará aos partidários do sim, mas não devia. Existe um conjunto de razões que sugere cautela aos partidários do sim, entre os quais me conto, em relação a estes dados.Em primeiro lugar, não é de mais lembrar que uma sondagem reflecte a realidade da opinião pública nesse momento e não o que será o resultado final. Quanto maior o tempo que medeia entre a sondagem e a consulta popular, maiores as probabilidades de haver diferenças entre os resultados de uma e de outra. Entre esta sondagem e o referendo decorrerá todo o período de campanha: a julgar pelo número de movimentos registados (até quinta- -feira estavam registados 15 movimentos que irão fazer campanha pelo não; e seis movimentos pelo sim), e os argumentos esgrimidos, a campanha arrisca-se a azedar. Quando esta começar, é possível e mesmo provável que haja mudanças de posicionamento por parte do eleitorado. Os estudos sobre comportamento eleitoral que visam as eleições legislativas e presidenciais em Portugal têm mostrado que cerca de um quinto do eleitorado toma a sua decisão de voto nas últimas duas semanas. Numa questão relativamente complexa como o aborto, a natureza dos argumentos a que se é exposto deverá ser fundamental para a decisão final.Em segundo lugar, as próprias sondagens publicadas em que um lado surge como vencedor à partida, tal como esta, podem ter um efeito perverso: neste caso, a sondagem pode desmobilizar os partidários do sim, na medida em que estes poderão considerar que o seu voto é desnecessário à vitória que já se afigura como certa; pelo contrário, a esta sondagem irá mobilizar o campo do não, onde claramente todos os votos são cruciais. Novamente, a campanha torna-se fundamental para manter o interesse e impedir a desmobilização do "sim".Em terceiro lugar, e como exercício de lucidez, vale a pena olhar para sondagens realizadas em igual período no anterior referendo ao aborto de Junho de 1998. Antes disso, recordemos os dados-chave desse referendo: apenas 32% dos portugueses foram votar; destes, 51% votaram contra e 49% votaram a favor da despenalização. Ressalvando as devidas diferenças metodológicas, uma sondagem do Expresso/Euroexpansão elaborada a um mês desse mesmo referendo e publicada a 6 de Junho de 1998 declarava que "a esmagadora maioria dos portugueses (81%) tem a intenção de votar no referendo sobre a despenalização do aborto, dia 28 de Junho. Ainda de acordo com esta consulta, o 'sim' ganha por 25 pontos percentuais e o número de indecisos é consideravelmente baixo: a cerca de um mês da realização do referendo, apenas 9% ainda não sabem como irão votar." Outras sondagens realizadas antes do referendo de 1998 corrobora- vam as conclusões do Expresso, nomeadamente as publicadas pelo Diário de Notícias. Embora as sondagens mais próximas do dia da consulta fossem indicando que a diferença percentual entre os apoiantes do "sim" e os apoiantes do "não" diminuía, estas sondagens davam a vitória ao "sim".Em quarto lugar, e tal como é referido no Público de ontem, os dados devem ser olhados com cautela porque nesta sondagem são os jovens (18-34 anos) o grupo etário que está neste momento mais convicto de que vai votar, com apenas 8% indicando não ter intenção de o fazer. Ora todos os estudos existentes nacionais e internacionais mostram que são precisamente os jovens os que se abstêm mais. Há boa vontade e boas intenções, mas no próprio dia é este grupo etário o que mais falha no seu dever de voto.Estas considerações devem ser suficientes para que a mobilização não seja descurada pelos partidários do sim.
Não quer isto dizer que aprove a medida anunciada na sexta-feira pela RTP, de colocar os tempos de antena às 19.00 de forma a minimizar o impacto dos movimentos de cidadãos maioritariamente a favor do não. Este é claramente um atentado contra a participação da sociedade civil que o PS tantas vezes apregoa, e é por isso inaceitável. O PS e o Governo devem tentar moldar e dominar o debate, mas não através da mudança das regras do jogo a meio, e sim pelos argumentos de que dispõem.
P.S. Tendo sido esta a motivação da RTP, ou a de não prejudicar audiências, partilho a opinião da autora - é inaceitável num canal de serviço público.
42 comentários:
Insisto.
Continua-se só a focar um ponto a juzante. Tudo o que está a montante desse ponto, que é final, ninguém aborda. Há imensas questões para debater, e com muita seriedade, para debater antes de se chegar ao aborto. Abortar não é uma solução fácil para ninguém. Mas tratar os problemas que o antecedem, ninguém o faz. Preocupa-me, e muito, como cidadão, a questão, já dramática, da pilula do dia seguinte. Ninguém trata, elucida, explica. Há um problema de pobreza de espirito que também contribui muito para o aborto. E há a hipocrisia social que mina qualquer boa vontade de resolver todos estes temas.
E termino por aqui. Isto já me cansa.
Enfim!
P. S. ABORTO SARL: http://www.blogger.com/publish-comment.do?blogID=29650579&postID=116852056830906254&r=ok
http://sentimentosdiarios.blogspot.com/
Também vale a pena - para se divertir - passar pelo blog do Cláudio Anaia, que a senhora refere no post: um pateta, que na faculdade fingia que estudava, entre guitarradas e atiranços a gajas! Claro berrava muito cagadas políticas!
Farto de viver entre gente medíocre!
Democracia, és tão bela... mas a que preço!!!
Boa tarde :-)
Faço minhas as palavras do Aquiles. Invista-se na prevenção. Eduquem-se as pessoas - jovens e adultos. Facultem-se os meios. Evite-se o evitável!
Um bom Domingo para todos.
Boa noite.
Do artigo retiro essencialmente o facto de ser importante que a sondagem não desmobilize os partidários do sim, pensando que a vitória já está garantida. Não poderia estar mais de acordo, até pelo exemplo do referendo anterior.
Ainda para mais, eu, que não confio muito em sondagens.
Portanto até dia 11 é importante continuar a "luta" como se se partisse do zero.
Júlio, não percebo o comentário que é feito em relação à RTP.
"... medida anunciada na sexta-feira pela RTP, de colocar os tempos de antena às 19.00 de forma a minimizar o impacto dos movimentos de cidadãos maioritariamente a favor do não."
Por que razão os tempos de antena às 19.00 só afectam os movimentos a favor do não?
