segunda-feira, janeiro 11, 2016

Maria.

Não é tempo de nicks. A Maria morreu. Com a elegância discreta que a caracterizava. Um longo abraço ao Viktor. E uma velha canção mentirosa que diz a verdade do afecto.

We'll Meet Again - Vera Lynn

segunda-feira, outubro 26, 2015

Muito provavelmente...

Deus Triste

Deus é triste. 

Domingo descobri que Deus é triste 
pela semana afora e além do tempo. 

A solidão de Deus é incomparável. 
Deus não está diante de Deus. 
Está sempre em si mesmo e cobre tudo 
tristinfinitamente. 

A tristeza de Deus é como Deus: eterna. 

Deus criou triste. 
Outra fonte não tem a tristeza do homem. 

Carlos Drummond de Andrade, in 'As Impurezas do Branco' 

domingo, outubro 18, 2015

Precisava de vir aqui...

ÀS VEZES ENTRA-SE EM CASA COM O OUTONO

Às vezes entra-se em casa com o outono
preso por um fio,
dorme-se então melhor,
mesmo o silêncio acabou por se calar.

Talvez pela noite fora ouça cantar o galo,
e um rapazito suba as escadas
com um cravo
e notícias de minha mãe.

Nunca fui tão amargo, digo-lhe então,
nunca à minha sombra a luz
morreu tão jovem
e tão turva.

Parece que vai nevar.

© EUGéNIO DE ANDRADE 
Branco no Branco, 1984 

quinta-feira, julho 16, 2015

Lamentável competição...

Do que me importa ver a tristeza em seu olhar
Se meu olhar tem mais tristezas pra chorar
Que o seu...
Marisa Monte

terça-feira, junho 16, 2015

quarta-feira, junho 10, 2015

A caricatura.

Cena habitual - senhora da "minha colheita" sorri por lhe ceder a primazia no cruzar de uma porta, "vai-se tornando raro". Não sei, fui educado assim. Mas para lá de regras básicas interiorizadas rumoreja sonho utópico que me faz sorrir. Eu, que nunca usei um colete e jamais poria as mãos no fogo pela limpeza dos meus jeans, na mais remota das entranhas ainda aspiro a parecer-me com meu Pai, esse petit grand seigneur. Nas boas maneiras!, intelectualmente seria caso para internamento psiquiátrico imediato por baforada delirante:).

terça-feira, junho 02, 2015

A dúvida.

Hesitei muito antes de ver Still Alice (a tradução portuguesa não me parece feliz). Acabei por o fazer em casa, enroscado no sofá e na saudade. A parcimónia era justificada, o filme não se limitou a convocar a memória, também a culpa se espreguiçou. Não apenas a que me assalta quando me lembro das racionalizações que usei para não visitar mais vezes minha santa Mãe. Também a que me acusa por não me ter apercebido de sintomas precoces da doença. É verdade que ela me "obrigava" a concentrar a atenção na saúde periclitante de meu Pai, mas isso não justifica tudo, havia sinais que eu devia ter valorizado.
E ao aperceber-me de tal desleixo, pergunta lógica me assalta - tenho simplesmente medo de sofrer de Alzheimer ou receio merecer a sua chegada?