quinta-feira, janeiro 25, 2007

A falta de bom senso dos "especialistas"...

As quecas do papá... Jornalista rubencarvalho@mail.telepac.pt

O inquérito sobre a sua vida familiar realizado junto de vários milhares de crianças e jovens das escolas portuguesas levanta problemas de vária índole, embora todo eles de gravidade.Sem, em rigor, ser possível estabelecer uma hierarquia de importância (a que Jorge de Sena seguramente chamaria uma hierarquia do disparate…), citemos em primeiro lugar o facto de um número evidentemente apreciável de adultos, presumivelmente preparados académica e tecnicamente, ter elaborado, estudado, aprovado, decidido distribuir, distribuído e preparar-se para "estudar" um questionário onde se pede a crianças que avaliem o comportamento sexual dos pais!Se toda esta trapalhada tivesse partido de uma única luminária, ainda se poderia admitir que de loucos está o mundo cheio - e ninguém tinha dado por isso. Mas é evidente que aquele trabalho resultou da elaboração de uma "equipa", do juízo de "especialistas", da aprovação de "responsáveis" - e não houve no meio desta multidão uma centelha de bom senso que dissesse, com a tranquilidade de revelar a nudez do rei, que tudo aquilo era um ignóbil absurdo.E quando se utiliza o adjectivo ignóbil não se está apenas a pensar no problema entre o pedagógico e o moral de interrogar jovens sobre tais temáticas aplicadas aos seus familiares, mas a um outro aspecto tão ou mais relevante: é o incentivo ao voyeurismo aqui sugerido, a par e passo com um comportamento de observador de intimidades que roça a espionagens policiesca, coerentemente acompanhado com o incentivo a julgamentos moralista numa situação de natural carência de referentes inerente à idade.O que se passa na escola é, por definição, escolar. Tudo o que se passa na escola é (pelo menos, deverá ser) educativo: aquilo que, como conhecimento, é transmitido, mas igualmente comportamentos, padrões, formas de relacionamento - enfim, tudo o que, em terminologia que fez época e talvez devesse continuar a fazer, prepara os jovens para a vida.Temos então que, no entender destas luminárias, se deve transmitir nas escolas às crianças este padrão de espionagem dos seus próximos e, à luz dos mais que duvidosos padrões da ideologia dominante, sugerir-lhe juízos e avaliações comportamentais.Tudo isto para que uns fulanos façam - umas estatísticas! Não é preciso, já se constatou a assustadora percentagem de patetas...

21 comentários:

Cristina Gomes da Silva disse...

Sou socióloga e professora e conheço bem a ânsia quantificadora das correntes mais positivistas da Sociologia. Felizmente pouco a pouco a "coisa" tem vindo a ficar mais diluída e os métodos e técnicas mais mesclados, mais ricos e menos ortodoxos. O que me causa algum "nervoso miudinho" é esta pretensão de tudo medir, de tudo vigiar,de de tudo fazer um objecto científico(?????). O Prof. Vilaverde Cabral, que tive como professor no ISCTE, às vezes referia-se com algum enfado a estas questões, dizendo que estava farto da sociologia "das miudezas" e que ainda um dia alguém havia de fazer a "sociologia do periquito"... E assim vai alguma da ciência ue se faz cá pelo burgo.
Um abraço
PS: noutro dia passeava à beira Tejo com o meu companheiro e a minha filha mais nova (3 anos), ela seguia alguns passos à nossa frente e quando se virou para trás "apanhou-nos" a trocar beijinhos e disse "Oh mãe, os teus amigos vão pensar que estás maluquinha"; "Porquê?"; "Porque as mães não dão beijinhos aos pais, só aos filhos"... Será que ela faz parte da "amostra" dos especialistas e eu não sei?!!

Cristina Gomes da Silva disse...