Se os tempos de antena do sim também forem a essa hora, como presumo...
Alguma coisa me deve estar a escapar, sinceramente, já li e reli
e não consigo perceber o que tem isso de falta de isenção.
Os juizes portugueses só podem ser uns bem dispostos. Deduzo isso do que acabo de ouvir no TJ pela boca do Jorge Coelho, que disse que as mulheres que cometem aborto dependem da boa vontade ou não dos juízes, e que até agora nenhuma foi presa.
Uns bem dispostos é o que são os nossos juízes. E bonacheirões, acho eu.
...Juizes bem dispostos?... Claro que sim, também pelo que ouvi agora no TJ sobre a questão do álcool no sangue do Luisão... este com 1,44 levou um "castigo" de 40 h. de serviço comunitário e mantém a carta mas um serralheiro com 1,33 pagou multa e ficou sem carta...
...eu não disse ontem que a justiça não pode ser cega?
Andorinha:
Partindo do princípio que os tempos de antena vão ser à mesma hora, a única explicação que encontro é a de que os apoiantes do NÃO ainda não chegaram a casa a essa hora, ou então já se foram deitar. Poderemos incluir neste grupo o pessoal analfabeto e trabalhador, os idosos e os reformados. Os apoiantes do sim, profissionais liberais e afins, professores incluídos, já chegaram, já tiraram os chinelos, já puseram os pés em cima da mesa e já estão à espera do Telejornal ou do futebol.
Percebeste ? :)))
Pois é Lobices
O que não falta por aí são juízes bem dispostos. :):):):)
E ser jogador de um grande clube é passaporte de imunidade. :):):)
aquiles,
..e ligar os 4 piscas depois de puxar o travão de mão numa rua quase de sentido único também dá uma certa imunidade. Ou dar o pisca sem razão aparente na estrada, como lhe chama o Seinfeld, "eventual left/right"! Tanto pode ser agora como daqui a 4 semanes! ;))))))))))))))))
Boa noite.
Andorinha (8.16),
Quando li tive a mesma reacção do que tu e por isso também "li e reli". Na minha opinião, a chave está nesta frase do artigo:"...dos movimentos de cidadãos maioritariamente a favor do não." É que há mais movimentos a favor do não do que do sim: o não tem cerca de 3 vezes mais movimentos. Como o tempo de antena é repartido de forma IGUAL POR CADA MOVIMENTO (e não, tanto tempo para todos os movimentos pelo sim, em conjunto, e o mesmo tempo para todos os movimentos pelo não), se menos pessoas virem os spots a essa hora os movimentos pelo não serão os mais afectados.
Bom domingo para todos.
Alquimista (9.26)
Vai-te lixar:)))))
Pamina,
Iluminaste-me:)
Não sabia que havia mais movimentos a favor do não do que do sim, estou um bocado a leste nesse aspecto.
E escapou-me a palavra "maioritariamente"...
Claro que o tempo de antena é por cada movimento, teria que ser assim; se assim não fosse, então é que os movimentos pelo não seriam prejudicados, nunca poderia ser.
Obrigada pela ajuda, não gosto de ficar com dúvidas:)
Já agora, isto suscita-me outra questão: porquê tantos movimentos diferentes pelo não?
Só para terem mais tempo de antena?
O que é que os distingue?
Vão dizer todos essencialmente a mesma coisa, mas como são muitos repetem-na até à exaustão?
Espertinhos...vamos ver se não lhes sai o tiro pela culatra...
Andorinha (10.56),
Evidentemente que toda a gente tem o direito de constituir um movimento, desde que recolha as assinaturas suficientes, mas claro que é uma estratégia planeada.
Olha este artigo do Jornal de Notícias:
"CDS ajudou movimentos do "não" a multiplicar-se
Ivete Carneiro
Os apoiantes do "não" à despenalização do aborto incitaram a uma corrida para a multiplicação de movimentos e assinaturas, no âmbito da qual contaram com a ajuda do CDS-PP. Uma estratégia que do lado do "sim" é considerada normal, porque "têm contra si a opinião pública".
O mail que lança o apelo ao reforço de última hora na recolha de assinaturas data de 3 de Janeiro e é encabeçado por António Pinheiro Torres, social-democrata, activista em defesa da vida e figura de proa do já anteriormente existente movimento "Juntos pela Vida". E sugere claramente a necessidade de multiplicação de movimentos, pedindo ajuda para uma "operação de precisão cirúrgica" para chegar "aos 12 ou 13 grupos" (ver caixa). Acabaram por ser 15, reunindo 187.413 assinaturas em defesa do voto no "não" no referendo de Fevereiro. Muitas delas conseguidas graças a militantes e ao próprio líder do CDS-PP, Ribeiro e Castro.
Recebido nos computadores do Partido Popular, o mail foi reencaminhado por Ribeiro e Castro para o seu secretário-geral, Martim Borges de Freitas, perguntando o que poderia o CDS-PP "fazer para ajudar" nos distritos em dificuldades. "Não foi um pedido directo para o CDS-PP", garantiu-nos Martim Borges de Freitas. "Aliás, fizemos precisamente o contrário nós é que fizemos um apelo à sociedade civil para que se mobilizasse em torno do não", sem dar indicação interna no sentido de reunir assinaturas. O apelo de Pinheiro Torres terá sido simplesmente recebido por algum militante - "é público que há muitos" - inserido num movimento em defesa da vida.
O autor do apelo, do seu lado, garante que não se tratou de nenhum tipo de "emergência", nem foi dirigida ao CDS. António Pinheiro Torres assume-se simplesmente "envolvidíssimo na constituição de todos os grupos cívicos a nível nacional", podendo haver "gente do PP que tenha recebido" os mails que se diz ter "fartado" de escrever. Uma correspondência efectuada sob a égide da petição pela vida, organizada online pelo movimento "Mais Vida Mais Família". O próprio Borges de Freitas recebeu "imensos mails" pedindo ajuda.
O que "marca a diferença dos movimentos pelo não", diz Pinheiro Torres, "é serem genuinamente populares". E "multiplicam-se como se fossem clones", afirmou anteontem ao DN a defensora do "sim" Helena Matos. O que, acredita por seu lado Duarte Vilar, do Movimento Cidadania e Responsabilidade pelo SIM, "não vai alterar nada".