Sou socióloga e professora e conheço bem a ânsia quantificadora das correntes mais positivistas da Sociologia. Felizmente pouco a pouco a "coisa" tem vindo a ficar mais diluída e os métodos e técnicas mais mesclados, mais ricos e menos ortodoxos. O que me causa algum "nervoso miudinho" é esta pretensão de tudo medir, de tudo vigiar,de de tudo fazer um objecto científico(?????). O Prof. Vilaverde Cabral, que tive como professor no ISCTE, às vezes referia-se com algum enfado a estas questões, dizendo que estava farto da sociologia "das miudezas" e que ainda um dia alguém havia de fazer a "sociologia do periquito"... E assim vai alguma da ciência ue se faz cá pelo burgo.
Um abraço
PS: noutro dia passeava à beira Tejo com o meu companheiro e a minha filha mais nova (3 anos), ela seguia alguns passos à nossa frente e quando se virou para trás "apanhou-nos" a trocar beijinhos e disse "Oh mãe, os teus amigos vão pensar que estás maluquinha"; "Porquê?"; "Porque as mães não dão beijinhos aos pais, só aos filhos"... Será que ela faz parte da "amostra" dos especialistas e eu não sei?!!

lobices disse...

...as mães não dão beijos aos pais, só aos filhos...
...
...é simples de entender essa alusão de sua filha, Cristina... os filhos não entendem nem compreendem nem aceitam que seus pais tenham uma vida sexual (claro que não é o caso de pensamento de sua filha apenas de 3 anos de idade; porém isso revela a tendência que, todos nós, fizemos, fazemos e faremos sobre o relacionamento afectivo dos nossos pais... quando eu era "pequeno" por volta dos meus 15 anos, meus pais nessa altura com 45 para mim eram "velhos" e como tais não activos sexualmente
...hoje, com 60 e ainda com uma actividade sexual normal, é preciso dizer às crianças, aos adolescentes, que o "amor" não existe apenas na idade que julgamos de "ouro" e que os "cotas" são apenas uns velhos descartáveis
...a sociedade ao "esconder-se sexualmente" durante anos e anos, criou o mito de que só os novos fazem sexo e que este acaba aos não sei quantos
...não é só a sua filha de 3 anos que acha esse seu afecto pelo seu companheiro estranho mas também toda uma juventude que vê em "nós" (pais e avós) uns assexuados
...é perciso dizer aos jovens que o amor não tem idade e que vai até ao fim das vidas e que o sexo é praticado pelos "pais" e (pasmem-se os jovens) pelos "avós"...
:)

A Menina da Lua disse...

Cristina

"O Prof. Vilaverde Cabral, que tive como professor no ISCTE, às vezes referia-se com algum enfado a estas questões, dizendo que estava farto da sociologia "das miudezas" e que ainda um dia alguém havia de fazer a "sociologia do periquito"..." :))

Teve imensa graça! e como o conheço sei que é mesmo uma observação ao jeito dele...:)

Penso que este estudo,para alem do mais traduz tambem a pouca orientação e estratégia com que se definem os objectivos dos projectos que muitas vezes se desenvolvem em Portugal.

O contexto da investigação em Portugal peca pela magreza de investimentos mas tambem por vezes por falta de estratégia no só da sua implementação mas peca tambem e logo à partida, pela definição dos seus objectivos...

Infelizmente acontece que muitos destes estudos não passam do papel e por isso não chegam a ter quaisquer repercursões e isto claro para o bem e para o mal...

Julio Machado Vaz disse...

cristina,
Ou será que é ciumenta e possessiva?:)

CêTê disse...

Perdi a piada mas... pelos vistos os meus alunos safaram-se. De facto frequentemente penso que implementar "a Educação sexual nas escolas" era o pior que se poderia fazer- estou a falar nos moldes de disciplina. Vá-lhos... alguém.
Bom fim de tarde.

Anónimo disse...

Olá,
Que posso eu dizer se os meus olhos não falam!
Transmitem emoções, a essa beleza inconfundível
Que as palavras me transmitem
Aqui estou eu para te dar o meu gesto de carinho
Soberbo...

Conceição Bernardino

lobices disse...

...pergunta o Prof. à cristina, sugerindo, se por parte da filha não será antes uma questão de cimúmes e possessão
...claro que é (perdoe-me Profe ser eu, leigo, assim tão taxativo)
...mas
...por princípio, tal só se verifica nas relações extra matrimoniais, ou seja, para com os namorados, companheiros ou segundos ou terceiros etc. maridos
...a criança, tende a obter da sua mãe toda a atenção não permitindo, sempre que possível, que a mãe preste ou dê "conversa" ao homem que não é o seu pai mas sim o namorado da mãe, ao fim e cabo um seu rival
...

andorinha disse...

Boa tarde.