Lembrando as sondagens, o sociólogo da Associação para o Planeamento da Família diz que "vai ser difícil o "não" convencer a maioria da opinião pública depois dos julgamentos que houve". Além de que "a questão tem sido muito debatida e maioria já tem opinião formada". A diferença entre o números de grupos pelo "sim" (seis) e pelo "não" (15) resulta da estratégia, explica. "A deles foi uma estratégia regional enquanto nós optámos por movimentos à escala nacional"."
Como se vê, um processo "genuinamente popular":)))))))))))))))
(Fugiu-lhe a boca para a verdade, parece que lá Popular é...)
Li agora no Público que Francisco Louçã acusou Bagão Félix de estar a financiar a campanha pelo não através de milionários anónimos.
A propósito disto deparo-me com a seguinte "pérola" de um anónimo leitor/comentador: "É por causa destas e de outras, que a minha intenção era sim, mas depois de ver a charlatanice de alguns partidos de esquerda vou votar NÃO"
Digam-me se isto é "normal"!!!!!!!!
Vota-se por birrinhas ou por convicções?
É pena que esta gente não possa ser considerada inimputável e impedida de votar.
Grande parte das pessoas neste país continua a não ter a maturidade suficiente para participar em referendos:(((
Pamina (11.44)
Sim, Popular, sem dúvida!:)))
Quinze movimentos parece-me autenticamente um exagero, mas os estrategas lá sabem...
Também penso que os tempos de antena não serão determinantes para o resultado; e prevejo que vão ser extremamente esclarecedores.
(havia de haver um smiley para ironia...)
Até amanhã, gente:)
Sobre a sondagem, não creio que contenha o mesmo tipo de erros das de 1998. Na verdade, sendo um tema que interessa muito aos jovens, existe hoje um número adicional muito significativo de eleitores pertencente ao grupo etário mais jovem, o qual tem preponderância no SIM. E com vontade de votar.
Daí que, sem pôr em causa as preocupações do Aquiles, quanto aos problemas a montante, creio que, sendo o referendo um facto a constatar, o que me preocupa mais, como já aqui disse, é o que se irá passar a jusante, ou seja, a alteração do quadro legislativo que enquadre muitas das situações que irão ocorrer e que, à boa maneira portuguesa, ficam sempre para o posterior "desenrascanso". Somos, nesse domínio, de um significativo subdesenvolvimento. Prever, planear, prevenir não é connosco.
Queremos ser como os melhores, mas, curiosamente, não naquilo que de melhor os outros têm.
Quanto ao problema do tempo de antena, é lamentável que a RTP, mude o horário (muitos portugueses não estão em casa a essa hora) por razões de audiência. Nomeadamente, quando o Governo e a maioria na Assembleia da República, estão a preparar legislação que limita a liberdade dos canais privados.
No entanto, julgo que há um problema de fundo que a legislação dos referendos deveria resolver. Mas os políticos não resolvem. Por não saberem ou não quererem. É que num referendo só há três possibilidades: votar SIM, votar NÃO, ou abster-se ou votar em branco que é igual. Então, os tempos de antena deveriam ser distribuídos - independentemente do número de movimentos existentes para cada opção - de forma igual pelos três tipos de voto possível. Fácil.
Lobices
Já aqui disse a propósito de outro assunto que a lei não é objectiva. Necessita de alguém preparado para a interpretar e aplicar, atendendo às circunstâncias envolventes. As quais, para um mesmo caso, podem justificar acções penalizantes diferentes.
No caso concreto, o serralheiro pagou uma multa que substituiu a sua privação da liberdade. E, apesar do dinheiro lhe fazer, certamente, muita falta, terá sido melhor que perder a possibilidade de trabalhar e, por essa via, perder ainda mais dinheiro.
Quanto à pena ao jogador de futebol, que diferença lhe faria pagar uma multa igual à do serralheiro? Nada. No entanto, com trabalho útil para a comunidade, não só terá de o executar (e durante esse período não poderá exercer actividade ou lazer), como por ser uma figura pública não deixará de ser, por essa via, humilhado. Ou acredita que os jornais, repórteres, fotógrafos, televisões, vão deixar passar essa oportunidade?
Por isso, em contrário do que afirma, penso que bom senso teve o juiz que lhe deu tal sentença. Distinguiu, perante uma igual situação e com o mesmo quadro legislativo - com sábia administração da justiça -, o mais indefeso do mais poderoso.
Pamina,
"Evidentemente que toda a gente tem o direito de constituir um movimento, desde que recolha as assinaturas suficientes, mas claro que é uma estratégia planeada."
Não acho que seja uma estratégia planeada! Penso que simplesmente as pessoas juntam-se para lutarem pelo que acredita, não quer dizer que comuniquem entre sim para desenvolverem todos a mesma ideia porque até penso que até há vários motivos relevantes diferentes que cada uma defende o que pensa. E digo isto tanto para o "não" ou para o "sim"!
Andorinha,
ao criticar quase compulsivamente as "pessoas" da opinião contrária está squase a roçar no extremismo! :)
Andorinha,
ahhh, obviamente que aquela "pérola" é o reflexo da falta de alfebatização que se vive! Mas não sou pessimista ao pensar que todos são assim.. :P
Faço minhas estas palavras da Andorinha:
«Grande parte das pessoas neste país continua a não ter a maturidade suficiente para participar em referendos:(((»
Infelizmente, mais uma vez vamos assistir a uma campanha de contornos carnavalescos sobre um assunto privado... Ruído, ruído e mais ruído...
Mas porque é que este referendo tem de ser "partidarizado", se o assunto de que se está a tratar tem que ver com uma decisão da consciência íntima de cada um? A explicação estará no facto de haver indecisos? Estará no facto de haver, ainda, quem não tenha pensado no que faria se se visse na situação de uma gravidez indesejada, e nas condições que desejaria ter para o caso de a decisão ser abortar? Mas há ainda, neste país, quem não conheça uma amiga, uma irmã, uma tia, etc, que não tenha passado por esse problema? Para quê estes carnavais de campanhas pró e contra, com cartazes, bandeirinhas e eventuais "comícios"? Estamos a eleger alguém?!
Não seria muito mais proveitoso organizarem-se grupos de reflexão nos locais de trabalho, nas escolas, nas paróquias, nos clubes, nos Centros de Saúde (independentemente das decisões finais de cada um) sem se estar, à partida, a manipular opiniões? Se o problema é a falta de esclarecimento quanto aos meios de planeamento familiar mais eficazes, então esclareçam-se as pessoas de uma vez por todas, dêem-se-lhes os apoios materiais (pílulas, preservativos...) que forem necessários nos Centros de Saúde e façam-se aulas de Educação Sexual a sério nas escolas. Mas só se lembram destas coisas quando estamos a um mês do referendo?!
Sessões de esclarecimento, com serenidade, sem manipulações nem sondagens, seriam muito mais úteis para que as pessoas pudessem votar, em consciência e com a maturidade necessária, na opção com a qual se identificam mais. Só assim as pessoas, na situação concreta de colocar a cuz, poderiam ouvir a sua voz interior, em vez das ameaças de excomunhão proferidas pelo padre da paróquia, em vez da histeria das beatas, em vez das generalizações dos políticos de esquerda...
Em todas as campanhas há "tiros no pé": exaltações, argumentos apressados, incoerências...
Por isso, temo que o saldo desta que se segue não seja melhor, nem para os partidários do "sim" nem para os partidários do "não".
Ao menos espero que alguém tenha aprendido, com o fiasco do outro referendo, a refrear os ânimos. Caso contrário, o que vai haver é uma tremenda abstenção...
Lena B
JFR:
..."Por isso, em contrário do que afirma, penso que bom senso teve o juiz que lhe deu tal sentença"
...havia eu dito já, aquando dessa discussão em que a Justiça deveria não ser cega mas que deveria ser aplicada, exactamente, pela "emoção" de quem julga
:))
...daí que eu não esteja contra as nuances nem a "desigualdade" das penas
...apenas as "aponto" no sentido de frizar que, exactamente, a Justiça não pode ser cega, nem ter uma balança pendida para um dos lados e de espada na mão
...parece, afinal, que concordamos com o mesmo
O Público, esse jornal de pequeníssima distribuição. Quase local, eu diria. E no entanto, já lá vão 24 comentários. Alguém passou os olhos pelo estudo? Estava nas páginas 2 e 3, perfeitamente acessível. E para quem não quisesse gastar o eurito e tal podia sempre ir ler o estudo online. Infelizmente online estava truncado, faltava um número que me parece determinante para a análise do mesmo.
Apesar de a maioria ser a favor do Sim houve uma maioria que disse Não ao aborto a pedido da mulher. Ou seja, quando os entrevistadores reformularam a pergunta para "concorda com o aborto a pedido da mulher?" 65% disseram não (Público de Sexta-feira, 12-10-2007, p.2 caixa a cinzento). Um nro que reflecte bem o quanto esta vitória do Sim pode ser de Pirro. Com tanto passamento de mensagem de que o aborto é necessário para evitar situações extremas (dado o extremismo da campanha do Não) acabou-se por se passar ao lado do ponto que é, para mim, fundamental: o aborto é uma questão de igualidade pura entre homens e mulheres. E vai ser isto que depois vai ser fundamental no day after, na regulamentação. Cada vez concordo menos com a ideia do referendo. Não é por se ter feito asneira em 1998 que se vai agora emendar com outra asneira em 2007. Legislação passada em Assembleia seria um procedimento muito mais eficaz pois os prazos de regulamentação são muito mais curtos. Arriscamo-nos a ter legislação só lá para 2008 e sistema de articulação entre o SNS e as clínicas privadas só lá para 2009. Enfim...
E já agora, que dizer dos 55% de apoiantes do CDS-PP que diz que vai votar Sim, mais do que os do PSD?
E que dizer dos 32% que ainda dizem que a mulher devia ir parar à prisão?
Crazy country, este...
Daniel Sampaio a defender-se das acusações que a Comissão a que presidiu foi uma oportunidade perdida em termos de avanço na Educação Sexual em Portugal:
«Este ano houve um despacho do Ministério da Educação que é muito importante e as pessoas não falam, que é considerar que a área de educação para a saúde deve fazer parte do projecto educativo da escola», lembra o especialista.
Pois é, Daniel Sampaio, as pessoas não falam, as escolas não fazem nada. A tua Comissão realmente foi um marco na história da Educação Sexual em Portugal. Ou pelo menos na tua conta bancária, que n foste para lá à borlix ; ))))
Relativamente aos possíveis efeitos secundários das sondagens, perfeitamente de acordo.
Quanto à posição do Noise, face ao sentido de oportunidade do referendo, percebo-o.
Quanto ao cumprimento dos supostos deveres da RTP e ao "apelo à participação da sociedade civil que o PS tantas vezes apregoa"- estou a rir de escárnio!
Quanto ao Luisão...(chamado o assunto e muito bem pelo Lobices)... coitado! Pois então tirar-lhe a carta, nem pensar! Deixaria de poder ir aos treinos, aos jogos e às discotecas- o vencimento mal dá para o passe social! VERGONHOSO.
Faz lembrar outros processos em curso... Senhores a sairem de sobretudo e pasta de executivo de largo sorriso dos tribunais... enquanto outros por crimes menores só não são apedrejados à porta porque enfim...(mas isto são outras conversas)
De que clube é o moço? Será do Marítimo, as imagens eram na Madeira?
bjnhs
Thorazine (12.51),
Não é o que se conclui da leitura do artigo que transcrevi e de outras notícias. Como refere o entrevistado da APF, parece realmente haver uma estratégia concertada de tipo regional dos que apoiam o não, baseada na formação do maior número possível de movimentos. Veja-se este extracto duma notícia do Diário dos Açores:
“Açores pela Vida” recolhe 3 mil assinaturas contra o aborto
Regional
Vera Borges
02/01/2007 08:01:8
O Movimento "Açores Pela Vida" está a fazer uma campanha, com o objectivo de recolher assinaturas para a constituição do grupo Plataforma Não-Obrigada, contra a despenalização do aborto.
O Movimento "Açores Pela Vida" está a desenvolver uma campanha junto dos açorianos, com o objectivo de recolher assinaturas para a constituição do grupo de cidadãos da Plataforma Não-Obrigada, contra a despenalização do aborto. Em São Miguel e Terceira, o grupo "Açores pela Vida" já recolheu 3 mil assinaturas e vão juntar-se à Plataforma Não-Obrigada para participarem nos tempos de Antena. Está em andamento a constituição de dez grupos nacionais defensores do Não ao Aborto. Cada um necessita de 5 mil assinaturas para ter direito a tempo de Antena..."