Por uma questão de justiça, relembro que o Thora trouxe esse assunto aqui em primeira mão já há alguns dias.
Na altura, penso que pouca gente aqui do "tasco" reagiu, o que não deixa de ser significativo!
A indignação só vem hoje por ser um post do Júlio.
Penso que isto também dá que pensar...

Mas indo ao cerne da questão, claro que todo esse inquérito é um perfeito disparate e é caso para dizer, efectivamente, que de loucos está o mundo cheio.
É incrível toda essa investigação pidesca e o incentivo ao voyeurismo
por parte de miúdos alguns deles com 11/12 anos!!!!
Mas o engº Sócrates já admitiu que foi um erro, portanto, nada de grave...ninguém é responsabilizado por nada hoje em dia.
Tristeza de país este!

Mas faço também uma crítica aos responsáveis pelos Conselhos Executivos das escolas.
Pelo que eu tive conhecimento, apenas uma se recusou a passar o tal inquérito.
Eu se estivesse à frente de uma escola é evidente que não o passaria.
O que me levanta mais uma vez a questão da falta de sentido crítico que cada vez mais se vai notando neste país.
As pessoas não pensam; vem um questionário, é divulgá-lo...
Como é triste este panorama:(((((

lobices disse...

...quanto ao inquérito em si mesmo, em boa verdade, até parece uma notícia de Carnaval...
...na verdade e apenas para se fazer mais uma estatistica (de quê?) vê-se, no mínimo, a falta de senso de quem "decreta" uma coisa dessas
...será mesmo que no inquérito chegam a perguntar quantas vezes os pais fazem amor?
LOL
incredible

andorinha disse...

Lobices,
Penso que hoje em dia essa ideia de que há um limite de idade:) para a actividade sexual já vai sendo um pouco esbatida.
Já se vai aceitando melhor que os mais velhos também têm todo o direito à sexualidade.
Pessoas preconceituosas é que haverá sempre...:(

2...será mesmo que no inquérito chegam a perguntar quantas vezes os pais fazem amor?"
Por incrível que te possa parecer, acho que eram perguntas desse género.
Digo acho, porque não tive acesso a nenhum inquérito, mas falo pelo que ouvi na comunicação social.
E se o pai obriga a mãe a ter relações sexuais ( ou seja, se a viola, isto acrescento eu)...
Pasme-se!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Cristina Gomes da Silva disse...

Boa tarde a todos(as),
só para esclarecer umas coisitas: é evidente que podemos estar perante uma ciumeira infantil mas o companheiro é o pai da filha.
Relativamente à educação sexual, é evidente que não é assim que se faz e a minha apreensão anda de mãos dadas com alguma estupefacção: é que nesta suposta tentativa de transparência acho que se vão desnudando alguns assuntos e até, do meu ponto de vista, perdendo alguma magia (não, não tem nada a ver com bébés nos bicos das cegonhas). Há 20 anos, a hoje CONFAP, num dos seus encontros nacionais, defendia que a educação sexual era um domínio que não deveria ser abordado em contextos colectivos, como a sala de aula, mas só na intimidade familiar. Hoje, fruto dos tempos e desta sociedade Big Brother já ninguém se espanta...

CêTê disse...

Andorinha,
não li o comentário do Thora. Como já referi ainda não conheço o dito inquérito.
Concordo com o que dizes sobre quem está à frente de uma escola. Deves saber como eu que há muito acéfalo que não tem capacidade crítica quando toca a iniciativas do seu partido- qualquer que ele seja. Há por outro lado como constou pressões superiores. Que eu conheça neste caso NÃO mas noutro tipo de direito de opinião e greve sabemos bem como foi- semelhante ao que tem sido noutras profissões. E como diz o povo "Quem o tem, tem medo".
Sem mais

CêTê disse...

Não tem directamente a ver com o post mas com mais uma medida do Ministério de Educação... "Prémio Nacional de Professores" ... é o quê uma manobra de diversão baseado na interiorização de formatos televisivos que dão grandes audiência e muito sangue?
Mas qual é o objectivo? Pensarão os iluminados que os professores - os bons professores andam à cata de prémios? É uma iniciativa tão cega que começa por ser obviamente catalizadora da exclusão dos docentes e alunos mais isolados.
A estratégia deste ministério parece a dos romanos na "Zaragata" do Asterix!
Mas não me admiro que haja muitos inscritos- recebemos muito mal. Se eles dessem mas é contas do dinheiro que têm posto à nossa conta no cofre e investissem ao menos em melhores condiçóes de trabalho! Isso é que era bom.