(Bold meu)
Pamina
Também há nos Açores movimentos pró-aborto. A televisão local já fez um debate com pessoas das duas facções, com intervenções da assistência e de casa, por telefone. E na imprensa local já apareceram artigos de opinião de ambas as facções. Se calhar por aqui o tema já foi mais debatido pela comunicação social local do que pela do Continente. E ainda vão haver mais debates.
Tanto o não como o sim podem recorrer a esse artificio das 5000 assinaturas. Se uns se mobilizam e os outros não, há algo, então, que é preciso apreender.
Maas insisto que os problemas a montante não estão a ser debatidos.
JFR
O Lobices referiu que um não ficou sem a carta e o outro ficou sem ela. Eu entendo a bondade da diferenciação da atribuição das penas, mas porquê esta diferença na penalização. Não faz falta para o trabalho do serralheiro a carta? É que nisto eu não percebi o bom senso. O jogador, com uma taxa mais alta ficou com a carta, porquê?
mas hoje em dia ainda há quem veja televisão?!?!.... ;)
bom domingo a todos
Um dos problemas que me afligem é o que se refere às creches, infantários, ou lá o que queiram chamar. Se um casal quiser constituir família, ter filhos, depara-se logo com esse problema. Ou pela escassez, ou pelo preço insuportável. Quantos abortos não surgiram pela incapacidade de se ultrapassar este obstáculo? Se uma mãe tem de trabalhar (quem não tem) logo isto é um drama existencial. Como se resolve? Já sei que não faltam soluções teóricas. Mas na prática não há soluções à vista. Este é um dos problemas, e grave, a montante
Educação sexual, correcta e saudável, é outro dos problemas a montante, porque não há em nenhum patamar social, para além da apatia das escolas. Quantas vezes seriam evitadas situações de gravidez indesejada se não houvesse tanta ignorância sobre uma sexualidade salutar.
O preconceito, essa chaga social portuguesa, é também um dos grandes problemas a montante.
Boa noite.
Thora (12.51)
Extremista, eu?!
Não creio...embora seja verdade que não gosto de meias tintas:)
Mas o que me irrita são "argumentos" como aquele e outros do género.
Não critico as mulheres que seja por que motivo for, dizem convictamente não ao aborto.
Assim como não tenho o direito de interferir nas escolhas que fazem, também elas não têm o direito de interferir nas escolhas dos outros.
Ao votarem não, estão a afirmar que quem faz uma IVG é uma criminosa e deve ser tratada como tal:(
Acho isto de uma falta de sensibilidade total e até de espírito cristão; por isso não tenho em grande apreço essas pessoas, confesso.
Não há nada de incongruente no facto de uma mulher ser pessoalmente contra o aborto e no entanto votar sim no referendo.
A essas compreendo-as e admiro-as, até.
O referendo não vai obrigar ninguém a abortar, o que se pretende é por termo a situações chocantes.
E sobretudo o que me custa, Thora, é que muitas pessoas não consigam pensar pela própria cabeça...
Noise,
Tal como tu, cada vez concordo menos com a ideia do referendo, tal como já aqui referi várias vezes.
Os deputados tinham toda a legitimidade para fazerem passar a lei, e evitava-se toda esta crispação e todo este folclore a que já estamos assistir.
Mas agora não há nada a fazer, apenas seguir em frente.
E isto é um triste reflexo do país que somos:(
Aquiles,
Compreendo as preocupações que manifestas e devo dizer que também as partilho.
Há muita coisa a ser feita a esses vários níveis que referes.
Se nada for feito, não saimos da cepa torta.
Mas agora a questão é "só" se as mulheres que façam uma IVG devem continuar a ser consideradas criminosas. É a isso que vamos ter que responder no dia 11.
Todos os debates se deveriam centrar nisso, embora todas essas preocupações, legítimas, possam e devam ser abordadas.
Caríssimo,
Julgo que devemos atentar num outro pormenor, referente à estratégia organizativa dos movimentos pelo "Sim" e pelo "Não".
Enquanto os primeiros tem um perfil marcadamente nacional, os últimos apresentam uma lógica de actuação essencialmente regional, embora posteriormente se organizem em estruturas mais ou menos federativas visando alguma concertação estratégica.
Este facto, traduz, na minha análise, uma lógica hábil de adaptação dos argumentário dos defensores do “Não” às realidades sociológicas locais/regionais, conferindo-lhe maior flexibilidade e tornando o desfecho deste referendo uma incerteza absoluta.
Como tal, julgo ser importante a mobilização de todos aqueles que, como eu, defendem o "Sim" à despenalização.
Uma última questão, todavia, relativamente à essência da figura do referendo: mais de 30 anos volvidos sobre o 25 de Abril, não creio ser legítimo esgrimir o argumento de que o nosso povo carece de "maturidade” para participar num argumento sobre esta matéria ou outra qualquer.
Argumentos semelhantes, e perigosos, serviram, durante anos, de âncora ao Dr. Oliveira Salazar para recusar o sufrágio livre e universal que caracteriza as modernas democracias ocidentais.
Se nas eleições para a Assembleia da República, Presidência da República e Autarquias podemos compreender/justificar a elevada taxa de abstenção com o divórcio crescente entre a (classe) política e os cidadãos, o que está em causa num referendo é apenas o EXERCÍCIO DE UMA CIDADANIA DE FACTO, sem quaisquer intermediários.
É política em estado puro.
PS – Acho lamentável a introdução da questão “financeira” neste dirimir de posições; de igual forma rejeito o argumento dogmático de que “A mulher é dona do seu corpo.”. Com estes tipo de argumentos é difícil um debate sério....
Ram (9.15)
A maturidade cívica e o exercício responsável da cidadania não se adquirem por decreto.
Considero que ainda existem graves lacunas nesse sentido.
Trinta anos de democracia não bastaram para que muitas pessoas se habituassem a pensar por si e sobretudo se habituassem a não encarar as coisas numa perspectiva de guerrilha ou de facciosismo puro e duro e a não seguirem de forma acrítica as "orientações" partidárias.
Claro que não estou com isto a advogar o que advogava Salazar; é apenas a constatação, que com pena minha, diga-se, faço.
Estou a rebater o que dizes porque fui eu que falei em falta de maturidade; não me referi ao povo em geral, disse muitas pessoas; poderia quando muito rectificar para algumas pessoas, como o demonstra o comentário daquele leitor que acima mencionei.
Se houver muitos como aquele....
Aquiles:
Uma das razões, muito comum nas infracções ao código de estrada, determinante para uma aplicação diferenciada de pena, poderá ser a existência de antecedentes de faltas graves ou muito graves, por parte do serralheiro.
Não sei se é o caso, mas é uma hipótese. Claro que a advocacia, também pode fazer "milagres", explorando todas as hipóteses que a lei concede. Não é de estranhar, neste caso, diferenças a esse nível de apoio.
Este tema pelas mais diversas razões é-me muito "particular"...
Já escrevi na Blogosfera sobre isto mas queria aqui deixar mais uma vez a minha opinião e não só...
É importante antes de mais nada que eu defina a minha posição...
1º Sou a favor da liberalização (e não apenas de uma pretensa despenalização) do aborto quando por escolha do casal/mulher e não ponha em causa a vida de Nenhum Ser Humano...
2º Sei que não existe Ser Humano no Ovo, nem no embrião durante os primeiros tempos de vida...
3º Nunca foi feito nenhum estudo para definir onde começa a haver vida de um Ser Humano, no embrião/feto...
4º Sou contra a vinda para a opinião publica da questão do aborto, porque vejo isso como a passagem da batata quente para os outros, muitos dos quais não têm os "conhecimentos" mínimos para poderem decidir em consciência sobre tal problemática...
5º Acho que se faz uma enorme confusão entre vida humana e Ser Humano, que embora à partida pareça a mesma coisa na realidade não o é... Vida humana existe nos espermatozóides, no ovócito, no óvulo, no ovo, no embrião, no feto, no bebé, na criança, no adolescente, no jovem, no adulto, no idoso... Mas todos devem concordar que nem tudo o que referi corresponde a um Ser Humano...
6º À luz dos conhecimentos actuais, quer os que estão contra quer os que estão a favor do aborto têm razão... Definindo-se onde começa o Ser Humano ambos perdem de certeza parcialmente a razão...
7º Ao contrário do que se tenta passar para a opinião publica, não está em causa nenhuma despenalização (que se por acaso, no prazo que propõe, puser em causa a vida de um Ser Humano é à partida a despenalização de um crime, vulgo homicídio) mas o que está em causa é uma liberalização, senão reparem na atitude do ministro da saúde, a ver se as nossas instituições de saúde têm condições para atender a possível procura dos interessados para abortar...
8º Repugna-me tanto o discurso do “vão de escada” como o das “mulheres criminosas”... Não passa tudo de uma brutal hipocrisia...
Etc....
Posto isto vamos lá...
Compreende-se que quando o Casal ou individuo recorre ao Aborto, fá-lo a maioria das vezes porque sente que não podem(e) ter (ou não querem) esse filho. De qualquer modo...
Não concordo com a pergunta de grande peso sexista e de valor altamente feminista, num estado de direito onde todos os cidadãos independentemente do seu sexo devem ter os mesmos direitos. Mais ainda, quando na nossa constituição estão reconhecidos os direitos iguais entre mulheres e homens. Não vamos agora começar a tirar direito aos homens, quando depois da criança nascida lhes exigimos (e Correctamente) responsabilidades. Sei que ninguém mais que a mulher tem direito ao seu próprio corpo, bem como é no corpo de uma mulher que se desenvolve uma novo ou futuro Ser Humano (algo que faz parte da nossa natureza animal e que não pode ser alterada). Mas, essa nova vida é de exclusivo direito e responsabilidade dessa mulher? Como se coloca a responsabilidade de por fim à vida de um “filho” exclusivamente nas mãos das mulheres, como está na pergunta que vai a referendo. E, se por acaso essas mesmas mulheres decidem levar a gravidez à frente, exigem-se responsabilidades aos pais dessas crianças, sobre as quais nada tiveram a dizer quanto à continuação da gestação/vida desse mesmo “filho” numa fase inicial. Ou seja se devia continuar ou não a gravidez? Só porque segundo a natureza Humana o desenvolvimento de um novo ou futuro Ser Humano se dá dentro do corpo de uma mulher? Compreenderia isso sem problemas se o homem em causa se tivesse desresponsabilizado das suas obrigações. Mas isto não acontece sempre...
Espanta-me que a pergunta tenha passado no "crivo" do Tribunal Constitucional (também não foi por unanimidade), pois não ando eu preocupado a educar jovens para tentar limpar o mais possível o machismo que ainda sagra na nossa sociedade, para depois me vir o próprio "estado" fazer uma pergunta deste género... Não luto contra um extremismo para ver outro a vir e substitui-lo, disfarçado de "desgraçadinhas" a abortar debaixo de vão de escadas... Se me perguntar se tenho pena delas... Digo de caras... que da Maioria delas não tenho, pois a maioria tinha conhecimentos suficientes ou obrigação de ter conhecimentos suficientes para evitar tal, para além disso hoje em dia há opções menos problemáticas que se podem tomar quando se sabe que cometeu um deslize…
Aqui não discuto o discernimento de uma mulher para escolher ter ou não um filho, discuto a exclusão do homem de tal decisão (claro que me refiro aos que se preocupam, senão claro que concordo que a decisão seja exclusivamente feminina), pois um filho não o é só de uma mulher, mas é-o igualmente de um homem, que é pura e simplesmente excluído da pergunta... E não me venham com a teoria do corpo da mulher, porque quanto a isso não há nada a fazer, é uma questão da natureza serem as fêmeas de mamíferos placentários a ficarem grávidas, algo que inclui a mulher e não há nada a fazer em relação a isso... (pelo menos para já :-) )
Quanto ao problema em causa que é o Aborto ser ou não um direito. Quanto às excepções que já são aceites na actual lei nada tenho a dizer e bem pelo contrario estou plenamente de acordo com o que lá se define. Quanto ao direito de Abortar fora das actuais restrições impostas pela lei, apraz-me dizer o seguinte: Não é preciso nenhum referendo, nem de por o peso desta decisão sobre os ombros dos cidadãos. Não como dizem certos partidos e certas correntes da nossa sociedade, só porque há uma maioria de esquerda no Parlamento Português, porque não estamos a falar de “feijões” mas sim de algo mais importante que pode e tem a ver com Direitos Humanos. Mas sim porque com um estudo sério, bem conduzido e com isenção, sem o peso de extremismos partidários, religiosos, etc., se pode chegar sem problemas a uma conclusão mais que viável e justa.