Façamos já um peditório para umas bancos corridinhos de pés carafunchosos para sentar esta gente toda.

andorinha disse...

Cêtê,
Pronto...reatamos relações. Não me consigo zangar muito tempo contigo:)))))

"Deves saber como eu que há muito acéfalo que não tem capacidade crítica quando toca a iniciativas do seu partido- qualquer que ele seja."
Então não sei???!

"Quem o tem, tem medo."
É a isso também que me refiro, é triste que estejamos a viver tempos em que parece que já não se pode pensar e decidir livremente.

Essa do "Prémio Nacional de Professores" também achei hilariante.
Definitivamente, esta gente não bate bem da bola:)

CêTê disse...

Eu não me tinha zangado contigo- eu lá me importo com o Clubismo!? Ou melhor gosto de "picar". O Porto é o melhor e mais nada. Sou assim meia tolerante com os "ceguetas" LOOOOOOL
Eu por exemplo sou a única portista cá por casa e nas casa próximas- a única coisa que gostaria de preservar é o simpatia partilhada pelos meus filhos pelo mesmo clube- já basta o que "pegam" por outras coisas! ;)

A entrevista que "guionaram" à Judite foi sobre o quê? Eu sou percebi a propaganda ao governo mas devo estar a ser tendenciosa.;)

maria estrela disse...

Todo o inquérito era concebido como se já estivesse orientado para legitimar resultados. Questionado sobre quem o levava à escola o jovem nunca podia escolher que às vezes era o pai, outras a mãe, o que acontece na grande maioria dos casos.Entre as opções de resposta a coexistência dos dois (pai e mãe)não existia.

Migmaia disse...

Para os Gauleses, os Romanos é que eram loucos…Pois, pior do que nos cair o céu em cima, é a realidade que vivemos nesta terra que eu Amo. Sou Azul, mas não do Restelo. Acredito que iremos mais longe do que já fomos, (e não me refiro (só) ao passado recente), temos é que ser mais sérios, práticos e tolerantes.

Não só, não compreendo como é que, estes especialistas podem ser remunerados, como também, os Professores não censuram algo tão absurdo.

Em relação à imagem de menor actividade sexual dos mais velhos, a regra de que a excepção faz a regra, tenderá a inverter no pos viagra.

E por falar nisso, nem com esse milagre a Pfizer se aguentou, e os MG ainda aí não chegaram…

Marx disse...

Transformar miúdos e miúdas em Small Brothers... suspeito que nem Orwell o havia previsto!

Paulo disse...

Deste inquérito não sabia, nem nunca ouvi falar… Mas coisas desse género vindas deste ministério da educação, já não me espantam… As escolas estão mais ou menos a “ferro e fogo”… O mau estar existente dentro delas e o desanimo até mete impressão, chegando ao ponto de em alguns locais os próprios pais começarem a comentar isso mesmo, pois aquele tipo de actividades que sempre pareceram fundamentais às escolas, têm vindo a desaparecer… E da maneira como vão as coisas isto só parece ter tendência para piorar… Por incrível que possa parecer, tenho visto professores, aqueles que gostam mesmo de ser professores, a dizerem que se tiverem oportunidade abandonam o ensino, algo que à uns bons meses atrás (ou já serão anos, nem sei) era impensável…
Quanto a isso de os adolescentes/jovens pensarem que os adultos a partir de uma determinada idade e/ou os pais não têm mais actividade sexual, pelo que tenho visto e ouvido, pelo menos daqueles adolescentes/jovens com quem tenho contactado, já não pensam assim… E parecem ter consciência que os pais continuarão a ter alguma actividade sexual, tal como as pessoas de mais idade desde que não tenham nenhum impedimento físico…
Mas quem sou eu para dizer alguma coisa?!?!?! :-)))))))

thorazine disse...

Andorinha,
sempre atenta! :P

Engraçado é que na notícia não refere que tal inquérito foi feito no âmbito do plano da luta contra a droga do IDT. Pela nossa segurança vende-se a liberdade.. :|

cristina,
numa aula de educação sexual é completamente desnecessário falar de hábitos familiares! Numa aula de math, em que se fala de dinheiro, é escusado perguntar o salário dos papas! :)