O correcto era que se arranjasse uma equipa científica a fim de definir onde começa a vida de um Ser Humana. Pois basta ter um pouco de conhecimentos científicos para se saber que não é logo na concepção que começa a existir o Ser Humano, (pois não podemos chamar a uma “bola” de células de Ser Humano), tendo ainda em conta que no início o embrião está de tal modo ainda indefinido, que muitas vezes não sabemos se dali vai resultar uma ou duas vidas (caso por exemplo dos gémeos homozigóticos, por isso nos primeiros tempos ainda não há nada definido). Mas possivelmente também não é tão tarde como alguns pensam. Isso já não sei... Por isso essa equipe devia fazer um estudo profundo a fim de se “definir” onde começa a existir um Ser Humana. E aí nada mais a fazer... Um Ser Humano não tem mais direito à vida que outro, muito menos sobre a vida dos outros Seres Humanos, (a Vida é um dos primeiros, senão mesmo o primeiro Direito Humano), pese embora ser um Ser portador de outro dentro do seu corpo, condição natural que não pode ser mudada.
Feito isto, não há mais que promulgar uma lei que permita sem problemas que se faça o Aborto até o tempo determinado para o que se considera o início da existência de um Ser Humana. Podendo neste caso a decisão ser exclusiva da mulher que é dona do seu corpo e não está a afectar nenhum Ser Humano.
Algo em que como é obvio deve haver um maior investimento por parte do governo é numa melhoria da Educação Sexual e que esta chegue obrigatoriamente a todos. Porque se havia altura em que esta problemática tinha razão de se por, isso foi no passado quando havia uma grande falta de informação e ausência ou desconhecimento de métodos anticoncepcionais e as nossas “avós” lá engravidavam de mais um e depois lá vinham as complicações para criar mais um, etc.. Actualmente com a disponibilidade de informação e dos meios, as justificações são cada vez menores para se chegar a vias extremas. E se as pessoas tiverem conhecimento de que podem devido a um acto mal precavido estar grávidas recorrerão Atempadamente e dentro do Prazo Legal a local de saúde próprio para resolver o problema da melhor maneira possível. Se esse tipo de “operação” deve ser comparticipada pelo estado ou paga pelos “distraídos” isso nem tenho dúvidas... Deve ser pago pelo(s) próprio(s) interessado(s)... O dinheiro do erário publico tem onde ser mais bem aplicado...
Agora algo que não podemos como sociedade de direito que somos, é substituir o infanticídio, praticado como “método de planeamento familiar”, que se não me engano era feito até aos dois anos de idade legalmente no antigo Império Romano, por um infanticídio praticado dentro do útero materno só porque este “Ser” está fora do nosso campo de visão. Nem é lógico e justo pedir-se a um povo para decidir sobre a vida ou não vida de outros possíveis Seres Humanos. Defina-se onde se começa a ser um Ser Humano; desse-lhe o direito que ele tem e desse à mulher o direito que ela tem de decidir Atempadamente se quer ou não ser mãe.
Como pessoa consciente não entro em fanatismos de “Sou a Favor” ou “Sou Contra” só porque me apetece ou só porque só vejo os direitos de umas das partes, mas não me atrevo a decidir sobre o Direito à Vida ou Não Vida dos outros Seres Humanos (pois não sei a partir de que período pode começar a ser considerado como tal), nem de decidir quanto ao Direito que um(a) Casal/Mulher tem de escolher se quer(em) ser ou não pais/mãe.
Como estado laico que somos, devia-se ter a coragem de não enviar as responsabilidades para cima dos outros e ser-se verdadeiramente pioneiro (como já fomos noutras coisas em tempos) e requisitar-se a quem de direito e com conhecimentos científicos para tal, um estudo que defina a partir de que altura se passa a ser considerado Ser Humano, e, posto isto legisle-se apenas, atribuindo os direitos que têm os Seres Humanos não nascidos e às mulheres o direito de escolherem ser ou não mães Atempadamente.
Como já disse não sou contra a liberalização do aborto, só não sei se o limite das 10 semanas não será longo demais... Pois se neste limite de tempo estiver um período (por muito pequeno que seja) em que exista um Ser Humano, a pergunta que se está a fazer por si só é um crime... Como disse devia-se fazer um estudo sério (e existem técnicos e tecnologia bastantes e boas para tal) para se definir onde começa a existir um Ser Humano... O estúpido é andar a atirar-se a sociedade uma contra a outra...
Não acho que a actual lei chegue... Acho que pode ser ligeiramente alterada e ligeiramente liberalizada desde que proteja o direito à vida do Ser Humano... O problema é que ainda não se fez nada com esse fim, e quer-se legislar assim no “ar” e dar um aspecto de que se está preocupado com as coitadinhas das mulheres, podendo pelo meio estar a atropelar os direitos de outro Ser Humano (mas como ainda não se vê, se calhar vale tudo...)...
Não teria problema com o prazo das 10 semanas se tivesse havido um estudo aprofundado que me disse que era a partir daí que tinha início a vida de um Ser Humano... Mas não é isso que fazem... Lançam cá para fora um prazo (como já em tempos lançaram outros), vindos lá da cabeça sabe-se lá de quem por aí aos trambolhões sem bases científicas nenhumas, disfarçada de protecção às coitadas das mulheres do “vão de escadas”... Deixemo-nos de hipocrisias... Pois se este período de 10 semanas não trouxesse dúvidas não era preciso nem se devia por a referendo a decisão de despenalizar/liberalizar o aborto... Pois só tinha que se legislar adequadamente e mais nada...
Julgo também que pode haver no meio disto tudo uma grande confusão entre o que é Vida Humana e o que é Vida de um Ser Humano (vulgo Ser Humano), que embora à primeira vista possa parecer a mesma coisa na realidade não o é... Vida humana, como já atrás disse, existe também por exemplo num espermatozóide ou num ovócito, mas julgo que ninguém tem dúvidas que estas células não são Seres Humanos... Julgo ser aqui que reside o queziles da questão e o que tanto traumatiza a consciência daqueles que não querem ser fanáticos ao estar de uma lado ou do outro da barricada, dos sins e dos nãos, mas sim gostariam de ter uma resposta para o quando se pode considerar aquele "grupo de células" um Ser Humano, pois a partir daí ele adquire Direitos Humanos independentemente do local onde está a viver de momento... Mas o que julgo ser claro é que não é na fecundação nem nos primeiros tempos de vida do embrião que existe um Ser Humano, mas não sei se aparecerá só depois das 10 semanas ou se já não terá aparecido antes... O que eu gostaria que fosse respondido por autoridades competentes (e existem-nas) é onde começa o Ser Humano, em vez de se andar a legislar no vazio...
Julgo que não vamos andar daqui a pouco também a proteger espermatozóide e ovócitos só porque são também vida humana, certo???... :-) Bem... Quando se considera essas células como vida humana, não é por acaso... É porque "guardam" em si o potencial para gerar um Ser Humano... Aliás essas células sexuais, logo que podem começam a comportar-se como seres vivos independentes do ser que lhes deu origem, mas... Não são Seres Humanos.
Quanto ao que disse ainda, vou-vos contar uma coisa, para ver o potencial "guardado" nessas células, especialmente numa delas... Aqui à uns anos atrás foi registado e documentado um caso de "Partenogénese Rudimentar" em Seres Humanos... Quando uma moça sem a intervenção de nenhum espermatozóide ficou grávida... Isto deu-se porque num dos processos que devia levar à formação de um ovócito, que é Meiose, terá ocorrido um erro e a primeira divisão (que deveria ter reduzido o número de cromossomas a metade (23), criando uma célula haplóide) nunca chegou a completar-se, logo ficou-se com uma célula diplóide que tem tudo para se comportar como um Ovo... Que foi o que aconteceu com a dita moça que passado o tempo de gestação teve uma menina (porque isto só dá meninas, deixem-se de ideias... :-) antes que queiram arranjar desculpas lolololo)... Essa menina é em tudo praticamente uma clone da mãe, pois todo o código genético que possui é igual ao da mãe...
O problema a maior parte das vezes já vem de antes da necessidade de se recorrer ao aborto... As pessoas andam muitas vezes a “dormir” ou completamente despreocupadas, porque senão e depois de um “descuido” recorriam, desde que foi disponibilizada no mercado, atempadamente à pílula do dia seguinte (desde que não abusassem claro) e resolviam logo ali o problema, muito antes que ocorresse a nidação e portanto a gravidez na sua essência... Havia muitas coisas para resolver a “montante” a fim de se evitar sequer chegar à necessidade de fazer um aborto...
Mas como não vivemos num mundo perfeito nem somos perfeitos (e como também já me viram defender aqui) por vezes a situação que mais serve os indivíduos é mesmo o aborto... Tudo bem e nada contra (da minha parte claro...)... Agora o que me incomoda é que ao lançar-se cá para fora um prazo sem ter por trás nenhum estudo sério e credível pode estar no mesmo a possibilidade de se “concordar” com a morte de um Ser Humano e isso eu não aceito de modo algum... Um Ser Humano não tem mais direito à vida que outro Ser Humano, seja ele quem for e onde estiver... Já aqui disse e de uma maneira simples que não existe Ser Humano no ovo nem nos primeiros estágios do embrião, doa a quem doer é tão simples quanto isso e não adianta virem com hipocrisias/moralismos... Agora entre principalmente as cinco e as dez semanas de vida intra-uterina, tenho as minhas dúvidas se algures neste prazo não existirá já um Ser Humano... Logo votar Sim pode significar, num determinado período, concordar que um Ser Humano pode cometer homicídio e ser despenalizado por ele, votar Não pode significar impedir alguém de atempadamente (ou seja, num período que não atente contra a vida de nenhum Ser Humano) por fim a algo que lhe dará/trará vários problemas…
Os abortos ao serem inevitáveis, devem ser seguros e raros, desde que feitos num período que não ponham em causa a Vida de um Ser Humano... E claro que se esta minha ultima premissa for cumprida (E Só Se For Cumprida) para serem seguros têm de ser forçosamente legais e enquadrados no actual sistema de saúde em vigor desde que não sejam gratuitos (claro que me refiro aos locais de saúde públicos pois os outros fazem-se pagar mesmo), pois os dinheiros do estado/impostos não tem que ser endereçados para problemas “privados” mas sim para problemas de Saúde e todos nós sabemos que não foi por falta de saúde que a esmagadora maioria destas mulheres engravidou, bem pelo contrário...
No que se refere à facilidade no acesso a contraceptivos, isso então dá-me uma raiva que vocês nem imaginam... Este governo que diz estar a tomar estas medidas a fim de “proteger” as mulheres é exactamente o mesmo que não comparticipa nas farmácias nem fornece nos centros de saúde, alguns dos contraceptivos menos agressivos e com menos efeitos secundários para a mulher (logo melhores para a saúde de Todas as mulheres), como por exemplo o Anel Vaginal (que tem exactamente a mesma segurança que pílula, mas com muito menos efeitos secundários)... Mas como é? Por um lado diz-se uma coisa e por outro faz-se outra?!?!?!...
Outra coisa, detesto que se tratem as pessoas por parvas pois não se trata de uma mera “despenalização”, mas sim de uma “liberalização legalizada”.
O aborto não é um direito pura e simples da mulher, se estiver em causa a vida de outro Ser Humano (e atenção que não estou a dizer vida humana). Ninguém tem direito de decidir se um Ser Humano vive ou não vive, mesmo que seja a mãe que o gerou no seu ventre.
O aborto, tal como está a ser posto, não é uma questão política, mas de direitos fundamentais (de ambos os lados).
Pergunto, porquê a escolha das 10 semanas em vez das 8 semanas ou 6 semanas, etc.... Porque será??? E Será que mesmo aí, ainda não será cedo demais??? (E atenção que relembro que não sou contra a liberalização aborto...) É esta pergunta que eu queria ver respondida...
Já me estendi demais, desculpem...
Cumprimentos e Bom Ano para todos...
Paulo
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